19/02/2014

Crítica do filme: 'Um Conto do Destino'



A vida é um grande baile onde cada um tem seu papel na hora da dança. Com mudanças temporais constantes, um roteiro que não beira ao linear, a fábula épica Um Conto do Destino tinha tudo para ser mais um filme bobinho, esquisito e feito para ganhar dinheiro nas bilheterias mundo à fora. Só que o filme é salvo por personagens intrigantes e uma história sobre destino que no final das contas acaba convencendo. Vilões que se transformam em monstros, cavalos que voam e ajudam a justificar o destino, são alguns dos estranhos elementos que contornam a história criada por Mark Helprin e adaptada, produzida, dirigida pelo estreante em longas-metragens Akiva Goldsman.

Na trama, conhecemos Peter Lake (Colin Farrell), um ladrão metido a mecânico que pulou de orfanato em orfanato quando criança. Quando Peter briga com seu chefe, o mafioso Pearly Soames (Russell Crowe), encontra um cavalo encantado (parece o cavalo da Tristar Pictures) e resolve fugir da cidade onde mora mas acaba conhecendo a bela Beverly Penn (Jessica Brown Findlay), que logo se torna o grande amor de sua vida. Assim, ultrapassando a barreira do tempo e lutando contra um destino às vezes injusto, Peter enfrentará muitos desafios em busca de um porto seguro, suas certezas e seu verdadeiro destino.

Um Conto do Destino é uma história delicada, cheia de carinho e ternura. Mas muita gente vai achar bobinha, cheia de mentirada e assuntos fantasiosos demais. Não deve existir meio termo, ou você vai amar ou odiar esse projeto. O que todos vão adorar é a belíssima trilha sonora assinada pelo craque Hans Zimmer que acaba sendo fundamental para as sequências. O espectador precisa assistir a esse filme de coração aberto. O poder dessa fábula fantasiosa é percebemos que dentro de uma história há elementos importantes que vemos todo dia em nossa realidade. Quando perdemos um grande amor, a vida passa a não ter mais sentido, vira um livro com dezenas de páginas em branco...quem não se identifica com isso?

Nomes famosos no mundo do cinema preenchem lacunas importantes deixadas pela trama. Will Smith em um papel que nunca vimos ou imaginamos antes, Russel Crowe e sua cara fechada como embaixador das forças do mal, a delicadeza e olhar impactante da sumida Jennifer Connelly, o feijão com arroz de Colin Farrell que não compromete dessa vez, o equilibrado personagem de William Hurt e o grande destaque do filme, a novata vinda do mundo dos seriados Jessica Brown Findlay. Cada um desses contribui para que todos os personagens tenham seu espaço na história.

Um Conto do Destino mostra que fábulas ainda emocionam os nossos corações. Ensina, que somos máquinas simples que precisam do universo para poder funcionar. As lições são inúmeras e se deixar levar pela simpatia dos personagens é um dos caminhos para você comprar sua pipoca e assistir a essa produção a partir do dia 21 de fevereiro nos nossos cinemas.
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Crítica do filme: 'Short Term 12'



Ajudar ao próximo a superar os problemas é uma maneira mágica de ajudar a si mesmo. Sensação em muitos festivais de cinema independente no mundo todo, o profundo drama Short Term 12 é um daqueles filmes que de tão bonito vira lembrança inesquecível dentro dos nossos corações. Escrito e dirigido pelo desconhecido cineasta hawaiano Destin Cretton, o simpático projeto aborda a boa ação em ajudar ao próximo sem pedir absolutamente nada em troca para isso. Com uma atuação fantástica da jovem Brie Larson, esse trabalho se consagra como um dos grandes filmes dessa temporada. Por isso, desde já a nossa torcida para que ele chegue nas telonas brasileiras.

Na trama, conhecemos um abrigo para jovens com problemas familiares graves. A instituição é um porto seguro contra todas as maldades que o mundo exterior fez a cada um dos participantes do programa de recuperação. O novo lar desses jovens é liderado por Grace (Brie Larson), uma atenciosa assistente social que precisa, em meio a crises emocionais constantes de suas crianças, superar uma gravidez inesperada, uma momento difícil com o namorado de longa data e a saída da prisão de seu pai que a abusou quando mais jovem.

O roteiro, escrito pelo próprio diretor, é primoroso. Cada arco de construção dos personagens é meticulosamente bem feito. A apresentação da protagonista vai acontecendo com o decorrer da projeção. Grace se coloca como os olhos do público durante todos os 96 minutos de fita.  A fórmula mágica de conquistar o espectador com simples sequências acontece muito por conta da atuação mais que inspirada da atriz Brie Larson. Seus diálogos sobre a vida, histórias do passado e relações amorosas, com seu namorado Mason (interpretado por uma das estrelas do aclamado seriado Newsroom, John Gallagher Jr.) são ótimos.

