12/10/2015

Crítica do filme: 'Eu Estava Justamente Pensando em Você' (Comet)

O tempo e o seu começo, meio e fim. Qual a diferença entre sonhos e lembranças? Porque parece ser tão impossível tentar te esquecer? Escrito e dirigido pelo cineasta norte-americano, estreante em longas-metragens, Sam Esmail (criador de um dos seriados mais aclamados por crítica e público nos últimos anos, Mr. Robot) Eu Estava Justamente Pensando em Você parece uma peça de teatro, com vários cenários, diálogos inteligentes beirando ao tragicômico e dois atores em grande harmonia em cena.

Na trama, acompanhamos a história de amor profunda entre Dell (Justin long) e Kimberly (Emmy Rossum), um jovem casal que se conhece de maneira inusitada e durante um certo período de tempo, vive intensamente todos os bons e terríveis momentos que uma rotina à dois pode oferecer. Indagações sobre a forma de viver, sobre o amor, o pensar os 5 minutos depois de um grande acontecimento, as inseguranças que geram um possível relacionamento. Michel Gondry adoraria conhecer essa história (se já não o fez), as referências a filmes deste grande diretor são inúmeras. Como nos filmes de Gondry, neste lindo trabalho com ar poético, sonhamos enquanto estamos acordados vendo a história passar pelos nossos olhos.

O ‘pra sempre’ assusta a todos nós, mas não é por causa disso que vamos desistir de lutar por ele. Nas passagens temporais (que podem gerar mais de um tipo de interpretação, como várias fases de um relacionamento ou até mesmo imaginarmos os dois pombinhos em diversas situações isoladas, sem nenhuma pré-ligação), argumentos cheios de referências vão decifrando para o público a personalidade intrigante dos protagonistas.


Chuvas repentinas, segredos escondidos e alguns descobertos, passagens de meteoritos. O roteiro é um grande quebra-cabeça emocional/temporal onde o espectador precisa de paciência e se deixar levar para poder compreendê-lo.  Eu Estava Justamente Pensando em Você não é um filme fácil, longe disso. É um trabalho que analisa profundamente uma relação de amor igual ou parecida a muitas outras. Se você já viveu um grande amor, sofreu por amor ou buscar encontrar seu eterno amor, você pode gostar demais dessa fita.
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05/10/2015

Crítica do filme: 'Mia Madre'

Apenas em torno de uma mulher que ama se pode formar uma família. Mia Madre, um dos filmes de destaque do festival do Rio 2015, é um recorte sensível sobre a chegada de novas ideias e modos de pensar para uma personalidade egoísta e solitária.  O carisma da fita chega muito mais forte ao público por meio das elegantes pitadas cômicas provocadas pelo caos emocional de Margherita, a protagonista, além da triunfal e fundamental chegada de John Turturro e seu iluminado personagem Barry Huggins. Turturro simplesmente dá um show em cena.

Na trama, conhecemos a incompreensiva Margherita (Marguerita Buy, em uma grande atuação), uma mulher de personalidade forte, controladora, que enfrenta uma fase difícil, seja nas intensas gravações de seu novo projeto como diretora ou nas doloridas idas e vindas ao hospital onde sua mãe se encontra internada. A protagonista, uma italiana guerreira, luta diariamente para manter uma certa sanidade em meio a tantas novas linhas de pensamentos que chegam com força avassaladora para ela, transformando uma personalidade antes intocável em um sensível e mais compreensível ser humano.

Lembranças, histórias, o sofrimento do momento em que vive, Margherita parece repensar os momentos em que esteve ausente. Ao mesmo tempo, e gerando um paralelo muito intrigante, vemos seu lado profissional passar por um totalmente descontrole principalmente com a chegada de um excêntrico ator estrangeiro ao set de filmagens. Muitas vezes um drama profundo, às vezes uma comédia dramática, Mia Madre navega com cautela e inteligência no conflituoso embate emocional que chega as pessoas uma vez na vida.


