06/03/2020

Crítica do filme: 'O Homem Invisível'


A obsessão no relacionamento e as medidas extremas que são necessárias. Dando uma repaginada na clássica obra homônima de H.G. Wells (que virou filme no início da década 30, lançado pelo própria universal), o cineasta australiano Leigh Whannell, produz, roteiriza e dirige uma das gratas surpresas desse primeiro semestre, o tenso suspense O Homem Invisível.  Orçado em 5 milhões de dólares, valores até baixos para filmes blockbusters, o projeto surpreende pelo impactante clima de tensão que consegue transmitir ao longo dos 110 minutos de projeção. No papel principal, a maravilhosa atriz Elisabeth Moss que consegue levar o filme nas costas nos quase nunca momentos de pouca inspiração.

Na trama, somos apresentados a arquiteta Cecília Kass (Elisabeth Moss), uma mulher que está em plena fuga de seu casamento obsessivo com Adrian (Oliver Jackson-Cohen) e busca refúgio em sua irmã Emily (Harriet Dyer) e na casa do amigo policial James (Aldis Hodge). Tudo ia indo bem até que após ser anunciado o suicídio de Adrian, Cecília passa a ser perturbada por situações inusitadas como se um homem invisível estivesse a perseguindo, fato que se mostra verdade quando descobrimos que seu ex-marido, um bilionário do ramo da tecnologia, vinha desenvolvendo um trajeto inovador que transformava a pessoa em um ser invisível. Lutando para provar seus argumentos, a protagonista embarca em uma perigosa jornada rumo novamente à liberdade.

A cartilha do bom suspense é seguida à risca nesse bom lançamento. Whannell tem em seus méritos as ótimas soluções de tensão adicionada à uma atuação para lá de competente de Moss. Tudo funciona bem, exceto uns clichês bobos entre arcos que logo são superados pela força expressiva da corajosa protagonista. Trazendo essa releitura de uma obra clássica, Whannell e companhia tem a chance de aproximar a história da nossa atualidade principalmente quando pensamos no assunto da violência contra mulher. Com ótimas atuações e um roteiro que chega a surpreender em alguns momentos, O Homem Invisível é um dos poucos bons filmes em cartaz.

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Crítica do filme: 'O Preço da Verdade'


Até aonde vai nossa força para lutar pelo que é o certo? Passando quase desapercebido no circuito brasileiro, nas quase apocalípticas semanas após a maratona dos filmes selecionados ao Oscar, O Preço da Verdade é um baita achado em semanas com tão pouca inspiração. Baseado no artigo do poderoso The New York Times The Lawyer Who Became DuPont's Worst Nightmare assinado por Nathaniel Rich, acompanhamos a saga jurídica de um homem e uma comunidade na busca por provas contra uma gigantesca empresa. No papel principal o ótimo Mark Ruffalo que passa grande força nesse introspectivo, trejeitoso e poderoso papel. A direção fica a função do excelente Todd Haynes (Carol, Não estou Lá...).

Orçado em cerca de 10 milhões de dólares, Dark Waters, no original, conta a saga de um promissor advogado de defesa corporativa chamado Rob Bilott (Mark Ruffalo) que após ser procurado por moradores de uma comunidade onde passou bons tempos quando criança próximo de sua avó, inicia uma batalha jurídica ambiental de anos para expor uma enorme empresa química que é acusada de destruir muitas vidas com grave poluição. Mas para essa batalha, contará com uma certa paciência de seu chefe mas diversas outras consequências.

A eterna batalha entre o gigante e o grão de arroz. O roteiro nos leva em algumas linhas temporais contínuas mostrando início, meio e quase fim de uma ação por danos que envolveu em um escândalo uma das maiores empresas situadas nos Estados Unidos décadas atrás. Nossos olhos, a todo instante, é o corajoso advogado Rob Bilott (o verdadeiro aparece nos créditos finais), um destemido homem, pai de família, que se vê em uma encruzilhada entre o que é o certo e a força que precisa ter para provar seus óbvios argumentos. Nada fica na superfície e os detalhes são fundamentais para que esse roteiro seja firme e impactante. Ao longo das pouco mais de duas horas de projeção somos apresentados a fatos escancarados que demonstram as sutilezas do jeitinho norte americano de fazer negócio em alto nível e o desleixo contra não só uma comunidade mas a toda humanidade. Importante filme, sempre bom olharmos na telona filmes denúncia sobre os terríveis impactos industriais na natureza.

