17/09/2018

Crítica do filme: 'Gente de Bem'


É complicado retratar a depressão e a falta de sentido da vida com personagens tão diferentes e mesmo assim ser um filme interessante. Gente de Bem, filme que estreou no último Festival Internacional de Toronto e lançado após na rede de streaming Netflix, sem dúvidas não é um filme para qualquer um. Escancara a realidade modelando seu ritmo com pitadas de humor depressivo nos diálogos, situações constrangedoras e atitudes para lá de polêmicas. No papel principal, o excelente ator australiano Ben Mendelsohn (Reino Animal, Jogador Número 1) que mais uma vez mostra todo seu talento em um excêntrico e bastante peculiar personagem.

Na trama, dirigido pela cineasta Nicole Holofcener (À Procura do Amor – 2013) e roteirizado pela mesma, a partir da obra The Land of Steady Habits de Ted Thompson, conhecemos o recém separado Anders (Ben Mendelsohn), um homem que largou o emprego e partiu para uma aposentadoria antecipada mudando os rumos de sua vida e de toda sua família já que pede divórcio da esposa Helene (Edie Falco) ao mesmo tempo. Certo tempo depois, encontramos Anders desolado, sem saber ao certo se as decisões que tomou foram as melhores, já que a ex-esposa encontrou um novo amor, seu único filho parece ser um recém graduado sem rumo na vida e a única pessoa que consegue dialogar com ele por muito tempo é o filho de um casal amigo de sua família que passa por um fase de drogas e sumiços. Tentando direcionar melhor seus rumos, Anders passará por situações inusitadas em busca de seu melhor entendimento sobre o que é viver.

Muito parecido com Beleza Americana, principalmente na hora de escancarar os problemas que acontecem na vida real da sociedade norte americana, Gente de Bem bate na tecla da família, seus segredos e todo o julgamento de terceiros sobre situações que acontecem em quatro paredes. Os personagens são muito bem escritos, além do complexo protagonista, enxergamos as óticas dos dois jovens que navegam na história, um sem futuro certo após a formatura e morando com a mãe próximo aos 30 anos e um outro completamente abandonado pelos pais, que não conseguem enxergam e encontrar soluções para um problema grave que afeta não só o seu filho mas todo um planeta.

Mas a luz principal cai toda para cima de Anders, um fator de interseção de todas as subtramas. Vamos entendendo melhor ao personagem a partir dos olhos de outros e toda a dor que acaba causando onde passa, fruto de todas as escolhas que fez nos últimos tempos. Escolhas, verdades, mentiras, são premissas que são jogadas no liquidificador desse belo trabalho que merecia ganhar as telonas.