05/10/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #116 - Andréa Cals


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Andréa Cals é diretora e curadora da mostra feminista Século XXI: Mulheres, Ação!, jornalista, artista têxtil e parecerista de editais de cultura. Por onze anos, foi coordenadora, apresentadora e curadora da mostra Première Brasil do Festival do Rio, participou da comissão de curadoria do Festival do Cinema Brasileiro de Brasília e foi produtora do Festival de Cinema Brasileiro em Israel. Dirigiu e apresentou o programa de rádio CINEMA EM SINTONIA, especializado em cinema brasileiro. Foi curadora, apresentadora e produtora do Canal Curta! - Em 2020, integrou a comissão seleção de filmes internacionais do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu moro na Zona Sul, e os cinemas que mais frequento são do circuito Estação e do Espaço de Cinema, cinemas mais do que importantes para a cidade desde os anos 1980. A sala do IMS também apresenta frequentemente mostras pontuais ótimas, assim como a Cinemateca do MAM. Quero citar também o Ponto Cine, que é extremamente importante com sua proposta de divulgar o cinema brasileiro, com sessões seguidas de debates.

Entretanto, em termos de programação, já atravessei a baía de Guanabara para assistir as sessões do CineArt UFF, em Niterói, um exemplo de curadoria bem feita e projeção impecável.

 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Olha, minhas primeiras lembranças de cinema vem da minha infância, com meus 6/7 anos, nas sessões Coca-Cola do antigo Drive In da Lagoa, onde eu via Tom e Jerry, bebendo refrigerante de graça. Ou seja, já era um lugar diferente em si. E para mim, que morava na Zona Norte, ainda tinha algo muito especial, que era atravessar o túnel e sair na Lagoa Rodrigo de Freitas ao anoitecer, que é, até hoje, uma coisa que me comove, de tanta beleza. Muita magia, muita coisa boa junta de uma vez só, que fez a minha cabeça desde cedo.

Vários filmes já mexeram comigo de um modo especial, eu sou daquelas que fica hipnotizada na tela, choro, rio, fico puta e coisa e tal, ou seja, o cinema sempre foi um lugar especial para mim. Mas acho que desse jeito a que você se refere, eu fiquei quando assisti Os 7 Samurais, do Kurosawa. Eu já tinha assistindo Dersu Uzala, na adolescência, indicada pelo meu professor de português, mas acho que com os Samurais eu entendi outras coisas sobre o que é poder fazer filmes e transcender.

 

 

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Vixe! Sou eclética e mudo muito de opinião o tempo todo. Sou que nem aquele álbum: a melhor banda de todos os tempos da última semana. Contudo, porém, todavia, tem um que tudo que faz mexe muito comigo, e volta sempre para o topo da lista, que é o Wim Wenders. O filme favorito? Bom, o primeiro que eu vi que me chapou completamente foi Paris, Texas. Fiquei muito mexida, ouvia a trilha sonora loucamente, essa parceria com o Ry Cooder é demais.  Contudo, porém, todavia, hahaha, mais de uma vez eu já afirmei que o filme que mais amo no mundo é Asas do Desejo. Eu sou romântica, e é redentora a ideia de um anjo que abre mão da imortalidade por causa da sua paixão pela humanidade.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Eita! Isso é muito mais difícil ainda, puxa! 

Amo demais Rio, Zona Norte , Vidas Secas, A Hora da Estrela, Macunaíma, Iracema, uma transamazônica, Pixote, O Bandido da Luz Vermelha, Edifício Master, Jogo de cena, O Som ao Redor, Amarelo Manga, O Céu de Suely...

Como escolher um?

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Plagiando Gilberto Gil, cinéfilo é aquele que gosta de ver filmes no mato, no motel, no celular ou no computador.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Claro que não. hahahaha.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Há um encantamento em se reunir com pessoas que você não conhece numa sala escura para assistir um filme. Não acredito que isso acabe.  A menos que tenha uma pandemia.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Eu assisti Los Silencios, da Beatriz Seigner com atraso e amei o filme. Acho que não teve a merecida repercussão.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que todos temos muita responsabilidade sobre como conduzir essa reabertura, mas acho possível, sim.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Cinema é arte e considero difícil definir "qualidade" em termos artísticos.  O que eu gosto é da pluralidade do cinema brasileiro. Recentemente, tenho dedicado muito do meu tempo para assistir documentários, e é impressionante como temos tantos estilos diferentes nesse gênero. É muita criatividade! Adoro!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Ah tem vários, não posso destacar um especificamente. Assisto tudo que posso, com muita curiosidade.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a melhor diversão.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

As memórias sempre se confundem na minha cabeça e acaba que não consigo destacar muita coisa.

Tenho uma doce lembrança, não sei se chamaria de inusitada, mas com certeza uma das cenas mais emocionantes que assisti, que foi o lançamento do filme O Signo do Caos, do Rogério Sganzerla, no Festival do Rio, em 2003, o primeiro ano em que assumi a Coordenação da Première Brasil.

Rogério já estava muito debilitado, de cadeiras de rodas, por causa da doença que teve. Estavam na plateia do Odeon todos diretores que você pode imaginar para homenageá-lo, brasileiros e estrangeiros. Todos sabiam que era uma despedida. Já no saguão era difícil dele passar, todo mundo queria lhe falar, e eu maluca, por causa do atraso da sessão, mas não tinha como tratar como uma sessão qualquer, não era. Quando finalmente chegou à beira do palco, que ele não pode subir por causa da cadeira de rodas, o cinema lotado se levantou para aplaudir por muitos minutos esse grande artista. Foi lindo demais, até hoje me emociono ao lembrar. Essa sessão aconteceu em setembro e Sganzerla veio a falecer logo no início de janeiro de 2004.

