28/08/2014

Crítica do filme: 'Uma Lição de Vida'



A educação é uma baita escolha no caminho para você ser feliz. Com um hiato de 3 anos, chegou ao circuito de cinema no Brasil ,esse mês, o maravilhoso filme Uma Lição de Vida. Contando a saga de um homem em busca do simples objetivo em aprender a ler e escrever – isso aos 84 anos – o diretor britânico Justin Chadwick (que dirigiu o interessante A Outra) conseguiu reunir todos os elementos para transformar esse trabalho em algo que emociona até os corações mais duros que possam existir. A atuação de Oliver Litondo, que interpreta o protagonista Maruge, é uma das coisas mais lindas que vimos no cinema neste ano.

Na trama, conhecemos melhor um país que sabemos muito pouco infelizmente, o Quênia. Lá, após um incentivo na educação, surge um senhor carismático de 84 anos chamado Maruge (Oliver Litondo) que possui uma vontade inspiradora de aprender a ler e escrever. Lutando contra todo tipo de preconceito que vocês possam imaginar, Maruge contará com a ajuda da corajosa professora Jane (Naomie Harris) para realizar o seu grande sonho.

Esse trabalho entra naquelas longas listas de filmes que devem ser usados por educadores de todo o mundo como forma de inspirar o aprender. Rompendo barreiras, mostrando uma realidade distante de muitos nesse planeta, o sentimento fala tão mais forte que ao final das sessões a emoção toma conta da gente de uma maneira que vira algo marcante. Alguns se incomodam pelos clichês que existem no filme e da maneira como foi conduzida essa história. Mas meus amigos, acreditem, vocês precisam abrir o coração e deixar a história contagiar vocês por inteiro. A direção é competente, preenche todas as lacunas do passado do protagonista o que nos ajuda a entender a cada minuto melhor essa grande história de superação.

O absurdo maior em torno desse lançamento, não tem nada haver com o filme em si. Tem haver com a distribuição bisonha que foi feita pelo filme aqui no Brasil. O que adianta comprar os direitos do filme se não há o mínimo de carinho para colocar ele nas salas quando o mesmo entra em circuito? O filme em questão não foi absorvido pelos magnatas dos multiplex, talvez pelos não tão conhecidos atores , talvez pela grande oferta de outros filmes (muitos deles blockbusters). O fato é que esse filme ficou apenas uma semana em cartaz no RJ e isso, meus caros amigos, é de uma tristeza sem tamanho. Não perca a chance dessa história conquistar o seu coração!
Continue lendo... Crítica do filme: 'Uma Lição de Vida'

Crítica do filme: 'Um Belo Domingo'



Em busca de um novo viver, às vezes, damos voltas e voltas. Misturando subtramas interessantes com sonolentos, e nenhum pouco carismáticos  personagens, o novo trabalho da atriz e diretora Nicole Garcia, Um Belo Domingo, daria certo se fosse um curta-metragem que mostra-se apenas o arco final dessa história. Os atores, pouco inspirados, parecem engessados construindo muito pouco seus personagens. De positivo, as lindas paisagens de uma Europa aos olhos da nobreza.

Na trama, conhecemos o tímido/introspectivo/traumatizado professor Baptiste Cambière (Pierre Rochefort), um homem que esconde de todos seu passado. Certo dia, oferece uma carona para um de seus alunos e depois de uma conversa com o pai do menino, acaba parando em uma praia paradisíaca e conhece Sandra (interpretada pela belíssima atriz Louise Bourgoin), a mãe do menino. Sandra, se encontra em uma situação financeira difícil e por isso, o professor resolve ajudá-la mesmo tendo que enfrentar seu passado novamente.

A história demora para conquistar a atenção do público. O clímax acontece quase no fim da história e não causa o impacto que deveria/poderia. A direção de Nicole Garcia é apenas regular, mostra lindas paisagens mas não consegue segurar a atenção nos momentos de interação dos personagens em cena. Senão fosse o desfecho com um certo ar de surpresa e revelações, esse filme seria facilmente figurinha carimbada nas listas de piores e mais chatos filmes do ano.

