04/01/2021

Crítica do filme: 'Retrato de uma Jovem em Chamas'


Estar livre é estar só? Escrito e dirigido pela ótima cineasta francesa Céline Sciamma (do excelente Tomboy), Portrait de la jeune fille en feu, no original, aborda com sensíveis tons delicados um recorte sobre sentimentos e sensualidade em uma época de muitas limitações para as almas femininas. As memórias e as emoções colocam a iminência de um amor com data de validade marcada mas com uma intensidade para nunca se esquecer. O projeto conta com uma direção impecável com direito a uma arrebatadora sequência final, digna de aplausos. Impressionante filme francês, um dos grandes trabalhos dos últimos anos desse país que volta e meia nos brinda com ótimas produções. Indicado à Palma de Ouro do Festival de Cannes, também ao Bafta e ao Globo de Ouro.


Na trama, conhecemos a jovem pintora Marianne (Noémie Merlant) que é contratada por uma mulher (Valeria Golino) para pintar o retrato de sua filha Héloise (Adèle Haenel). Só que essa última não aceita o futuro casamento que já está entrelaçada com um homem em milão e assim, Marianne precisa disfarçar a princípio seus reais motivos do convívio diário durante algumas semanas com Héloise. Só que após muitas conversas, um interesse mútuo vira algo que transborda, transformando dramas em uma paixão arrebatadora.


O filme, que estreou no Brasil em janeiro (ainda antes da pandemia), possui um certo ar misterioso em seus primeiros arcos, acaba virando um grande pedestal onde diálogos sobre imposições da vida em uma época arcaica, cheia de ações nada progressistas onde a mulher não tinha direitos. Os diálogos sobre cultura e pintura e os paralelos com os dramas de uma sociedade reclusa nas tradições encaixam como uma luva no que vivem ou conhecem da vida as protagonistas. A coadjuvante Sophie (Luàna Bajrami), a empregada da casa de Héloise, tem papel importante com sua subtrama, mais uma vez mostrando o papel das tradições e até mesmo rituais em uma época muito distante da que vivemos.