Também me lembro de algo muito divertido, que aconteceu no lançamento de uns dvds do National Kid, no Estação Botafogo. A pessoa que dublava falava "ávica", e alguém começou a corrigir, gritando da plateia: "auíca". A partir daí, cada vez que o ator falava "ávica", já era o cinema inteiro gritando às gargalhadas "auíca". Bobagens tão boas de lembrar... O cinema é uma maravilha. Aglomerar é bom demais.

 

 

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Não assisti, embora saiba qual filme é, claro. Diria que gosto não se discute.

 

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que para dirigir, quanto mais você conhece sobre cinema mais você aguça sua sensibilidade e possibilidades. Mas não acho que você precisa ser um cinéfilo no sentido de um exímio conhecedor de obras cinematográficas.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Vixe! Olha, como já disse, memória não é meu forte, não sei se farei jus aos meus sentimentos, hahaha, mas o primeiro filme que me ocorre, que eu realmente detestei, é o norte-americano Encaixotando Helena. A diretora e roteirista é a filha do David Lynch, diretor que eu adoro, mas não posso dizer o mesmo sobre o que penso dela.

 

 

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04/10/2020

Crítica do filme: 'Inhebek Hedi'


Não há prazer em fazer aquilo que você não gosta. Escrito e dirigido pelo cineasta tunisiano Mohamed Ben Attia, estreou no circuito brasileiro anos atrás o ótimo Inhebek Hedi que aqui veio a tradução de A Amante. Ao longo dos cerca de 90 minutos de projeção, acompanhamos uma certa jornada pela solidão, percorrida pelo infeliz protagonista que acaba ganhando a chance de voltar a sorrir por conta de um verdadeiro amor. Fugindo dos clichês sobre cultura e tradição, o foco do roteiro é inteiramente na construção profundo de um impactante personagem principal. Um belo trabalho que foi exibido no Festival de Berlim em 2016.


Na trama, conhecemos Hedi (Majd Mastoura) um representante de vendas da Peugeot que vai se casar (em um casamento arranjado) com uma mulher que fala várias noites em seu carro, escondido de todos. Filho não favorito, se sente abandonado em seus desprazeres por uma vida toda comandada pelos objetivos da família, como marionete de sua mãe. Certo dia, após ser enviado a uma região onde precisa ficar hospedado em um hotel, acaba conhecendo Rym (Rym Ben Messaoud) uma carismática funcionária do lugar. A partir desse encontro, o protagonista precisará passar por escolhas que envolvem a todos ao seu redor.


O amor interrompe as barreiras não só da timidez mas dos sonhos. É bonito de assistir a forma como isso é mostrado no filme. Triste e perambulando dentro do seu carro, Hedi passa por uma desconstrução até a chegada de seus melhores momentos. No início não tem autonomia para nada em sua vida, as expressões do personagem dizem várias coisas, são entrelinhas óbvias e bastante nítidas. A arte sempre esteve presente em sua vida através dos desenhos que faz, praticamente expressa suas emoções para poucos através das imagens que produz. Quando resolve buscar sua própria história, mesmo ainda preso e em dúvida por conta das tradições, se arrisca e o filme ganha contornos de escolhas onde do lado de cá da telona ficamos torcendo para um final feliz. Mas o que seria um final feliz né?


Há tanto guardado dentro do protagonista que a cena impactante num dos diálogos com sua mãe, já em um dos arcos finais é de uma força impactante, fruto também da atuação primorosa do ator tunisiano Majd Mastoura. Um belo trabalho que merece ser conferido por todos que gostam de boas histórias.

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Crítica do filme: 'O Roubo do Século'


A busca inconsequente da hipotenusa. Com pitadas generosas de comédia, o longa-metragem argentino reúne o carisma de dois artistas consagrados para mostrar um fato inusitado que realmente aconteceu na Argentina, um dos maiores roubos à banco do planeta. Em O Roubo do Século, dirigido pelo cineasta Ariel Winograd (que estava na equipe do ótimo O Plano Perfeito (2006)) percebemos referências cinéfilas por todos os lados e principalmente a filmes sobre roubos, até a trilha sonora faz lembrar. O roteiro de Alex Zito e Fernando Araujo é bem definido deixando entendermos melhor os motivos (se é que existiam) e as personalidades dos envolvidos na ação. Os ótimos Guillermo Francella e Diego Peretti comandam as ações nesse simpático projeto.

Na trama, acompanhamos Fernando (Diego Peretti) um homem de meia idade, fumante, falador que vai ao psicólogo toda semana buscando encontrar algum sentido para sua vida. Certo dia, após sair da aula de Jiu Jitsu, próximo a uma locadora encapada por diversos filmes clássicos do cinema, percebe que o banco que fica de frente à locadora pode ser roubado e o dinheiro ser ‘resgatado’ por uma correnteza de água que passa por debaixo daquela parte da cidade. Assim, resolve ir atrás de ajuda e acaba encontrando algumas outras pessoas fundamentais para o sucesso do plano, entre eles, Luis Mario (Guillermo Francella) um trambiqueiro e ladrão conhecido da região.


Um pai de família, um casal, um experiente malandro e ladrão, um religioso, um líder desajustado. A bordo de uma Kombi precária, os elementos vão de um lado para o outro buscando a perfeição em um plano repleto de achismos mas que de certa forma era possível com as informações que ele possuíam naquele momento. O tom cômico acompanha boa parte dos diálogos o que faz tirar risos improváveis (pelo nível de tensão alcançado em alguns momentos) do espectador.


Os insights de um líder atrapalhado. Muitos dos arcos iniciais giram em torno da criação do plano, quase uma preparação com ritmo mais balanceado do roteiro preparando para a arrancada final que podemos chamar de conclusão. Nesse tipo de história, baseada em fatos reais, fica muito difícil saber o que de fato foi verdade o que é fato e o que é licença poética para o filme ter ritmo/andamento. Mas o que importa como cinema é que o projeto funciona e agrada bastante.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #115 - Suelyn Magalhães


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Campinas. Suelyn Magalhães é jornalista e trabalha com comunicação e diversidade. Ama uma história bem contada, principalmente dramática. É a criadora do instagram @academiadasartes_

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Cine Topázio, proximidade de casa, preço e gêneros de filmes. Além disso, são todos legendados, não gosto de ver filme dublado.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Quando eu vi Pânico, aí me apaixonei por cinema.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Tenho 2.

