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02/03/2024

Crítica do filme: 'Monster'


O que fazer quando não está tudo bem? Dirigido pelo genial cineasta japonês Hirokazu Kore-eda e vencedor do melhor roteiro no Festival de Cannes, o longa-metragem Monster é profundo drama que junta alguns temas para refletir sobre a sociedade e o sistema escolar através de versões de um mesmo fato. Baseado em algumas próprias experiências do roteirista Yûji Sakamoto, o filme é um delicado retrato que vai se expandindo conforme vamos compreendemos melhor a história.

Na trama, conhecemos Saori (Sakura Andô), uma mãe, viúva, em busca das verdades sobre o recente comportamento do jovem filho Minato (Soya Kurokawa). Ela aciona a escola onde ele está matriculado e seu destino se cruza com o professor Hori (Eita Nagayama) acusado de agredir Minato. Esse é um dos pontos de vistas de uma história que abre seu leque com o olhar de Hori e também o de Minato.

Rodado na cidade de Suwa, na província de Nagano, Monster tem um roteiro envolvente, aberto a surpresas, além de um olhar delicado para uma forte relação estabelecida em segredo que acaba virando o estopim para outras subtramas. O luto, a perda, a culpa, a mentira se somam ao desespero, vidas arruinadas, suposições, bullying dentro de um olhar da imaturidade sobre os abusos e a falta de esperança que se tornam pedras gigantes no caminho.

Os adultos parecem limitados no seu olhar para a questão que se desenrola. A escola e sua proteção ao ocorrido, lida da pior forma possível com a situação, aqui personificado na figura de uma diretora com um trauma recente e uma escolha pela mentira. A mãe, presa em um luto persistente não alcança o olhar para o turbilhão de emoções que passa o filho. O professor exigente e carinhoso, que recentemente se jogou a um amor, se vê perdido nas suas limitações como membro da escola.

A narrativa traz a emoção para a tela, através de imagens e movimentos que exemplificam o abstrato dos conflitos, o olhar que diz mais que mil palavras. A partir de alguns pontos de vistas, vamos entendendo melhor as verdades dessa história que comove e faz refletir.


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27/02/2024

Crítica do filme: 'Acertando o Passo'


A busca pelo sorriso no rosto até a hora de partir. Trazendo um olhar delicado e divertido para a melhor idade, associado também ao campo da redescobertas da vida, o longa-metragem britânico Acertando o Passo, lançado em 2017, é uma explosão dançante de sentimentos aos olhos de uma protagonista em crise existencial. Dirigido pelo cineasta britânico Richard Loncraine, o alegre projeto mostra a dança como uma ponte para descobertas nas novas maneiras de enxergar a vida.

Na trama, acompanhamos Sandra (Imelda Staunton), uma respeitada mulher da alta sociedade britânica que parece ter a vida perfeita. Só que uma questão logo a abala: três décadas e meia casada descobre a traição do marido, um ex-chefe de polícia, com uma amiga próxima. Sem saber direito o que fazer da vida, resolve ir morar com a animada irmã Bif (Celia Imrie), com quem não falava fazia tempos, em uma outra parte da cidade.

E como é bom ver artistas maravilhosos, veteranos, protagonizando um filme! As subtramas impulsionam o simpático roteiro, com ótimos coadjuvantes, como Bif e Charlie (Timothy Spall) que circulam o desconstruir da protagonista. Nesses momentos, as memórias ganham o sentido de nostalgia algo que aproxima a personagem do mundo real onde o vai e vem da vida deixam margens para surpresas.

As eternas lições do se reinventar. Altos padrões, alta sociedade, furando a bolha em que vivia e indo descobrir o mundo, a protagonista passa por descobertas em recordações do passado quando ia atrás dos sonhos, quando nada era fácil, onde o arriscar era uma opção. Mesmo caminhando rumo a previsibilidade, a narrativa enche a tela de alegria, num filme que fala sobre família e os laços que muitas vezes se encontram em estados de encontros e desencontros.

 

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15/02/2024

Crítica do filme: 'Um Homem Implacável'


A busca por uma segunda chance. Dirigido e protagonizado pelo sul-coreano Jung Woo-sung, o longa-metragem Um Homem Implacável é um filme convencional de ação onde a previsibilidade reina, a profundidade é jogada para escanteio em uma narrativa feita para empolgar os amantes desse gênero cinematográfico. A partir da saga de um ex-criminoso em busca de dias mais tranquilos após descobrir a paternidade, o projeto se desenvolve através de personagens nada carismáticos (alguns insuportáveis) em um roteiro que roda, roda e não sai do lugar. Um ponto positivo são as bem coreografadas cenas de ação.

Na trama, conhecemos Soo-hyeok (Jung Woo-sung) um homem com um passado tomado pela violência que após passar uma década preso volta à liberdade e logo descobre que é pai de uma menina, fruto de seu relacionamento com uma ex-namorada. Querendo largar a vida de criminoso e se dedicar a ser um bom pai, acaba sendo alvo da fúria de um invejoso ex-colega de gangue e então parte para um acerto final.

Um Homem Implacável tem cenas muito bem feitas, com foco total na ação. Alguns planos ganham destaque aliados a uma fotografia competente. A questão é a história, uma quase sonolenta trama que se perde a todo instante. O desenvolvimento da desconstrução do protagonista, aqui identificado como um dos alicerces do roteiro, é guiado pela obviedade, buscando encontrar sentidos na mudança de um provável ex-vilão para um anti-herói.

O roteiro gira em torno da paternidade e as possiblidades de mudanças de vida para um homem marcado pelo caos de um passado sangrento, impiedoso. Batendo na tecla do: ‘É possível esse recomeçar?’, essa segunda chance vem em forma de um último grande desafio impulsionado pela sede de vingança após ter uma nova vida ligada à sua trajetória. Como falta profundidade e com direito a um nada criativo flashback, lacunas ficam soltas, gerando o desinteressante ao longo dos 103 minutos de projeção.   


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04/01/2024

Crítica do filme: 'Perfumes'


O olfato e as barreiras antissociais. Já começo logo dizendo: Não, essa não é uma história de amor! Aqui navegamos por obstáculos impostos pela própria maneira de enxergar a sociedade tendo como elemento principal duas almas amarguradas com suas vidas atuais rodeadas de lacunas mas com uma brecha para se reinventar na forma como podem enxergar ao outro. Escrito e dirigido pelo cineasta Grégory Magne, Perfumes chegou sem muito alarde nos cinemas de alguns países no ano de 2019, conseguindo em sua simples e eficiente narrativa nos levar aos paralelos entre os sentidos e o viver.

