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11/04/2021

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Crítica do filme: 'Gorbachev.Céu'


Selecionado para a Competição Internacional de Longas do Festival É Tudo Verdade 2021, Gorbachev.Céu mostra opiniões e lembranças do oitavo e último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, gestor de uma grande reforma em sua parte comandada do mundo e que podemos dizer que deu um nó no planeta, responsável pela Perestroika e Glasnost em meados da década de 80. Vamos sendo testemunhas oculares de sua rotina, agora já mostrando diversas fragilidades que chegam com a idade avançada, além de termos uma grande aula sobre história mundial através desse hábil contador de histórias, uma figura histórica, mundialmente conhecida que ainda se vê como socialista tendo Lênin (Organizador do Partido Comunista Russo) como seu Deus. Dirigido pelo cineasta ucraniano Vitaly Mansky.


A modelagem do documentário é bastante ágil e dinâmica, uma entrevista cheia de caminhos e momentos de grande reflexão, praticamente a história da Rússia das últimas décadas passando na frente de nossos olhos através da opinião sempre firme desse ex-chefe de sua nação, filho de pai ucraniano e mãe russa. Mesmo demasiadamente curioso nos detalhes do apartamento do entrevistado, o documentário consegue preencher lacunas importantes sobre muitas das figuras políticas mencionadas por Gorbachev, o que acaba virando um ótimo complemento dos contextos detalhados de maneira bem simples e didática.   


Alguns assuntos ficam com suas respostas jogadas pelas inúmeras entrelinhas, mesmo quando o entrevistador faz perguntas bem incisivas, como por exemplo a ampla questão sobre a democratização dos contornos após o fim da União Soviética e os detalhes de seu encontro com o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan. Mesmo com a Rússia voltando a não-liberdade como sua forma natural de existência, vemos a todo instante seu brilho no olhar desse ex-advogado que governou a União Soviética de 1985 até 1991, deixando o poder depois de traições e manobras políticas de figuras conhecidas do enorme país que tem em Moscou como sua capital.


Esse projeto deveria ser complemento escolar para todas as gerações que estão estudando as décadas recém passadas e todos os rumos, seus porquês, que o mundo tomou. Tem fatos que o cinema ensina em um ritmo fluente de narrativa objetiva que muitas vezes gera a sensação de estarmos folheando livros e mais livros.

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10/04/2021

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Crítica do filme: 'Glória à Rainha'


A imersão profunda onde o tempo desaparece. Selecionado para a Competição Internacional de Longas e Médias-Metragens do Festival É Tudo Verdade de 2021, Glória à Rainha, dirigido pelas cineastas Tatia Skhirtladze e Anna Khazaradze conta a história de quatro das maiores enxadristas da história desse esporte, todas elas Georgianas e contemporâneas. Concentração, silêncio, o click do relógio. As dificuldades de deixar suas famílias para viajarem pelo mundo, histórias do treinamento intenso (cada uma delas perdia cerca de meio quilo durante um único jogo de xadrez), somos ouvintes de relatos/lembranças dos tempos de seus respectivos momentos grandiosos como reconhecidas enxadristas profissionais, algumas delas até disputavam torneios masculinos contra grandes mestres da época. Uma interessante jornada com mais uma certeza sobre a força das mulheres pelo mundo.


Em Rhodes, Grécia em 2019, no campeonato europeu de xadrez sênior, que começa essa jornada sobre as memórias e realizações, além do impacto social e de nomes no país que nasceram (muitos bebês na época de suas conquistas foram batizados com seus nomes). Encontros em diversos torneios pelo mundo, no vai e vem de lembranças sobre as carreiras de sucesso, principalmente durante o período de Guerra Fria, e os impactos que possuíram sobre todo um país que durante muito tempo pertenceu a União Soviética. Na Geórgia é comum presentear com um jogo de xadrez à noiva como parte do dote, essa entre outras curiosidades vamos acompanhando ao longo dos quase 90 minutos de projeção, aprendemos muito sobre a cultura desse país considerado antigamente como a Califórnia soviética, destino de muitos nas férias dentro da Antiga União Soviética.


