12/06/2016

Crítica do filme: 'Um Amor à Altura'



Todo homem é poeta quando está apaixonado. Após o ótimo O Pequeno Nicolau e sua sequência, o diretor francês Laurent Tirard volta às telonas dessa vez para um remake de um filme argentino de sucesso Coração de Leão - O Amor Não Tem Tamanho. Contando no elenco com o astro francês Jean Dujardin (O Artista) e com a bela atriz belga Virginie Efira o longa-metragem segue fielmente o roteiro do original tentando se diferenciar apenas pelos momentos extremos de comédia pastelão (aquelas com risos fáceis). Por não conter nenhum tipo de originalidade/personalidade própria, esse é mais um daqueles remakes que deixam a desejar. 

Na trama, conhecemos uma linda advogada bem sucedida chamada Diane (Virginie Efira) que vive sozinha e divide o escritório onde trabalha com seu insuportável ex-marido. Certo dia, após esquecer o telefone em um lugar, um homem misterioso chamado Alexandre (Jean Dujardin) liga para ela e a convence de encontrá-lo em um almoço. Chegando lá, Diane se surpreende com a altura do homem mas é fisgada pelo charme e carisma deste pequeno galã francês. Assim, ao longo das semanas seguintes, entre encontros maravilhosos e surpreendentes, Diane terá que tomar uma decisão, fugindo dos preconceitos dos outros ao redor e pensando única e exclusivamente no amor que nasce entre os dois pombinhos. 

Um dos filmes mais água com açúcar deste Festival Varilux de Cinema Francês 2016, Um Amor à Altura se desenvolve através de encontros inusitados e a maneira como Alexandre tenta conquistar o coração da bela Diane. Usando todo o charme no personagem, Jean Dujardin encarna exatamente na mesma linha de atuação que o argentino Guillermo Francella seguiu no original. Os momentos de risos fáceis acabam dando um extremismo às situações, fato que não ocorre tanto no original. De uma história bonita e inusitada, validando as raízes montadas dentro do amor, esse remake francês acaba batendo forte em um tom de comédia que deixa tudo muito exagerado e sem graça. 

Não chega a ser uma grande decepção por conta da direção do ótimo Tirard, a decepção chega mais pelo roteiro que não consegue ser um pouco mais original e trazer mais elementos para se diferenciar da fita argentina. Sem previsão para estrear no circuito brasileiro, Um Amor à Altura encontra-se na categoria de filmes esquecíveis deste Festival.
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Crítica do filme: 'Chocolate'



Respeitável público cinéfilo, chega diretamente da França um dos filmes mais carismáticos que vão entrar no circuito em breve aqui no Brasil, Chocolate. Selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês deste ano o longa-metragem dirigido pelo ator e diretor Roschdy Zem conta a história do primeiro palhaço negro da França e ao longo dos 110 minutos de projeção vamos acompanhando a trajetória deste grande artista. Para dar vida ao eterno Chocolate, o carismático ator Omar Sy (que ficou bastante conhecido pelo filme Intocáveis) que mais uma vez mostra todo seu talento. Outro grande destaque do longa metragem é a atuação fenomenal do ator suíço James Thierrée, neto de Charlie Chaplin. 

Na trama, conhecemos a trajetória de Rafael Padilha, um ex-escravo que nasceu em Cuba no ano de 1868 e foi vendido quando ainda era criança. Tentando sobreviver mesmo sem ter a documentação para viver na França, resolve embarcar no universo mágico do circo e assim após encontrar-se com George Footit (James Thierrée), um palhaço em franca decadência, resolvem juntos montar um espetáculo em dupla que é um tremendo sucesso num dos principais teatros de uma Paris que respirava grandes espetáculos. Mas nem tudo são flores na vida de Chocolat, seu vício em jogos e bebidas acabaram levando sua carreira de sucesso para um sofrimento sem limites. 

Por conta do dinheiro fácil ganho e seus vícios oriundos de má amizades que fez quando estava no clímax de sua carreira, Chocolate sofre bastante durante toda sua trajetória. Ingênuo e sem muitos amigos, encontra um porto seguro apenas quando está por perto de Footit. Quando resolve embarcar em uma trajetória solo, montando o espetáculo Otelo, de Shakespeare, Chocolate sofre durante e novamente com a questão do preconceito. Toda a trajetória é mostrada com eficiência e boas ligações entre um arco e outro. 

