19/03/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #325 - Suelen Lobo


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Salvador (Bahia). Suelen Lobo tem 31 anos, é apaixonada por filmes e séries, busca curiosidades, notícias e com isso deu início ao seu canal do YouTube. Sempre tentando aprender um pouco mais a cada dia em edição, roteiro, cenário e tudo que possa fazer o canal crescer e assim poder levar um pouco do seu amor pelo cinema a todos que também gostam!

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Aqui em salvador não temos uma mega sala de cinema, a minha preferida era a do antigo Aeroclube da cidade, mas acabou fechando com o tempo, hoje eu tenho duas, a do Shopping Salvador pelo espaço e por salas de todos os tipos para áudio e 3D e a do Shopping Itaigara pelo conteúdo alternativo.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Jurassic Park! Esse filme me mostrou que muita coisa pode sim ser possível no cinema, foi muito bom de assistir. Além de causar uma revolução nesse tipo de produção, todo o trabalho de CGI, com ambiente, a história e os bonecos criados para o filme foram sensacionais.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Quentin Tarantino / Kill Bill e Django Livre.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tropa de Elite. A direção de José Padilha foi ótima e trouxe um debate interessante em relação a polícia do nosso país, mais especificamente do Rio.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Acompanhar o mundo cinematográfico, não precisar passar 24h vendo filme, mas ver o filme, gostar e depois pesquisar, entender como ele foi feito, buscar curiosidades.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Eu acho que a indústria que comanda os cinemas visa mais bilheterias do que por qualidade. Óbvio, se um filme que eu gosto entra em pré estréia, eu estou lá! Mas outras produções, que poderiam ter visibilidade tanto quanto, não tem! Muitos filmes alternativos também não tem o sei devido valor, e existem cinemas específicos, mas, eu acredito que todas as salas deveriam abrir o leque e proporcionar uma dinâmica para que todos pudessem ter a chance no mercado.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

A PANDEMIA chegou para provar isso. Não sei se isso irá acontecer agora, mas não está tão distante assim. Essa onda de Streamings chegando causou uma revolução e junto com esse novo normal que vivemos. A decisão da Warner foi ousada, mas não foi uma surpresa para mim, a indústria do cinema foi uma das mais prejudicadas nesse período e foi preciso reinventar.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Bar. Filme Espanhol que traz tensão, mistério, sobrevivência e um final interessante.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. Eu sei que o mercado está prejudicado, mas ainda estamos em uma pandemia e precisamos ter cuidado.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Melhor. Produções como Minha Mãe é uma peça, Fala comigo, Silêncio do Céu entre outros, tem mostrado um crescimento. Mas ainda precisa ser mais valorizado. A Netflix tem dado um grande apoio as produções brasileiras, séries como Cidade Invisível estão aí para mostrar isso.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Wagner Moura. Toda produção nacional ou não eu tô colada!

 

12) Defina cinema com uma frase:

Meu refúgio!

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

 

Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei, tinha mais gente no cinema esperando para assistir, que cadeiras disponíveis, eu e minha mãe, assistimos com mais um grupo de pessoas no chão, numa empolgação e alegria sem tamanho hahaha.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um jóia Baiana (hahaha).

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Precisa acreditar no roteiro. Entender a história e se conectar com ela, ter a visão e saber o que o roteiro quer dizer e por isso em prática.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

A Garota do trem. A versão Indiana de A Garota no trem. Se for assistir, saiba que vc vai rir, por não acreditar no que está vendo. Nada se salva nesse filme, talvez o roteiro, mas o filme ficou tão ruim que nem ele deu pra salvar.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Eu sou fã de documentários Criminais. Nigth Stalker, no momento é o que eu mais recomendo nesse nicho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Vingadores Endgame - Além de bater palmas, eu gritei o filme todo, pulei, chorei... E fiquei três dias rouca.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O Senhor das Armas.  Excelente história baseada em fatos reais.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Adoro Cinema.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #324 - Fernando Sobrinho


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Belo Horizonte (Minas Gerais). Fernando Sobrinho tem 42 anos. É nascido no Rio de Janeiro, mas reside em Belo Horizonte, desde os 14 anos. Trabalha como advogado e não tem nenhuma formação acadêmica em relação ao Cinema, muito menos escreve para sites e blogs. Ele só conta com a sua paixão antiga e alguns pitacos nos perfis de amigos cinéfilos no Facebook e no Instragram. Entretanto, tem uma paixão antiga pelo cinema que herdou de sua mãe. Já falecida, durante a maior parte da vida teve o cinema como algo importante, uma fonte de beleza, força e conhecimento. Através dela conheceu o cinema clássico. Ela sempre o estimulou a buscar conhecimento e o cinema sempre foi considerado uma boa fonte. Nunca fez faculdade de cinema, embora seja um grande sonho desde a adolescência.

 

Os filmes dos Trapalhões foram os primeiros filmes que ele lembra de ter visto no cinema. A primeira vez que ele percebeu que o cinema era algo arrebatador quando assistiu uma reprise de E.T.-O Extraterrestre em 1986. Em 1992, após assistir O Silêncio dos Inocentes, teve o insight do que ele acho ser "TOC Cinéfilo" que é a vontade de assistir a todos os tipos de filmes, pesquisar e catalogar. Começou com anotações em cadernos e atualmente faz o controle de filmes assistidos nos sites especializados como Imdb, Filmow e Letterboxd. Entre os vários realizadores de cinema, tem uma especial admiração por Howard Hawks, Martin Scorsese e Quentin Tarantino.