O filme explora muito bem a força feminina da história desse país muito desconhecido por aqui. Exemplos não faltam, como: Santa Nino, que trouce o cristianismo para esse pequeno país antes do século V, o ‘Rei’ Tamar que na verdade era uma Rainha mas chamada de rei na Idade Média, e, no século XX as brilhantes enxadristas aqui mencionadas, famosas em todo o mundo pelo Xadrez. Além desses fatos, vamos acompanhando as consequências positivas dos feitos das esportistas não só para seu país e região mas também para esse esporte muito machista durante bom tempo.


Há 18 trilhões de movimentos em um jogo de xadrez, já imaginaram buscar controlar sua mente e seu corpo contra qualquer uma dessas variáveis? E os movimentos externos, guerra fria, união soviética, pressão, marketing unilateral feito pelo governo...? Glória à Rainha é um documentário atemporal que mostra muito através do olhar de corajosas e inteligentes mulheres.

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09/04/2021

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Crítica do filme: 'Fuga (Flee)'


A amizade como ajuda na cura de feridas do passado. Baseado em fatos reais, uma história muito próxima do diretor desse projeto, o cineasta dinamarquês Jonas Poher Rasmussen, consegue ser muito criativo usando a técnica de animação para criar um ambiente respeitoso e criativo para um homem pronto para contar sua história, esse que escrevia em um caderno velho suas verdades até aqui agora às vésperas de casar ele precisa enfrentar seu passado. Por meio de memórias e até algo parecido com um relaxamento, quase em ponto de hipnose, voltamos ao ano de 1984 em Cabul (Afeganistão), onde toda avalanche de situações dramáticas deram início na vida do protagonista. Descoberta de sua sexualidade, guerras civis, países saindo do comunismo, fugas e mais fugas. Somos testemunhas de uma incrível história que passa por muitas questões globais. Fuga, ou Flee no original, foi o filme de abertura do Festival É Tudo Verdade de 2021.


Não deixa de ser uma história contada por conta da amizade entre o diretor e seu protagonista, um velho amigo desde os tempos onde não muitos imigrantes chegavam na capital da Dinamarca, Copenhage. Amin, nosso protagonista, é um homem já pensando no pós-doutorado em Princeton (EUA) mas que ninguém perto dele sabe sobre seu passado, só que é afegão e chegou na Dinamarca e de lá nunca mais saiu. Decidido em enfrentar seu passado para poder oferecer seu amor em 100% ao seu namorado com quem pretende construir uma família e morar junto, ao amigo dos tempos de colégio resolve contar as suas verdades sobre como chegou até ali. Passamos a conhecer o Afeganistão e sua relação com a família, o misterioso sumiço do pai e uma fuga desesperada para fugir dos novos domínios da região onde vivia. Chega em Moscou, nessa fuga, enfrenta outro fato histórico mundial, na época que chega, um ano após o comunismo e testemunha de situações tristes: pessoas morrendo de fome, mercados sem nada, moeda desvalorizada, muitos crimes, polícia impiedosa. Nesse período até a chegada do Mc’Donalds à Rússia ele testemunha.


Paralelo as fugas que dominaram grande parte de sua vida, vamos conhecendo os pensamentos de Amin desde cedo. As histórias de aviação da irmã, mesmo que pudessem ser enormes invenções o deixava com as asas prontas para sonhar, sem nunca pensar que seus próximos dias, semanas, meses e anos seriam como se fossem um enredo de filme dramático, praticamente lutando para existir, fugindo de muitos males que encontra pelo caminho, buscando uma identidade mesmo que para isso a jornada tenha que ser feita sozinha, longe de todos que ama. Passa por dezenas de constrangimentos, se enche de vergonha sem saber ao certo como sobreviver em meio ao mundo que consegue enxergar até ali. Descobre sua sexualidade cedo, mesmo que até a adolescência ainda seja confuso para ele pois no Afeganistão os homossexuais ‘não existiam’, davam vergonha para a família, um lugar difícil de se aceitar ser gay.