Denis Villeneuve, A Chegada.

David Fincher, A Rede Social.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Abril Despedaçado, por ser uma obra-prima do sertão e ter atuação sublime do Rodrigo Santoro.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É assistir qualquer coisa, mesmo se for para ter uma opinião negativa, para formar nossa opinião crítica sobre algo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. A maioria vê a questão comercial, e por isso os blockbusters são os mais rodados no circuito popular. O foco é vender o produto não importando qual seja.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Ao meu ver, se tornará algo gourmet, visto somente pela elite. Até porque os streamings se fortaleceram e tem indicações a prêmios, fazendo obras com muita qualidade e trazendo a facilidade de podermos escolher o que vamos ver.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Bruxa.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. De jeito nenhum.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sem dinheiro e muito político. Ainda falta uma obra-prima para alavancar nossas histórias. Falta investimento na base, formação escolar nossa é precária voltada para cursos que não encorajam a criatividade, aí fica difícil termos gênios para criar e botar em prática histórias muito boas.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Wagner Moura, Fernanda Montenegro, Fábio Porchat.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é nunca acordar de um sonho bom.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Quando mais nova burlei muitas vezes de pagar ingresso, entrando em vários filmes escondido kkkk.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Trash hahaha.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

 

Não. Eles precisam ser bons em contar aquela história e ter sua mise-en-scène foda!

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Vixe, tem vários. Mas tem um que se chama Espíritos, de uma mulher fantasma. É péssimo.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Amy. Amo biografias.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Várias vezes.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O Senhor das Armas. (Não gosto de filmes com ele).

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Omelete, Adoro Cinema, Cinepop, Observatório do Cinema, e a crítica Isabela Boscov.

 

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03/10/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #114 - Kleber Mendonça Filho


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo e um grande diretor de cinema. Kleber Mendonça Filho é diretor, produtor, roteirista e crítico de cinema. Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco, já escreveu para veículos grandes como: o Jornal do Commercio, no Recife, CinemaScópio, Revistas Continente, Cinética e o jornal Folha de S.Paulo. Diretor de dois enormes sucessos na história recente do cinema brasileiro, Aquarius (2016) e Bacurau (2019), em 2020 foi escolhido para integrar o júri do Festival de Berlim. Com tantos compromissos na agenda, Kleber arranjou um tempo e carinhosamente nos respondeu. Estamos honrados em poder transmitir para vocês leitores esse papo feito à distância mas que parecia que estávamos tomando um café e falando sobre cinema.


Obs: Grande Kleber, já o vi diversas vezes pessoalmente mas falar com você é difícil pois todos querem rs. Queria muito poder ter conversado sobre cinema com você no Cine Joia, em Copacabana, um cinema antigo e que resiste até hoje e onde eu fui programador por alguns anos. De qualquer forma, sempre o acompanhei à distância e continuarei acompanhando. Continue lutando pelo bem do nosso cinema, precisamos de pessoas como você. Viva o Cinema!

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Tem três salas aqui no Recife que são uma mistura perfeita de ambiente com programação. Os dois cinemas da Fundação, onde é impossível eu ignorar pois eu trabalhei 18 anos lá e de uma certa forma coloquei muito da minha energia pessoal nessas salas e hoje continuam abertas e bem cuidadas pela administração que veio depois. Eu saí de lá em 2016 e fui trabalhar no IMS que tem duas salas, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A terceira sala no recife é uma sala assim acima de qualquer coisa que é o Cinema São Luiz. Abriu em 1952, é aquela sala que sobreviveu, é um grande palácio de cinema com balcão e plateia, mil cadeiras, totalmente equipado para a era digital e é um epicentro de cinefilia junto com os dois cinemas da Fundação. Os três, formam uma ideia de cinefilia fora dos multiplex mas também de toda uma movimentação em torno do cinema feito na cidade, do cinema pernambucano. Foi no São Luiz por exemplo que Bacurau tinha fila ao redor do quarteirão na quarta semana em cartaz. Dando 700 pessoas numa terça-feira à tarde, exatamente como era o São Luiz da minha infância.  É um lugar realmente que qualquer pessoa aqui no recife que gosta de cinema ama e muita gente que vem de fora as vezes vai visitar o São Luiz como um ponto turístico e vai lá para assistir e ter a experiência de ter visto um filme lá. A gente aqui no Recife é muito sortudo de ter o São Luiz. Não temos muitas salas em número, mas temos o São Luiz e os cinema da Fundação que respondem por muito do que acontece aqui em Pernambuco na área de cinema, o Janela também.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

De fato, foi no São Luiz, eu tinha 3 ou 4 anos de idade e minha mãe me levou para ver uma maratona Tom e Jerry, acho que no início dos anos 70. E inclusive ela lembrou durante muitos anos que quando a gente sentou para ver o filme eu perguntei para ela: “que canal é esse?”. Então, foi no São Luiz que eu entendi o que era essa coisa chamada cinema, onde a imagem era muito boa, muito grande, e um lugar totalmente escuro. E muito pernambucano tem a memória de ter ido à primeira vez no cinema no São Luiz ver um filme.  