O longa-metragem, sensação nos festivais onde passou, é um pouco mais que um retrato do esgotamento emocional em que se encontra a protagonista, muito bem retratado pelo ótimo diretor Nanni Moretti. Vale a pena conferir, estreia dia 24 de dezembro no Brasil.
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04/10/2015

Crítica do filme: 'Bem-vindos ao Mundo' (Welcome to Me)

Quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino. E vem do circuito independente norte-americano um dos filmes mais estranhos dos últimos tempos, principalmente quando pensamos na análise psicológica da protagonista, interpretada pela atriz Kristen Wiig. Welcome to Me, ou no título traduzido Bem-vindos ao Mundo, é dirigido pela desconhecida Shira Piven, que consegue em menos de 90 minutos deixar o público impactado com tantas estranhezas em cena. De interessante realmente somente a tentativa do espectador em tentar decifrar a mente da personagem principal.

Na trama, conhecemos a peculiar Alice Klieg (Kristen Wiig), uma mulher de meia idade com um transtorno de personalidade evidente, que por acaso acaba ganhando na loteria norte-americana e decide apostar todas suas fichas investindo em um programa de televisão que fala sobre sua vida, suas memórias e situações que já vivenciou. A partir dessa opção, acaba se tornando obsessiva em ser famosa e acaba se distanciando ainda mais de todos os que a cercavam.

Kristen Wiig, adora um projeto inusitado e consegue em um mesmo ano participar de filmes completamente diferentes, como Amores Inversos (sua melhor atuação para esse modesto cinéfilo nque vos escreve),  A Vida Secreta de Walter Mitty, entre outros trabalhos. Nesse novo longa-metragem, roteirizado pela também desconhecido Eliot Laurence, Kristen tenta a todo instante instigar o público a descobrir junto com a personagem todas as dificuldades que ela irá enfrentar por conta das escolhas imperfeitas que faz. Alice Klieg possui seu próprio universo e um egoísmo quase ingênuo que podem gerar empatia ou antipatia facilmente.


Nenhuma subtrama funciona, seja o relacionamento forçado de Alice com Gabe Ruskin (Wes Bentley) ou as situações desconfortáveis no relacionamento com sua melhor amiga Gina Selway (Linda Cardellini). O filme oferece muito pouco para prender a atenção por quase 90 minutos. Bem-vindos ao Mundo (Welcome to Me) chegará direto nas locadoras brasileiras, ainda neste ano.
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03/10/2015

Crítica do filme: 'Tudo Vai Ficar Bem' (Every Thing Will Be Fine)

A única razão de sermos tão apegados em memórias, é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado. Dirigido pelo aclamado cineasta Wim Wenders, Every Thing Will Be Fine, no original, é, infelizmente, um daqueles filmes chatos que parecem nunca terminar. Com uma linha de dramaticidade cinematográfica ao melhor estilo Sarah Polley ou Susanne Bier, e com um elenco em total desarmonia em cena, o longa-metragem que estréia no Brasil dia 26 de novembro é uma quase total decepção. A trilha sonora, assinada pelo craque Alexandre Desplat, é a melhor coisa do filme. E quando a trilha é a melhor coisa do filme, vocês sabem que há vários pontos negativos nesta história.

Na trama, um escritor com crise em seu relacionamento, certo dia se envolve em um acidente. Sem conseguir esquecer o ocorrido, entra em uma depressão profunda chegando até a tentar o suicídio. Os anos se passam, os personagens crescem e os contornos da vida vão guiando o protagonista para novas direções mas sem folga para que seu passado volte a procurá-lo.  

Tudo Vai Ficar Bem é para corações fortes. Permanece em uma melancolia depressiva constante. Haja paciência. Uma das subtramas, o relacionamento amoroso entre Tomas (James Franco) e sua namorada Sara (Rachel McAdams) simplesmente não chega a nenhum clima por conta da apatia dos personagens. O filme cresce um pouco com a entrada efetiva de Charlotte Gainsbourg, em um dos atos centrais, mas nem essa grande atriz britânica consegue segurar a trama. James Franco topou esse grande desafio de ser o protagonista em um filme de Wim Wenders mas seu personagem não consegue ser tão marcante e profundo como a história pedia.


