15/01/2025

Crítica do filme: 'Meu Bolo Favorito'


Da simplicidade chegam as melhores histórias, sendo assim, é possível achar muitas formas de abordar os sentimentos mais profundos ligados ao amor e o desejo no cinema. O caminho encontrado pelo longa-metragem iraniano Meu Bolo Favorito é uma imersão ao despertar de sentimentos esquecidos trazendo a melhor idade como protagonista e logo chegando até um delicado recorte, sem se esquecer de todo o entorno político de um país marcado pela opressão.

Escrito e dirigido pela dupla de cineastas Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha, vencedor de prêmios no Festival de Berlim do ano passado, o projeto lançado nos cinemas nesse início de 2025 opta por falar de amor e solidão na mesma equação, uma estrada que nunca cai na melancolia encontrando sua força numa sutileza louvável. Muitos detalhes em cena se tornam um paralelo marcante com realidades que existem por aí.

A vida da ex-enfermeira e viúva Mahin (Lili Farhadpour), uma mulher que se prendeu em uma solidão faz décadas, caiu na mesmice. Vendo as amigas que adora cada vez menos a cada ano, vive sozinha numa casa tendo contato com as filhas somente pelo celular. Certo dia, algo desperta nela e tomando coragem para se livrar do cantinho solitário que passa o cotidiano, acaba tendo um encontro pra lá de casual com o também solitário, e taxista, Faramarz (Esmaeel Mehrabi), com quem passa uma noite inesquecível, cheia de surpresas.

Sem esquecer do contexto do sistema opressivo do Irã, que não deixa de passar por questões políticas, a narrativa leve e descontraída, costura seu desenvolvimento com pinceladas certeiras em forma de críticas sociais. Misturando comédia, romance e drama vamos sendo conquistados pelos cativantes personagens que embarcam em uma aventura rumo a autodescoberta. Em uma noite como clímax, lições são tiradas aos montes tendo essa reconexão mais viva que nunca.  

Rodado todo na capital do Irã, Teerã, esse projeto da dupla que já havia lançado o interessante longa-metragem O Perdão, é mais um forte grito contra um governo que instaura ‘Polícia da Moralidade’ e outros tantos absurdos. Tendo o cinema como elo para reflexões, encontramos um brinde à vida, dentro de um recorte intimista que diz muito sobre o bico que podemos dar em qualquer lapso de solidão.