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eu realmente tenho muita dificuldade em responder. Não é nem dificuldade, eu acho impossível com 51 anos conseguir definir a diretora, o diretor, preferido. Porque você vai colecionando tantas experiências ao longo da vida de tanta gente que faz filme e com quem você compartilha visões de mundo e visões de cinema. Então, eu não consigo estabelecer um favorito. Eu não consigo responder a essa pergunta. Em algum momento da vida eu poderia ter apontado esse ou aquele, ou aquela, mas hoje eu não consigo mais. Prefiro juntar um grupo de artistas que eu gosto muito e que eu me sinto em casa vendo os filmes deles, num grande conjunto onde os filmes deles fazem parte da minha vida. Mas não seria justo definir um para tanta gente que eu amo. Essa é a melhor maneira de responder a essa pergunta.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Minha reação é parecida com a do meu diretor favorito. Porque o filme nacional favorito eu venho colecionando experiências no cinema brasileiro inclusive no cinema do qual eu faço parte, e é muito difícil pra mim declarar e isso virar um documento que o filme nacional preferido é esse ou aquele. Eu posso dizer que eu olho com enorme amor e carinho para os filmes do Nelson Pereira do Santos, do Hector Babenco, Glauber Rocha, do Edgard Navarro, olho com muito carinho também para filmes que Hugo Carvana fez. É muito difícil cravar dessa forma. Então eu prefiro também tentar explicar a resposta mas não dar uma. Eu gosto muito de filmes curtas-metragens, e de longas-metragens, então eu não conseguiria definir de maneira tão absoluta o meu filme brasileiro preferido.

 

5) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Eu acho que em termos de cultura brasileira e sociedade brasileira, é seguro que muitos brasileiros não viram Cabra Marcado para Morrer do Eduardo Coutinho e eu acho que a perda é da sociedade brasileira e do brasileiro em geral. Acho um filme muito acessível e muito impressionante sobre o Brasil e sobre a história do Brasil. E acho que faria um bem muito grande esse filme ser exibido em escolas e universidades e ele virar uma referência que todo brasileiro diga ou saiba dizer: eu conheço Cabra Marcado para Morrer, vi esse filme, é muito bom. Na área de cinema muita gente viu mas digo em termos absolutos da sociedade brasileira.

 

6) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro atual, ele foi construído aos poucos com a chegada da tecnologia digital, com o desenvolvimento de políticas públicas inteligente, democráticas, inclusivas, diversas, ao longo dos últimos 15, 20 anos. Uma nova geração chegou para ter o que falar, ter o que filmar, ter o que mostrar. Eu faço parte dessa geração. Minha colaboração existe, junto com dezenas de homens e mulheres que fazem filmes como autores no Brasil e centenas, milhares de técnicos e artistas de todos os tipos que fazem cinema no Brasil. Nesse momento, essa construção está sendo colocada em risco por causa de perseguições ideológicas e de um tipo de demonstração muito forte de ignorância e estupidez que vai contra os próprios interesses do país. Eu acho que líderes políticos que são contra a cultura do próprio país não são líderes, são apenas políticos não muito inteligentes. Então, o cinema brasileiro hoje ele está sendo ameaçado exatamente no auge de um crescimento e desenvolvimento que foi fruto de muito trabalho. É exatamente isso que acho que está acontecendo nesse momento.  

 

7) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Sonia Braga.

 

8) Defina cinema com uma frase:

O cinema é a possibilidade que você tem de dançar com a realidade. Acho que é por aí.

 

9) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Eu escrevi sobre essa história no Cahiers du Cinéma que me pediram uma história de sala de cinema. Eu era criança e fui ver Jesus de Nazaré, acho que parte 2, de novo no cinema São Luiz, e o cinema tem umas pilastras em cada lado da tela, umas colunas. Aí tinha uma cena no filme, que Jesus está sendo interrogado pelo Pilatos, aí tem um enquadramento que também tinham colunas onde ele estava sendo interrogado e parecia que o filme continuava no cinema, a tela acabava na coluna do filme e continuava na coluna do cinema.

Mas também testemunhei, acho que em 1988, quando Rambo III foi lançado, usaram uma cópia para dois cinemas: o Art Palácio e o Trianon, no centro do Recife. Aí contrataram uns caras para ficarem levando os rolos de filme, com a diferença de horário entre o Art Palácio que ficava vizinho do Trianon mas que você tinha que descer as escadas e passar na frente do hall de entrada, sair na calçada, dobrar a esquina e entrar no outro cinema e ainda subir as escadas e levar para a sala de projeção onde o operador montava o filme. Aí eu estava em uma das sessões que esse sistema entrou em colapso. Quando entrou em colapso, o filme foi interrompido e aí começaram a quebrar o cinema.

 

 

10) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

É um kitsch brasileiro absoluto.

 

11) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu realmente acredito que você não precisa ser cinéfilo para dirigir filmes. Acho estranho alguém que faça filmes não tenha uma cultura de cinefilia e não tenha sido formado por outros filmes. Mas eu não descarto a possibilidade de uma pessoa que não gosta de filmes e não tenha uma cultura cinéfila faça mesmo assim filmes bons ou interessantes. Acho que a tendência é a pessoa fazer filmes que não são interessantes. Mas nada no cinema é muito lógico, então eu acho que tem de tudo no cinema, tem a cinefilia que gera grandes filmes e tem a cinefilia que gera filmes horríveis. E tem os não cinéfilos que podem fazer bons filmes.

 

12) Você é uma referência para uma legião de cinéfilos e amantes do cinema brasileiro. Que dica você daria para você mesmo, se você hoje encontrasse o você da época que começou a trabalhar com cinema?

Eu diria leia muito, veja muitos filmes, não tenha medo de se expressar, seja verbalmente, seja com uma câmera e mostre o que você faz para os seus amigos. Tenha bons amigos. Tenha grandes conversas com seus amigos, troque ideia, e é assim que você aos poucos vai tentando encontrar o seu pé do mundo e tentar se equilibrar. Porque o mundo te dá muitas referências e essas referências vão construindo sua visão de mundo. Então fico muito feliz de olhar e lembrar que muito do que eu fiz é o que eu falaria.