 

De vez em quando, ele arrisca algum texto no seu perfil do Instagram.  Então, chegou a hora desta formiguinha cinéfila arriscar uma conversa no mesmo blog que já entrevistou grandes destaques da cinefilia brasileira.   

 

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Em Belo Horizonte, as minhas salas de cinema preferidas estão no Cine Belas Artes, que dispõe de três salas que se dedicam a uma programação diferenciada em relação às salas de shopping centers. São tradicionalmente exibidos filmes brasileiros, europeus, asiáticos, latinoamericanos e também os americanos com maior apelo ao público adulto.

 

No momento, as salas se encontram fechadas por causa da pandemia e isso tem causado preocupação entre os cinéfilos belorizontinos pelo risco de o espaço vir a fechar permanentemente. Tenho ouvido de várias possibilidades de manutenção, incluindo um crowdfunding. É um espaço muito precioso em Belo Horizonte, fundamental na minha formação de cinéfilo e torço muito para que consiga manter investimento e patrocínio para o seu funcionamento.

 

Também destaco a sala do Cine Humberto Mauro, dentro do complexo do Palácio das Artes, da Fundação Clóvis Salgado. Sendo uma sala de cinema dentro de um espaço cultural com investimento público, ela proporcionou mostras das variadas vertentes do cinema, com entrada gratuita ou preços módicos que facilitem um grande acesso. Ao longo da década passada, trouxe mostras muitos disputadas entre os cinéfilos belo-horizontinos como, por exemplo, filmografias completas de grandes diretores (Luis Buñuel, Charles Chaplin, Howard Hawks, Alfred Hitchcock, Ingmar Bergman, Stanley Kubrick) e de ciclos de filmes de terros das décadas de 1970 e 1980 até a atualidade. Como se trata de uma sala pequena, as sessões são extremamente disputadas, com filas longas. Sinto muito falta disso. Não foram raras as vezes que eu estive em filas para assistir os filmes nas madrugadas. Aliás, maratonas que duram o dia inteiro foram comuns na programação e pude participar de algumas delas, ao lado de amigos. Coisas que só os doentes por filmes fazem e o resto da humanidade acha doentio.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

 

O primeiro filme que eu lembro que ter me feito pensar que o cinema é um lugar especial foi E.T. - O Extraterrestre.  Foi uma reprise, no ano de 1986. Eu tinha sete anos de idade e sabia que se tratava de um filme famoso e que as pessoas gostavam muito. A experiência de tê-lo assistido foi ter, pela primeira vez, percebido o efeito catártico de um filme sobre a plateia. Foi uma dessas experiências únicas na vida que seguem para sempre na memória.

Um segundo filme a ter me proporcionado isso foi O Silêncio dos Inocentes. Eu o assisti, pela primeira vez, em 1992, quando o filme tinha sido relançado nos cinemas por causa das indicações ao Oscar. Eu tinha treze anos e saí em estado de transe do cinema. Minha mãe teve que me acompanhar, porque, do contrário, eu não poderia entrar na sala. Ainda bem que ela gostou muito do filme!  Foi o início do que eu chamo de "TOC cinéfilo", que consiste em querer assistir todos os tipos de filmes, fazer registros (à época, bem antes dos sites como Imdb, Filmow e Letterboxd, a única maneira de registrar era anotar os filmes assistidos em cadernos, o que comecei a fazer). Até então, julguei não ter visto um filme tão completo em atuação, direção e roteiro. Foi um momento de grande impacto e mudança total na postura de ver o cinema.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Pergunta difícil! Depois de refletir acerca de vários nomes, não consegui deixar de pensar em Howard Hawks.

 

Admiro muito a extensa carreira de Hawks e a sua incrível versatilidade em fazer grandes filmes em, praticamente, todos os gêneros cinematográficos existentes. O meu filme preferido dele, talvez não seja o seu melhor, mas tenho um especial carinho por Aventura Na Martinica, de 1944. É uma adaptação de um livro de Ernest Hemingway, que surgiu depois de uma aposta entre os dois. Hawks disse que conseguiria fazer um filme até do pior filme do escritor e este respondeu que era "To Have And Have Not". A princípio, poderia ser visto como uma variante preguiçosa de Casablanca, grande sucesso da Warner Bros., estrelado por Humphrey Bogart, que também é o protagonista de Aventura Na Martinica. O filme marca a estreia de Lauren Bacall e eu afirmo que nunca vi uma estreia tão maravilhosa como a dela. A trama sobre os esforços da Resistência Francesa no Caribe talvez não seja perfeitamente amarrada ou não tenha os trunfos mais óbvios e emotivos de uma produção sobre a Segunda Guerra Mundial, que ainda estava em curso, mas os diálogos entre Bogart e Bacall e a química explosiva que acabou em casamento para mim representam o melhor do fascínio que eu nutro pela Hollywood clássica. Hawks tem uma inteligência cênica, que se reflete na condução dos diálogos e dos atores, que eu admiro muito e acho os melhores cineastas conseguem.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Bar Esperança, dirigido e estrelado por Hugo Carvana, em 1982. Trata-se de um momento no início dos anos 1980 em que espaços tradicionais e romantizados da boemia vão dando espaço a empreendimentos vistos como um natural progresso. Tenho muito carinho por esse filme, pelo seu elenco maravilhoso (Carvana, Marília Pêra, Paulo César Pereio, Silvia Bandeira e várias participações de atores conhecidos) e a perfeição da captura de um determinado momento no tempo. Sempre lembro do filme quando vejo vários locais de ponto de encontro de amigos fechando para ceder espaço a outros empreendimentos. Ultimamente, infelizmente, estes locais vêm fechando por causa da crise gerada pela pandemia.  Não sei como seria rever o cinema com as restrições de funcionamento dos bares...

