02/05/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #402 - Henrique Nuzzi


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Henrique Nuzzi tem 24 anos iniciou seus estudos na área do cinema aos doze anos de idade em São Paulo. Atualmente é formado em Direção Cinematográfica no curso Filmwork da Academia Internacional de Cinema e Roteirista pela Roteiraria. Participou de diferentes projetos ao longo de sua carreira, nas linguagens de Drama, Suspense, Terror, Fantasia, Experimental e Comédia, ‘videoclipes’ e vídeos institucionais. Como destaque de sua trajetória, dirigiu o curta-metragem Solicita Alma e Anima, roteirizou o média-metragem Boneco de Carne; o Longa-Metragem Sorvete com Tofu e Heróis Corrompidos.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Na minha formação cinematográfica demorei para conhecer espaços ‘alternativos’ na cidade. Passei mais da metade da minha vida indo em cinema de shopping. Quando busquei me relacionar com o cenário audiovisual descobri a minha sala de cinema preferida em São Paulo, o MIS. O que me possibilitou conhecer um circuito de filmes não convencionais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Minha vida está ligada ao cinema antes mesmo da minha primeira memória. Sempre existiu dois mundos, os filmes de Hollywood que assistia no cinema e minhas experiências com as câmeras digitais do meu pai. Posso narrar diferentes momentos que pensei ‘o cinema é um lugar diferente’. A cada ano essa questão assombrava os meus pensamentos. Sempre estudei em colégios artísticos e tinha medo do cinema tomar a minha vida. Mesmo nesses espaços havia muita desinformação sobre audiovisual. O meu ponto de virada foi conhecer o cinema de invenção brasileiro. Deu um sentido a minha busca, o cinema que eu fazia desde criança encontrou o seu lar, o cinema experimental.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Posso dizer com convicção que o meu diretor favorito é o Rogério Sganzerla, diretor do O bandido da luz vermelha de 1968. Sinopse: ‘História inspirada nos crimes do conhecido assaltante João Acácio Pereira da Costa, o “Bandido da Luz Vermelha”, que assalta residências, realiza fugas ousadas e gasta o dinheiro de forma extravagante. Encurralado, ele recorre a medidas extremas.’ Amo toda a filmografia do Sganzerla. Os seus filmes podem ser visto como uma grande ‘franquia’ a cada filme ele avança na desconstrução pós moderna. Ao longo da minha vida tive vários mentores no cinema de autor, desde Tim Burton a Tarantino. Sei que esses nomes são batidos no nosso imaginário, mas essas referências me influenciaram por toda a minha vida e contribuíram na construção da minha estética.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Meu filme nacional favorito é Terra em Transe de 1967 do Glauber Rocha. Sinopse: ‘País fictício da América Latina, Eldorado, é palco de uma convulsão interna desencadeada pela luta em busca do poder.’ O filme narra a história de um romântico poeta anarquista de classe média que busca a revolução a qualquer custo. O filme conseguiu quebrar as algemas do experimentalismo tropical influenciando o futuro do cinema mundial. Filmes de grande bilheterias nacionais como Tropa de Elite, Tropa de Elite: o inimigo agora é outro, Bacurau,  jamais teriam sido realizados sem o universo de Glauber Rocha.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Vejo a Cinefilia da mesma forma que os antigos viam. Como uma doença fruto de uma classe média ociosa. Somos viciados em imagem em movimento. Cinefilia está além de amar filmes, é a obsessão pela informação. Não consigo ficar uma semana sem ver um vídeo no YouTube.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que os cinemas sabem exibir filmes que o público quer ver. Eu vivo em São Paulo, tenho a possibilidade de conhecer circuitos mais Cults. E sei que esse cenário não está presente em todo o Brasil.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

As salas de cinema vão se adaptar, acredito que vai ser como o teatro. As grandes redes perderam a força com os novos acordos com as produtoras. As distribuidoras multi nacionais que intermedeia com o cinema tendem a desaparecer, visto que o espaço físico não tem o mesmo valor. O cinema tende a se tornar novamente o cinema de rua. Podendo locar o espaço para diferentes formatos de exibição.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Mulher de Todos de 1969 do Rogério Sganzela.