 

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Crítica do filme: 'Enola Holmes'


Dinâmico, divertido e inteligente. Quando o carisma em cena só soma a uma simpática produção. Dirigido pelo cineasta britânico Harry Bradbeer (diretor do elogiado seriado Fleabag), Enola Holmes, produzido pela Netflix, é um dinâmico filme cheio de aventura com pitadas superficiais de drama e com uma protagonista forte, valente, à frente do seu tempo, interpretada pela carismática e ótima atriz britânica, nascida na Espanha, Millie Bobby Brown. Não chega a ser uma releitura, quase um novo ciclo, tendo o famoso personagem de Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes, embutido mas dessa vez totalmente coadjuvante. Quem brilha é Enola!


Na trama conhecemos Enola Holmes (Millie Bobby Brown), a irmã do famoso detetive Sherlock Holmes (Henry Cavill), uma jovem adolescente que após o desaparecimento misterioso de sua mãe Eudora (Helena Bonham Carter) acaba embarcando em uma aventura repleta de mistérios e surpresas bem longe de casa e muitas vezes fugindo da imposição de Mycroft (Sam Claflin), seu outro irmão mais velho.


Escrito por Jack Thorne (que também assinou o roteiro de Extraordinário), baseado na obra de Nancy Springer chamada The Case of the Missing Marquess: An Enola Holmes Mystery, o filme gera conclusões inconclusivas sobre alguns desfechos, deixando portas abertas para uma possível franquia. O roteiro é muito bom, consegue não abusar dos clichês e com ótimas sacadas, como a quebra da quarta barreira, o que aproxima muito o público de todo o contexto da trama.


Repleto de mistérios, suas camadas dramáticas chegam fortes mas não tão profundas quando paramos para pensar na relação entre a família Holmes, seus perfis diferentes e todas as ações contidas em seus atos. O Sherlock de Cavill é elogiável, entendendo sua posição de coadjuvante, brilha intensamente com uma faceta nova de carisma existente nesse tão glorioso personagem. Mas o show é totalmente de Millie e sua Enola, consegue passar ao público toda a força dessa jovem, inspiradora e valente mulher à frente de seu tempo.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #113 - Julio Cavani


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Recife. Graduado em jornalismo na UFPE, Júlio Cavani já dirigiu e roteirizou premiados curtas-metragens como: História Natural (DCP, ficção, 2014) e Deixem Diana em Paz (35mm, animação, 2013), selecionados para mais de 50 festivais de cinema nacionais e internacionais. É autor dos livros: Polinização (história em quadrinhos), O Coelho e o Leão (infantil) e José Cláudio: Aventuras à Mão Livre (biografia). Como jornalista, atuou durante 14 anos no Diário de Pernambuco e colaborou para o Canal Brasil (2016 a 2019), o Correio Braziliense, o Estado de Minas, o Jornal do Commercio, a TV Universitária, o site Cinema Escrito e para as revistas Outros Críticos, Coquetel Molotov, Billboard, Noize, Continente e DasArtes. Desde 2015, assina a curadoria geral do festival internacional de cinema de animação Animage, realizado no Recife. Atualmente organiza o projeto Um Curta Por Dia (@umcurta) no Instagram.

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Acho que o Cinema São Luiz é o mais importante tanto pela escolha de filmes que entram em cartaz quanto por abrigar os melhores festivais de cinema do Recife. Como sala de projeção, é também um espaço espetacular.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

ET, de Steven Spielberg.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Talvez Alfred Hitchcock e Um Corpo que Cai.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bandido da Luz Vermelha porque consegue atingir um nível máximo de originalidade de linguagem ao reunir uma inesgotável riqueza visual com ritmo envolvente, temática relevante, bons atores e som instigante.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Se cinéfilo é considerar ver filmes algo tão importante quanto comer.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não acredito.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Electroma.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que deveriam permanecer fechadas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Boa, como sempre.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Gosto de acompanhar quase todos os longas produzidos no Recife.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é uma experiência de vivenciar o mundo em diferentes perspectivas simultaneamente.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

 

Em uma projeção do filme Viva São João, o público batia palmas no ritmo das músicas.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

É um filme importante por reunir toda uma complexidade cultural.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não precisa ser cinéfilo.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Os Dez Mandamentos (2016).

 

17) Qual seu documentário preferido?

Sympathy for the Devil, de Jean-Luc Godard.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim, mas apenas em festivais e sessões de pré-estreia.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Coração Selvagem.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #113 - Julio Cavani

02/10/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #112 - Daniel Bertorelli


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é um cinéfilo brasileiro que mora em Virgínia, nos EUA. Daniel Bertorelli é raconteur, roteirista, ator, atleta, ‘mata um leão por dia’, um ‘take’ de cada vez. Apaixonado por filmes e atleta de longa data, fomos conversar com o Daniel para esse especial.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

AMC - cinemão pipoca mesmo, salas iMAX com toda magnitude de imagem e som (e frescuras!).

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

De Volta Para O Futuro - imagine um menino vendo aquela magia toda (Zemeckis/Spielberg)? Foi ali que decidi ser ator.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Difícil dizer. São muitos. É algo como a escolha de Sofia, seria injusto. Mas vamos lá: John Avildsen, Rocky (1976).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Os Saltimbancos Trapalhões. Puro saudosismo, em uma época em que a produção nacional era quase nula, lá estavam os Trapalhões levando multidões aos cinemas. Deve ter mais filme lá fundo do meu cérebro, mas esse saltou na frente aqui agora.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Amor ao cinema. Simplesmente isso.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

Not really. Depende da sala, mas em última instância o fator econômico se impõe. Daí vejo a importância dos autores criarem obras de arte e que também sejam comerciais. Aliás, quando o autor faz isso, geralmente é gênio.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não. Sempre vai existir um doido para manter uma, nem que seja por hobby.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Sunrise (1927) de Murnau. Em português, Aurora.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Estou longe e um pouco desconectado. Não posso opinar.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Nenhum. Essa pessoa não existe para mim.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Luzes, câmeras... AÇÃO!