Na trama, conhecemos o esforçado motorista Guillaume (Grégory Montel), um homem que passa por um presente cheio de desafios, lutando para conseguir ganhar mais dinheiro e enfim se mudar para uma casa maior assim podendo ter mais dias de visitação da filha. Certo dia ele é designado para ser o motorista de Anne (Emmanuelle Devos) uma reservada perfumista que após uma determinada situação ligado ao seu olfato nunca mais produziu perfumes. Os dois embarcarão em uma jornada de descobertas, aprendendo um com o outro a entender melhor um conceito importante em qualquer lugar do mundo: a sociabilidade.

O recorte social aqui, focado no comportamento humano, podem gerar interpretações. Você pode se identificar mais com um ou outro personagem. O importante é que o discurso espera como resultado uma reflexão sobre o choque entre dois mundos que automaticamente, quando bem feito (como é o caso) acaba dando a possibilidade de descobertas transformando o clímax em algo constante, um fator importante para qualquer boa narrativa.

Já falamos em outros casos por aqui, pegar o abstrato e transformar em um elemento importante dentro de uma narrativa não é uma construção fácil, é preciso habilidade e uma boa direção. Essa produção francesa adota um impecável posicionamento em cena, o famoso mise-en-scène, onde são nos colocados todos os tipos de sensações que conversam com os arcos dramáticos que os protagonistas atravessam.

Perfumes é um drama que transforma o marasmo de personalidades conflitantes, porém na mesma estrada, em uma riqueza de desabafos que envolvem todos os sentidos. Uma preciosidade para ser vista com atenção. Para quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Netflix.



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30/12/2023

Crítica do filme: 'Minha Família quer que eu Case'


Não é preciso se reinventar, somente entender. Flertando com os clichês dos filmes românticos água com açúcar mas com algumas bonitas mensagens que chegam de maneira muito objetiva, o longa-metragem britânico Minha Família Quer que Eu Case pousa seu refletir nas tradições culturais e nas várias camadas do que seria amar. Dirigido pelo cineasta paquistanês Shekhar Kapur, com roteiro assinado pela britânica Jemima Khan, o projeto aborda de maneira encantadora, com personagens carismáticos, os dilemas provocados pelo pensamento contemporâneo e as raízes conservadoras.

Na trama, conhecemos a documentarista Zoe (Lily James), uma mulher já na casa dos 30 anos, independente, que se dedicou nos últimos anos de sua vida à carreira profissional com poucas aberturas para amores e paixões. Certo dia, tem uma ideia para um próximo documentário que consiste em filmar a vida do seu vizinho de infância, o oncologista Kaz (Shazad Latif) que está prestes a se casar em um casamento arranjado, de acordo com as tradições de sua família descendentes de paquistaneses. Com o passar do tempo, Zoe começa a refletir mais sobre sua própria vida, o olhar para o outro se torna mais corriqueiro, de forma simples começa a perceber os contextos que o destino transmite.

A multicultural londres do dias atuais vira cenário de uma história que se sustenta nos dilemas. Casar sem conhecer, sem amar, é algo impensável? Como construir os primeiros laços com um alguém que você não conhece? A narrativa, super dinâmica e envolvente, se joga em cima dessas e outras perguntas para trilhar uma caminhada sobre o choque das tradições tendo como elemento primordial as dúvidas e medos na visão de duas pessoas com trajetórias completamente diferentes mas com um forte elo sentimental. Essa base da história, aproxima demais os personagens dos espectadores.

O pensamento contemporâneo e as raízes conservadoras das tradições aqui encontram seus argumentos. É preciso entender ao próximo, sua história, suas raízes, mesmo não concordando. Minha Família Quer que Eu Case não é só uma história de amor, é um olhar atual para a sociedade quando pensamos nos abismos sobre importantes diálogos que devem acontecer. Afinal, não é preciso se reinventar, somente entender.


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Crítica do filme: 'Um Herói'


Não mentir não quer dizer que falou a verdade. Inspirado numa história real que aconteceu na cidade de Shiraz, no Irã, o longa-metragem Um Herói fortalece seu contundente discurso envolto de uma situação e transforma num olhar que expõe as facetas da sociedade, onde os valores são colocados numa vitrine. Escrito e dirigido pelo premiado cineasta iraniano Asghar Farhadi, Um Herói nos leva pelos caminhos da moral em cima de uma narrativa que é preenchida por muitos pontos de vistas.

Na trama, conhecemos Rahim (Amir Jadidi), um homem de fala mansa, preso por não honrar uma dívida. Quando tem a oportunidade de sair da prisão por dois dias, faz de tudo para conseguir resolver sua situação com seu credor e enfim chegar à liberdade. Com o tempo passando e tentativas frustradas se amontando, ele recebe uma bolsa com algumas moedas de ouro, achada por uma namorada, e como isso não resolveria sua situação resolve devolver o dinheiro. Quando ficam sabendo do fato, um homem preso devolvendo um dinheiro que supostamente achou, ele logo recebe a atenção da mídia e vira um herói nacional até que boatos começam a acontecer.

Vencedor de um importante prêmio no Festival de Cannes em 2021, o longa-metragem consegue colocar ampliar seu recorte, trazendo para reflexões as linhas sempre apertadas do que é certo ou errado. Um ato bom precisa ser louvado ou é só o certo a se fazer? O desencadeamento dessa situação nos leva pelos caminhos da moral, em relação as expectativas criadas, abrindo subtramas interessantes tendo o olhar familiar bem próximo. A construção da narrativa foca no drama de seu protagonista, um homem que se vê em constante conflito pelas suas ações que vão da bondade até o desespero em pouco tempo.

Uma história mal contada impede as verdades de um ato? Essa é uma outra questão que circula o roteiro. As reflexões em cima disso são inúmeras e a narrativa preenche com outros pontos de vistas mas sem pretensão de validar alguma resposta correta. Assim chegamos na visão dos que cercam o protagonista: autoridades prisionais querendo os holofotes, líderes de uma associação beneficente e as preocupações com o caso, a exposição da família num mundo midiático fortalecido pela avassaladora chegada das redes sociais. Esses três pontos se chocam com a desconfiança, com a honestidade, com a moralidade, trazendo para debates facetas da sociedade.

Um Herói pode ser considerado uma jornada de um homem em busca da recuperação de sua reputação em um mundo onde qualquer deslize pode ser interpretado de várias maneiras fazendo muitas vezes você voltar para o lugar onde tudo começou.


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27/12/2023

Crítica do filme: 'Dias Melhores'


A causa e o efeito. Baseado no livro In His Youth, In Her Beauty de Jiuyue Xi, Dias Melhores tem como seu tema central o Bullying, navega em dilemas carregando em sua alta carga dramática a iminência com a tragédia, um flerte contínuo, aos olhos de um alguém que parece estar em um labirinto de decepções. É possível se acostumar com a dor? Onde mora a esperança? Abrindo espaço para reflexões também para a pressão sofrida pelos jovens para as admissões em instituições de ensino superior, o olhar da lei para a questão do bullying, a denúncia, a incapacidade da escola em lidar com determinadas situações, o longa-metragem dirigido por Derek Tsang foi o indicado de Hong Kong para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2021.