Nem mesmo quando o amor entra na história do artista sua vida entra em equilíbrio. Após uma tarde de autógrafos nas ruas de Paris, Chocolate conhece a linda enfermeira Marie Hecquet (Clotilde Hesme), mulher que o acompanha até sua prematura morte em 1917 causada por um desenvolvimento de uma tuberculose não combatida. Trazendo um paralelismo para a paixão de nosso país, a carreira de Chocolate é muito parecida com a de muitos ex-jogadores de futebol que nos bons momentos eram conhecidos, tinham fama e dinheiro mas que após o repentino sucesso , alguns, caíram no esquecimento e perderam quase tudo o que conquistaram. 

Com um orçamento de cerca de 18 milhões de dólares, Chocolate possui uma direção muito competente de Roschdy Zem além de atuações que transformam esse drama em um delicado e profundo retrato sobre o mundo artístico francês.  
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Crítica do filme: 'A Corte'



Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval. Escrito e dirigido pelo cineasta parisiense Christian Vincent (Os Sabores do Palácio), A Corte fala sobre a rigidez e postura de uma alma tímida e sem coragem para amar. Protagonizado pelo excelente Fabrice Luchini e com uma atuação delicada mas profunda da atriz dinamarquesa Sidse Babett Knudsen (Depois do Casamento) o filme deve conquistar o público cinéfilo facilmente. Um dos fatores mais intrigantes deste trabalho é o fato de ser difícil definir um gênero para o filme. Alguns vão falar que é um drama leve, outros vão dizer que é uma quase comédia romântica. O roteiro flutua em diversos gêneros e isso, sem dúvidas, é um dos méritos deste belo trabalho que compõe a seleção deste ano do Festival Varilux de Cinema Francês. 

Integrante dos seletos filmes do último Festival de Veneza, A Corte conta a história de um recluso e competente juiz, Michel Racine (Fabrice Luchini), que as vésperas de mais um júri popular, que deverá julgar um pai acusado de homicídio da filha, reencontra a enfermeira Ditte (Sidse Babett Knudsen), uma mulher com que o senhor juiz tem um passado de amor secreto e unilateral. Assim, ao longo dos intensos dias no tribunal Michel Recine precisará equilibrar toda sua emoção e continuar fazendo justiça. 

O que mais chama a atenção em toda a projeção é o desenvolvimento do protagonista feito maravilhosamente bem pelo experiente Fabrice Luchini. O Juiz Recine é odiado por muitos personagens mas com certeza se torna amado por grande parte do público. O fato do amor renascer em sua pacata vida leva o personagem a um curto e instantâneo período de transformação que acaba até melhorando sua vida profissional. Essa questão do amor não correspondido é muita bem inserida dentro da trama e conta com atuações acima da média para que a magia aconteça na tela.

A Corte não é uma história de amor, em muitos momentos é uma história narrada dentro de um tribunal mas onde essa questão jurídica é totalmente deixada em segundo plano.  Os diálogos entre Recine e Ditte são esplendorosos, conseguimos sentir angústia, ansiedade e muito carinho que brota entre os dois. A Corte poderia ser um seriado, daqueles que causam uma boa impressão logo de cara, e esse longa-metragem seu piloto. Os recortes de gêneros são feitos com muita harmonia e simpatia. Uma história de amor? Um drama? Um filme de tribunal? Tudo isso e muito mais neste belo trabalho.
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05/06/2016

Crítica do filme: 'Meu Rei'



Não quero que pense em mim sem motivos, mas que faça de mim o motivo dos seus pensamentos. Depois de dirigir o excelente Polissia, quatro anos atrás, a cineasta e atriz francesa Maïwenn volta para trás das câmeras dessa vez para dirigir um intenso drama que em pouco mais de 120 minutos de projeção encara a difícil missão de mostrar a vida de um casal com temperamentos diferentes que quando se juntam uma série de inconsequências acontece levado ambos a um extremo destrutivo. Impressionante a atuação da dupla de protagonistas, Emmanuelle Bercot venceu o prêmio de melhor atriz em Cannes em 2015 por esse papel.