Fuga (Flee) nos provoca reflexões que vão desde as políticas mundiais, os horrores de uma guerra civil descontrolada, sangrenta e impiedosa, o capitalismo, até os traumas que vivem dentro de nós e muitas vezes nos travam de seguir em frente. Contando suas verdades, Amin se liberta. É lindo ver isso diante de nossos olhos, como testemunhas de mais esse renascimento de um homem que merece demais que a paz e a felicidade nunca mais deixem de estar por perto.

 

 

 

 

 

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28/03/2021

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Crítica do filme: 'A História de um Silva'


A música como sentido para a sociedade. Hino de uma cidade, hino da periferia, um subtexto que é compatível com a realidade que enfrentava. Dirigido por Marcelo Gularte, A História de um Silva é a história de um brasileiro, trabalhador, grande herói de sua mãe e família, que possui grande paixão pelo futebol, inclusive quase foi atleta profissional que tocava a MPB dos anos dourados nos barzinhos pela cidade até que descobriu um gênero musical que estava dando os primeiros passos. MC Bob Rum, cria da Comunidade João XXIII em Santa Cruz Foi Office Boy, trabalhou muito tempo na Telerj, de Recepcionista, viu sua vida mudar do dia para a noite quando seu destino cruzou com os primórdios do Funk.


Com depoimentos de funkeiros como MC Buchecha, MC Marcinho, de antropólogos, produtores culturais e amigos de longa data, vamos acompanhado histórias e lembranças através de falas e vídeos de uma época de grande sucesso. Sua trajetória cruzou o início do movimento do Funk, com a criação da furacão 2000, logo estourou com seu grande sucesso, o Rap do Silva, música impactante que colou nas memórias de muitos mas que não deixa de ser atemporal até hoje virando até mesmo questão antropológica, de estudo por conta da tamanha influência sobre milhares de jovens. Criar cultura é criar vida, nascer um significado a partir disso é o que algumas representações culturais conseguem e MC BOB RUM com sua mais emblemática música é o exemplo disso.


Os lados bons e ruins da fama acabaram deixando exatamente nos extremos esses momentos em sua vida. Se encaminhou para o alcoolismo, para as drogas em seguida, quando sua carreira de alguma forma estagnou ou até mesmo declinou. Mas ele, com a ajuda da forte família, conseguiu dar a volta por cima, se formando em administração inclusive e compondo música que foi até tema de novela. A História de um Silva é um recorte de mais um batalhador brasileiro que conseguiu vencer de maneira honesta com sua arte.



A História de um Silva - TRAILER from CAVIDEO on Vimeo.

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Crítica do filme: 'Chorão: Marginal Alado'


As diversas facetas de um intenso sonhador. Dono de um processo criativo intenso, uma alma feita de sonhos, uma juventude nas letras, identidade vocal marcante, com um lado explosivo muito visível mas também um lado carinhoso e querido. Não se enquadrava, gostava das coisas do jeito que ele queria. Chorão: Marginal Alado conta de maneira curta e objetiva, ao longo de menos de 80 minutos, a trajetória de sucesso até o declínio triste de um dos artistas mais impactantes das últimas décadas, Chorão, da lendária banda Charlie Brown Jr. De Santos para mundo, chegou até a participar de diversos campeonatos de skate freestyle antes de descobrir, inusitadamente, a vocação para cantar e compor. Editores de revistas, produtores musicais, músicos, skatistas, amigos, ex-integrantes da banda Charlie Brown Jr., nos contam sua visão sobre essa personalidade da cultura pop brasileira que deixou um legado até os dias atuais, com letras e canções atemporais.


O título do filme está gravado no seu braço. Sonhador, possui uma inquietação frequente a todo instante, oriundo de uma personalidade forte que reúne históricos de brigas, inclusive com nomes famosos como João Gordo e Marcelo Camelo, fora com os próprios integrantes da banda que criou. Essas situações de brigas ao longo dos tempos de rockstar mostrava claramente como Chorão não sabia muito bem lidar com os sentimentos e nem dizer as coisas de maneira objetiva, as coisas precisam para ele ser do jeito dele senão não valia a pena ou não estavam certos. Sua ex-namorada conta os altos e baixos da relação com ele. A questão das drogas é contada de diversos pontos de vista, até o descontrole no vício, ele não gostava de consumir na frente dos outros.  