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Tom Cruise faz uma “embaixadinha” com a arma para atirar no vilão no fim de Missão Impossível 2, após dezenas de outros momentos heróicos. Nesse momento, uma voz grossa de um espectador, claramente sarcástico, ecoa no cinema em silêncio extasiado com o herói: “Tom Cruise! Eu te amo!” O cinema veio abaixo com as gargalhadas.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Não tenho ideia sobre o que você está falando.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não. Já vi diretores completamente imersos em sua própria obra e sem muito interesse em cinema em si.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

São muitos. E adoro filmes ruins.

 

17) Qual seu documentário preferido?

São tantos. Mas gosto bastante de Ilha das Flores.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Claro! Várias vezes!

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #112 - Daniel Bertorelli

01/10/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #111 - Jair Silva


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é um dos programadores mais cinéfilos que o Brasil tem. Formado em publicidade na UNAMA em Belém do Pará, Jair Silva estudou cinema na Escola Darcy Ribeiro (RJ). Tem alguma experiência em produção de docs institucionais, curtas e publicidade. Também dirigiu alguns curtas, três no total... começou no mercado de distribuição na Imovision como assistente de programação e entrou na Vitrine Filmes em 2013, como gerente de programação. Trabalhou a programação Vitrine/Esfera durante a parceria das duas distribuidoras em 2014. Desde 2016 é gerente da área de cinema na O2 PLAY

Obs: meu querido amigo Jairzão. A primeira lembrança que tenho do Jair são mensagens sobre o filme Branca de Neve, escrito e dirigido pelo Pablo Berger. Depois, virei programador de um cinema esquecido em Copacabana. Jair foi um dos poucos, no início, que sempre me ajudou, e a toda equipe do cinema, a reerguemos o espaço, sempre me oferecendo filmes ótimos. Um cara nota mil, justo, correto. Continue brilhando querido cinéfilo.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Posso dizer que tenho 3 "minhas cidades". Em Belém do Pará, onde comecei meu interesse pelo cinema, tenho relação com muitas salas.. Quando novinho ia muito ao cinema Olímpya, o mais antigo em funcionamento do Brasil, e o Palácio, a maior sala de cinema da cidade, de dois andares no centro da cidade, que hoje infelizmente virou igreja evangélica. Na minha juventude, ia muito aos cinemas 1,2 e 3 de um grupo local que passavam os filmes um pouco mais alternativos. Já adulto, tenho boas lembranças de assistir filmes e Mostras especiais no Cine Líbero Luxardo, sala que hoje, é a única em Belém que dá espaço ao cinema independente. No período que morei no Rio, os cinemas do Estação Botafogo e o Espaço Botafogo, o Roxy no coração de Copacabana, o maravilhoso Odeon, são alguns tenho muitas boas lembranças, e ainda o saudoso Paissandú. Já São Paulo, a diversidade de salas é maior. Tenho carinho por muitas. E uma tristeza muito grande de termos perdido espaços incríveis como o Cine Arte, no Conjunto Nacional. Uma grande perda para quem ama cinema, e para cidade de São Paulo.

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2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Outra pergunta difícil. Não me recordo o primeiro. Minha mãe é professora, e sempre entendeu a educação e a cultura como elemento fundamental na formação do indivíduo. Então lembro que desde muito criança, ir a teatro, cinema, apresentações de dança, circo, e cinema sempre foi minha maior paixão. Lembro de ir sessões de filmes dos Trapalhões por exemplo. O filme ET me marcou muito. Me tocou profundamente. E eu era bem criança. Talvez seja minha lembrança mais forte do cinema nesses primeiros contatos. Lembro de assistir O Império do Sol, e me apaixonar pela trilha sonora. Eu estudava música no Conservatório Carlos Gomes, e aprendi a gostar, a ouvir música clássica, e isso me fez ter essa proximidade com trilha sonora, que tenho até hoje. Império do Sol e O Último Imperador foram do mesmo ano, assisti os dois no cinema, e eu com 10 anos, sai muito impactado dos dois filmes, no mesmo período histórico. Por mais que naquela altura, não entendesse as questões políticas do filme, me aguçou a curiosidade. Gosto muito de geopolítica, de história. E o cinema me despertou isso também.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Essas perguntas pra quem gosta de cinema são bem complicadas. Amo tantos diretores. Do pop como o Spielberg, a um cinema mais independente como o filipino Brillante Mendoza ou o chinês Jia Zhang-ke. Digo isso para falar que tenho muitos diretores que admiro. De diferentes estilos, épocas e nacionalidades.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Essas perguntas para resumir tudo a "um" para quem gosta de cinema é muito complicado.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinema é imersão. E ser cinéfilo se deixar entregar a essa imersão. Vivenciar verdadeiramente o que é entregue pelo filme.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Sim. Mas acho muito subjetivo o "entender de cinema". Os programadores das salas assistem muitos filmes. Muitas vezes não se pode colocar um filme no cinema, porque gostou dele. A sala de cinema não é como a TV na sala da minha casa que posso colocar só o que eu gosto. Nem seria essa a função de um cinema. O programador de uma sala tem que entender isso e dar oportunidade ao seu público. Dito isso, tem que entender o perfil de cinema, e isso depende da cidade, região que ele está inserido, e também o perfil de negócio da sala.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não. Cinemas, teatros, são lugares de encontros de pessoas com vários pontos de vista, lugares de troca de ideias.  Existirão alternativas ao presencial, a tecnologia nos oferece isso, e ainda bem que oferece. Mas nada substitui essa troca real da experiência coletiva e tão individual ao mesmo tempo de uma sala de cinema. A sala de cinema oferece experiência única.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Tem muitos. Mas tem um que sempre indico, que mudou minha percepção de ver o mundo.