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Acredito que seja amar incondicionalmente o cinema, saber da importância inescapável dele na sua história de vida, ter os filmes, diretores e atores que dialogam com o seu emocional e trocar informações com os seus amigos. E fazer algumas loucuras por filmes que outras pessoas não entenderiam. Cinéfilo também não deve ser rótulo, título para se bater no peito como indicativo de superioridade intelectual e moral.  Cada pessoa fã de cinema tem os seus próprios critérios de consumo e apreciação. Então, ser cinéfilo deveria ser respeitar estas questões.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maioria dos cinemas que eu conheço pertencem a grandes cadeias e atendem critérios comerciais que eles entendem ser o melhor. O cinema para eles é apenas um negócio.  Filmes fora dos pólos tradicionais de interesse, apenas quando estes conseguem grande sucesso mainstream como foi o caso recente do filme coreano Parasita.

 

O caso é completamente diferente de espaços como o Cine Belas Artes que tenta equilibrar o melhor da programação que não teria espaço no circuito convencional das cadeias de cinemas de shopping centers, trazendo filmes de várias nacionalidades para o único local do circuito comercial de Belo Horizonte em que estas produções teriam chance. No Cine Humberto Mauro a programação também é feita por pessoas que não só entendem de cinema, como também estão envolvidas com a produção de cinema e o trabalho acadêmico. Desde sempre, há uma preocupação também neste espaço de trazer todas as vertentes possíveis de cinema para um grande público. Como se trata de um cinema público, localizado dentro de uma fundação do Estado, tem-se essa preocupação.

 

São oásis em uma cidade que, embora seja grande, é intensivamente dominada pelo circuito dos cinemas de shoppings.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não vão acabar porque sempre existirá uma necessidade de apreciação presencial e coletiva de filmes. Por mais que existam cada vez mais opções de acesso a filmes em domicílios, com a janela de lançamentos cada vez menor e a deflagração de uma crise na distribuição tradicional, mas a vontade de ver filmes no cinema não vai acabar. Pode diminuir drasticamente perante o grande público, mas a vontade de assistir filmes em sala de cinema persistirá. Tenho, inclusive, a esperança que, após a vacinação massiva contra o COVID-19, o cansaço de muitos com o confinamento, vai demonstrar que muitas pessoas ainda tem amor pelas salas de cinema, que poderão poder muito espaço, mas não acabarão 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

No Coração do Mundo (2019), de Gabriel e Maurílio Martins. Um filme produzido em Minas Gerais e que me fez ter muito orgulho de ver uma produção local tão talentosa e que não fica devendo em nada a outros pólos cinematográficos tradicionais do país.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Eu fico preocupado com o futuro dos pequenos cinemas independentes que têm sofrido  muito com o prosseguimento do estado de pandemia, mas eu mesmo confesso que não tive coragem de retornar às salas de cinema. Só retornarei quando tiver a segurança da vacina. Então, num plano lógico, acho que as salas não deveriam reabrir antes da vacinação em larga escala ser algo realmente efetivo no Brasil.

 

Entretanto, como eu falei, a situação não é simples para a existência das pequenas salas, que precisam de ajuda para sobreviver. Realmente, não consigo pensar nesta situação de forma pacífica. Embora eu tenha um receio particular de retornar e, em um plano ideal, a reabertura só deveria ocorrer após a vacinação, deveria haver também apoio governamental de crédito aos exibidores, em especial os pequenos.  Sei da existência de crowdfundings, mas me pergunto se realmente conseguirão salvar as pequenas salas.

 

É complicar pensar nisso: eu tenho o condão de poder me preservar e trabalhar em casa, mas os exibidores estão também no grupo de trabalhadores duramente afetados pela pandemia e isso me gera angústia. Não consigo pensar e responderei apenas "não retornarei aos cinemas, enquanto não for vacinado": toda a situação é muito séria e merece atenção, pois é mais um desdobramento da crise brasileira, que nos afeta, direta ou indiretamente.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro vinha atravessando uma fase excelente, tanto de reconhecimento da crítica (nacional e internacional), como também de retorno de público, ao enfrentar, bravamente, os blockbusters estrangeiros. Entretanto, a situação atual em 2021, é de preocupação não só a crise enfrentada com a exibição, como o total desprezo governamental, que parece torcer para a dilapidação não só da produção, como também da preservação.

 

Quanto à qualidade do cinema brasileiro, não temos do que nos queixar: temos uma produção vasta, rica e que explora várias vertentes. Isso dificilmente é enxergado por uma parcela do público que ainda insiste em preconceitos tolos, infundados.  Eu mesmo, como um apreciador veterano de filmes, observo que, em vários momentos, não dou a  devida atenção ao nosso cinema. É algo que eu luto para superar: indicações de bons títulos nacionais são sempre bem-vindas.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Quando Sônia Braga faz um filme brasileiro, eu não perco. Eu a respeito como uma desbravadora brasileira em Hollywood, ainda que em papéis fracos que não estão à altura do brilho que ela demonstra nas produções nacionais. Entretanto, quando volta a trabalhar no nosso cinema, ela mostra todo o seu talento como atriz, muito além da figura de diva e símbolo sexual como ficou conhecida. Da minha parte, sempre fico feliz em vê-la voltando às origens. Dos talentos mais jovens, tenho gostado muito de acompanhar o trabalho da Karine Telles.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema é o artifício mais apaixonante que o ser humano já criou.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Fui assistir Thomas Crown - Arte Do Crime, no longíquo ano de 1999. Na plateia, um rapaz abre uma marmita de um restaurante chinês e um cheiro de camarão toma conta da sala.  Todo mundo começa a reclamar, mas o cara ainda insiste em almoçar dentro do cinema. Uma moça sai para comprar refrigerante só para entornar na cara do sujeito e vai embora. O pessoal da sala vai à loucura e aplaude para valer. Depois dessa, para que prestar atenção no filme, não é?