Na trama, conhecemos Chen Nian (Dongyu Zhou), uma jovem introspectiva que vive seus dias derradeiros com a próxima chegada de uma prova que pode mudar sua vida. Ela vive com a  mãe, que sobrevive vendendo produtos ilegais e deve demais na praça, em um apartamento minúsculo em uma região nada agradável da cidade. Sua única saída é o estudo, se empenhando diariamente para ser uma das melhores de sua classe. Após o suicídio de uma aluna, Chen Nian parece ser o novo alvo de um grupo de alunas cruéis e privilegiadas que tacam o terror em outros alunos. Ela começa a sofrer bullying, com direito a inaceitáveis humilhações. Um dia, vivendo uma rotina de total medo, resolve ajudar Xiao Bei (Jackson Yee) um rapaz que está sendo agredido por uma gangue, fato esse que unirá essas duas almas, com o rapaz a protegendo dos bullying diários.

Arrecadando mais de 200 milhões de dólares somente em bilheteria na China, Dias Melhores levou muita gente aos cinemas. E tenho certeza que muitos dos que viram se identificaram com o que foi exibido, pelo menos com o tema central: o bullying. A construção para explorar em todos seus detalhes esse importante assunto é feita por um roteiro que apresenta o problema e vai atrás de fatores que giram em torno do assunto, transformando a narrativa com ritmo dinâmico, envolvente, pulsante. Além disso, dentro do discurso proposto, não há uma troca de perspectiva, e sim um complemento, transformando a saga dos dois personagens com um foco numa mesma direção.

O chocar, com as crueldades de alguns dos colegas de classe, é um elemento importante dessa narrativa que vira um gatilho para o campo das reflexões borbulharem. Mas e sobre as consequências das ações? Há punição? Há uma batida de tecla na incapacidade da escola em ao menos detectar o problema mesmo com um suicídio e atos de crueldade feitos a céu aberto. Não deixa de ser uma enorme crítica as instituições de ensino. E não só daquele país. A denúncia também ganha espaço, além do controverso olhar da lei para a questão do bullying.

Rodado todo em Chongqing, na China, a dualidade do gênero cinematográfico é algo constante por aqui, um filme de terror em muitos momentos abre-se um laço para um romance improvável com altas cargas dramáticas e onde os conflitos dos personagens parecem constantes, com a incerteza sendo um norte.



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14/12/2023

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Crítica do filme: 'Soldado Universal'


O faz de conta e seus paralelos com a realidade. Trazendo como protagonistas dois dos rostos mais famosos quando pensamos em filmes de ação de algumas décadas atrás, Jean-Claude Van Damme e Dolph Lundgren, Soldado Universal busca se colocar como uma crítica ao militarismo e as pretensões das grandes potências em transformar soldados em seres imbatíveis. Muito longe da realidade? Talvez! Mas as brechas para as reflexões são inúmeras, principalmente se o espectador conseguir ter um olhar atento em meio a bombas, tiros e pancadarias.


Dirigido pelo cineasta alemão Roland Emmerich, sua primeira assinatura da direção de um filme norte-americano, o longa-metragem conta a história de Luc (Jean-Claude Van Damme), um soldado enviado ao Vietnã no final da década de 60 que após estar entre a vida e a morte, ganha nova chance de vida, mesmo que forçadamente, agora na pele de super soldado, fruto de uma experiência militar. Buscando entender o mundo décadas depois de quase morrer na guerra, Luc é perseguido por Andrew (Dolph Lundgren), um soldado sanguinário que conhece de outros tempos.


Misturando a ficção científica e a ação, a narrativa pratica um exercício de imaginar um mundo com soldados imbatíveis, algo que por si só levaria a vantagens impensáveis em futuras guerras. Essa costura é interessante pois os paralelos que surgem podem também ser vistos como críticas sociais aliadas a um avanço tecnológico. Mas será a força e brutalidade os caminhos para a paz?


As passagens de tempo, começando no fracasso do avanço norte-americano no Vietnã, são importantes para vários recortes que são mostrados. Esse contexto de um período turbulento da história, não só a norte-americana, o antes e depois dentro dessa linha temporal, de duas décadas e meia, faz com que a narrativa caia nas armadilhas dos clichês mas sempre resgatado por possíveis espelhos em relação ao avanço da sociedade e principalmente ao senso crítico que caminha em forte crescente.


Com um orçamento perto dos 20 milhões de dólares e uma receita que superou a casa dos 100 milhões somente em bilheteria em todo o mundo (na primeira semana faturou logo 10 milhões estando presente em quase 2.000 salas), Soldado Universal logo se tornou um enorme sucesso na carreira do astro belga Jean-Claude Van Damme. Inclusive Van Damme e Lundgren estiveram presentes na mega divulgação do filme no Festival de Cannes no início dos anos 1990, fato que ajudou o marketing da produção em uma era onde a internet ainda estava pra nascer.


O projeto logo virou uma franquia, com seis filmes ao todo e não necessariamente com todos os atores principais voltando para seus personagens, aproveitando a enxurrada de filmes de ação que ganhavam a atenção dos espectadores a partir da década de 90. O filme também ganhou uma minissérie de três episódios em forma de quadrinhos escrita por Clint McElroy.


Para quem se interessar em conferir a esse trabalho, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.



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Crítica do filme: 'Touro Indomável'


Os paralelos entre a vida e os tempos de lutador. Um dos maiores clássicos da carreira do mestre Martin Scorsese, Touro Indomável, lançado 43 anos atrás, nos leva para os conflituosos dias de fúria e destruição de um pugilista norte-americano de sucesso que aliado à uma fúria inconsequente conseguir destruir também o mundo de quem estava próximo. Baseado na obra Raging Bull: My Story, escrito por Joseph Carter e Peter Savage, a brilhante narrativa, dirigida de forma impecável por Scorsese, traça incríveis paralelos entre o ringue e os conflitos emocionais.


Na trama, acompanhamos os dias de glória e os dias de fúria de Jake LaMotta (Robert de Niro), nascido no bairro do Bronx, em Nova Iorque, filho de imigrante italianos que desde cedo iniciou uma carreira no boxe profissional conhecido por uma fúria implacável em lutas memoráveis. A questão é que fora dos ringues ele agia da mesma forma. Machista, ciumento, paranoico, até mesmo inescrupuloso, conseguiu destruir os laços familiares que o cercava sempre demonstrando uma violência desmedida. Quem mais sofreu com isso foi sua esposa Vickie (Cathy Moriarty) e seu irmão Joey (Joe Pesci).


