24/12/2016

Crítica do filme: 'Other People'



Não precisamos ser perfeitos o tempo todo para que nossas famílias nos amem. Debutante em longas metragens, o cineasta Chris Kelly, dirige e assina o roteiro deste belíssimo filme que explora com muita simpatia assuntos tabus de uma família de classe média norte americana. Other People é um grande aulão sobre os muitos lados das emoções, um filme rico em conteúdo, corajoso que faz questão de expor as polêmicas como forma de refletirmos sobre os temas abordados. O projeto conta com uma atuação espetacular da veterana atriz Molly Shannon que nos emociona do início ao fim com sua impactante personagem. 

Na trama, conhecemos o roteirista, sem grande sucesso, David (Jesse Plemons), um jovem que mora em nova Iorque e precisa voltar para a cidade que nasceu, em Sacramento, por conta de uma grave doença de sua mãe Joanne (Molly Shannon). Tendo que voltar a morar na casa onde foi criado, e tendo que enfrentar suas diferenças com seu pai, David passará meses tentando se redescobrir e renovando seu amor por sua família. Ao longo dos 97 minutos de projeção somos testemunhas de uma pequena grande história sobre as formas de demonstrar o amor familiar.

Indicado em quatro categorias do Independent Spirit Awards 2017, Other People é aquela surpresa que todos nós cinéfilos gostamos de encontrar. Atualmente no ótimo catálogo da Netflix, o filme explora com muita sabedoria as principais características de seus personagens que ficam envolvidos em uma situação de muita tristeza com a doença da mãe. Como cada um deles lida com isso (com um foco gigante na visão de David), o filme nos envolve com embates via diálogos primorosos e lições de vida que levamos para nossas próprias vidas. A atuação de Molly Shannon, que faz a mãe, é deslumbrante, uma das mais impactantes do ano.

Other People concorreu ao Grande Prêmio do Júri no importante Festival de Sundance 2016 e dificilmente chegará aos cinemas brasileiros. Se você tiver a chance de assistir a esse belo trabalho, não deixe de conferir. O amor transborda em forma de perdão e esperança. Lindo filme!
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23/12/2016

Crítica do filme: 'Belos Sonhos'

Tudo aquilo que sou, ou pretendo ser, devo a um anjo, minha mãe. Filme de abertura da última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a co-produção Itália/França dirigida pelo marcante cineasta italiano Marco Bellocchio é um daqueles filmes que conseguem chegar bem fundo em nossas emoções, trazendo um encanto de poesia na relação impactante de um filho com as lembranças de sua mãe.  Profundo, elegante, emotivo, a produção passa com louvor na avaliação criteriosa dos corações cinéfilos, principalmente aos que percebem uma analogia extraordinária entre seu enredo e uma letra famosa escrita por Renato Russo anos atrás. Belos Sonhos é sem dúvidas um dos mais belos e honestos filmes desse ano que termina.

Baseado no livro Fai Bei Sogni, de Massimo Gramellini, Belos Sonhos, distribuído pelas Mares Filmes no Brasil, conta a história de Massimo, um amante do futebol que tempos mais tarde vira jornalista de um importante jornal que possui um grande trauma, quase uma lacuna não preenchida sobre as lembranças que cercam o falecimento de sua mãe quando Massimo era apenas uma criança. Percorrendo uma linha do tempo que vai e volta, no melhor estilo Bellochio, vamos juntando aos poucos o complexo quebra cabeça da trajetória emocional de Massimo com muitas surpresas e momentos de redenções ao longo dos emocionantes 134 minutos de projeção.

Dorme agora, é só o vento lá fora. O roteiro explora com louvor toda a tempestade de lembranças que passa o protagonista ao longo de sua tumultuada trajetória de vida. Desde a infância e os momentos dançantes com sua mãe, até os horrores da guerra vistas de uma maneira bastante profunda.  O trabalho do ator italiano Valerio Mastandrea (o Michael Fassbender da Itália), que interpreta Massimo em sua fase adulta, é irretocável, passa uma pureza no olhar que impressiona. O espectador sai do filme sabendo que assistiu a uma baita atuação.

Me diz, por que que o céu é azul? Explica a grande fúria do mundo! Os embates cheio de cargas emocionais entre o pequeno Massimo e o religioso que lhe ensinava na escola sobre a origem das coisas é muito interessante e traça um paralelo certeiro com a história de vida do menino. Há uma saudade que ele sente de tudo que ele ainda não viu.

Você diz que seus pais não entendem, mas você não entende seus pais. Um dos mais marcantes clímax que possui a película, o reencontro do protagonista com seu pai em uma reunião simbólica para lembrar de jogadores de futebol do time do Torino que morreram em uma trágico acidente aéreo anos atrás. Já mais velhos e mais calejados pela vida, o desabafo do pai ao filho ao falar sem mistérios sobre sua mãe, é bastante emocionante e toda a emoção contida nessas fortes sequências mexem muito com quem possui fortes ligações com a família.