O longa-metragem possui diversas passagens de tempo. Isso ajuda e atrapalha ao mesmo tempo. Ajuda quando pensamos que vamos finalmente ter um elo maior com as ações dos personagens, algum tipo de redenção ao protagonista, ou alguma mudança firme de atitude para superação do grande trauma que gira a história. Atrapalha exatamente quando nada disso citado acontece. Poxa! Cadê o Wim Wenders de Asas do Desejo, ou Pina? A decepção maior é essa, sem dúvidas. 
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Crítica do filme: 'Chico - Artista Brasileiro'

Poeta muitas vezes não é perfeito, é apenas um eterno sonhador solitário. Filme de abertura do Festival do Rio 2015, Chico - Artista Brasileiro é um documentário muito criativo mas que usa da simplicidade para contar a história de um ídolo brasileiro, da música e literatura, de maneira leve, divertida e com aquela pitadinha de surpresa que faz muito bem aos olhos cinéfilos. O projeto tem tudo para fazer um grande sucesso quando entrar em cartaz no circuito comercial, no dia 26 de novembro.

Neste belo trabalho do cinema nacional, acompanhamos um pouco da vida de Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido por Chico Buarque. Ao longo de 110 minutos de projeção, o diretor Miguel Faria Jr. , organiza com maestria os interessantes depoimentos de Chico e muitos amigos que o cercaram ao longo de toda sua vida. Para ser aquela cerejinha do bolo, um competente grupo de artistas brasileiros prestam uma homenagem ao grande ídolo, cantando, cada um no seu swing, as canções de Chico que ganharam os corações e ouvidos brasileiros durante todo esse tempo de carreira.

O filme foge de qualquer tipo de polêmica. É quase uma conversa de bar entre amigos. A naturalidade com que Chico vai contando suas histórias aproxima muito o público de cada sequência, além de músico e escritor, o autor de a Banda, entre outros inúmeros sucessos, é um grande contador de histórias. Como não rir de suas aventuras intelectuais com Vinícius e Tom no Rio de Janeiro? Como não se emocionar com a incrível história de um irmão alemão que ele tinha e que acabou criando um intenso desejo de conhecer. Como não ficar impactado com inúmeros artistas maravilhosos cantando suas canções entre um papo e outro?


O documentário não é só um bate papo sobre música, livros e assuntos pessoais. Quando fala sobre futebol, Chico gera risos contínuos na platéia, principalmente nos episódios em que foi jogar uma partida de futebol organizada pelo ex-jogador Figo e quando vemos um depoimento de um amigo que era juiz em uma pelada organizada pelo cantor. Entre inúmeras histórias, é difícil escolher uma preferida, o público não tira os olhos da tela um instante. É Chico... hoje você é quem manda: Falou, tá falado!
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28/09/2015

Crítica do filme: 'Beira-Mar'

A vida é a soma das suas escolhas. Dirigido pela dupla Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, uma das produções mais aguardadas do cinema brasileiro este ano é o tipo de filme que se você assistir antes de ler a sinopse, fica com sérias dificuldades de entender sobre o que é a história. Aquele famoso lema cinéfilo que você precisa se convencer da história nos primeiros 15 minutos, nesse filme ocorre diferente. Beira-Mar é uma história sobre amizade, revelações e escolhas. Muito bem dirigido, possui diálogos abertos, diretos, honestos, mas que acabam não sendo tão objetivos por conta dos dois primeiros atos, mesmo que nesse caminho chegue a um brilhante terceiro ato.

Na trama, acompanhamos o jovem Martin (Mateus Almada) que faz uma viagem ao litoral do Rio Grande do Sul para visitar parentes que não conhecia e leva com ele o seu melhor amigo Tomaz (Maurício José Barcellos). Após resolverem questões relacionadas a família do primeiro, os dois personagens isolam-se em uma linda e bela casa na beira da praia.

Beira-Mar é um pequeno retrato da juventude, seus prazeres, suas escolhas. Nada além do que já não foi dito, ou explorado em outras produções. O filme possui boas atuações com grande dedicação e descoberta dos personagens, principalmente por sua dupla de protagonistas. Mas a história parece que congela na mesmice e sem conseguir encontrar o ritmo de interação certeiro com o espectador.