Mas a vida cobra sério e realmente não dá pra fugir. Não sabia lidar com problemas de uma forma tranquila, isso foi o consumindo. Além dos visíveis contrapontos das loucuras de milhares de pessoas nos shows pelo Brasil com um pós-solitário momento sozinho logo em seguida. Do êxtase ao silêncio, extremos que o fizeram se sentir consumido dentro de suas já conhecidas inquietações entre as centenas de viagens anuais fazendo shows pelo país. Mas não só ele sentiu essa pressão, o baixista da banda, Champignon, se suicidou sete dias após o seu depoimento exibido nesse filme.


Ame-o ou não, impossível negar verdade claras: Chorão deixou um legado, gerações após gerações continuam ouvindo suas letras e que de alguma forma se encaixam nas rupturas sociais constantes que acontecem no Brasil.

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Crítica do filme: 'Antes que Me Esqueçam, Meu Nome É Edy Star'


A vida é uma vela acesa, morreu, apagou. Como resgatar as memórias de um artista tão profundo em sua arte? Cantor, ator, pintor, se dedicava as artes como poucos, Edy Star foi quase uma lenda entre as décadas de 60 e 80, sempre muito à frente de seu tempo. Dirigido por Fernando Morais, Antes que Me Esqueçam, Meu Nome É Edy Star conta a incrível trajetória do Pós tropicalista e grande contador de história Edy Star, inclusive, a amizade com Caetano Veloso desde Santo Amaro, Zeca Baleiro com gravações atuais no estúdio, com o maluco beleza Raul Seixas desde o álbum Sociedade da Grã-Ordem Kavernista, até mesmo com Gilberto Gil onde ganhou uma música e foi co-compositor da canção Procissão. Edy marcou época dentro do universo das performances, em shows undergrounds que ganhavam sucesso pelo boca a boca saindo da Praça Mauá até os milionários da zona sul.

Volta a Salvador lembrando sua trajetória através de encontros e depoimentos, conhecemos esse baiano bom de briga mas também muito amoroso com os amigos. Buscando soluções para sua carreira indo da Bahia para o Rio de Janeiro, explodiu de sucesso nos underground cariocas, esses tempos de cabarés na lapa e em Copacabana não são esquecidos por conhecidos que iriam o prestigiar como Rogéria e Jane di Castro. Outros Fãs famosos como Cazuza iam prestigiá-lo onde quer que estivesse, esse inclusive conseguiu com seu pai, um influente e famoso executivo de gravadora na época, que o mesmo contratasse Edy para gravar um álbum, o que acabaria sendo seu único álbum na carreira.


Mas ele não parecia ligar muito para a fama e dinheiro. Em meio ao clímax de seu sucesso, resolveu viajar pelo Brasil em uma Kombi, com um namorado que arranjou, preferiu viver a vida do que focar na carreira profissional em ascensão.Após, foi pra Espanha, onde morou por anos ganhando inclusive a cidadania espanhola, lá, se apresentou em shows inesquecíveis onde até Pedro Almodóvar foi vê-lo.


Antes que Me Esqueçam, Meu Nome É Edy Star é divertido e surpreendente, conhecemos essa figuraça, que cantava muito e levava multidões a seus shows mas que para o grande público nunca foi conhecido. Mas após assistirmos a esse, agora sabemos! Antes dos Dzi Croquettes, Ney Matogrosso, Secos e Molhados, existia Edy Star.