Com uma abertura apenas modesta no circuito carioca, não vai causar o burburinho da melhor forma de divulgação de um filme, o boca a boca. Fotógrafos podem gostar do filme, produtores podem ter ideias de locações de futuras produções ao assistir Um Belo Domingo, os cinéfilos...bem, tem coisa melhor para assistir no circuito. O titulo nacional bem poderia ser: um belo filme de segunda! Se é que me entendem.
Continue lendo... Crítica do filme: 'Um Belo Domingo'

27/08/2014

Crítica do filme: 'Uma Vida Comum'



O trivial propósito de viver, para alguns, é simplesmente viver. Dirigido por Uberto Pasolini (calma, ele é apenas o sobrinho do grande Pasolini), Uma Vida Comum está longe de ser um filme que estamos acostumados a assistir nos cinemas. Foca na vida de um homem comum que transborda tristeza em tudo que gira ao seu redor, e isso meus amigos é a grande chave, o ingrediente nada secreto, que faz desse filme uma pequena joia rara em meio aos blockbusters debiloides que entram e saem do circuito de cinema aqui no Brasil constantemente ao longo dos anos. A atuação do britânico, quase desconhecido por aqui, Eddie Marsan é maravilhosa e eleva a qualidade desse trabalho.

Na trama, conhecemos o sereno John May (Eddie Marsan). Um homem que trabalha a mais de 20 anos na mesma empresa, onde exerce a função inusitada de ser o encarregado de encontrar o parente mais próximo de pessoas que morreram sozinhas. Meticuloso e detalhista em suas pesquisas, não é visto com bons olhos pelo restante do departamento. Assim, quando há uma mudança na estrutura onde trabalha, é demitido mas pede para resolver o último caso que vai levá-lo a uma viagem de descobertas e amores buscando encontrar um sentido para sua própria vida.

John May foi construído de maneira genial por Eddie Marsan. Simples, meticuloso, prático e objetivo, deixa o público perplexo quando entendemos que ele busca sua maneira de viver a partir do elo de convívio com as histórias dos falecidos, que volta e meia enchem sua mesa de trabalho. Quando embarca na transformadora viagem em seu último caso, abre mão da solidão e descobre o amor. Poético né?

Exibido na 37ª Mostra Internacional de Cinema em SP, Uma Vida Comum se encaixa em um daqueles casos onde ou você ama ou odeia o filme. É compreensível tais julgamentos sobre o filme. A lentidão em algumas sequências podem incomodar o público mas para alguns esse caminho nada mais é do que aproximar o público da realidade que o personagem vive. A história gira em torno de seu personagem principal e as mudanças, ou inflexões dele, levam o espectador a diversas reflexões sobre a própria vida. É um filme muito bonito com um final pra lá de emblemático.
Continue lendo... Crítica do filme: 'Uma Vida Comum'

Crítica do filme: 'No Olho do Tornado'



Depois do temporal, vem a calmaria. Lembra dessa frase? Depois de dirigir o chatíssimo Premonição V, o diretor Steve Quale embarca em um projeto cheio de rajadas de ventos, personagens sem carisma, clichês das antigas que gera altas doses de sono. No Olho do Tornado tem efeitos especiais bem legais, até alguns lances de destruição impressionantes (estilo Michael Bay de destruir cenários) mas nada, absolutamente nada, consegue melhorar a fraca história. Outro ponto negativo é o uso de 2D apenas. Esse filme é para ser visto com o óculos 3D grudados nos olhos do espectador (a cabine de imprensa no RJ pelo menos foi em 2D).

Na trama, conhecemos alguns caçadores de tornados. Sim, isso mesmo: pessoas que vivem andando em bando para capturar imagens inéditas dessa força da natureza. Certo dia, após várias investidas que não deram certo, acabam parando em uma cidadezinha que vira alvo do epicentro de um tornado de força 5, um daqueles jamais vistos. Nessa cidade mora o professor Gary (Richard Armitage, o Thorin da saga ‘O Hobbit’) e seus dois filhos que precisam se unir aos caçadores de tornados para juntos tentarem sobreviver em meio ao caos que vira a cidade.