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28/02/2020

Crítica do filme: 'Divino Amor'


A recuperação dos casamentos em crises em um futuro repleto de metáforas sobre a sociedade. Numa época onde o carnaval não é mais a maior festa do Brasil, se fossemos brincar na analogia poderíamos dizer que o enredo de Divino Amor perde décimos, falta ritmo e há excessos na explicação da intercessão do Corpo à fé, juntando argumentos repletos de simbolismos. Nada é objetivo nessa obra exibida no Festival de Berlim e em Sundance. As metáforas em formas de detalhes peculiares como Drive thru pastórico, maquina à laser de hormônios, esse e outros em buscas de sinais para justificar toda a entrega à fé da protagonista, interpretada pela atriz Dira Paes. Pode ser visto como uma grande crítica às hipocrisias do mundo mas faltam ingredientes para pensarmos nesse filme como um dos destaques do ano que passou.

Na trama, acompanhamos a amargurada Joana (Dira Paes) que trabalha em cartório todo digitalizado anos à frente do nosso. No seu dia a dia busca resolver questões entre casais tendenciando o resultado final. Joana e o marido, tentam buscar na fé a salvação para resolver o problema de não terem filhos, assim são devotos do Divino Amor, uma espécie de religião repleta de simbolismos. Intensas cenas de sexo envolvem a trama que busca no retrato do corpo e da fé os argumentos para suas questões chave.

Buscando ser detalhista para as argumentações colocadas, o projeto dirigido pelo competente Gabriel Mascaro peca nas variadas peças metafóricas e simbolismo que tenta encaixar para suprir a lacuna do peculiar contido em muitas ações e consequências que vemos ao longo dos 100 minutos de projeção. Quando busca um recorte mais próximo, dentro da relação entre o complicado casal protagonista, já no arco final, o filme cresce.


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27/02/2020

Crítica do filme: 'O Jovem Ahmed'


As entrelinhas do fanatismo religioso aos olhos da imaturidade. Exibido na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no Festival do RJ 2019, e vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes do ano que passou, O Jovem Ahmed é um recorte moderno sobre as influências que temos em nossa vida fazendo um grande ponto de interrogação sobre questões existenciais sobre origens e tradições. Extremamente moderno, importante e bem objetivo, os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne brindam os cinéfilos com mais um interessante retrato cultural na Europa.

Na trama, conhecemos o jovem e bastante recluso Ahmed (Idir Ben Addi) um jovem de menos de 15 anos que vive com sua família na Bélgica e respeita as tradições de sua religião muçulmana. A questão do filme chega na questão das interpretações da religião que escolheu, fruto de preenchimento conservadores de um primo extremista o que o faz entrar em conflito com sua mãe e principalmente sua professora.

As ações e reações através de uma verdade inexistente. A questão religiosa, fruto de todo o plano de fundo da trajetória de Ahmed é o epicentro da imaturidade e até que ponto a influência negativa leva um jovem a cometer atos e pensamentos terríveis em ‘defesa’ de uma ideia de conflitos. Podendo acontecer em qualquer lugar do mundo e a todo instante, enxergamos a dor da professora e da família de Ahmed e os conflitos que se seguem. Exemplificando muito bem as consequências do ato de Ahmed, dentro de um roteiro reto e objetivo, somos testemunhas dos argumentos de mudança na mente imatura de um jovem sem vivência.

Por fim, vale a pena comentar. Que bom que existem distribuidoras aqui no Brasil como a Imovision que sempre lança filmes europeus de qualidade. Que as salas de cinema brasileiras cada vez mais abram seus leques de escolhas para filmes que nos fazem pensar.