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27/03/2021

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Crítica do filme: 'O Astronauta Tupy'


Cada ser tem sonhos à sua maneira. Um ser solo que esbarra com os coletivos. Cronista do seu tempo. Tijucano. Observador da cidade que nasceu, suas belezas e as diversas questões que assolam seu Rio principalmente a polarização das ideias que nesses tempos presente comandam o modo de pensar da maioria dos cariocas. Dirigido por Pedro Bronz, o documentário O Astronauta Tupy conta de maneira leve e agradável, através de arte de Pedro Luís, suas escolhas, momentos, seu mosaico de ritmos, através de relatos do mesmo, amigos, vídeos de gravações e de depoimentos de outras épocas. Do Humaitá à Lapa, Da Zona Norte à Zona Sul, somos testemunhas em poucos mais de 90 minutos de como esse músico alimenta seu coração louco como uma máquina de escrever.


Será que as inspirações ninguém realmente sabe de onde vem? O músico começa na música nos anos 80, em um coral, depois passa pelo Punk que conhecera nos tempos de São Paulo, pelos inusitados sons gerados com Pedro Luis e a Parede e suas batidas perplexas e chegando até o carnaval com a criação do Monobloco, um grupo que transformou o carnaval carioca abrindo espaços para outros grupos temáticos. Ao longo do meandro percebemos dezenas de inspirações compiladas em forma de música. Por exemplo, o cinema não deixa de ser uma fonte de inspiração, como vemos na abertura a menção e quando passa na frente de onde tinha uma avenida de cinemas espalhados pela tijuca lembrando de tempos que serão difíceis de voltar.


Amigos de longa data lembram de momentos, canções de um passado que é mantido vivo pela arte. As parcerias com Fernanda Abreu, Ney Matogrosso e até mesmo o tremendão Erasmo Carlos, outro tijucano musical, geram ótimos duetos acústicos modelados em fragmentos de canções atemporais na sua voz ou/e na voz dos outros, tendo o Rio de Janeiro como paisagem.

 

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26/03/2021

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Crítica do filme: 'Flores do Cárcere'


No lugar onde a verdade é uma só, a mentira é uma ilusão. Resgatando o passado de algumas ex-prisioneiras da hoje desativada Cadeia Pública Feminina de Santos, também com paralelos em forma de vídeos antigos caseiros que elas filmaram quando estavam presas em 2005, Flores do Cárcere mostra o antes e depois dessas mulheres. O arrependimento, as situações das detentas que eram mães aos olhos de terceiras, e até mesmo algumas que estavam grávidas, a conturbada e complicada relação entre carcereiras e presidiárias, a nova vida quando são libertadas, os sonhos que chegam lentamente quando enxergam uma vida fora da prisão, a visão da família sobre o cárcere. Flores do Cárcere é dirigido pela dupla de cineastas Barbara Cunha e Paulo Caldas, inspirado no livro homônimo de Flavia Ribeiro de Castro.


A cadeia precisa cumprir o papel de reeducação? Ou serve apenas para a criminosa cumprir sua pena? Há segundas chances nessa vida? 250 mulheres em 10 celas. A sensação de acordar e dormir trancadas. O sentimento de vazio. Lembranças de um tempo triste. Ex-traficantes, relacionamento com más companhias, crimes dos mais diversos tipos. Nenhuma das entrevistadas nasceu presa, elas estavam na condição de presas. Um momento da vida delas.


O Brasil possui um pouco mais de 40.000 presidiárias nas mais diversas penitenciárias femininas. Algumas dessas adotam a dança como forma de socializar, atividades promovidas como forma de ajuda para quem está preso. O documentário, exibido anos atrás no Festival do Rio de cinema, não deixa de ser um grande recorte sociológico inserido dentro do contexto de sentimento de liberdade, uma luta para não continuar presa estando livre.

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Crítica do filme: 'Currais'


O silêncio apaga tudo. Um homem, sua Kombi e suas buscas por respostas da história de seu avô, a reconstrução da memória de uma região, por quem ainda se lembra dessa época terrível, fatos que parte da elite se esforça em ocultar. As margens de uma estrada de ferro e no alto do sertão morriam centenas de pessoas nos chamados campos de concentração (os currais do governo), lugares criados no início da década de 30, sob conhecimento do governo federal, onde flagelados da seca eram tratados com indiferença e discriminação pela elite que já morava na cidade de Fortaleza. Escrito e dirigido pela dupla de cineastas David Aguiar e Sabina Colares, modelado em uma mistura entre documentário e ficção, Currais apresenta relatos impactantes, impressionantes, surpreendentes, além de fotos antigas mostrando o que as palavras dizem ao longo dos cerca de 90 minutos de projeção.