Quando a gente pensa em tornado, cinefilamente falando, lembramos logo do ótimo Twister (1996). E como no cinema sempre analisamos filmes que se parecem, é até vergonhoso querer comparar o filme dos anos 90 com esse de 2014. Vamos apenas dizer que No Olho Tornado é um parente bem, mas muito bem distante do eletrizante filme protagonizado por Helen Hunt e Bill Paxton. O roteiro compromete muito. Os personagens não conseguem prender a atenção do público e as subtramas criadas (casal de jovens apaixonados presos nas ferragens, falecimentos com ações heroicas, viúvo e pai linha dura, etc...) não convencem, parecem artificiais ou fantasiosas demais.
  
Pra quem gosta muito de filmes de ação, esse trabalho pode incomodar menos. Da maneira como foi filmado, deveria somente ter cópias em 3D, isso ajudaria um pouco pois o ponto alto do filme é exatamente os efeitos especiais. Essa produção deve passar na tela quente ou na temperatura máxima muito em breve. É o tipo de passatempo cinematográfico que pode receber vários tipos de edição das televisões, com dublagem até do vento.  Tem filmes melhores em cartaz, bem melhores.
Continue lendo... Crítica do filme: 'No Olho do Tornado'

Crítica do filme: 'Amores Inversos'



A arte de se descobrir surge das maneiras mais simples, no modo de amar. Baseado no premiadíssimo livro de Alice Munro, Amores Inversos é uma daquelas produções que sem muita divulgação, às vezes até como uma grande surpresa pela simplicidade, chega devagarzinho e atinge em cheio nossos corações. A direção competente de Liza Johnson, o ótimo Nick Nolte e a maravilhosa atuação de Kristen Wiig colocam muita qualidade em cada sequência, cada diálogo, deste surpreendente filme.

Na trama, acompanhamos a sofrida e distante Johanna Parry (Kristen Wiig), uma pacata mulher que esconde dentro de si desejos e sonhos, sem condições de realizar. Certo dia, vai trabalhar na casa do emburrado Mr. McCauley (Nick Nolte) e lá se aproxima da jovem Sabitha (Hailee Steinfeld). O pai da menina, Ken (Guy Pearce), volta e meia apareci para ver a filha e Johanna logo se apaixona. Depois de uma brincadeira de mal gosto de Sabitha e sua amiga Edith (Sami Gayle), Johanna embarca em jornada de descobertas que influenciam o destino de sua vida e a de todos ao seu redor.

A dinâmica do filme é muito interessante. As histórias dos personagens vão se desenvolvendo de maneira muito uniforme e a cada nova informação acontece uma transformação maravilhosa que leva o espectador a pensar sobre as ações deles. É um filme que gere uma grande reflexão sobre sonhos e o desejo de despertar. O carisma da protagonista é justificado exatamente por isso, uma pessoa comum que poderíamos facilmente encontrar diariamente atravessando a rua ou comprando um pão na padaria. Mesmo correndo o risco da personagem estacionar em momentos de lentidão – fruto do estilo da narrativa - , Kristen Wiig constrói e desconstrói Johanna de maneira surpreendente. Sem dúvidas, um dos melhores trabalhos dessa artista muito contestada pelos cinéfilos.

Amores Inversos não deve ganhar um circuito que merecia aqui no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro onde apenas duas salas vão exibir o filme. Uma grande pena que pequenas obras tão legais como essa vão ser “punidas” por um circuito nacional tão defeituoso e com poucas salas de cinema que realmente prezam pelos ótimos filmes. Mas você caro leitor cinéfilo, depois de tudo que leu até aqui, não deixe a chama da curiosidade se apagar e veja esse belo e surpreendente trabalho.  
Continue lendo... Crítica do filme: 'Amores Inversos'

24/08/2014

Crítica do filme: 'As Tartarugas Ninjas'

Como fazer um filme bom baseado em um desenho que marcou uma legião de fãs no mundo todo? Com muita pizza, cenas de ação e um roteiro escrito para o público mais jovem, o diretor Jonathan Liebesman teve a difícil tarefa de comandar o mais novo blockbuster dos cinemas, As Tartarugas Ninjas. O filme é uma espécie de Transformers misturado com a mentiradas de James Bond e Cia. É o típico cinema pipocão norte-americano, repleto de clichês por todas as sequências. O que salva, é um pouco do carisma das famosas tartaruguinhas que nesse filme parecem mais lutadores de UFC.   