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26/02/2020

Crítica do filme: 'O Professor Substituto'


A falta de equilíbrio que faz quebrar sentidos básicos da nossa existência. Exibido no Festival de Cinema de Veneza em 2018, tendo boa passagem no circuito exibidor brasileiro com início no final de julho do ano passado, o curioso longa-metragem dirigido pelo francês Sébastien Marnier (do bom Irrepreensível, 2016) é um recorte instigante sobre a ótica de professores e alunos de uma tradicional escola francesa. Todo um envolto de modos de pensar e ações de um grupo de estudantes cdfs que utilizam razões com bases poéticas para justificar suas ações e consequências, são colocadas em tela de forma metafórica que vão desde citações de filósofos até uma fotografia e trilha que causam impacto. Não é um filme fácil de digerir, além de que seu enredo esconde seus pontos de clímax deixando o espectador no mínimo surpreendido pelo que ocorre ao longo dos 105 minutos de projeção.

Baseado no livro School's Out, publicado no início dos anos 2000 pelo autor Christophe Dufossé, O Professor Substituto conta a história de Pierre (Laurent Lafitte) um professor de literatura que precisa assumir uma turma especial de excelentes alunos de uma tradicional escola francesa quando o professor titular da cadeira comete o suicídio durante uma aula. Ainda buscando referências e sendo constantemente confrontado pelos novos alunos nos primeiros dias de aula, o protagonista percebe que há algo estranho e resolve investigar alguns deles em busca de informações.

L'heure de la sortie, no original, é um filme surpreendente. Você gostando ou não, não há como negar as surpresas que acontecem ao longo desse capítulo filosófico que fala entre outras coisas sobre a relação entre alunos e professores. Conforme vamos compreendendo melhor a saga do substituto percebemos que há algo de errado com alguns alunos e o filme coloca em cheque ação vs emoção principalmente na maneira intensa que o novo professor busca entender o que está havendo. Não é um filme fácil, há muita metáfora e o espectador precisa estar atento as entrelinhas para uma melhor compreensão do que acontece ao longo dessa curiosa fita.

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25/02/2020

Crítica do filme: 'Corpus Christi'


As marcas do passado em conflito com o inusitado sentido de ser e viver. Orçado em menos de um milhão e meio de dólares, o longa-metragem polonês Corpus Christi é um retrato de um jovem rebelde, em descoberta da liberdade, com a invocação de um chamado peculiar que coloca em cheque tudo que já viveu. Dirigido por Jan Komasa e com roteiro de Mateusz Pacewicz, esse bom filme é intenso e impactante na medida certa, conseguindo uma vaguinha na lista dos cinco indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na última edição da grande festa do cinema. Infelizmente, ainda sem previsão de estreia no circuito exibidor Brasileiro.

Na trama, conhecemos um jovem chamado Daniel (Bartosz Bielenia), que está em um centro de reabilitação para jovens encrenqueiros em uma cidade no interior da Polônia. De alguma forma, ao longo do tempo que está nesse lugar sofreu uma certa transformação sendo muito ligado às missas e as questões espirituais abordadas na instituição. Mas seu passado é complicado e nesse lugar é jurado por outro detento e assim, enviado para um trabalho num outro lugar, pega uma rota alternativa e vai parar em uma pequena cidadezinha católica onde vira o padre titular do lugar. Lutando contra seu passado e os erros que comete no seu presente, Daniel acaba encontrando uma forma de mudar aquele lugar e porque não dizer a ele mesmo.

Corpus Christi é um filme com emoções à flor da pele a todo instante, a fotografia do longa dita o ritmo de tudo que vemos como consequências as atos praticados pelo protagonista nas quase duas horas de projeção. Buscando uma liberdade que fazia tempos não sentia, acaba encaixando com pensamentos e sentimentos de todo um lugar paralisado no tempo por conta de um desastre de automóvel que vitimou jovens de várias famílias. A direção é detalhista usufruindo de uma trivial busca pela redenção, é um belo trabalho de Komasa e equipe. Vale a pena conferir.