Quando nossa ótica se prende às questões das descobertas e finalmente entendemos melhor os personagens, o longa-metragem selecionado para o prestigiado Festival de Berlim cresce muito na tela. No ato final, como já mencionado na introdução, o filme parece que se encontra, seus últimos minutos são dedicados delicadamente a um grande conflito de emoções que transbordam na telona. Pena que esse belo clímax chegue muito tarde no sempre velho mas valioso objetivo em segurar a atenção do público.
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19/09/2015

Crítica do filme: 'Ruth & Alex' (5 Flights Up)

Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira. Dirigido pelo cineasta britânico Richard Loncraine chega ao Brasil em novembro o novo trabalho dos veteranos Morgan Freeman e Diane Keaton, Ruth & Alex. O roteiro, assinado por Charlie Peters (Três Solteirões e uma Pequena Dama), baseado em uma obra de Jill Ciment, é uma delícia, se desenvolve em sua essência a partir dos diálogos maravilhosos que levam a uma rápida empatia do público. Com ligeira lembrança com o clássico argentino Elsa e Fred, alem de alguns outros bons filmes que falam sobre os encontros e desencontros da maneira madura do pensar, Ruth & Alex tem tudo para conquistar milhares de fãs.

Na trama, conhecemos o artista Alex (Morgan Freeman), casado há cerca de 40 anos com Ruth (Diane Keaton) e que moram no mesmo edifício, sem elevadores, durante todo esse tempo.  Assim, de uma hora para outra, resolvem vender o apartamento e descobrir novos horizontes para viveram a parte final de suas vidas. Ao longo do filme, vamos conhecendo melhor o passado desses simpáticos velhinhos, como se conheceram, importantes decisões que tiveram que tomar e assim vamos entendemos melhor toda a personalidade que rege esse casamento vitorioso e recheado de amor.

O clímax da trama tinha tudo para ser tedioso: mercado imobiliário, sem muitas saídas para tramas paralelas... é mais um menos parecido com um time de futebol que mudara totalmente seu esquema tático mas que confia na qualidade dos seus jogadores. É exatamente aí onde o filme ganha força, a qualidade em cena é absurdamente poderosa além de uma direção muito correta de Loncraine.  


O maior cuidado que qualquer pessoa que vá escrever sobre esse filme precisa tomar é evitar muitas comparações com filmes que a princípio parecem ser semelhantes em sua essência. Por mais que algumas semelhanças surjam, como fora lembrando no parágrafo introdutório deste humilde texto,  5 Flights Up, no original, possui personalidade própria, além de possuir uma bela e conjunta atuação de dois gigantes do cinema mundial. Há um exalar de simpatia, típico dos filmes que chegam mais rápido em nossos corações, em cada parte deste belo trabalho. 
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06/09/2015

Crítica do filme: 'A Festa de Despedida'

A poesia tem comunicação secreta com o sofrimento do homem. Dirigido pela dupla Tal Granit, Sharon Maymon, o longa-metragem israelense A Festa de Despedida vem conquistando um grande sucesso por todos os festivais em que passa. Talvez pela forma mais suave que apresenta um assunto discutível. O filme fala com delicadeza sobre um assunto bem polêmico, a eutanásia. Ao longo dos curtos 95 minutos de projeção vamos acompanhando situações, algumas um tanto quanto engraçadas, sobre um grupo de amigos que inventam um dispositivo para morte fácil.

Em um asilo de Jerusalém, existe um grupo de amigos que está cansado de ver o sofrimento alheio e resolve criar uma máquina de morte instantânea. Essa ideia, criticada por muitos, acaba se tornando um sucesso quando outras pessoas em situações delicadas procuram o grupo de amigos para usarem a máquina. Ao mesmo tempo, todos os personagens se encontram em um grande vendaval emocional, seja por questões ligadas ao coração, seja por escolhas difíceis que precisarão ser tomadas.

Mesmo falando sobre um dos temas mais polêmicos do planeta, o desenvolvimento da trama é bem objetivo, se torna leve por conta dos ótimos diálogos que navegam o roteiro (assinado também pela dupla de diretores) mas sem deixar de apresentar uma análise peculiar, porém, bastante profunda sobre o tema principal. Há uma certa harmonia entre todos os atos e os personagens são muito bem definidos, cada um com um objetivo dentro da trama.