Na trama, a cidade de Nova Iorque está dominada em sua plenitude pelas ondas de crime de todos os tipos, comandados pelo vilão Destruidor. Assim, quatro irmãos tartarugas, frutos de uma experiência genética, batizados com nomes de grandes italianos da história, saem do esgoto onde vivem e começam a lutar contra esse terrível oponente. Para tal, contam com a ajuda da atraente repórter April O’Neil.

O uso excessivo de efeitos especiais tenta preencher a fraca história que foi escrita, quase uma marca em muitos filmes produzidos pelo Michael Bay. Os milhares de fãs devem gostar das sequências de ações mas vão sentir falta de uma trama mais envolvente que realmente prenda a atenção do público. Foi perdida uma grande oportunidade de realizar um filme que ficaria na memória dos fãs.

O filme não esconde sua proposta, em ser mais um blockbuster entre tantos outros lançados anualmente por Hollywood, desde seu início. Mestre Splinter, por exemplo, é um personagem forte e complexo que aparece tão pouco e tinha muito a acrescentar, perde espaço no roteiro que foi totalmente moldado para o público mais jovem.


A maior qualidade de muitos blockbusters lançados esse ano foi a de tentar inovar, arriscar em meio aos clichês que contém nesses tipos de filmes. As Tartarugas Ninjas insiste no feijão com arroz. Cabe aos fãs decidirem se a persistência é o caminho do êxito, ou não.
Continue lendo... Crítica do filme: 'As Tartarugas Ninjas'

Crítica do filme: 'O Casamento de May'

Quando há dúvidas sobre o amor, vale a pena lutar contra tudo e arriscar? Rodado nas lindas paisagens da Jordânia, o novo filme de Cherien Dabis, mostra conflitos familiares por conta de tradições e inseguranças. A história tenta ser convincente trazendo luz à problemas e preconceitos de uma sociedade eternamente em conflito com o restante do mundo.  Os clichês que estão contidos em muitas cenas podem atrapalhar certos olhos cinéfilos rigorosos mas como um todo, o filme se torna convincente na hora de transmitir a mensagem que queria.

Na trama, conhecemos a belíssima May (Cherien Dabis, que também assina a direção), uma escritora que não escreve faz um tempo e chega em Amã, na Jordânia, onde nasceu e foi criada, para casar com o professor palestino Ziad. Chegando lá, precisa encarar a imaturidade de suas irmãs, a mãe católica que não aprova o casamento de May com um muçulmano e o distante pai que resolve se tornar presente.

Obviamente, a história toda se passa aos olhos de May. Mas, quem rouba as cenas são alguns coadjuvantes. Nadine (interpretada pela maravilhosa atriz israelense Hiam Abbass), a mãe da protagonista, é uma personagem forte que consegue passar ao público uma visão diferenciada sobre os conflitos pessoais com a filha. O pai da noiva, interpretado pelo incansável Bill Pullman, é uma peça do roteiro usada para todas as cenas de clichês que contém no filme, mesmo assim se torna eficiente pois consegue preencher todas as lacunas para suas atitudes com sua família no passado.


Em aproximadamente 100 minutos, O Casamento de May fala sobre homossexualismo, conflitos religiosos, inseguranças e família. A história se sustenta em uma linha tênue entre sequências muito inteligentes e clichês dignos de filmes chatinhos da terra do Tio Sam. Inacreditavelmente, esse equilíbrio acaba sendo atraente e o filme se torna interessante com o decorrer da história. O projeto, não prende a atenção como podia mas está longe de ser um filme ruim, pelo contrário, é um filme que vale a pena conferir.
Continue lendo... Crítica do filme: 'O Casamento de May'