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24/02/2020

Crítica do filme: 'Exit' (Eksiteu)


A eletrizante maneira de encontrar sua vocação quando tudo está perdido. Navegando pelo drama, comédia e ação de forma impressionante, contagiando os nossos olhos a cada minuto dos 103 de projeção, Exit, Eksiteu no original, que provavelmente nunca chegará aos cinemas brasileiros, é uma fita cheia de adrenalina que exala carisma dentro de uma narrativa para lá de afiada. Usando a base conhecida do fim do mundo (ou algo parecido com isso, no caso um ataque terrorista) como plano de fundo, assuntos variados vão virando subtemas como a desconfiança da família quanto a sua profissão, as entrelinhas de um amor fora de hora e as segundas chances que a vida nos apresenta de maneira inusitada. Excelente estreia como diretor do sul coreano Sang Geun Lee. Alô distribuidoras brasileiras! Tem muito filme bom oriental que não chega por aqui!!

Na trama, conhecemos Yong-Nam (Jung-suk Jo) um jovem que está confuso e pressionado sobre seu futuro já que não possui trabalho fixo e possui uma paixão/vocação pelo alpinismo. Durante uma data comemorativa familiar, com toda sua família reunida em um lindo salão nos últimos andares de um prédio requisitado no centro da maior cidade da Coreia do Sul, um maluco para um caminhão repleto de gás tóxico deixando o protagonista e sua família ilhados e em busca de uma solução para fugir da ação do ato terrorista. Assim, reunindo toda sua coragem, ao lado de Eui-Joo (Yoon-ah Im), uma velha conhecida das aulas iniciais de alpinismo e que agora trabalha na empresa de buffet que estava no comando da festa, Yong-Nam precisará escalar paredes complicadas em busca de uma saída para todos.

Em sua primeira incursão como diretor e roteirista de um longa-metragem, o sul coreano Sang Geun Lee prova que a Coreia do Sul está no Top 5 mundial de tudo que pensamos sobre como contar uma boa história numa tela gigante. Vamos ver se com cada vez mais filmes interessantes e de diversas formas os filmes sul coreanos cheguem cada vez mais ao circuito exibidor brasileiro, que as distribuidoras que aqui estão olhem com carinho para esse mar maravilhosos de narrativas eletrizantes.


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20/02/2020

Crítica do filme: 'Dolittle'


Quando o carisma não salva. Chegando aos cinemas nesse início de ano, até certa forma gerando um pouco de expectativa por conta do interessante trailer, Dolittle tem um elenco estelar, (Banderas, Martin Sheen, Downey Jr...) mas nada disso adianta quando a trama não evolui. Não definido se para públicos de todas as idades ou para os mais maduros, as questões que deveriam ser profundas, fruto do pensar melancólico do protagonista e as razões do seu trauma com o desaparecimento de sua esposa, são rasas como uma piscina sem água. Infelizmente o filme dá sono quase a todo tempo, seria pior senão fosse a poderosa trilha sonora assinada pelo craque Danny Elfman que tenta transformar metáforas visuais sem sentido em algo épico. As vezes parece que estamos em um vídeo game onde os controles não funcionam.

Na trama, conhecemos conhecido, genial e excêntrico Dr. Dolittle (Robert Downey Jr.), um homem recluso que passa os dias lutando contra a solidão desde o dia que sua esposa partiu em uma aventura e nunca mais voltou. Tudo muda quando o protagonista recebe duas visitas ao mesmo tempo e acaba embarcando em uma aventura para salvar uma rainha de um terrível final.  

Personagem excêntrico/egocêntrico é com Downey Jr, por isso Dolittle parecia se encaixar com perfeição na teia de ótimos personagens do eterno iron man. Mas não é isso que acontece, interagindo de forma peculiar com personagens feitos por efeitos, o projeto se torna um monólogo com vestimentas de aventuras sem pé nem cabeça. É um filme pipoca, blockbuster, completamente esquecível.