A forma como o projeto é filmado é digno de aplausos. Todo em preto e branco, tudo tem relação com os altos graus de fúria encontradas em uma personalidade conturbada. As coreografia das cenas de luta filmadas com apenas uma câmera se juntam a esses espelhos das emoções com a vida cotidiana transformando esse filme em uma pulsante alegoria da inconsequência, sem esquecer do contexto da época com a máfia dominando as esquinas de uma Nova Iorque à beira do caos e descontrole.


A análise profunda sobre o protagonista é repleta de detalhes. Um olhar fixo para as relações com os próximos, entrando nas complexidades das paranoias, as intensas crises de ciúmes, geram cenas inesquecíveis onde realmente sentimos raiva do personagem. Tudo isso em conjunto com uma trilha sonora que foi selecionada pro filme a partir da obra de um compositor italiano chamado Pietro Mascagni, falecido em Roma na década de 40.


O caos também de uma mente brilhante. A carreira de Scorsese ao final da década de 70 estava marcada por um recente fracasso de bilheteria, o musical New York, New York, além de um intenso tour pelo destrutivo universo das drogas que quase levaram o famoso diretor a uma overdose. A luz do fim do túnel seria exatamente essa profunda história de um controverso personagem de um dos mais lucrativos esportes norte-americanos que logo estaria na prateleira dos maiores filmes dos últimos 50 anos. Um detalhe importante e também demonstrando o comprometimento de Scorsese com sua obra, o filme foi editado no seu próprio apartamento em Nova York todas as noites após o término das filmagens do dia.


Indicado para oito Oscars, vencendo nas categorias Melhor Ator (Robert de Niro) e Melhor Edição (Thelma Schoonmaker), Touro Indomável pode ter sido o trabalho que salvou a carreira de Scorsese. E que bom! Ganhamos uma obra-prima para relembrarmos sempre e passarmos para as próximas gerações. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.



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Crítica do filme: 'Asas do Desejo'


A mais bela poesia sobre a existência. Lançado no final da década de 80 e ainda ambientado em uma Berlim dividida pelo famoso muro que consta em todos os livros de história, a obra-prima do cineasta alemão Wim Wenders, Asas do Desejo, nos leva para uma série de reflexões sobre a existência entre anjos querendo o viver e almas perdidas quase sempre em desespero. Indicado para a Palma de Ouro em Cannes no ano de 1987 e vencedor do prêmio de melhor diretor no mesmo festival, esse filme consta na lista de muitos como um dos melhores da história do cinema.


Na trama, conhecemos um anjo chamado Damiel (Bruno Ganz) e outro chamado Cassiel (Otto Sander) que passeiam por uma Berlim do lado ocidental, friorenta, ao lado de outros iguais, observando o cotidiano dos mortais que não podem lhe enxergar. Damiel está no limite, de saco cheio da vida eterna. Seu maior desejo é se tornar um humano mortal algo que só cresce quando se apaixona por uma trapezista de circo chamada Marion (Solveig Dommartin).


A narrativa, a maneira como é contada essa história, é repleta de metáforas com teor filosófico, numa afiada linha contemplativa, que nos fazem refletir sobre algumas questões da mortalidade dentro de um conjunto de ações que andam de mãos dadas com a evolução de uma sociedade que erra e acerta na mesma proporção. A visão de fora, no caso de um anjo, acaba sendo a cereja do bolo. Mesmo sabendo de todos os problemas que abalam os corações aflitos, quem está na eternidade quer se jogar na mortalidade. Essa distância entre dois pontos antagônicos, o mortal e o imortal, ganham novos olhares.


Esse transporte das emoções para a tela é sempre um caminho complexo. Mas por aqui tudo é feito com uma simplicidade aliada a uma inteligente emocional que fazem um tour de 360 graus quando pensamos em conflitos e o espaço/tempo. As interpretações serão diversas, cada um vai sentir esse filme de uma forma de diferente de acordo como seu modo de enxergar o mundo.


O filme termina dizendo que sua história continua. É verdade. Uma continuação lançada cinco anos depois, Tão Longe, Tão Perto, complementa a fantasia e as reflexões propostas nos mostrando o desenvolver dos principais personagens que vemos por aqui. Foi também uma inspiração para uma outra obra, dessa vez hollywoodiana, protagonizada por Meg Ryan e Nicolas Cage lançada 25 anos atrás, Cidade dos Anjos.


Wenders, hoje perto dos 80 anos, deve aparecer em muitas listas nesse ano com o também belíssimo Perfect Days que tem muitos paralelos com essa obra aqui. Ele é um eterno seguidor de outros monstros sagrados da cinematografia mundial, inclusive essa obra-prima é dedicada a alguns dos seus maiores ídolos: o japonês Yasujirô Ozu, o francês François Truffaut e o russo Andrei Tarkovsky. Esses dois últimos falecidos anos antes do lançamento de Asas do Desejo.


Para quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video e também do Telecine. Vejam que não vão se arrepender!

 


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01/11/2023

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Crítica do filme: 'Os Embalos de Sábado à Noite'


Muito mais do que um filme dançante, Os Embalos de Sábado à Noite joga na tela o machismo descarado fruto de uma juventude repleta de rebeldia, inconsequente, aos olhos de um impactante protagonista que embarca em uma tentativa de desconstrução quando percebe o que o futuro pode lhe reservar se continuar naquela rotina. Dirigido pelo britânico John Badham, e com o roteiro baseado em um artigo de Nick Cohn para o jornal The New York Times, o filme ficou marcado pela sua incrível trilha sonora, com muitas canções famosas (Night Fever, How Deep is your Love?, Stayin' Alive) assinadas pela banda australiana Bee Gees.


Na trama, conhecemos Tony Manero (John Travolta), um jovem perto dos 20 anos, morador de uma Nova Iorque no final dos anos 70, sem sonhos de estudos no futuro, perdido na ilusão de sua rotina de farra com os amigos. Ele trabalha numa loja de construção e faz parte de uma família conservadora, descendentes de italianos, religiosa, inclusive com o irmão padre. Suas discussões em casa são frequentes, parecem não se entenderem, principalmente com o pai que está desempregado. Quando chega à noite, Tony ajeita o topete, pega sua melhor roupa e vai com os amigos arruaceiros para a pista de dança de uma badalada boate local onde arrasa nas pistas de dança. Um dia conhece Stephanie (Karen Lynn Gorney) com quem treinará para participar de um concurso de dança, uma mulher que vai fazê-lo aos poucos refletir sobre a vida que leva.