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Uma produção apressada e desleixada, tentando faturar em torno de um então fenômeno midiático, que a própria protagonista morre de vergonha do filme. O final antológico merece mesmo passar a eternidade sempre lembrado nos memes de internet.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Precisa que o diretor tenha talento e respeito pelo ofício, mas não precisa que seja um cinéfilo. No entanto, confesso ter apreço por cineastas cinéfilos como Martin Scorsese e Quentin Tarantino, onde o amor pelo cinema é mais do que evidente: é a estrutura dos filmes. Ultimamente, as pessoas têm se cansado da cultura de referências, mas eu não compactuo disso.  Para mim, filmes como A Invenção de Hugo Cabret ou  Era Uma Vez Em Hollywood são puro deleite.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Inspetor Faustão e o Mallandro. Só vi uma vez, quando era criança. Se já na época tinha achado horrível, não imagino como seria hoje. 

 

17) Qual seu documentário preferido?

Destaco dois:  A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies (1995) e Minha Viagem à Itália (1999). Dois documentários sobre cinema, que são aulas de cinema. São trabalhos espantosos de pesquisa e edição, verdadeiras aulas de cinema do mestre Martin Scorsese. 

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Sim. Já bati palmas em sessão no Cine Humberto Mauro. Clima festivo de cinefilia comunitária com amigos. Embora muita gente considere que seja o ápice da cafonice, foi difícil resistir em vários momentos.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Coração Selvagem (1990). Cage está extremamente carismático neste filme.  Pode não ser o melhor, mas é o meu título favorito da sua filmografia.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Já acompanhei vários sites de cinema, mas confesso que tenho perdido o hábito. Um dos sites clássicos que ainda companha é o de Roger Ebert, que continua o legado do falecido e grande crítico americano, com contribuições atualizadas de jovens críticos.

Uma fonte de pesquisa que acompanho há muito tempo é o blog Diário de um Cinéfilo, do Ailton Monteiro, cinéfilo de Fortaleza. É uma excelente fonte de pesquisa, com uma escrita sempre muito pessoal e agradável. Sempre recomendo a leitura des
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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #323 - Aline Wendpap


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa convidada de hoje é cinéfila, de Cuiabá. Aline Wendpap tem 38 anos, é a primeira doutora em Estudos de Cultura Contemporânea do PPGECCO, da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Bacharel em Comunicação Social-Radialismo (2005) e Mestre em Educação (2007), ambos pela UFMT. Possui licenciatura em Artes Visuais (2017) pela Unijales. Desenvolve estágio pós-doutoral com projeto que delimita o Estado da Arte das pesquisas em Comunicação e Mediações defendidas pelo PPGECCO – UFMT até 2020, e, pela UnB, cursa licenciatura em Teatro EaD. Integrou o coletivo Parágrafo Cerrado, no qual desenvolveu a técnica de leituras de cena de espetáculos e filmes, tornando-se, assim, uma das críticas de cinema pioneiras em Mato Grosso. Atualmente assina a coluna “Sonora” no site Ruído Manifesto, onde escreve sobre a produção audiovisual brasileira e mato-grossense e é co-idealizadora do site Mistura Cultural. Possui experiência como Produtora Cultural e é atriz profissional com DRT.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Atualmente a minha sala de cinema preferida é a do Cine Teatro Cuiabá, por possuir uma programação alternativa, em relação aos cinemas comerciais. Lá é onde a gente consegue ver alguns filmes brasileiros de fora do circuito mainstream e ainda (por incrível que pareça) produções mato-grossenses. Além de outros filmes estrangeiros que não veríamos nos cinemas de shopping.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro filme que eu assisti no cinema foi O Rei Leão da Disney. Eu tinha 11 anos e foi amor à primeira vista. Me apaixonei pelo ambiente, pelo filme, por tudo.  Foi mágica a sensação! Me lembro até hoje...

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Peter Jackson - O senhor do Anéis: A Sociedade do Anel.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Até pouco tempo atrás era Tropa de Elite, porque amei a interpretação do Wagner Moura e todo o ritmo frenético da produção, além da narrativa politizada, que me dá frisson. Porém, agora acho que é Bacurau, porque a cada nova vez que assisto descubro mais uma camada de significados e isso me deixa louca por este filme. 

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Pergunta um tanto quanto complicada de se responder prontamente. Mas acho que em primeiro lugar é ser alguém apaixonado por cinema em todas as suas nuances e esferas.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que não. Tem muito cinema por aí, com programação voltada apenas para os ganhos do dono do cinema.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero, com todas as minhas forças, que não. Porque por mais que a Netflix seja maravilhosa, ela nunca chegará aos pés de uma sala de cinema, bem escurinha e com o cheiro de pipoca rolando no ar. A sinestesia é parte do cinema, na minha opinião. Ir ao cinema não é apenas ver um filme, mas é um acontecimento.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Indico um curta mato-grossense chamado O menino e o ovo, da diretora cuiabana Juliana Capilé. É lindo! Ah, também tem outro: A gente nasce só de mãe da diretora Caru Roelis (MT), emocionante!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Resposta delicada esta. Eu fui em algumas sessões durante a pandemia, onde as salas estavam praticamente vazias. Tal situação me parece menos arriscada do que ir a um supermercado, onde as pessoas se esbarram e pegam em produtos o tempo todo. Mas, o mais adequado é aguardar.  

