O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Fortaleza (Ceará).
Lucian Lourenço é escritor,
tradutor, produtor, roteirista, gestor em saúde pública em Fortaleza. Teve trabalhos
publicados em antologias (contos e poemas) e menções honrosas em concursos de literatura. Roteirizou e produziu o curta A Tríade, 2013, de forma independente
(DIVULGADO DIRETAMENTE NA INTERNET), porém direitos vendidos a outra produtora
que utilizará material para outro projeto (ainda em sigilo). Publicou o
primeiro livro de contos Sempre é muito tempo, pelo Clube Autores, e prepara
uma outra antologia de contos e dois romances.
O primeiro romance aguarda finalização editorial, A Infame História da Biografia do Sr. Scharlathan.
1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema
preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.
Apesar de termos um belíssimo cinema, o Cine São Luiz, hoje é um centro cultural, embora exiba filmes,
mostras, porém o Cine Dragão do Mar
é mais eclético, porque sai do lugar-comum de exibir apenas filmes do
mainstream hollywoodiano. Exibe filmes de vários países, mostras e filmes
nacionais, tendo o Cine Ceará como
um de seus expoentes.
2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um
lugar diferente.
Com certeza, não só um. Mas quando vi Star Wars e ET no
cinema, quando foram reexibidos quando já tinha uns 08 a 10 anos.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Olha, adoro Fellini e
Woody Allen (como autorais), mas
realmente não tenho como me desfazer de Scorsese. E considero Taxi Driver seu filme que me toca mais,
por ter assistido a primeira vez em um período peculiar de minha vida e que
tenho uma afeição por seu material e seus personagens.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Cidade de Deus,
porque quando estava na sala, senti algo diferente naquela leitura sobre muitos
de nossos problemas. O visual, a direção, a montagem do filme são fortes e
únicas.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Não, penso que o cinema é arte, é paixão, mas para existir
precisa de mercado, e para sobreviver é necessário falar a língua mercantil,
então muitos são burocratas, administradores e não conhecem a linguagem ou a
história do cinema, o que não os desmerece. Mas seu trabalho é exibir e programar
o que dá retorno financeiro à indústria cinematográfica e ao seu mercado
subjacente.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Penso que não, talvez novas tecnologias serão acopladas. O
serviço on demand e o streaming são formas de fazer pensar e refletir sobre a
questão, mas lembremos que eles são feitos para serem exibidos em tela grande,
em salas de exibição. Apesar disso, as salas resistirão de alguma forma,
menores, talvez, cultuadas, ou como patrimônio cultural. Assim como o vinil
sobrevive em meio a indústria fonográfica amplamente digitalizada.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
As Invasões Bárbaras
do Denys Arcand. Apesar de ter
ganhado prêmio e ser considerado cult, o filme ainda tem muito a ser discutido,
assim como o seu antecessor O Declínio
do Império Americano. Um filme que aborda questões atuais, ainda
nevrálgicas para o entendimento sobre o que somos, sobre arte, mortalidade,
amizade, algo muito clichê para se falar em tempos tão atrozes.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Tenho uma leitura sobre pandemia que é da área de saúde,
porque tenho também uma formação na área. Sou graduado em enfermagem e
trabalhei e trabalho na linha de frente, e sei como é uma situação delicada e
que exige um olhar ampliado e atento. Acho que, apesar do que propalam os
negacionistas, o vírus é cruel e ainda não estamos prontos, em termos de
cuidados coletivos. Não se respeita ou não se dá a devida relevância
epidemiológica à situação. Porque, como dizem, mas se abriram os shoppings e
centros comerciais, porque escolas, cinemas e etc... não abrem. Não é só a
aglomeração, mas o espaço, o ambiente fechado, refrigerado, que é propício para
a disseminação viral, daí eu não concordar com a reabertura no momento.
Precisamos ser cautelosos ou podemos arcar com consequências ainda maiores do
que as que já estamos lidando.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Vejo como um crescimento qualitativo nas produções, um
investimento sem precedentes na ordem da logística, divulgação. Penso que o
público reconhece a qualidade desse cinema que hoje vigora, apesar ainda de
existir ainda quem torça o nariz, mais por muito desconhecimento e preconceito.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Gosto muito do trabalho de vários. Mas gosto de acompanhar o
trabalho de Wagner Moura, do Selton Mello, do José Padilha. Destaco entre os três o do Wagner, que veio do
teatro, da Bahia, e chegou ao mainstream e segue seu lado autoral, como
produtor e agora diretor.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é hipnose.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Eu estava assistindo ao filme Entrevista com o Vampiro, sala lotada, única que estava exibindo
mais perto de minha casa. Pararam o filme em um momento em que ocorria a
primeira cena que sugeria o romance entre os personagens de Brad Pitt e Tom Cruise. Muitos homens gritavam palavras de baixo calão e ainda
zombavam do momento. Alguns foram retirados da sala pela segurança local e
outros ainda ficaram zoando o resto do filme. E nesse ínterim, o meu celular
recém-ganho de presente tinha caído de meu bolso e desceu pela plateia abaixo,
entre as poltronas, por causa da inclinação da sala. Tive que esperar o filme
acabar, era a última sessão e fui procurar. O celular estava encostado no
rodapé de uma das poltronas em uma das primeiras fileiras. Tinha deslizado até
lá.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Não vi, não tenho como opinar.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa
ser cinéfilo?
Não, você tem que entender de contar uma história, você
precisa ter um senso visual, plástico, dinâmico, não necessariamente ser
técnico, mas claro, você precisa ter experiência imagética, seja por ver
filmes, seja pintura, arquitetura, design e ter paixão por contar história. Tarantino e Scorsese são grandes cinéfilos e demonstram esse amor em filmes ou
homenagens que fazem, mas não são técnicos como o Nolan ou o Fincher, por
exemplo.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Crepúsculo –
Amanhecer. Fui assistir por uma obrigação de trabalho, mas como já não era
fã daquele mundo, eu tive que ‘tragar’ aquelas duas horas que, para mim, foram
maçantes.
17) Qual seu
documentário preferido?
Ilha das Flores,
do Jorge Furtado. Tanto pelo que se
trata e como se trata seu conteúdo quanto pelas lembranças que tenho nos idos
tempos de faculdade e estar em meio ao meu despertar cinéfilo.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Já. Por incrível que pareça foi recentemente, ao término da
sessão de Coringa. Minha esposa
ficou me olhando, enquanto algumas outras pessoas cochichavam.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Risos. Em Despedida
em Las Vegas. Não apenas pelo prêmio ou como ele se preparou para o filme,
mas pelo desempenho que após anos, ao rever o filme, fez o diferencial para o
que a obra se propunha.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
Eu acompanho há muito
o Cinema em Cena, Watch Mojo (o canal), Plano crítico.