Na trama, acompanhamos a trajetória de Tony (Emmanuelle Bercot) e Giorgio (Vincent Cassel), um casal que briga mais do que faz amor, muito por conta do jeito possessivo de ser do segundo. O filme traça e mostra um paralelo sempre na visão de Tony, onde no primeiro andamento está se recuperando de uma grave lesão ortopédica e paralelamente vamos conhecer sua história e todo o começo da relação conturbada com o futuro marido. O público acompanha de perto todo o trajeto dessa história que emociona e toca profundamente nossos corações. 

São duas visões completamente diferentes sobre o relacionamento. Georgio é um saudosista da liberdade, da inconsequência, ano após ano muda muito pouco mesmo que comece a entender melhor o mundo ao seu redor e sua família. Já Tony é a parte que mais sente todo o desenrolar da trajetória do casal. Antes uma confiante mulher, começa aos poucos a perceber que seu marido é um homem desequilibrado que em muitos momentos deixa seu lado egoísta dominar a relação dos dois. Tony sofre demais, explora suas tristezas mais profundas e tenta a todo tempo dar a volta por cima (a construção de desconstrução de Tony é feito com maestria por Bercot que mostra todo seu talento em cena), contando com a ajuda de seu irmão Solal (Louis Garrel), o único que percebe logo de cara que Georgio levaria sua irmã ao limite.

O paralelismo que acontece, mostrando duas fases na vida de Tony é uma das grandes sacadas do roteiro, escrito pela própria diretora e pela roteirista Etienne Comar. Impressionante como as duas fases se encontram no final fazendo tudo um grande sentido para o público entender mais profundamente todas as transformações que passou a protagonista. Meu Rei, que será exibido no Festival Varilux de Cinema Francês deste ano é uma pequena obra-prima que o cinema francês brinda todos nós cinéfilos. Bravo!
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04/06/2016

Crítica do filme: 'Lolo, o Filho da Minha Namorada'



O amor de mãe é o combustível que capacita um ser humano comum a fazer o impossível. Dirigido pela queridinha francesa que todos nós amamos Julie Delpy (Antes do Amanhecer), a comédia Lolo, o Filho da Minha Namorada é um típico filme da sessão da tarde com uma imersões estranhas ligadas a uma certa psicopatia doentia do filho da protagonista. O longa-metragem, longe de ser um drama como alguns podem falar, é modelado para ser uma comédia para tirar muitos risos, porém, a trama é fraca e acaba não se sustentando ao longo dos sonolentos 99 minutos de projeção.

Na trama, acompanhamos a elegante, chique e bela quarentona Violette (Julie Delpy), uma produtora de eventos de Moda que mora em Paris. Certo dia, de férias no sul da França, acaba conhecendo o ‘hacker’ Jean René (Dany Boon), um homem que vive uma vida simples mas que está de mudança para a capital francesa. Logo, inicia-se um amor entre os dois. Quem não gosta nada disse é Lolo (Vincent Lacoste), o filho mimado de Violette, um jovem inconsequente e totalmente obsessivo na relação mãe e filho. Assim, lutando contra Lolo, Jean Rene precisará ter muita paciência para conseguir viver feliz ao lado do grande amor de sua vida.  

Há uma certa camuflagem na apresentação dos personagens. Violette, por exemplo, se mostra firme e confiança no início do filme mas quando vemos a relação exagerada dela com o filho percebemos uma imaturidade ingênua, que é por pouco tempo explorada pela trama. Já Lolo, de filhinho querido da mamãe, vira um psicopata igual a de filmes de suspense. O único que se mantém bastante original é Jean René, pacato, humilde e amoroso o personagem tenta levar o filme nas costas e até consegue por boa parte da projeção. Mas os exageros que o roteiro comete, nas situações que passam os personagens, atrapalham demais e incomodam muito. O filme se mantém em uma linha reta, veste a camisa de ser uma trama artificial e sem graça. 

Lançado em outubro do ano passado na França, Lolo, o Filho da Minha Namorada é uma água com bastante açúcar, completamente esquecível logo assim que dobramos a esquina na saída do cinema.
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