05/10/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #117 - Chico Fireman


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é um dos grandes cinéfilos que temos em nosso país. Chico Fireman é jornalista e crítico de cinema, nascido em Maceió, foi adotado por São Paulo há 13 anos. Filiado à Abraccine, escreve no blog Filmes do Chico desde 2003 e integra o podcast Cinema na Varanda há 5 anos.


Obs: Grande Chico. Sou um grande fã. Pena que nunca nos vimos pessoalmente mas espero algum dia poder conversar sobre cinema com você tomando um café pelos cinemas brasileiros. Continue sendo essa força cultural tão enriquecedora para todos nós que amamos a sétima arte.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Minha sala favorita é a sala BNDES da Cinemateca Brasileira. Acho meio mágico lá. Tenho uma cadeira "minha", lá do lado esquerdo, a Brigitte. A Cinemateca me remete à própria história do cinema, me sinto em casa e dentro desta história. É uma lástima, um pecado, o que fizeram com aquele lugar. Mas em relação à programação, o Cinesesc dá um banho em qualquer outra: lançamentos exclusivos, mostras pra mergulhar, clássicos recuperados.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu já acompanhava filmes mais de perto desde o fim dos anos 80, mas Drácula de Bram Stoker me impressionou de um jeito que eu pensei: quero morar aqui.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Isso é complicado. Tenho muitos. Meu filme favorito é Aurora, do Murnau, mas não sei se ele é meu diretor favorito.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bandido da Luz Vermelha porque ele é pura desconstrução e ainda assim é um filme delicioso de assistir. Ver na Cinemateca foi uma das minhas grandes experiências numa sala de cinema.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É amar. Que brega, né? Mas é exatamente isso.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

Não, até porque existem muitos outros interesses. Mas os que eu frequento, sim. 

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não, mas talvez, não sabemos o que a tecnologia nos oferecerá e como vamos nos relacionar com ela. O cinema é uma arte relativamente nova que já se adaptou a diferentes plataformas. Essa pandemia mostrou como tudo pode ser adaptado.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Um só? O brasileiro Compasso de Espera, único filme de um dos maiores nomes do teatro brasileiro, Antunes Filho, que, no fim dos anos 60 (só foi lançado em 1973), trata de um Brasil e de um mundo mais próximo do Brasil e do mundo de hoje em dia do que a gente possa imaginar.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que produzimos muitos bons filmes que nem sempre encontram os caminhos que merece para chegar a seu público.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Difícil responder isso. Tento ficar atento aos filmes autorais que vem sido lançados. Me estimulam dos cinemas de Kleber Mendonça Filho, Karim Aïnouz, do pessoal que veio do Alumbramento, Filmes do Caixote, Filmes de Plástico. São muitos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Definirei com palavras. Cada uma pode ser uma definição pro cinema:

 

Sertânia.

 

Inferninho.

 

Vento Seco.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não é bem uma história; é mais uma cena. Acaba a sessão de Uma Noite em 12 Anos, sobre a prisão do Pepe Mujica, pouco tempo antes do primeiro turno das eleições presidenciais, com as pesquisas indicando a volta de uma época medieval. As luzes acendem e todas as dez ou quinze pessoas que estavam ali, desconhecidos entre si, olham uns pros outros, silenciosamente, olhos marejados, como se estivessem se abraçando. Foi um momento muito tocante pra mim.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Vontade de fazer cinema. Estamos até hoje falando dele.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho estranho, mas o que é ser cinéfilo, afinal?

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O pior vai ser quando não puder mais ver filmes, então, que venham os ruins porque pelo menos eles existem.