O público vai rir, se emocionar e conectar-se rapidamente com a história. Tudo é muito trivial e bastante honesto quando diz respeito a apresentar argumentos pós e contra a eutanásia. A Festa de Despedida nada mais é do que mais uma maneira de discutirmos sobre as escolhas que podemos ter quando não temos mais escolha. Belo filme. 
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Crítica do filme: 'Papéis ao Vento' (Papeles en el Viento)

Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade. Baseado na obra homônima criado por Eduardo Sacheri, o longa-metragem argentino Papeles en el Viento, dirigido pelo cineasta Juan Taratuto, é um drama com pitadas milimetricamente cômicas tendo o futebol como fundo de fundo para os conflitos, conseqüências e ações dos personagens, esses últimos, cada um de sua forma, esbanjam categoria na sempre decisiva interação com o público. Há muita simpatia e empatia em cena, isso transborda no espectador que aos poucos vão se deliciando com essa curiosa história.

Na trama, conhecemos um grupo de amigos muito unidos que passam por um momento de tristeza quando um deles falece precocemente por conta de uma doença. A única herança que ele deixara para sua única filha foi o dinheiro investido em um passe de um jogador de futebol perna de pau. Para tentar recuperar o dinheiro em questão, os amigos farão de tudo para tornar o perna de pau em pelo menos um jogador negociável/rentável e assim conseguirem recuperar o dinheiro investido e dar uma boa vida para a filha do amigo.

O roteiro é muito interessante, possui seus atos muito bem definidos e consegue fisgar o espectador na maneira como é montado a história dos personagens, por meio de flashbacks da união dos amigos antes do falecimento de um deles. É como se o grupo que mantém a amizade há anos, fosse um ator só, tão bem definido é a importância da amizade nessa história. Todos os atores em cena possuem um belo entrosamento e os ótimos diálogos do roteiro, assinado também pelo diretor, dão uma leveza e simpatia ao drama que volta e meia chega a ser bem profundo.

A questão de fundo, o futebol, é bem encaixada durante o contexto de cada ato. Fora o óbvio amor pelos argentinos por esse esporte, também muito apreciado em nosso país, chegamos até a ver uma crítica sobre uma parte da indústria do futebol, exatamente nos bastidores, onde o dinheiro rola solto e os empresários mandam e desmandam o destino dos protagonistas (os jogadores) e como um comentário positivo sobre um jogador aquece as negociações instantaneamente.


Papeles en el Viento chegará ao Brasil em breve e promete ter uma boa carreira no circuito, não por ter uma história que fala também sobre futebol mas por ser cinematograficamente um belo trabalho. Sem dúvidas, mantém o selo argentino de qualidade, quando falamos de cinema, vivo. 
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Crítica do filme: 'Corrente do Mal'

Mesmo a obviedade deve ter um ar de suspense. Escrito e dirigido pelo cineasta David Robert Mitchell, Corrente do Mal, é um daqueles filmes que possuem uma premissa que chama muito a atenção, e, aliado ao delirante clima de suspense, a uma trilha sonora que não deixa de fazer uma homenagem a grandes clássicos do gênero terror, geram uma equação tecnicamente e criativamente bem construída mas que faltou uma pitadinha de ritmo para a receita ser perfeita. Mas, de qualquer forma, Corrente do Mal é um dos mais interessantes filmes de suspense/terror do ano, não tenham dúvidas.

Na trama, conhecemos a Jay (Maika Monroe), uma jovem que vive tranquilamente sua saída de adolescência e que adora dar um mergulho em sua piscina. Jay está saindo com um rapaz há algum tempo e se encontra em um momento de vida bem feliz. Certo dia, após uma intensa relação sexual dentro de um carro em um lugar isolado da cidade, o rapaz com quem Jay está saindo simplesmente pira e a faz desmaiar. Quando acorda, Jay está em uma cadeira e acaba percebendo que está sendo amaldiçoada por uma força sobrenatural que é transmissível pelo ato sexual.

Um dos grandes baratos do filme é a troca de posição da câmera em determinadas situações tensas da trama. Você se sente dentro da história a todo instante, um grande clima de tensão é conduzido brilhantemente pelo ótimo roteiro mas principalmente por como todo esse criativo filme é rodado. Com um orçamento bem baixo (comparado a outras produções do gênero), Corrente do Mal é muito mais psicológico do que tenso em sua realidade.