Ambientado em uma Brooklyn (um dos mais famosos bairros de Nova Iorque) pulsante dos anos 70, Embalos de Sábado à Noite é um forte drama existencial que camuflado de uma narrativa que dá ênfase as cenas de dança que marcaram a trajetória do filme no imaginário dos espectadores, busca refletir sobre os sonhos, oportunidades e os conflitos de um cotidiano limitado a uma bolha criada pelo próprio caminho até ali. Tony Manero busca a desconstrução quando sua bolha é furada por uma pessoa que o faz enxergar novas direções. 


Aqui no Brasil mais de 6 milhões de pessoas foram aos cinemas conferir o filme. O álbum musical com a trilha sonora do filme foi um recordista de vendas, com mais de 20 milhões de exemplares vendidos. O longa-metragem também rendeu a primeira indicação ao Oscar pra John Travolta (na categoria Melhor Ator). Pra quem quiser assistir, o filme está disponível no catálogo do Telecine.

 


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25/09/2023

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Crítica do filme: 'Falcão - O Campeão dos Campeões' * Revisão *


Quando acreditamos em segundas chances. Longe de ser um dos mais elogiados filmes da carreira de Sylvester Stallone, inclusive indicado ao Framboesa de Ouro em algumas categorias, Falcão – O Campeão dos Campeões se tornou um dos mais emblemáticos filmes com o ator que foram exibidos na saudosa Sessão da Tarde. Trazendo para o público uma história girando em torno de uma turbulenta relação entre um pai e seu único filho, o projeto dirigido pelo israelense Menahem Golan busca trazer reflexões sobre erros e segundas chances.


Na trama, conhecemos Lincoln (Sylvester Stallone), um solitário caminhoneiro que após a ex-esposa Christina (Susan Blakely) adoecer de uma grave doença vai de encontro ao único filho do casal, Michael (David Mendenhall), um garoto mimado pelo avô Jason (Robert Loggia), com quem deverá passar alguns dias. Buscando recuperar mais de uma década em apenas alguns dias, Lincoln embarca em uma jornada tumultuada onde precisa assumir seus erros em troca de uma segunda chance. Ao mesmo tempo em que busca ter uma melhor relação com o filho, percorrendo quilômetros pelas estradas norte-americanas, o protagonista tem o sonho de vencer o principal torneio de queda de braço do país.


Sem pretensão de ser um filme com inúmeras lições sobre a relação entre pais e filhos, mas com a necessidade de impor grandiosidade demasiada em um duelo entre o herói e o vilão, o longa-metragem até consegue ser profundo em seu refletir. O drama se torna um elemento de importância que circula o desenvolvimento dos personagens. Assim chegamos até alguns dos conflitos: uma doença terminal que acaba tendo que unir dois parentes com um enorme hiato no convívio, as desilusões de um homem que abandonou a esposa e o filho pequeno por não se sentir apto a dar uma vida confortável a eles, um egoísmo de um avô influente pelo poder que tem mas sem sensibilidade para entender o momento. A narrativa se desenvolve em bom ritmo por essas estradas da vida.


Exageradamente indicado ao Framboesa de Ouro, Falcão - O Campeão dos Campeões não é nem de longe um filme ruim. Tem muitos paralelos com a realidade de muitos, seja nas relações conflituosas que são apresentadas, seja na questão dos sonhos que precisam ser regados com a força de vontade e muitas vezes sozinho. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo do Telecine e da Prime Video. 



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22/09/2023

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Crítica do filme: 'Gladiador' * Revisão*


Um pouco mais de duas décadas atrás chegava aos cinemas pelas mãos do sempre competente Ridley Scott um filme que marcaria gerações de amantes da sétima arte nos trazendo o contexto de sangue e dor de um general romano que traça uma jornada cheia de obstáculos motivado por um espírito de vingança em meio ao caos da ambição na figura de um rei assassino e não declarado. Com uma visão bastante próxima de uma Roma Antiga, todo o circo do entretenimento da época associada à uma luta de vida e morte numa enorme arena, as intrigas políticas, alguns personagens que realmente existiram mas com novas interpretações, Gladiador venceu cinco Oscars e até hoje é lembrado como um dos mais grandiosos e elogiados blockbusters.


Na trama, ambientada em 180 D.C, conhecemos o respeitado general Maximus Decimus Meridius (Russell Crowe) um homem que lidera milhares de soldados em linhas de frente de batalhas e só possui um objetivo: voltar para casa e reencontrar a família. Só que após vencer uma importante batalha, já no final de uma grande guerra, o imperador Marco Aurélio (Richard Harris) lhe motiva a ser um dos próximos líderes romanos, fato que deixa o filho do imperador, Cômodo (Joaquin Phoenix), com enorme ciúmes. Num ato premeditado e cruel, Cômodo mata seu pai assumindo assim o poder máximo desse grande império. Em um de seus primeiros atos como grande chefão romano é ordenar a morte de Maximus e toda sua família. Só que o herói dessa história consegue fugir e começa aos poucos a planejar uma enorme vingança tendo pelo caminho que se tornar um gladiador.


Rodado todo em ordem cronológica aos acontecimentos que assistimos, a mega produção coloca sua construção narrativa nos passos de um protagonista que se desconstrói em relação a tudo que acredita sobre lealdade atingindo um caminho sem volta para uma vingança épica. As subtramas nos mostram o caos político e a luta pelo poder em uma Roma enfraquecida com a perda de seu respeitado imperador Marco Aurélio. O olhar para o antagonista se resume as práticas cruéis de um recém imperador mimado, que sonha em alcançar o respeito de seu povo mas que nunca o terá.


Traições, amores proibidos, e um grande senso de justiça são elementos que contornam o vai e vém dos personagens. Mas há um elemento que se torna importante, um espaço criado para uma série de épicas lutas. Todo o circo caótico e desumano do mais famoso entretenimento desse recorte temporal romano, criado através de sangue e luta pela própria vida de pessoas intituladas gladiadores, ganham destaque e acabam nos guiando para todo o epicentro da trama.  


Vencedor de cinco Oscars (incluindo Melhor Filme) esse inesquecível longa-metragem de mais de duas horas de projeção, com cenas grandiosas de batalhas, algumas que demoraram dezenas dias para serem filmadas, e uma trilha sonora assinada pelo craque Hans Zimmer, está disponível na Netflix, Star Plus e Telecine.

 


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29/08/2023

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Crítica do filme: 'Psicose' * Revisão*


A impulsividade como força motora de um encontro cabuloso com o destino. Chegava em junho de 1960 aos cinemas norte-americanos, e pouco tempo depois nas salas de todo o planeta, um filme que se tornaria anos um dos maiores e mais lembrados clássicos do cinema, Psicose. Abordando as fraquezas do ser humano em duas vertentes, uma ligada a um crise existencial que dá um bico na inconsequência e outra ligada a um transtorno dissociativo de identidade, a pulsante narrativa nos leva para uma história aterrorizante cheia de reviravoltas. O filme é baseado no romance homônimo de Robert Bloch, e esse por sua vez inspirado na história verídica de Ed Gein, um famoso serial killer da época. Dirigido pelo genial Alfred Hitchcock.