As Neves do Kilimanjaro, de Robert Guédiguian.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim. Diante de tantos lugares, que entendo ter menor segurança que as salas de cinema, como igrejas, academias, se respeitando seriamente os protocolos, os cinemas devem reabrir.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Excelente. E parte dessa excelência é alcançada graças a diversidade das produções, a liberdade das escolhas de temas e nossa pluralidade cultural que um país do tamanho do nosso oferece. Que continue assim, com funcionamento de políticas públicas de cultura, e quem esteja a frente dessas políticas, da Ancine, seja quem entenda de fato da importância do cinema como produção cultural e como negócio, e que não censurem nem interfiram no conteúdo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 São muitos. Mais uma vez, é muito difícil limitar.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a arte onde executamos e mais necessário sentimento humano. A empatia.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Quando assistia DOGVILLE, no Cinema Paissandú no Rio, nas sequências finais, (atenção spoiler), a cidade em chamas, uma mulher, sozinha, sentada a umas duas cadeiras ao meu lado, vibrava na cena da mãe com os filhos. Ela vibrava como se a vingança fosse dela. E eu também estava assim. O cinema do Lars é visceral. Nos faz aflorar sentimento
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30/09/2020

Crítica do filme: 'Boa Noite'


Tudo que é feito sem emoção, não funciona. Mais de 8.000 ‘boa noite’ durante quase todos os dias para milhões e milhões de pessoas. 27 anos apresentando o Jornal Nacional (Entrou para o Guiness Book essa marca inclusive). Uma voz marcante e inconfundível. Exibido no excelente festival (um dos melhores do Brasil) É Tudo Verdade, de 2020, Boa Noite (título melhor não tinha né?), dirigido pela cineasta Clarice Saliby, não deixa de ser, antes de tudo, uma grande homenagem a esse comunicador tão importante de nosso país, Cid Moreira. Narrando a própria trajetória nesse projeto, Cid é um daqueles personagens brasileiros fantásticos. Ao longo dos menos de 80 minutos de projeção e em busca de uma ‘desconstrução mitológica’, o documentário apenas consegue navegar por imagens históricas, que reflete e acompanha os rumos do Brasil ao longo das últimas décadas.

O homenageado foi um dos responsáveis em transmitir ao público dezenas de fatos marcantes, como: A morte de John Lennon, o desastre de Chernobyl, renúncia de Mikhail Gorbatchov, impeachment de Collor entre outros tantos momentos históricos não só do Brasil mas da história mundial. Tudo começou na rádio, em 1944, com 17 anos quando conseguiu um emprego na Rádio Difusora, em Taubaté. Dono de uma voz conhecida, um dom, sempre esteve perto de inúmeras curiosidades que o filme não mostra muito, apenas se dedica em grande parte a como Cid está hoje, depois dos 90 anos, sua paixão pelos esportes (principalmente o tênis), andando todo dia na esteira, fazendo sauna também todos os dias, anotando cada detalhe do seu dia. Talvez nessas anotações de Cid teria várias possibilidades de um documentário mais carismático, profundo.

Longe de ser um trabalho ruim, Boa Noite apenas não consegue ir além de uma superfície, quando muito mais profundo se tornaria mais interessante. Mas vale pela homenagem desse curioso, um eterno aprendiz. Fica claro isso quando Cid pergunta sobre as filmagens a todo instante, dando palpites e tudo. E um outro detalhe, pela voz dele ser tão marcante e praticamente constar em todo o filme com forma de narração, se fecharmos os olhos, o projeto poderia se passar por um grande podcast filmado.

 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #110 - Alan Cecato


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Formado em artes cênicas, Alan Cecato trabalhou com teatro desde os 16 anos em várias áreas da profissão. Cenografia, figurinos, direção e interpretação. Sua paixão são as artes e dentro delas o cinema ocupa um espaço mais do que especial. É o criador do instagram @umfilmeumafrase .

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Sou de São Paulo e meu cinema do coração é o Cinesesc da Rua Augusta. Além de preços populares o cinema vive fazendo exibições gratuitas e os filmes são realmente diversos. De longas comerciais que entram em circuito à obras independentes que não terão chances nos outros cinemas.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Creio que foi com meu primeiro contato mesmo...ainda criança de 6...7 anos... E.T. do Spielberg... depois dessa sessão virei um viciado em filmes.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Difícil dizer um, mas quem está sempre na minha retina é Almodóvar e meu filme preferido dele é Tudo Sobre Minha Mãe.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Céu de Suely. Por que é cinema puro...sem firulas nem concessões. Ele te transporta para aquele lugar e isso é mágico.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser apaixonado por filmes. Não conseguir viver sem ver filmes.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Os multiplexes dos shoppings com certeza são gerenciados por empresários que sequer sabem quem são Abbas Kiarostami ou Orson Welles.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito que vão acabar. Podem até se tornarem algo caro (salas em Imax e outras novas tecnologias já são algo bem inacessíveis pra mim por exemplo), mas não vão acabar.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Sementes: Mulheres Pretas no Poder (está em cartaz no YouTube da produtora Embauba Filmes).

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Eu acho que as pessoas deveriam seguir as regras. Aí tudo poderia voltar a funcionar. Mas as pessoas não vão seguir regra nenhuma, então não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro está cada vez melhor com a facilidade de produção e lançamento de filmes em plataformas digitais. Se tornou mais diverso, saiu da mão de grandes produtores.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Anna Muylaert.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Vou usar o Fellini: Cinema é um modo divino de contar a vida.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

O preconceito é algo que desperta nas pessoas aquilo que elas mais temem né? Estava assistindo Brokeback Mountain num cinema da Rua da Consolação em São Paulo, uma sessão das 14h numa segunda feira, muitos idosos na sessão. Na minha frente um senhor de pouco mais de 60 anos. No primeiro beijo dos protagonistas ele se levanta, e sai gritando: pouca vergonha, não venho mais aqui! Pensei comigo... espero que ele e muitos outros como ele não venham mais aqui mesmo...

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Mais absurdo e divertido impossível. Clássico nacional.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que em qualquer profissão precisa gostar do que faz. Se gostar da técnica já está valendo.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

São tantos. Vou citar um desse ano: Ilha da Fantasia.

 

17) Qual seu documentário preferido?

A Caverna dos Sonhos Esquecidos, do Win Wenders.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Muitas vezes.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Arizona nunca Mais.