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Eu vejo o cinema brasileiro contemporâneo como um dos melhores do mundo. A única diferença é que tem bem menos recursos do que o de alguns outros países. Mas a qualidade, tanto técnica, quanto artística está equiparada aos maiores.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Kleber Mendonça Filho.

 

12) Defina cinema com uma frase:

 Possibilidade de ver a vida com outros olhos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Quando eu e minhas irmãs, vimos  o REI LEÃO sentadas na escada, porque a sessão estava LOTADA!

Ps.: naquele tempo ainda permitiam as pessoas sentarem na escada.   

 

14) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente, porém quando se é as possibilidades se tornam mais vastas (vide Tarantino ou Wood Allen, por exemplo). 

 

15) Qual o pior filme que você viu na vida?

Aff são tantos... mas acho que os tipo "O massacre da serra elétrica", ou comédias besteirol americano tipo American Pie. 

 

16) Qual seu documentário preferido?

A ilha das flores.

 

17) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Ah com certeza! E Bacurau foi um deles.

 

18) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Cidade dos Anjos.

 

19) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Cinema em cena; Cinema com Rapadura; Omeleteve.

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6 Ótimos Filmes de Tribunal


Quem não gosta de um bom filme de tribunal? Daqueles profundos, reflexivos, que nos fazem acompanhar com um grande ar de curiosidade as evoluções das surpresas que vemos pelo caminho. Culpado? Inocente? Dúvidas? Tem drama, tem comédia, tem assuntos polêmicos, tudo isso e muito mais debatidos de alguma forma dentro de um tribunal.

Sendo assim, resolvi criar essa humilde lista, que vão ter várias partes lançadas sempre que possível. Nessa primeira lista dos Ótimos Filmes de Tribunal, tem filme da Holanda, da Bélgica, da França, da Coreia do Sul, dos Eua. Espero que gostem!

 

 

A Acusada – País: Holanda – Ano: 2014

Dirigido pela cineasta holandesa Paula van der OestA Acusada é um daqueles impactantes filmes de tribunal onde a cada sequência vamos tendo novas argumentações, e, segredos são revelados. Com uma atuação beirando ao espetacular da experiente atriz Ariane Schluter, o longa-metragem (indicado pela Holanda ao Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro no ano de seu lançamento) cria um clima de tensão profundo ao longo desses seus objetivos minutos de projeção.  

 

Na trama, somos convidados a explorar a história da enfermeira Lucia de Berk (Ariane Schluter) uma mulher condenada à prisão perpétua em 2003 pela morte de sete pacientes. Ao longo da trama, vamos descobrindo segredos sobre o controverso processo de acusação feito pela promotoria, apenas baseado em dados estatísticos contra a réu. Sempre alegando ser inocente e sendo tratada como uma das maiores assassinas da história da Holanda, Lucia de Berk precisou enfrentar a desconfiança de quase todos para poder provar sua inocência. 

 

O filme muda sua perspectiva a cada instante, consegue ser dinâmico e muito denso ao mesmo tempo. É extremamente fiel a seu intuito e revelador na arte de apresentar seus segredos ao espectador. Após a apresentação dos personagens, um enorme dilema jurídico é instaurado no filme. Nessa parte é que a fita cresce bastante, deixando até leigos em direito com enorme interesse em saber as conclusões desta forte história. 

 

A atuação da atriz Ariane Schluter é avultada, compõe sua personagem de maneira cravejada, buscando o tempo todo transmitir suas angústias, medos e incertezas ao público. Ao longo dessa singular jornada, tiramos muitas conclusões da enfermeira Lucia de Berk. Ficamos com raiva e de repente estamos indignados. O roteiro, escrito por Moniek Kramer e Tijs van Marle merecem todos os méritos por esse conflito de conclusões.

 

 

Juror 8 – País: Coreia do Sul – Ano: 2019

A grande dúvida entre a condenação e a absolvição pelos olhos de quem vive em uma sociedade. Lançado em novembro do ano passado no Japão e com remotíssimas chances de chegar até o circuito exibidor brasileiro (talvez pela falta de faro de pequenas e medias distribuidoras), Jurado 8, (Juror 8, no original), baseado em fatos reais, conta um pouco do início do júri popular na Coreia do Sul, abordando um julgamento complicado e mesclando drama profundo com pitadas cômicas. A fórmula dá certo e somos testemunhas de um apanhado de argumentos em volta de um grande júri. Interessante fita dirigida pelo cineasta Seung-wan Hong debutando na função.

 

Na trama, somos colocados no ano de 2008 onde acontecem os preparativos para o primeiro julgamento no país com a participação de um júri popular formado por oito pessoas completamente diferentes. Após essa seleção, o julgamento de um homem com problemas psicológicos acusado de matar sua mãe é o caso. Assim, argumentos de defesa e acusação se entrelaçam nas dúvidas simples desse corpo de jurados. Quase terminando em um resultado rápido e na visão deles óbvio, o jurado 8 levanta uma questão importante e o julgamento se prolonga com todos os recursos dessas oito pessoas em busca da verdade sobre o caso.