Ambientado em Phoenix, no Arizona, na trama, num primeiro momento, acompanhamos a história de Marion (Janet Leigh) uma secretária que foge com uma alta quantia de dinheiro que pertence a um cliente da empresa que trabalha e segue sem rumo por uma estrada até resolver parar em um hotel perto da estrada onde encontraria um fatídico destino. Num segundo momento, vamos conhecendo a tenebrosa história de Norman Bates (Anthony Perkins) que a atende nesse hotel e as verdades de uma família.


O brilhantismo da narrativa, a maneira como assistimos em imagens e movimentos as linhas do roteiro, parece se dividir em duas partes, o antes e o depois de um crime. No antes, vemos as dificuldades de uma mulher em lidar com seus conflitos quando percebe uma oportunidade de mudar de vida e de forma impulsiva ruma para talvez o primeiro crime de sua vida sem olhar para trás mas uma forte crise de consciência. Aqui temos o ponto de vista dela para tudo que acontece até esse momento. No depois, o roteiro navega em cima da ideia do trauma como justificativa para ações do mais intrigante dos personagens, um homem recluso, a princípio simpático mas que esconde segredos que são elementos da principal reviravolta da produção e dá margens para inúmeros debates até hoje.


Indicado para quatro Oscars e com uma trilha impecável, criada por um dos maiores compositores de cinema de todos os tempos, o californiano Bernard Herrmann, Psicose é repleto de curiosidades que vão desde um juramento feito por todo elenco para que não contassem absolutamente nada da história até a aquisição de muitas cópias do livro original que deu origem ao filme com o objetivo de que menos pessoas possíveis soubessem sobre o surpreendente final.


Com um orçamento baixíssimo para os padrões da época, o filme que foi o primeiro longa-metragem de terror de Alfred Hitchcock, faturou mais de 40 vezes mais sendo o filme de maior bilheteria da sua carreira. Para quem se interessar em ver pela primeira ou até mesmo rever, o filme está disponível no catálogo da Star Plus e do Telecine.



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10/05/2023

Crítica do filme: ' Batem à Porta'


O jogo de argumentações que envolve o fim do mundo. Novo trabalho do cineasta indiano M. Night Shyamalan, Batem à Porta envolve o espectador em uma longa batalha de argumentos, tendo como plano de fundo um sinistro clima de tensão, aos olhos de uma família que se vê presa por um grupo de pessoas que dizem saber como terminar com o fim do mundo. Baseado no livro The Cabin at the End of the World do escritor norte-americano Paul G. Tremblay, o projeto bate na tecla do achismo, entrando em conflito com crenças ou mesmo a forma como os personagens entendem o mundo até ali.


Na trama, conhecemos o casal Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge), que junto com a filha adotada Wen (Kristen Cui), estão indo para férias em uma casa isolada, próxima de um lago, uma espécie de cabana na floresta. Tudo ia bem por lá, até a chegada de um grupo de quatro estanhos, liderado por Leonard (Dave Bautista), que faz a família de refém com o propósito de que eles os ajudem a acabar com o apocalipse. Assim, em forte clima tenso, um jogo de argumentações que envolve o fim do mundo se torna o epicentro dessa história, onde decisões dolorosas se tornam iminentes.


Um delírio coletivo? Visões aleatórias? Caos emocional? A tensão não se desprende da trama, queremos saber as prováveis, ou até mesmo improváveis, respostas conforme vamos conhecendo mais dos personagens. Flashbacks nos mostram determinados momentos na vida do casal, das escolhas que os levaram até ali. Aos poucos é construído uma longa batalha de argumentos tendo como plano de fundo um sinistro clima de tensão onde a verdade se torna uma variável que muda conforme o tempo passa. Há a necessidade de reflexões em todas as linhas do roteiro, principalmente para se chegar no interpretativo desfecho com uma opinião sobre que seria de fato essa história.


Tudo é apenas uma coincidência? Como linkar o caos do cotidiano como parte de uma narrativa? Buscando referências também em crises sociais e até mesmo existenciais, o filme navega na tensão para apresentar uma trama repleta situações extremas, estresse constante, cenas de violência. Joga fora a melancolia é estabelece de forma objetiva seu principal foco mostrar que é um filme sobre escolhas.



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02/02/2023

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Crítica do filme: 'Tár'

 


As respostas que imploram por outras perguntas. O hipnotizante novo trabalho do cineasta Todd Field propõe ao público se jogar em uma imersão pelos fascinantes porquês interpretativos da música clássica através da figura de uma personagem fictícia e completamente impulsiva que parece querer lutar contra sua realidade como se todos tivessem a postos à ela. Como se fosse uma peça de um concerto, o roteiro (escrito por Field) nos leva para uma jornada intensa mas nunca maçante sobre uma tentativa frustrada do exercer o controle de tudo chegando a um esgotamento mostrando que o tempo, essa variável incontrolável pelo menos na vida real, é essencial. No papel principal, brilha mais uma vez Cate Blanchett, novamente indicada ao Oscar, por esse brilhante desempenho.


Na trama, conhecemos a maestrina Lydia Tar (Cate Blanchett) uma das figuras mais importantes da música em nossos tempos, PHD em musicologia pela faculdade de Viena que chegou com todos os méritos ao posto de regente de uma grande orquestra alemã. Próxima de uma aguardada gravação, a quinta sinfonia de Mahler, um dos maiores compositores do período romântico, uma série de conflitos fora dos palcos acontece culminando em uma caminhada da genialidade ao desespero.


Indicado para seis Oscars, incluindo melhor filme e melhor atriz, Tár é pulsante. Explora com maestria os paralelos entre a vida pessoal e a vida profissional de uma figura ícone no meio da música. A belíssima construção, e depois desconstrução, dessa icônica personagem nos leva a refletir sobre os intensos sentimentos que são deixados em cada ação e nas escolhas da protagonista. Quando os bemóis e sustenidos de sua vida evaporam da harmonia desejada, se vê em um caos dominante. Mas será que para ela, nada mais importa senão a música? Nada disso, estar presa com seus sentimentos na realidade que batem à sua porta a transformam a todo instante se mostrando mais exposto no recomeçar de seu desfecho.