 

 

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29/09/2020

Crítica do filme: 'Take Me Somewhere Nice'


Quando a interpretação de um filme não consegue sair da cabeça de seu criador. Qual a entrelinha de uma laranja no topo de uma pilha de garrafinhas de água mineral? Escrito e dirigido pela estreante em longas-metragens, a cineasta bósnia Ena Sendijarević de apenas 33 anos, Take me Somewhere Nice, produção Holandesa/bósnia, Busca apresentar seus detalhes e sentidos em um ritmo deveras lento, pouco explicativo, que busca provocar pelas ações e inconsequências dos personagens algum rumo para esse sonolento roteiro. Um fato curioso: há uma busca constante por enquadramentos bastante peculiares.

Na trama, conhecemos uma jovem holandesa chamada Alma (Sara Luna Zoric), que se despede da mãe e viaja da Holanda para a Bósnia para encontrar seu pai que se encontra em um hospital. Chegando no novo país, é recebida pelo carrancudo primo Emir (Ernad Prnjavorac) e acaba conhecendo o melhor amigo dele, Denis (Lazar Dragojevic). Cheia de reviravoltas e com rumos para lá de loucos, vamos acompanhando essa verdadeira saga e as descobertas da protagonista em quanto busca seu sentido na vida.


Imaturidade, descobertas sobre situações da vida, rebeldia da incerteza, o projeto tem bons tópicos para ser analisado. A protagonista sem rumo nenhum, se mete em diversas situações que acabam camuflando suas emoções que só aparecem quando surge o sentido de inconsequência como lugar comum. A maneira como é transmitida esses temas para o espectador acaba afastando a atenção dos mesmos. Não que ser peculiar seja algo que não encaixe, o problema é que nesse filme o que fora pensado para ser mostrado acaba não conseguindo encontrar sentido a não ser na cabeça de quem o pensou. Uma louca viagem rumo ao quebra cabeça do sem sentido.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #109 - João Ricardo


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é petropolitano; advogado; pai solteiro do Bernardo e da Manoela - razões da sua vida; amante do cinema e da literatura; que viaja menos do que gostaria;  vascaíno; velho; gente fina, elegante e sincero. É o criador do instagram Filmelista (https://www.instagram.com/filmelista/).

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Cine Itaipava, pois a programação é diversificada. Passam filmes comerciais americanos e também produções europeias e asiáticas, mais cult.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Acho que foi Tom e Jerry, que passava no domingo de manhã no então principal cinema da minha cidade. Eu tinha uns 5 anos!

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Woody Allen - Crimes e Pecados.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Central do Brasil. Ah, porque mesmo sendo universal, só um brasileiro raiz consegue captar toda aquela atmosfera do Nordeste, ao som do Quinteto Armorial. E ainda tem a Fernanda Montenegro no melhor da sua forma. Imperdível.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ter verdadeira adoração pelo cinema. Fazer analogias entre os filmes e a vida.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

Não!

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Partida - Filme japonês que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2008.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Claro.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Virou uma sucursal dos programas ruins de humor da Globo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Selton Mello.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é vida.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Filme Rocky III. Todos os garotos na frente da sala, de pé, torcendo pelo Rocky. Quando o Ivan Drago foi nocauteado, a sala explodiu de emoção. Todos batendo palmas e cantando, em uníssono embromation, Eyes of the Tiger.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Clássico do cinema trash brasileiro.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Um Filme Sérvio.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Cabra Marcado para Morrer - Eduardo Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Várias vezes!

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Despedida em Las Vegas.

 

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28/09/2020

Crítica do filme: 'De Volta à Itália'


Querer ser como o pai é também uma maneira de tentar se comunicar com ele. Paisagens lindas, Idílio romântico italiano, uma passagem linda com uma sessão de cinema a céu aberto no meio de uma praça linda, poucos personagens, um forte dilema e uma tentativa de acerto de contas entre pai e filho. Podemos detalhar muitas coisas de Made In Italy, Infelizmente, já no primeiro arco percebemos como os clichês tomarão conta do filme. A emoção da arte as vezes não consegue ser totalmente transmitida mas alguns conseguem interpretá-la. Na dupla de protagonistas temos Liam Neeson que estrela ao lado de seu filho na vida real Micheál Richardson. Debutando em longas-metragens, o agora cineasta mas também ator James D’Arcy assina a direção e também o roteiro do projeto.

Na trama, conhecemos Jack (Micheál Richardson), um jovem administrador de uma galeria de arte que vê sua vida mudar quando o local onde trabalha, que pertence à família da quase ex-esposa, vai ser vendido. Tentando ser um provável comprador, embarca em uma jornada de redescobertas com o pai, o pintor Robert (Liam Neeson) para venderem uma casa que pertencia a família da mãe de Jack, na Itália. Com tantas variáveis acontecendo ao mesmo tempo na vida do jovem administrador da galeria, ele precisa lidar principalmente em tentar se entender com seu pai novamente.


Um relacionamento complicado entre pai e filho, que ficou mais distante após a morte trágica da mãe. 15 anos de amargura e solidões distantes, eles viveram suas vidas mais separados do que deviam. Tendo esse ponto como plano de fundo, está sempre presente, o desenvolvimento dos personagens é lento e não apresenta muitos argumentos cativantes/carismáticos. A trilha sonora não convence com a superficialidade do entendimento da situação e embates entre pai x filho. Essa relação é mal explicada durante boa parte dos arcos, deixando para o desfecho elementos que poderiam ser apresentados pelo caminho para um conhecimento do público, criaria mais empatia. Há alguns diálogos interessantes, como dentro do restaurante italiano num debate sobre formas de encontrar um novo amor, um duelo estabelecido, curtinho, entre passado e presente, quando pensamos em argumentações e visões diferentes.


Dá a impressão, às vezes, que já vimos esse filme antes. Ou vários filmes parecidos que se juntam e viram um só. Infelizmente dá essa impressão.

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