 

O filme possui várias óticas para analisarmos. A juíza do caso busca a todo instante ser paciente com os inusitados pedidos dos jurados e no fundo compreende que é necessário para o mais próximo do acerto do resultado do julgamento. A ótica dos jurados é liderada pelo jurado número 8, um jovem que acabara de tentar patentear um produto, maior pensador das dúvidas do processo que estão. O filme mostra também o enrolado início desse modelo jurídico com o júri popular, momentos que são transformados em sutis pitadas cômicas e até certo ponto bastante críticas representadas principalmente pelos que estão ao redor da juíza.

 

Jurado 8 deve agradar não só quem estuda direito mas também a todos que curtem bons filmes com inúmeros argumentos que nos fazem pensar muito sobre o que acontece nos jurídicos pelo mundo.

 

 

Os 7 de Chicago -  País: EUA – Ano: 2020

O egocentrismo, a causa, os absurdos em um mundo em constante mudanças, formas de pensar e muita luta. Escrito e dirigido por Aaron SorkinOs 7 de Chicago é um filme feito para quem conheceu o epicentro da trama, as linhas do confuso roteiro gera dúvidas no espectador a todo instante principalmente pelo primeiro arco bastante confuso. Mas o elenco é fantástico e faz a diferença, muitas vezes segura as pontas do roteiro bem complicado escrito por Sorkin. Sacha Baron Cohen merece concorrer a prêmios por esse papel, baita atuação.

 

The Trial of the Chicago 7, no original, conta a história de alguns líderes de movimentos sociais dos Estados Unidos que são acusados pelo governo dos Estados Unidos por conta de um grave conflito relacionado à Guerra do Vietnam que resultou em uma batalha sangrenta entre a polícia e os manifestantes. Assim, com a ajuda do advogado William Kunstler (Mark Rylance), o grupo precisará enfrentar um longo julgamento em busca da absolvição total.

 

A excentricidade para mostrar a luta pelos direitos de mudança. É muito complicado para um filme retratar por completo uma história real de grandes proporções como essa de Os 7 de Chicago. Há muitas maneiras de tentar visualizar tudo, a porta aberta por Sorkin foi tentar criar um grande espetáculo cinematográfico, onde o drama e as pitadas cômicas se misturam de maneira confusa mas que pela força do elenco e o grande carisma visto tentam explicar todo o contexto envolta desse conturbado julgamento que atraiu a atenção de todos na época mas é um assunto ainda bem desconhecido de quem não vive em solo norte-americano. Talvez, para tentar entender por completo e quem sabe até compreender melhor as entrelinhas do que Sorkin quis mostrar, boas leituras sobre o tema deverão ser complementares.

 

 

Sem Evidências – País: EUA – Ano: 2013

Indicado ao Oscar pelo maravilhoso trabalho no sensacional O Doce Amanhã (1997), o cineasta egípcio Atom Egoyan, bastante conhecido pelos cinéfilos, voltou aos cinemas no ano de 2013 com o misterioso filme de tribunal Sem Evidências. Reunindo dois rostos famosos, ganhadores de Oscar, Colin Firth e Reese Whiterspoon, o drama é baseado em uma história real que aconteceu em 1993 nos Estados Unidos. Por mais que seja um filme com muitas cenas no tribunal, Egoyan consegue com muita habilidade não deixar o longa-metragem maçante. Todos os elementos dessa conturbada história são expostos na tela, deixando o espectador dar seu veredito final. 

 

Na trama, voltamos ao ano de 1993, onde os jovens Damien Echols (James Hamrick), Jason Baldwin (Seth Meriwether) e Jessie Misskelley Jr.(Kristopher Higgins) foram acusados de assassinar três crianças. Durante o julgamento, os advogados de defesa contam com a ajuda de um investigador criminal chamado Lon Rax (Colin Firth) que, totalmente contrário a sentença de morte, começa a juntar peças soltas deste complicado quebra-cabeça. 

 

O grande divisor de águas deste trabalho é a maneira como Egoyan apresenta os fatos, não focando exclusivamente em um possível filme sobre tribunal. O olhar e desconfiança da mãe de uma das vítimas (muito bem interpretada por Reese Whiterspoon), os argumentos inteligentes do investigador criminal, toda a problemática politicagem em torno das ações da polícia neste caso, preenchem lacunas e/ou nos fazem pensar que muitas peças deste famoso caso não se encaixam. 

 

Baseado no livro Devils Knot: The True Story of the West Memphis Three de Mara Leveritt, Sem Evidências teve um modesto lançamento no circuito nacional na época do seu lançamento, principalmente no Rio de Janeiro. Uma grande pena, é um trabalho que, sem dúvidas, merece ser conferido pelos cinéfilos. Egoyan mais uma vez mostra que sabe, como poucos cineastas, retratar com muita verdade os dramas de nossa sociedade.

 

A Corte – País: França – Ano: 2015

Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval. Escrito e dirigido pelo cineasta parisiense Christian Vincent (Os Sabores do Palácio), A Corte fala sobre a rigidez e postura de uma alma tímida e sem coragem para amar. Protagonizado pelo excelente Fabrice Luchini e com uma atuação delicada mas profunda da atriz dinamarquesa Sidse Babett Knudsen (Depois do Casamento) o filme deve conquistar o público cinéfilo facilmente. Um dos fatores mais intrigantes deste trabalho é o fato de ser difícil definir um gênero para o filme. Alguns vão falar que é um drama leve, outros vão dizer que é uma quase comédia romântica. O roteiro flutua em diversos gêneros e isso, sem dúvidas, é um dos méritos deste belo trabalho que compôs a seleção do Festival Varilux de Cinema Francês de 2015. 