 

Sinopse: ‘A ninfomaníaca Ângela Carne e Osso convida o amante para visitar a exótica Ilha dos Prazeres. Desconfiado, seu marido contrata um detetive particular, o qual acaba revelando o plano ao se apaixonar pela moça. Desconcertado diante do flagra, o marido traído prepara uma terrível vingança.’ O filme protagonizado pela Helena Ignez, rompe com a dramaturgia clássica e implementa uma nova forma de atuação. O cinema de vanguarda brasileiro ainda não havia rompido com a opressão patriarcal. As figuras femininas nos filmes nacionais nos anos 60 não retratava a mulher moderna. Helena Ignez inaugura a liberdade feminina e expõe as contradições do Status Quo.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acredito que não devemos reabrir os cinemas antes da pandemia acabar.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

É difícil dizer como está o cinema brasileiro atualmente, estamos em plena pandemia. Não estou tendo muito contato com os filmes produzidos nesses últimos 2 anos. Já que as grandes produções pararam e só quem produz cinema atualmente é o cenário independente. Acredito que estamos passando por mais uma das crises do cinema brasileiro. Nunca tínhamos vistos tantos filmes de qualidade e com diversidade tão ampla nessas últimas décadas. Houve uma democratização desde quem realiza até nas temáticas discutidas graças as leis de incentivo. Agora falta apenas democratização na distribuição dos filmes.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Eu não perco o próximo filme o Kléber Mendonça Filho. Quero ver qual será o próximo passo do seu cinema. Torço pro crescimento do cinema mainstream de autor.

 

12) Defina cinema com uma frase:

A materialização em movimento dos sonhos humanos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Minha relação com salas de cinemas mudou quando exibi o meu primeiro filme em tela grande com 15 anos. No meu ensino médio tinha aula de cinema e tive a minha primeira experiência dirigindo e roteirizando um filme. No clássico método brasileiro ‘Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão’. Infelizmente perdi esse filme em umas das minhas crises juvenis. Nunca pensei que as brincadeiras com a câmera digital poderiam gerar emoções em pessoas desconhecidas.

 

14) Defina ‘Cinderela Baiana’ em poucas palavras...

O The Room brasileiro.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Para ser um cineasta é preciso conhecer a linguagem cinematográfica, não ver todos os filmes. Claro que quanto mais filmes se vê mas domínio da linguagem se tem. Só que a formação de um cineasta se dá em sua experiência com a câmera, o espaço e os atores. Depois que o artista desenvolve o seu universo o mais importante é o autoconhecimento, vivências reais e o estudo complementar em alguma área humana. É a formação pessoal que constrói um cineasta.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O pior filme que vi na vida foi 2 coelhos.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Minha experiência com cinema documental não é muito vasta, então não me vem o melhor na minha cabeça. O último documentário que vi e me surpreendeu foi Rocha que Voa. Sinopse: “A partir da premissa de que nenhuma revolução acontece isoladamente, o filme busca reconstituir o diálogo ocorrido entre o Cinema Novo brasileiro e o Cine Revolucionário cubano.”. Retrata a influência do Glauber Rocha em Cuba em seu exílio em 1971 e 1972. O filme retrata desde as intervenções artísticas do cinema Glauberiano, até às técnicas usadas pelos editores cubanos no filme Câncer.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Lembro de bater palma nos filmes do Harry Potter, quando pequeno.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Gosto de dois filmes do Nicolas Cage: O senhor das armas e Adaptação.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Quando novo costumava ler o site omelete e com o tempo deixei de acompanhar sites de cinema. Vejo bastante vídeo análise de cinema pelo Youtube como Tela em Transe, Cinema sem Limites e Cinédito.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Consumo o Darkflix, o Globo Play, SpCine Play, Canal Curta, Canal Brasil e Looke.