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19/02/2020

Crítica do filme: 'Aprendendo a Andar de Skate em uma Zona de Guerra (Se Você For uma Menina)'


O que é coragem? Porque é importante ter coragem? Vencedor do Oscar de melhor curta metragem, Aprendendo a Andar de Skate em uma Zona de Guerra (Se Você For uma Menina), passando pelos períodos das estações, usados como pequenos arcos para o desenvolvimento da narrativa, entendemos melhor um projeto inovador para meninas de origem muito pobre com famílias conservadoras. Em um planeta que preza pelo egoísmo e a falta de reflexão sobre o outro, os olhos do mundo devem estar atentos a esse belo trabalho da cineasta Carol Dysinger.

Em um país devastado pela guerra de décadas, onde o básico ler e escrever ainda é um grande desafio, principalmente para as mulheres, sempre estando em perigo nas ruas, sem segurança, um pequeno oásis acontece em Kabul, no Afeganistão, com a criação de um projeto chamado Skateistão que associa aulas para meninas carentes e aulas de skate. Toda uma equipe de pessoas com enorme coração é vista fazendo seu trabalho com toda dedicação. Desde a professora que prefere não mostrar o rosto, até a jovem instrutora de skate, além da assistente social que tem como uma de suas funções recrutar novas jovens que se encaixem no perfil do projeto.

Vivendo com o dia a dia intenso, ajudando nas tarefas de casa e o medo da violência diária, as pequenas guerreiras não desistem dos seus sonhos, nem de seu livre arbítrio do pensar e praticar esse esporte muito popular que as leva para outros lugares durante aquelas horas que praticam. Em busca de um futuro melhor, percebemos no arco final que os sonhos começam a brotar e isso é algo que ninguém tira delas, jamais.

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18/02/2020

Crítica do filme: 'Memorável'


Pintar com os dedos invoca o homem primitivo que há entre nós. Indicado ao Oscar de Melhor curta de animação, o projeto francês Memorável fala sobre as nuâncias da nossa mente em momentos chaves de nossa vida. Na surreal que a vida presente os prega, um pintor e sua esposa precisam conviver com as mudanças oriundas do tempo mas sem deixar de acessar memórias que não há como serem esquecidas. Um belo curta. Pena que os cinemas brasileiros não exibem curtas antes dos longas em seu circuito exibidor (o capitalismo em exagero chega mais forte pela ótica do lucro dos chatos e inúmeros comerciais antes das histórias), tem tanto curta bom por aí...como esse.

12 minutos de muitas emoções onde o coração pulsa mais forte nessa singela história sobre as memórias de alguém ainda vivo.  Há poesia nos respingos das tintas do artista, há muita metáfora nas explicações sobre os nós que nossa mente submete, tudo isso é tratado com muita delicadeza e uma trilha sonora instrumental que chega bem forte aos nossos corações. 

Escrito e dirigido pelo cineasta francês Bruno Collet, Mémorable, no original, nos puxa para refletirmos sobre a arte de amar igual muitas vezes. Importante os detalhes à força da arte, pelo seu precioso protagonista e suas novas descobertas de uma vida recheada de boas memórias.  

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17/02/2020

Crítica do filme: 'Irmã'


As memórias que não existiram mas que também nunca se foram. Usando a técnica de stop-motion, a animação chinesa dirigido pela cineasta Siqi Song, transforma uma frustração em uma grande carta poética em forma de animação. Irmã, em seus curtos minutos, fala muito sobre o sentimento das famílias chinesas que viveram dentro dos 30 anos da política de apenas um filho. Selecionado pelo Festival de Sundance ano passado e um dos 5 indicados ao Oscar na categoria melhor curta de animação desse ano, o filme é um relato importante sobre um fato que afetou milhares de pessoas no país mais populoso do planeta.

Em 08 minutinhos, ambientado na década de 90, somos envolvidos em um pequeno retrato que vai do imaginário a realidade. Conhecemos um jovem que relata sua convivência com sua irmãzinha, muitas situações que acontecem com a chegada da nova integrante da família, só que descobrimos que essa irmã nunca existiu pois a família do protagonista não poderia ter mais de um filho por conta de uma política de 30 anos das autoridades chinesas.