O principal conflito interno da personagem principal, chama o público para uma questão importante: como ajudar alguém que sofreu o mesmo que você, se você ainda não se recuperou por completo? As opções são muitas, como acontece na vida real. O filme se sustenta na impressionante realidade que passa sobre essas dúvidas, não só com a protagonista mas com cada um dos personagens.

Short Term 12 é um trabalho para ser admirado por todo mundo que gosta de pensar vendo um filme. Não tem nenhum apelo comercial e por isso deve ser muito difícil chegar aqui nos nossos cinemas. Por isso, vale muito nossa torcida para que isso ocorra. Esse é um filme que todo mundo que faz o bem merecer assistir. Afinal, quais são os pilares da nossa sociedade? Esse longa-metragem ajuda a todos nós encontrarmos essa e outras respostas. Bravo!
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16/02/2014

Crítica do filme: 'Oldboy - Dias de Vingança'



Quando se encontra a liberdade, o resto é silêncio. Com a difícil missão de criar um remake de um dos filmes orientais mais aclamados por crítica e público em toda a história do cinema, o diretor norte-americano Spike Lee tenta mas não consegue muito êxito na sua versão de Oldboy. Com a mesma chuva, o mesmo porre e uma introdução mais comprida e detalhada o filme até que começa muito bem só que acaba caindo na armadilha de tentar ser melhor que o original, e aí caros amigos, vai tudo por água abaixo. Um rápido exemplo: a aguardada cena do martelinho contra milhões frustra os cinéfilos. Do modo norte-americano de reproduzir tal sequência, vira uma espécie de jogo Arcade: Cadilac Dinossauro ou Street of Rage para citar dois apenas. Somente Tarantino saberia igualar ou melhorar tal cena, histórica para o cinema.

Na trama, conhecemos o alcoólatra e cafajeste Joe Doucett (Josh Brolin). Um homem odiado por muitos que após uma reunião imperfeita em um chique restaurante, resolve afogar sua mágoas e beber além da conta, acabando acordando em um misterioso quarto de hotel. Aos poucos, Joe vai descobrindo que está sendo na verdade mantido como refém e isso continua por intermináveis 20 anos. Até que um dia, após uma tentativa frustrada de fuga, é largado dentro de uma mala no meio de um vasto campo verde e assim inicia sua busca pela filha abandonada e por vingança.

A virada do século, o escândalo de Clinton, o atentado as Torres Gêmeas e outras tragédias norte-americanos são vistas sob a mesma ótica pelo seqüestrado. Se Tom Hanks tinha Wilson, Josh Brolin ganha um amigo hamster para dividir um pouco da dor de seu sofrido personagem. Esse momento, o dos 20 anos em cárcere privado, é mal explorado e acaba ficando muito corrido o que provoca uma falsa empatia do público com o protagonista da história. Assistindo Xena, Telequete e algumas outras bobagens na Tv, o personagem vê sua barba crescer, malha todo dia e incrivelmente não envelhece.

O Oh Dae-su norte-americano ganha um Iphone e utiliza o Google para buscar os possíveis responsáveis pelo seu seqüestro. Esse uso da tecnologia, na verdade uma nova ferramenta de ambientação da história, até certo ponto descaracteriza um pouco a trama original. Não adianta colocar caixinhas de comida chinesas, guarda costas orientais que isso nem um pouco transfere toda aquela atmosfera conseguida por Chan-wook Park e Cia no filme sul-coreano. E pra piorar, as refeições do sequestrado tornam-se oportunidades para diversas marcas de comida famosas terem na vitrine da telona o seu produto escancarado. Nem ao menos delicado foi feito isso, lamentável.

Josh Brolin se esforça e tanta dar sua cara ao protagonista deste remake. Gritando muito, com cara de carrancudo em todas as sequências as vezes parece não dominar seu personagem por completo. Já, a mais competente artista da família Olsen, Elisabeth, consegue suavizar a sua personagem-chave adicionando muito à trama. A atriz de 24 anos tem uma cena com Brolin bem caliente, o que deve elevar mais ainda a faixa etária do filme. Mas o destaque mesmo nas atuações vai para o sul-africano Sharlto Copley (Distrito 9 / Elysium) que interpreta com eficácia o grande vilão da história.

Resumindo, o que todo cinéfilo temia acontece, mais um remake que não dá certo. Salvo Fincher e seu Millenium primoroso, recentemente falando, é muito difícil reproduzir um clássico do cinema, em outros moldes, em outros tempos, com outra leitura da mesma história. E não adianta vir com o papo de que cada filme é único e que não deve-se  comparação. No caso de Oldboy – Dias de Vingança (que subtítulo mais horroroso), por tentar ser um filme para americano ver, acaba perdendo toda a essência de uma incrível aventura em busca de vingança.  
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Crítica do filme: 'Philomena'



O maior sentido para entendermos uma dor, acontece quando ficam embaçadas as janelas da nossa alma. Baseado em fatos reais, o drama investigativo Philomena é uma incrível e comovente história que nas mãos do ótimo cineasta Stephen Frears (que dirigiu o excelente A Rainha) se torna leve, divertido e com diálogos maravilhosos, essa última parte fruto do entrosamento afiado entre os atores Steve Coogan e a vovó mais fofa do cinema, Sra. Judi Dench. Irá lotar, merecidamente, todas as salas dos cinemas aqui no Brasil.