 

Integrante dos seletos filmes da edição do Festival de Veneza no ano de seu lançamento, A Corte conta a história de um recluso e competente juiz, Michel Racine (Fabrice Luchini), que as vésperas de mais um júri popular, que deverá julgar um pai acusado de homicídio da filha, reencontra a enfermeira Ditte (Sidse Babett Knudsen), uma mulher com que o senhor juiz tem um passado de amor secreto e unilateral. Assim, ao longo dos intensos dias no tribunal Michel Recine precisará equilibrar toda sua emoção e continuar fazendo justiça. 

 

O que mais chama a atenção em toda a projeção é o desenvolvimento do protagonista feito maravilhosamente bem pelo experiente Fabrice Luchini. O Juiz Recine é odiado por muitos personagens mas com certeza se torna amado por grande parte do público. O fato do amor renascer em sua pacata vida leva o personagem a um curto e instantâneo período de transformação que acaba até melhorando sua vida profissional. Essa questão do amor não correspondido é muita bem inserida dentro da trama e conta com atuações acima da média para que a magia aconteça na tela.

 

A Corte não é uma história de amor, em muitos momentos é uma história narrada dentro de um tribunal mas onde essa questão jurídica é totalmente deixada em segundo plano.  Os diálogos entre Recine e Ditte são esplendorosos, conseguimos sentir angústia, ansiedade e muito carinho que brota entre os dois. A Corte poderia ser um seriado, daqueles que causam uma boa impressão logo de cara, e esse longa-metragem seu piloto. Os recortes de gêneros são feitos com muita harmonia e simpatia. Uma história de amor? Um drama? Um filme de tribunal? Tudo isso e muito mais neste belo trabalho.

 

O Veredito – País: Bélgica – Ano: 2013

Os absurdos dos limites da lei. Lançado no segundo semestre de 2013 na Bélgica, escrito e dirigido pelo cineasta belga Jan VerheyenO VereditoHet vonnis no original, é um quase escandaloso jogo de sinuca imposto pelo absurdo, por conta de um erro estúpido dentro do processo coloca-se em cheque as leis, o ministro, o alto gabinete jurídico e a falta de bom senso do sistema na figura de um homem que perdeu a forma mais correta de obter justiça para sua dor e sofrimento. Um prato cheio para quem gosta de filmes de tribunais. Grata surpresa. Infelizmente não está em nenhum streaming disponível no Brasil, deveria.

 

Na trama, conhecemos Luc (Koen De Bouw), um engenheiro competente que está prestes a ser nomeado CEO da empresa que trabalha a mais de duas décadas. Mas, certa noite, quando estaciona para abastecer o carro com sua filha e esposa, acaba vendo a segunda morrendo assassinada por um bandido que foge correndo. Infelizmente, a primeira acaba morrendo também de uma fatalidade desse mesmo pós momento. Sem chão e tentando reunir os cacos, Luc se distancia do seu emprego e vê seu mundo desmoronar de vez quando o assassino de sua esposa é preso mas solto porque faltou uma assinatura na papelada de prisão o que inclusive livra o bandido das acusações. Assim, Luc assassina o bandido e faz questão de ser julgado pelo crime, o que leva a uma grande confusão nos bastidores do poder judiciário belga.

 

A premissa é simples: Um homem em busca de justiça lutando curiosamente, de certa forma, contra a lei. Certo? Errado? Um objetivo: vingar de alguma forma, inclusive pelos olhos da lei, o terrível assassinato de sua esposa que também acabou contribuindo para a morte da filha. O filme é muito tenso, vemos a todo instante aqueles corredores percorridos por engravatados contidos dentro do sistema judicial sob enorme pressão da mídia, do povo. Cada detalhe é captado pela ágil lente do diretor. Somos nós, de alguma forma, também, do lado de cá da telona que decidimos se ele é culpado ou inocente tendo em vista tudo que ele passou.

 

Após curtos arcos construtivos contando alguns porquês, uma enorme batalha chega ao tribunal, advogados defendendo suas estratégias, alguns provocando inclusive o colega, psicólogos com teorias e certezas, psiquiatras buscando explicações sobre o emocional, no caso, que ajudem a defender ou não as estratégias de ambos os lados. Mas engana-se quem pensou que só veríamos os duelos dentro do tribunal, longe dali, no alto escalão do poder, peças são mexidas.

 

Um filme cheio de tensão que escancara pequenos erros que podem fazer grandes diferentes em alguns sistemas jurídicos mas que também reflete dentro da ótica da emoção do protagonista pois a verdadeira prisão dele, a da dor da solidão é quase perpétua não importa onde esteja.

 

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18/03/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #322 - Daiane Lombardo


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Canoas (Rio Grande do Sul). Daiane Lombardo tem 33 anos, produz conteúdo audiovisual para internet sobre cinema e empoderamento preto. É empreendedora e trabalha na área de moda, arte e marketing digital atuando como Assistente Virtual. É apaixonada pelas artes em geral mas o cinema é seu crush real.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

A Cinemateca Paulo Amorim na Casa de Cultura Mario Quintana e a Sala de Redenção de Cinema Universitário na UFRGS. As duas localizadas em Porto Alegre. Ambas as salas propõem o resgate de obras clássicas ou a exibição de filmes não tão comerciais e de boas temáticas.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

La Belle Vert (1996) de Coline Serreau que passava na sessão da tarde.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Atualmente Jeferson De, com todo seu discurso anti racista, trazendo visibilidade para importantes críticas sociais e reconhecimento do povo preto no cinema brasileiro. Incrível. Vou de M8 - Quando a Morte Socorre a Vida que está em alto.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Besouro (2009) de João Daniel Tikhomiroff. Filme maravilhoso que traz parte da história da Umbanda e Capoeira no recôncavo baiano na década de 20. Ilustra de forma linda a figura do Mestre Besouro na luta e resistência em defesa de seu povo. Emocionante.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Pessoa que honra a arte do cinema através da contemplação. Entendendo a importância dessa arte na nossa vida e principalmente no imaginário social.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não, vejo com parte da indústria.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não, mas com a situação atual e a feroz onda dos streamings é quase impossível não seguir esse caminho. Por outro lado, o movimento cinéfilo está crescendo. Talvez seja parte da nossa contribuição não deixar essas salas acabarem, mas a economia tem que melhorar. Né?