O limite é um ponto importante aqui nessa investigação emocional que parece querer muito refletir quando os paralelos já citados se convergem. Estar no topo profissional, inclusive em uma área dominada pelos homens, tendo consigo muitas conquistas escondem um lado de manipulação como sabemos que pode acontecer com quem está com o poder. Conciliar trabalho e família apresentam à sua frente variáveis nada controladas bem diferente das harmônicas perguntas que cativam os ouvintes de Bach. Um castelo de cartas se destroçam quando é rompido os limites, ou pelo menos expostos, em frações as peças se desligam do brilhantismo à loucura.


Pulsante, repleto de intensos diálogos, com um forte paralelo com a música, Tár apresenta em suas quase três horas de projeção um recorte da desmistificação hipotético do poder. Assim como a vida, para entender a música, diferentes e profundos sentimentos indefinidos acabam se jogando à nossa frente. Por todos os lados, com um recheio de imperfeições, buscamos enxergar o regente que há entre nós dentro da nossa própria trajetória.



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24/01/2023

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Crítica do filme: 'Noite Infeliz'


A importância do acreditar. Dirigido pelo cineasta norueguês Tommy Wirkola, Noite Infeliz é um filme que te conquista rapidamente com uma trama que nada mais é que um recorte debochado, sangrento e eletrizante do espírito natalino. A narrativa é em grande parte imersa em uma comédia escrachada, repleta de situações bizarras que busca alguma profundidade em subtramas ligadas aos problemas de relacionamentos que existem em qualquer família. No papel principal o ótimo David Harbour.


Na trama, conhecemos o verdadeiro Papai Noel (David Harbour) que aqui nesse projeto é um beberrão, desacreditado, desanimado na data onde é mais lembrado, pensando inclusive em se aposentar. Durante sua rotina intensa durante o natal, acaba chegando na casa da família de Trudy (Leah Brady), uma criança que ainda acredita no Papai Noel e vive dias difíceis com seus pais à beira da separação. Quando um grupo de criminosos resolve assaltar a casa da família dela justo no natal, Papai Noel fará de tudo para proteger Trudy e toda sua família.


Sangrento e violento em sua essência, o longa-metragem, lançado em dezembro de 2022 nos Estados Unidos, no Brasil em sequência, já faturou até o momento mais de 70 milhões de dólares em bilheteria pelo mundo. A ótima sacada do roteiro, que busca como pretensão apenas fazer rir com seus absurdos, é surfar em cima de uma releitura fantasiosa e depressiva sobre uma época marcada pela união e esperança. Há incluso nesse contexto uma subtrama que gira em torno de uma família milionária e bastante distante em suas relações com um maior foco em um pai tentando voltar com a esposa na noite de natal.


Noite Infeliz cumpre seu objetivo que é chocar e fazer os espectadores se divertirem. O projeto com toda certeza será lembrado nos próximos anos nas famosas listas sobre filmes de natal que dominam posts de quem produz conteúdos sobre cinema nas redes sociais.



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14/01/2023

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Crítica do filme: 'Os Fabelmans'


Tudo acontece por um motivo. Passeando, em partes, pela incrível história de uma das maiores lendas da história do cinema, Steven Spielberg, Os Fabelmans nos apresenta a descoberta do mundo mágico da sétima arte aos olhos de um jovem, que por meio de suas lentes da memória, da lembrança do que significa família, se tornou um ícone que transcende gerações. Ao longo de duas horas e meia de projeção, onde transbordam-se emoções por todos os lados, Os Fabelmans nos mostram as estradas, conflitos e escolhas de um eterno sonhador.


Na trama, conhecemos Sammy (Gabriel LaBelle) um jovem que começa a ter suas primeiras experiências com cinema logo na pré adolescência após ficar impactado pelo seu primeiro filme visto numa tela grande. O protagonista mora com o pai, o engenheiro elétrico Burt (Paul Dano), a mãe e pianista Mitzi (Michelle Williams), e suas irmãs. Ambientado nas décadas de 50 e 60, vamos caminhando na sua aspiração em ser um cineasta, fato que encontra paralelos com uma descoberta dolorosa que impacta para sempre sua família. Com versões fictícias de pessoas reais na vida de Spielberg, Os Fabelmans busca um enorme recorte sobre a influência para um sonho e como tudo que aconteceu em sua trajetória, de alguma forma, o levaram por esse caminho.


Desde o primeiro impacto após uma sessão de cinema, passando pelo seu primeiro filme caseiro: um acidente de trem envolvendo seus trens de brinquedo, Sammy percebe que o cinema não sairia de sua vida. Um dos clímax do filme, o conflito com a mãe, algo que impacta sua família, ganha uma melancolia profunda, algo que se torna inesquecível e que de alguma forma moldou o caráter e amadurecimento desse jovem que teve em sua vida muitas mudanças de cidades por conta da profissão em ascensão do pai. Esse sofrimento se junta a outros conflitos como o bullying numa nova escola. Esses momentos de reflexões acabam sendo fundamentais para o nunca descansar de sua vontade de recriar relações pelas lentes. O vazio existencial de em alguns momentos ir contra a real vocação chega numa fase de escolhas definitivas onde o caminho parecia apontar para uma estrada só.


O longa-metragem teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto e é de longe um dos filmes mais pessoais de Spielberg. Uma carta de amor ao cinema, à sua família. Mas como criar isso tudo numa tela de cinema? A ideia pro filme, que já vinha perseguindo o pensar de Spielberg, se concretizou durante os tempos de pandemia da Covid-19, onde ele e o co-roteirista Tony Kushner escreveram de suas respectivas casas durante dois meses. O projeto marca o retorno de Steven para os roteiros, fato que não acontecia desde o inesquecível A.I. Inteligência Artificial (2001). Entre algumas curiosidades e liberdades artísticas, até encontra-se brechas para o destino cruzar-se com o lendário John Ford (vencedor de quatro Oscars de melhor direção) e sua contra simpatia camuflada de genialidade interpretado por ninguém menos que um dos maiores diretores de todos os tempos David Lynch.


Será que a felicidade existe? Ou o que existem são momentos felizes? Os Fabelmans contorna olhares e reflexões para uma geração de sonhadores e a busca por um lugar ao sol de uma família de classe média, num período pós segunda guerra mundial, batendo forte na tecla de que na vida, não importa se o horizonte está em cima ou embaixo, o que importa é viver.



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09/11/2022

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Crítica do filme: 'Armageddon Time'


O amadurecimento e a estrada da vida. Exibido no Festival de Cannes (onde teve uma ótima recepção), chega aos cinemas brasileiros nesse começo de novembro um filme tocante que busca na força da família razões e emoções para um amadurecimento de um jovem que se vê rodeado de conflitos em um recorte norte-americano com o preconceito batendo forte de porta em porta e um cenário político em ebulição às vésperas da eleição do 40º presidente dos Estados Unidos. Escrito e dirigido pelo cineasta nova-iorquino James Gray, ambientado em uma Nova Iorque do início dos anos 80, Armageddon Time reflete sobre o sonho americano em uma estrada repleta de aprendizados em memórias que ficariam para sempre, jamais esquecidas. E em falar em memórias, o projeto é baseado nas da infância do próprio diretor.


