Com simplicidade, faz-se um bom cinema. Selecionado para a Mostra Competitiva de Curtas-Metragens do Festival de Cinema e Vídeo – Cinemato –, Marcos, o Errante conduz sua narrativa com objetividade ao longo de seus 12 minutos, apresentando a autorreflexão como elemento central. Acompanhamos a trajetória de um homem à margem da sociedade, vivendo em condições de subsistência e buscando, em meio a um horizonte incerto, apenas sobreviver.
O filme gira em torno de Marcos, um morador de rua em uma
grande cidade baiana, conduzindo o espectador por momentos e lugares marcantes
de sua trajetória. Através de suas histórias, revelam-se fragmentos do passado,
reflexões do presente e as incertezas que rondam seu futuro. A partir da figura
desse nômade que escolhe viver à margem, constrói-se um panorama sociológico
potente, capaz de despertar reflexões profundas.
Tendo o próprio personagem como narrador, o filme ganha
força ao adotar esse olhar que, longe de estar perdido, enxerga com lucidez os
detalhes sociais ao seu redor. Especialmente quando direciona sua atenção ao
outro — mais do que a si mesmo —, somos levados a críticas e questionamentos
sutis, que emergem mesmo nas entrelinhas. É impossível não refletir, por
exemplo, sobre as políticas públicas e suas falhas na prática.
Com a câmera na mão e entregue ao acaso — talvez à espera do
inesperado —, o cineasta Thiago Brandão
escapa do lugar-comum e acerta ao transmitir com precisão o discurso que
deseja. Parte em busca da realidade que se revela diante dele, alcançando muito
com muito pouco.