Lançada pelo governo chinês no fim da década de 1970, essa lei que é pano de fundo dessa história, consistia numa lei segundo a qual ficava proibido, a qualquer casal, ter mais de um filho (em outubro de 2013, o governo chinês aboliu essa lei). Fato esse que deixou vários filhos únicos sem a possibilidade de dividir sua vida com um irmão ou irmã. O curta navega nessa vertente e usa a imaginação do pensar como forma de homenagem a todos que não puderam ter um irmãozinho durante todo esse período na China. O cinema é isso, uma maneira de refletir sobre nossas épocas: passado, presente ou futuro.

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15/02/2020

Crítica do filme: 'Hair Love'


O amor por nossos filhos nos fazem ser fortes em qualquer situação. Vencedor do primeiro de melhor curta de animação na cerimônia do Oscar que ocorreu no domingo passado (09), Hair Love mostra tanto amor em 7 minutos que os ensinamentos se prolongam para nossas vidas. Produzido, escrito e dirigido pela ex-atleta da NFL Matthew A. Cherry, o filme conta um pequeno retrato na vida de um pai e uma filha pequena e a tentativa do primeiro em pentear o cabelo da filha pela primeira vez.

Simples e profundo como todo bom curta deve ser. A difícil missão de um pai em fazer um belo penteado no lindo cabelo de sua filha, nos leva em uma jornada linda em analogias para nossa realidade, principalmente quando entendemos no finalzinho desse belo trabalho o porquê daquela missão ser tão importante sem ser cumprida por esse super pai. A mamãe da jovenzinha está em uma luta contra doença no hospital e o corte especial é para ela ir toda linda encontrar a mamãe.

Nessas horas é que vemos o exemplo e pensamos em muitos outros super papais. Tendo apenas um vídeo gravado pela mãe da menina como único auxílio na tentativa de ser bem-sucedido, o poder da animação entra como uma rajada de criatividade metafórica simbolizando aquela simples luta como algo tão importante que vira algo inspirador nossos corações. Belíssimo curta.

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Crítica do filme: 'Simonal'


O pecado de um artista que tinha tudo e ficou com nada. Lançado em meados do ano passado, o longa-metragem nacional Simonal traz à tona a vida de um homem que teve tudo em suas mãos, o principal músico do Brasil na década de 60/70, Wilson Simonal, e seu declínio após um acontecimento ocorrido durante a ditadura. Com arcos corridos, tentando apresentar os fatos mais marcantes da vida do artista, o filme busca apresentar argumentos que o levaram do topo ao nada ao longo de 105 minutos. No papel principal, o ótimo Fabricio Boliveira, a direção é de Leonardo Domingues.

Orçado em 7.5 milhões de reais, Simonal nos mostra o sempre animado Wilson Simonal (Fabricio Boliveira) e seu início na carreira de músico se apresentando em festas e eventos com o grupo Dry boys. Após conhecer Carlos Imperial e seu assistente na época, Erasmo Carlos, ganha a grande chance de sua vida e daí vira um dos grandes cantores do Brasil. Um dos pioneiros na criação da própria gravadora, Simonal, no auge, é envolvido em um escândalo, condenado por sequestro e extorsão, além de sair dessa história como dedo duro da ditadura. Exilado no próprio país, sendo negado pela grande maioria da classe artística, restou apenas pelas décadas seguintes tentar provar que nunca havia sido um delator a serviço da ditadura militar.

Um homem com um carisma único que queria levar sua música a todos, branco, preto, pobre ou rico. Um homem com uma vida recheada de emoções. Reunir tudo em um filme de 105 minutos realmente é uma tarefa árdua mas bem executada, com leves pitadas de imagens originais do próprio Simonal, o filme navega pelos principais shows, os mais emblemáticos e marcantes além de seus problemas fora do palco que acabaram derrotando essa figura tão popular da nossa música. Mais de 300 shows por ano, porém gastos extravagantes pessoais vão aos poucos minando tudo que ele conquistara e por conta do destino chega-se ao fato que o marcou como dedo duro.