Outro fator que chama a atenção é o ritmo. Muito bem seguro sobre qual seria a proposta do filme, o roteiro meio que pausa o filme em determinados momentos, utilizando como ponto de gatilho uma trilha sonora instigante que parecem sair de alguns filmes de suspense/terror dos anos 80 que deixavam os espectadores arrepiados. Talvez, esse fator ligado ao ritmo, incomode um pouco, e alguns espectadores achem o filme sem dinamismo e assim se desinteressem rapidamente pela história.


Com um lançamento muito a quem do que podia, o circuito feito pela distribuidora não conseguiu que o filme chegasse em muitas salas de cinema, Corrente do Mal é uma grata surpresa quando o assunto é filme de terror/suspense. Muito interessante. 
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01/09/2015

Crítica do filme: 'Nocaute'

O drama é uma vida da qual se eliminaram os momentos aborrecidos. Depois de diversos trabalhos na telona, sempre (ou quase sempre) buscando reproduzir histórias dramáticas profundas que focam exatamente na escolha dos protagonistas em seus destinos, o cineasta norte-americano Antoine Fuqua volta ao tema, desta vez para reproduzir uma história que muito se parece com o drama de Clint Eastwood, Menina de Ouro, mas que ao longo dos 124 minutos não consegue ter luz própria. Nocaute é um filme interessante se formos analisar a mais uma ótima atuação de Jake Gyllenhaal mas se torna logo desinteressante por ter momentos de clímax pouco satisfatórios e acabar entrando no terreno perigoso dos clichês. 

Na trama, conhecemos o famoso boxeador Billy Hope (Jake Gyllenhaal) um homem que vive intensamente sua fama mas sem nunca esquecer de ser um devoto por sua linda família. Explosivo e sem muito instrução, certo dia se envolve em uma briga tola com um provável futuro adversário e nas consequências desse ato acaba perdendo sua empresária, amiga, batalhadora e esposa Maurren (Rachel McAdams) tragicamente. A partir disso, começa a ver sua carreira ir por ralo abaixo até que vai parar em uma modesta academia em um subúrbio norte-americano e começa a tentar reconquistar sua carreira, a guarda da filha e acender uma luz no fim do túnel que ele mesmo cavou. 

Nocaute é uma história sobre superação, muito parecida com outros filmes, um já até citado acima. O roteiro é bem honesto e a construção do personagem principal muito bem feita por Gyllenhaal. O andamento da história que vai se tornando sonolenta por sempre criar expectativas e acabar não superando as mesmas. É um avião que não pista de pouso não consegue decolar. O foco principal é mal distribuído, as subtramas foram pouco exploradas. Quando entra na história o personagem de Forest Whitaker, Tick Wills, o longa-metragem volta a ter uma direção mas logo nos minutos seguintes se perde. Pode ter havido interferência, a sensação é que houve uma mexida em algumas partes para tornar a história mais com cara de filme comercial, um erro que nós cinéfilos não perdoamos e que muitos produtores adoram executar.   

Outro fator que chama a atenção negativamente são as cenas de luta de boxe. Longe de sermos especialista nessa arte que Éder Jofre e Popó dominam mas ao longo dessas sequências de ação percebemos uma falta de sintonia. Não passa verdade essas cenas. Um Rocky Balboa teria feito muito mais em menos minutos. Se Stallone assistir a esse filme, acho que terá essa impressão também. Mais o campeão em incômodo desse filme é a velha, chata, e quem sabe algum dia obsoleta arte dos clichês. Não é preciso nem enumerar, são claros e evidentes durante toda a projeção. Poxa, porque não podemos tentar inovar, ser mais criativos? A história, Jake e sua atuação, o espectador, mereciam bem mais. 


Mesmo com uma atuação de gala do excelente ator que faz o protagonista (ele vai ganhar o Oscar e muitos outros prêmios ao longo da carreira), nesse Menina de Ouro com um protagonista masculino, faltou talvez um pouco da força cênica de ‘Warriors’ (um filme que absurdamente nunca foi lançado nos cinemas brasileiros) e um pouco do tom dramático bem executado que encontramos perfeitamente em Hurricane.  
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