Na trama, conhecemos Paul (Banks Repeta), um jovem, meio rebelde, de classe média, que adora o universo das artes, principalmente o desenho, a pintura. Ele mora com a mãe Esther (Anne Hathaway), uma dona de casa e representante de pais da escola, e o pai Irving (Jeremy Strong, em grande atuação), um homem que ganha a vida como encanador, consertando aquecedores. Uma figura presente em sua vida é seu avô, Aaron (Anthony Hopkins), com quem aprende muito sobre a vida em cada conversa. Paul estuda em um colégio público e se vê quase sempre em conflito com o professor (uma figura conservadora e muito rígida). Ele começa uma amizade com Johnny (Jaylin Webb), um jovem negro que mora com a avó, e dessa amizade Paul aprenderá lições que levará por toda a vida.


Essa jornada parte do retrato de uma família que busca se estabelecer em um Estados Unidos às vésperas de mais uma mudança presidencial, onde o conservadorismo engessa os sonhadores e os horrores do preconceito são vistos em cada esquina. A ótica aqui é toda de Paul, como esse jovem adolescente lida com os conflitos que aparecem em sua frente. Sua personalidade é uma mistura de ingenuidade e imaturidade num início, mas acaba passando por uma enorme transformação num curto período onde a perda de alicerces do seu cotidiano o fazem amadurecer, talvez até precocemente, em um mundo nada justo, às vezes vazio. Os excelentes diálogos entre pai e filho e entre avô e neto mostram o medo da realidade que o espera lá fora, quando precisará sair do ninho familiar e encarar a vida e todas as suas facetas, nem sempre felizes.


O preconceito racial é um assunto muito presente nas linhas do roteiro. A amizade de Paul com o amigo Johnny mostram os dois lados de uma história. Johnny é um jovem negro, sem oportunidades, que num momento acaba nem podendo voltar pra casa, enquanto o amigo mora em uma casa confortável, tem uma estrutura familiar, tem a possibilidade de estudar em um colégio particular em um segundo momento. A amizade entre os dois existe e as escolhas que cada um possui são desiguais, muitas para um, poucas para o outro. Um retrato de um mundo ainda muito preconceituoso é visto, e infelizmente até os dias de hoje, não só nos Estados Unidos.


Há também espaço para política. O título do filme, que aparece em uma fonte chamativa no início e no fim da obra, deixa claro uma referência à algumas falas do ex-presidente norte-americano Ronald Reagan que batia na tecla dessa palavra ‘Armageddon’ colocada em sua visão sobre alguns temas. Esse que seria o próximo presidente norte-americano após derrotar o democrata Jimmy Carter. Até o Pai de Trump, Fred (John Diehl) e a irmã Maryanne (Jessica Chastain) aparecem na história nessa visão sobre os Estados Unidos que ao longo da década de 80 sofreriam com uma instabilidade econômica com o avanço de outros mercados.


Armageddon Time ainda por cima reúne um elenco maravilhoso que ao longo de quase duas horas de projeção nos leva a uma caminhada pelo cotidiano do sonho americano mas mostrando verdades e obstáculos da vida por meio de memórias numa narrativa intimista que emociona do início ao fim.



 

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15/10/2022

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Crítica do filme: 'Noites de Paris'


Coração de mãe, sempre cabe mais um. Explorando o início, meio e fim da década de 80 numa França agitada em vários campos, na visão de uma mulher com um lado maternal forte, o cineasta parisiense Mikhaël Hers nos apresenta um longa-metragem quase em forma de crônicas que coloca a família no centro dos conflitos. Exibido no Festival do Rio 2022, o drama intimista Noites de Paris é protagonizado pela atriz Charlotte Gainsbourg.


Na trama, conhecemos Elisabeth (Charlotte Gainsbourg), uma mulher de fala mansa, culta, que estudou psicologia e se separou recentemente de um homem que a abandonou. Ela mora com os filhos, Judith (Megan Northam) e Mathias (Quito Rayon Richter) num belo apartamento, com uma esplendorosa vista para uma grande cidade francesa. Mas a situação deles não é tão confortável assim, passando por várias fases e apertos financeiros. A protagonista tem certa dificuldade de adormecer, nessas horas assiste a um programa no rádio e tempos depois, quando procurava diariamente um emprego, acaba conseguindo um trabalho na equipe desse programa. Um dia, durante o período em que busca um mais amplo sentido para sua trajetória, chega na vida dessa família Talulah (Noée Abita), uma jovem que tem problemas com drogas que acabará se sentindo aceita nessa família, mesmo com idas e vindas ao longo de toda a década de 80.


Numa época em que os cinemas franceses não deixavam ninguém mais entrar nas sessões após cinco minutos do início do filme, é o pontapé inicial dessa história onde já conhecemos a protagonista em um momento onde sente que precisa estar próxima dos filhos, ou até mesmo saber ouvir o que eles tem a dizer sobre ela. Há um foco na mãe e no filho (a filha é apenas uma figurante na história). A relação maternal é uma constante evidente que ganha novos caminhos com a chegada de Talulah. Elisabeth se identifica com ela muito por conta da fragilidade (que na protagonista até se desenvolve em coragem ao longo do tempo), algo que as duas tem em comum. A linha temporal segue por dentro da década de 80 onde conflitos ligados à pais e filhos são vistos.


Com um roteiro escrito por três pessoas, uma delas o próprio diretor, percebemos que possa haver uma certa proximidade do mesmo com pelo menos uma parte do que assistimos. A ideia do programa de rádio, por exemplo, um importante momento na trajetória da protagonista, foi adaptado a partir de memórias de Hers sobre um programa antigo, da década de 70, que ficou 20 anos no ar e era exibido ao vivo pelo rádio madrugada à dentro.


O cinema também tem seu cantinho no roteiro, num momento metalinguístico onde até um dos melhores filmes de Nicolas Cage, Birdy (Asas da Liberdade, no Brasil) é a escolha dos personagens para assistirem. A arte parece andar com os personagens que são muito ligados às questões culturais que se desenvolvem na cidade luz. O gosto pela poesia e a escrita de um dos personagens acaba sendo algo que faz parte da trajetória, em todos os momentos, dos diálogos mais felizes da família.  


Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim e rodado quase todo no bairro Beaugrenelle, em Paris, lugar construído na década de 70, Noites de Paris nos trás uma série de lições que podem servir de reflexão, principalmente para quem, com medo de perder, mantém vivas memórias passadas sem conseguir viver o presente.

 


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