Na trama, seguimos os passos da simpática enfermeira Philomena Lee (Judi Dench), uma senhora de idade avançada que por 50 anos escondeu de todos ao seu redor que tinha sido separada de seu filho na época que estava sob responsabilidade de rígidas irmãs e um convento. Quando sua vida esbarra na de Martin Sixsmith (Steve Coogan), um jornalista deprimido e desempregado, surge finalmente a chance de encontrar seu filho.

Nesse trabalho, que possui uma impactante atuação de Dench, um dos pontos que mais chamam a atenção é o conflito entre a fé, a razão e a religião que geram instantaneamente debates/embates e diálogos repletos de argumentações pertinentes, até certo ponto extremistas, fazendo os personagens se desenvolverem naturalmente tendo a plateia como testemunha. Nas apresentações dos personagens, o filme que concorre ao Oscar em algumas categorias, ganha o público para si que só deixa de estar conectado com a história quando os créditos finais aparecem e lá conhecemos a verdadeira Philomena Lee, na vida real.

As polêmicas contidas no filme são passadas ao público de maneira leve, séria e divertida. Ocorre uma inversão interessante nesse processo. Mais ou menos como aconteceu em Intocáveis, quando ao lermos a sinopse pensávamos que íamos chorar o filme todo e ao longo da história nos deliciamos com a alegria contida naquela busca de cura para a dor. O caminho feito por Philomena é exatamente o mesmo.

Philomena é um drama recheado de carisma. É o tipo de filme que você torce para não acabar. E, por mais que a história lembre tantas outras já vistas no mundo do cinema (isso realmente é um fato a ser lembrado), a maneira inteligente como é apresentada ao público dá personalidade própria e única ao longa-metragem. O trabalho de direção executado por Frears é primoroso, cada detalhe ganha um valor diferente para cada sequência. Por esses motivos e todos os outros que encontrar, você não pode deixar de conferir essa história. Inspira, mexe com nosso coração.
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Crítica do filme: 'Caçadores de Obras-Primas'



Será que existe algum dilema entre a vida humana e uma obra de arte? O novo trabalho do polivalente George Clooney fala sobre o universo peculiar de Rembrandt, Picasso e Renoir, com um adicional cenário do conflito mundial que mais matou gente neste planeta. Caçadores de Obras-Primas é uma espécie de Onze homens e um Segredo misturado com qualquer filminho chatinho desses que fazem sátiras da Segunda grande guerra. Muito pouco para convencer o público que ficará incomodado com personagens engessados e uma trama sem ritmo nenhum.

Nesse blockbuster, acompanhamos um grupo de especialistas em obras de arte que são recrutados como soldados, já no final da segunda guerra mundial, para salvar peças de arte históricas que estavam sob o domínio dos nazistas. Percorrendo a Europa de cabo a rabo, enfrentam difíceis obstáculos com um certo, e esquisito, bom humor, sempre liderados pelo sargento Frank Stokes (George Clooney).

O filme aborda a questão central que é a de se arriscar em meio a um conflito extremamente perigoso para salvar um objeto. Pena que o roteiro não se aprofunda nisso, nem vemos qualquer emoção ou carisma nos personagens, deixando essa discussão sem fundamento. Só resta a nós meros mortais escutarmos mais de cinco vezes a mesma pergunta: “Uma vida vale mais que uma obra de arte?”. Uma chatice que só assistindo para sentir. A vontade que temos é perguntar: “Quanto vale o ingresso desse filme mesmo?”.

Personagens travados são vistos o tempo todo. Fala de desenvolvimento cênico torna qualquer diálogo, qualquer sequência uma experiência superficial. John Goodman, o grande Bill Murray, o apagado Matt Damon, a linda Blanchett e o diretor/ator George Clooney, e os demais, sem exceção, são intérpretes de personagens sem um pingo de emoção. Esse fato é o mais alarmante dessa produção que tinha grande potencial caso houvesse algum tipo de entrosamento entre os papéis em cena. 

Caçadores de Obras-Primas marca a pior direção da carreira vitoriosa do ex- E.R George Clooney. O roteiro assinado pelo diretor e por Grant Heslov (Tudo pelo Poder), baseado na obra homônima de Robert M. Edsel  e Bret Witter, é sonolento, tornando o filme uma ótima opção para quem sofre de insônia. Com tantas estrelas de Hollywood competentes reunidas era obrigatório o filme ter no mínimo bons momentos mas a constelação insiste em ficar apagada durante intermináveis 118 minutos de projeção.
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