Uma história real, onde campos de concentração, chamados assim mesmo, lugares onde pessoas de baixa renda e sem praticamente nenhuma escolaridade, além de pessoas que fugiam da seca de outras regiões eram mantidos confinados, milhares de pessoas em raios pequenos. Um formigueiro humano. Eles eram mantidos nesses lugares, sem alimentação básica, pagamentos, para não conseguirem chegar as grandes cidades ao redor de fortaleza. A dor e o sofrimento são marcantes nos relatos de conhecidos de sobreviventes e alguns até testemunhas oculares dos horrores praticados nesses currais onde as pessoas tentavam sobreviver pessoas, trabalhadores brasileiros, desesperados que foram esquecidos pela história.


Depois que você assiste a esse documentário, é muito difícil de tirá-lo da memória. Pensar que uma cidade se ergueu sob suor e sangue é assustador. Nosso país é enorme. Tantas histórias...e muitas delas desoladoras, tristes. Como um ser humano pode fazer isso com outro ser humano? Um capitalismo desenfreado, um elitismo esnobe e arrogante, entendemos o reflexo dessas atitudes até os tempos atuais se formos comparar com a questão social das favelas, pessoas que vivem à margem de uma sociedade privilegiada. O filme abre espaço também para mostrar a religião ganhando contornos culturais através dos devotos das almas da barragem. Um documentário/ficção arrebatador que diz muito sobre a história de nosso país.

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23/03/2021

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Crítica do filme: 'Siron. Tempo Sobre Tela'


A honestidade na arte de criar. Escrito e dirigido pelos cineastas André Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos, Siron. Tempo Sobre Tela nos apresenta um profundo e impressionante raio-x sobre a criatividade de um dos maiores artistas plásticos de nosso país, Siron Franco. Com muitos depoimentos do próprio artista em uma espécie de narrativa intimista, o processo criativo é mostrado por várias óticas. Fontes de inspiração, meda da tortura, o pensar como uma peça de teatro, o fascínio com outras artes como o cinema, os fundamentos do sonho sobre à arte. Ao longo de cerca de 90 minutos somos premiados com memórias de sua intensa e bem vivida trajetória, tanto no lado profissional como no lado pessoal, declamadas belo lado do saudosismo. Disponível a partir do dia 25 de março em muitos streamings.


Em Siron. Tempo Sobre Tela, somos imersos ao universo desse grande artista brasileiro, fiel ao seu Goiás. Ele passou por tantas transformações como seu próprio Estado. Buscando fazer o bem e dedicando sua vida à arte acessamos memórias do seu arquivo pessoal, inclusive com um depoimento especial, em uma passagem rápida, do grande Ferreira Gullar que foi crítico de arte durante um tempo. Em um momento tocante, conhecemos as origens, inclusive filmadas do início de uma de suas obras mais famosas, em homenagem à cultura indígena e o absurdo pós destruição de quase 500 colunas onde podemos definir um paradoxo inimaginável sobre a intolerância de terceiros que não entendem nem um pingo do que aquilo tudo representava.


Um fato chama a atenção na afirmação de que ele lembra mais das coisas que já pintou do que já viveu. Nos faz refletir. A ferramenta do inconsciente com a chegada do cansaço, um processo que pelo relato de Siron deve ser bem difícil explicar mas pelas imagens em fundo podemos começar a ter uma ideia. Os sentidos abertos do sonho, a importância desse momento reflexivo que reflete à arte, também de muitos cineastas como David Lynch.


A importância desse documentário é gigante para novas gerações conhecerem artistas emblemáticos de nossa trajetória cultural. A arte, seja ela qual for, é uma conexão entre passado e presente, um exercício de liberdade do seu pensar sem cadeados não criativos contra a novidade após o ontem.

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