14/02/2021

Crítica do filme: 'A Perfectly Normal Family'


É difícil aceitar as pessoas do jeito que são? Selecionado para o Festival de Rotterdam do ano passado, o longa-metragem dinamarquês A Perfectly Normal Family conta a trajetória de um homem que quer trocar de gênero o que o leva a um enorme conflito familiar. Dirigido pela cineasta holandesa Malou Reymann, de apenas 32 anos e em seu primeiro longa-metragem como diretora, o projeto navega pela visão das jovens sobre o divórcio, principalmente a irmã menor com todas as suas dúvidas e incompreensões que a levam em uma jornada de redescoberta do pai. Belo filme. Disponível no MUBI.


Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Thomas (Mikkel Boe Følsgaard), um pai de família que tem duas filhas, Caroline (Rigmor Ranthe) e Emma (Kaya Toft Loholt), com a esposa Helle (Neel Rønholt). O pai é muito carinhoso com as filhas com quem possui uma enorme ligação. Certo dia, após tentarem adotar um cachorrinho, uma grande surpresa acontece quando Thomas e Helle anunciam para as filhas o divórcio e ainda que Thomas fará uma cirurgia para virar mulher. O tempo passa um pouco e agora Thomas, já com corpo de mulher, se chama Agnete e precisará compreender e ser compreendido no dia a dia com as filhas.


O ótimo roteiro busca a todo tempo nos trazer o pensamento de dentro da família e de fora para refletirmos sobre a ótima temática. Sessões de acompanhamentos de Agnete com a família, no início, mostram os pontos de vistas variados sobre a situação. Mesmo não existindo padrão de regras sociais, a opinião dos outros muitas vezes machuca e isso é sentido na pele de várias formas por Agnete. O relacionamento entre pai e filhas é abalado por um instante e uma longa caminhada será necessária para que todos se entendam como uma família cheia de amor que sempre foram.


Pequenos avanços na linha temporal, que também mostra a relação familiar quando as irmãs eram pequenas, vão dando um ritmo cadenciado e muito sensível a tudo que acompanhamos. Uma das grandes subtramas são os embates entre o pai, agora já Agnete, e a filha menor Emma. O pai sempre a incentivava a gostar de futebol e de repente até isso modificou o que leva a jovem personagem a entrar em um processo de amadurecimento constante se esforçando para entender as escolhas do seu tão amado pai. Um ótimo filme europeu, merecia a tela grande e lindos debates sobre o tema.