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Tatuagem (2013) do Hilton Lacerda.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não tenho opinião sobre isso.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sou MUITO fã do cinema nacional. Por isso, acredito que o nível do cinema brasileiro é altíssimo e sempre se manteve assim. Porém a falta de incentivos na cultura acaba prejudicando na propagação do mesmo. Infelizmente.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Lázaro Ramos (colocaria vários).

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a forma mais mágica de se contar uma história.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Pessoas chorando aos berros no filme de Jesus do Mel Gibson. Chocante.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Infelizmente esse filme que tem o Lázaro eu perdi haha.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente, acho que todos estão livres para produzirem qualquer tipo de arte. 

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Crepúsculo.

 

17) Qual seu documentário preferido?

This Changes Everything do Tom Donahue (pena que é só um haha).

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Vários, não lembro de algum específico agora.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

City of Angels do Brad Silberling.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não chega ser um site, mas gosto dos textos que esse pessoal faz.

 

 

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8 e meio em 20 - Bate-Papo #2 - Juan Zapata


Olá cinéfilos! Inventei um novo projeto :) Chama-se "8 e meio em 20". Tá acontecendo toda 4a às 19:30 hrs. Oito perguntas e meia feitas para um convidado cinéfilo para serem respondidas em até 20 minutos numa live ao vivo no Instagram do meu blog @guiadocinefilo .

Nesse segundo programa, nosso convidado desse projeto é o cineasta, roteirista, produtor, um empreendedor audiovisual da América Latina, o mestre cinéfilo colombiano Juan Zapata.

Espero que vocês consigam acompanhar. Deixarei os vídeos disponíveis no Instagram e aqui no meu blog, além de algumas plataformas de áudio, algo como um podcast do projeto.

Viva o cinema! Saudações cinéfilas!

#guiadocinefilo #cinema #live #entrevistas #entrevista





Ouçam aqui:




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Crítica do filme: 'O Veredito'


Os absurdos dos limites da lei. Lançado no segundo semestre de 2013 na Bélgica, escrito e dirigido pelo cineasta belga Jan Verheyen, O Veredito, Het vonnis no original, é um quase escandaloso jogo de sinuca imposto pelo absurdo, por conta de um erro estúpido dentro do processo coloca-se em cheque as leis, o ministro, o alto gabinete jurídico e a falta de bom senso do sistema na figura de um homem que perdeu a forma mais correta de obter justiça para sua dor e sofrimento. Um prato cheio para quem gosta de filmes de tribunais. Grata surpresa. Infelizmente não está em nenhum streaming disponível no Brasil, deveria.


Na trama, conhecemos Luc (Koen De Bouw), um engenheiro competente que está prestes a ser nomeado CEO da empresa que trabalha a mais de duas décadas. Mas, certa noite, quando estaciona para abastecer o carro com sua filha e esposa, acaba vendo a segunda morrendo assassinada por um bandido que foge correndo. Infelizmente, a primeira acaba morrendo também de uma fatalidade desse mesmo pós momento. Sem chão e tentando reunir os cacos, Luc se distancia do seu emprego e vê seu mundo desmoronar de vez quando o assassino de sua esposa é preso mas solto porque faltou uma assinatura na papelada de prisão o que inclusive livra o bandido das acusações. Assim, Luc assassina o bandido e faz questão de ser julgado pelo crime, o que leva a uma grande confusão nos bastidores do poder judiciário belga.


A premissa é simples: Um homem em busca de justiça lutando curiosamente, de certa forma, contra a lei. Certo? Errado? Um objetivo: vingar de alguma forma, inclusive pelos olhos da lei, o terrível assassinato de sua esposa que também acabou contribuindo para a morte da filha. O filme é muito tenso, vemos a todo instante aqueles corredores percorridos por engravatados contidos dentro do sistema judicial sob enorme pressão da mídia, do povo. Cada detalhe é captado pela ágil lente do diretor. Somos nós, de alguma forma, também, do lado de cá da telona que decidimos se ele é culpado ou inocente tendo em vista tudo que ele passou.


Após curtos arcos construtivos contando alguns porquês, uma enorme batalha chega ao tribunal, advogados defendendo suas estratégias, alguns provocando inclusive o colega, psicólogos com teorias e certezas, psiquiatras buscando explicações sobre o emocional, no caso, que ajudem a defender ou não as estratégias de ambos os lados. Mas engana-se quem pensou que só veríamos os duelos dentro do tribunal, longe dali, no alto escalão do poder, peças são mexidas.


Um filme cheio de tensão que escancara pequenos erros que podem fazer grandes diferentes em alguns sistemas jurídicos mas que também reflete dentro da ótica da emoção do protagonista pois a verdadeira prisão dele, a da dor da solidão é quase perpétua não importa onde esteja.

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