Do país tropical à ditadura. Explorado em um arco já no seu fim o tão polêmico envolvimento com agentes do DOPS durante a ditadura, e também a acusação de sequestro e extorsão contra um ex-funcionário de sua gravadora levaram o rei do swing ao declínio. Em resumo, o filme cumpre seu papel em apresentar os fatos deixando o público dar o seu veredito, mas uma coisa não pode-se negar, Simonal em cima do palco foi um dos artistas mais importantes de toda nossa história.

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Crítica do filme: 'Good Boys'


Uma tentativa frustrada de um novo Superbad. Good Boys, filme dirigido pelo estreante em longas metragens Gene Stupnitsky e produzido por Jonah Hill, Seth Rogen e outros, conta a saga de três jovens amigos que precisam enfrentar um dia repleto de situações estranhas e novas em busca de um drone sequestrado. Mesmo com arcos finais surpreendentemente muito bons quando tenta chegar na parte importante das consequências de toda a aventura, com a intervenção dos pais e a aproximação com a realidade com situações mais reais a idades dos protagonistas, o filme naufraga pelo seu início muito fraco. 

Na trama, conhecemos Max (Jacob Tremblay), Lucas (Keith L. Williams) e Thor (Brady Noon), três pré-adolescentes que tem um dia atípico em suas rotinas quando ao tentarem bisbilhotar duas jovens adolescentes tem seu drone sequestrado pelas mesmas. Buscando uma solução para a inusitada situação, eles precisarão enfrentar situações novas mas sem perder o olhar ainda imaturo sobre a vida e as consequências dela. 

Orçado em 20 milhões de dólares e já arrecadando 82 milhões de dólares em bilheteria somente nos Estados Unidos (números de quando esse texto fora escrito), talvez pela força do marketing do filme em associar o projeto a seus produtores famosos, fato que aqui no Brasil não resultaria em gigantes resultados, Good Boys busca ser engraçado e chocante ao mesmo tempo, nos terríveis arcos iniciais, colocando situações e diálogos que não condizem muito com a realidade de muitos jovens da mesma idade. Good Boys não será exibido nos cinemas aqui no Brasil (opção do distribuidor). 

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14/02/2020

Crítica do filme: 'As Panteras' (2019)


Pô, sempre mais do mesmo! Onde esconderam a criatividade? Depois de uma série de sucesso e filmes com nomes importantes do cinema mundial, As Panteras versão 2019 busca resgatar a essência dos outros filmes com muita ação e cenas impossíveis, dessa vez um roteiro modelado em arcos sem muita inspiração que em breve deve estar nas sessões da tarde das televisões nacionais. Um blockbuster fraco filmado em lugares lindos. Um grande sono chega, menos quando acordamos e percebemos algumas boas reviravoltas, até o fim dos intermináveis 118 minutos.

Na trama, conhecemos as espiãs Sabina (Kristen Stewart) e Jane (Ella Balinska), duas experientes agentes da equipe do misterioso Charlie que são comandadas pela chefe Bosley (Elizabeth Banks). Durante uma missão mais uma mulher com potencial de ser agente, Elena (Naomi Scott), se junta a elas. Aprendendo a ser espiã durante a missão para salvar sua própria vida, Elena embarcará uma aventura que mudará para sempre sua maneira de ver o mundo da espionagem.

Passando que nem uma flecha pelo circuito nacional de exibição (graças a Deus), As Panteras busca nos plot twists algum oásis em meio ao caótico roteiro que nos é apresentado. Mesmo com boas cenas de ação, os arcos são confusos, principalmente os iniciais, deixando uma árdua tarefa chegarmos ao desfecho com os olhos abertos. Com direção da atriz Elizabeth Banks e orçado em inacreditáveis 90 milhões de dólares (imaginem quanto filme bom poderia ser feito com esse valor), o projeto se encaixa no mais do mesmo de tantos outros lançamentos lançados ano após ano.

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