É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. O filme é tão bem realizado que prepara o espectador para um gran finale repleto de sentimentos guardados e que precisavam escapar para que o protagonista seguisse em frente com sua vida. Lindos momentos, reflexões sobre sua vida. Nesse final de ano, sendo uma gota d'água ou um grão de areia, veja esse filme e corra para abraçar as pessoas que você ama.
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21/12/2016

Crítica do filme: 'Army of One'

Dos mesmos produtores do polêmico Borat, Army of One, que estreou nos Estados Unidos no final desse ano e ainda sem previsão para desembarcar no Brasil, é mais um daqueles filmes sem noção que hollywood produz com bastante quantidade faz anos, protagonizado pelo veterano ator ganhador do Oscar Nicolas Cage.  O filme, incrivelmente, é baseado em fatos reais e o roteiro foi baseado em um artigo homônimo publicado na revista GQ pelo jornalista Chris Heath. Toda a fábula criada e transformada em cinema é uma grande chatice, quase um presente de natal que nenhum cinéfilo quer ganhar. O projeto tem grandes chances de aparecer na lista de indicados do próximo Framboesa de Ouro.

Na trama, conhecemos o ingênuo e faz nada Gary Faulkner (Nicolas Cage) um ser humano muito louco que vaga pela vida buscando encontrar seu caminho. Quando começa a ver Deus (Russell Brand) em carne e osso, acaba recebendo uma missão: capturar Osama Bin Laden e fazer uma incrível viagem ao Paquistão para cumprir seus objetivos.  Somente com uma espada de samurai que compra a partir de um comercial de televisão no melhor estilo polishop, Faulkner viverá experiências diferentes e uma grande troca cultural durante seu trajeto.

Cheio de caras e bocas, escrachado, completamente sem noção. O protagonista é uma alma perturbada, desempregado, inconsequente que persegue um objetivo vindo diretamente de Deus na forma de Russel Brand. O roteiro assinado por Rajiv Joseph e Scott Rothman dá um monte de voltas e não chega a lugar nenhum, foca nas bizarrices de seu personagem principal e seus loucos diálogos com Deus e apresenta muito pouca profundidade na subtrama amorosa entre Faulkner e uma conhecida que se reaproxima dele Marci (Wendi McLendon-Covey). O projeto até tem momentos engraçados mas não consegue convencer como filme.


O arco inicial é extremamente chato. Nos arcos finais o filme se transforma em uma completa aventura desenfreada, com alguns momentos que fazem rir mas que flerta fortemente com o absurdo a todo instante, o que incomoda. Entrando em um filme atrás do outro, Nicolas Cage continua a transformar sua carreira em um grande Titanic.
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20/12/2016

Crítica do filme: 'Morgan'

O conforto pode ser um obstáculo para quem busca as verdades. Escrito pelo quase novato roteirista Seth W. Owen, e dirigido pelo estreante em longas metragem Luke Scott (filho de Ridley Scott, que produz o filme), o suspense com elementos de ficção científica Morgan é um filme que tenta se sustentar na psicologia das emoções para contar uma história que envolve pontos polêmicos embalados em tonas de sci-fi. Pena que o roteiro não se torna envolvente, sobrando apenas as razões da emoção da curiosidade para chegarmos até o fim do filme sem dormir.  O filme, analisando com profundidade, se assemelha em alguns pontos a produção A Experiência (1995).

Na trama, conhecemos brevemente a consultora do departamento de gestão de riscos de uma empresa de tecnologia Lee Weathers (Kate Mara) que foi designada a resolver um incidente em uma área de isolamento que toma conta de uma experiência. Desconfiando de tudo o que confronta em relação a ideias e modos de operação, Lee embarcará em uma jornada repleta de tensão e com muitas surpresas.

Mesmo tendo os ótimos Paul Giamatti e Toby Jones no elenco o filme não convence. O clima misterioso que usa da tecnologia para buscar uma personalidade sci fi não é explorado com profundidade deixando toda a trama muito confusa. O instinto de sobrevivência, a experiência que deu errado, a relação de todos os envolvidos nesse projeto, o filme tinha ótimas chances de agradar mas as peças desse quebra-cabeça não conseguem se conectar, é como que se em cada sequências faltasse alguma coisa para nos deixar interessado na trama.


O filme, que estreou em setembro nos cinemas norte americanos, deve chegar ao Brasil apenas em 2017. É uma produção pouco envolvente, cheio de falhas nas tentativas de se tornar um blockbuster ou pelo menos um filme convincente.
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Crítica do filme: 'O Lar das Crianças Peculiares'

Expectativas são sempre angustiantes, mas a realidade pode corresponder à nossa fantasia, às vezes. Baseado no livro O Orfanato da Srta. Peregrine, de Ransom Riggs. o novo trabalho do mago da peculiaridade Tim Burton chegou aos cinemas brasileiros em setembro desse ano com a promessa de conquistar uma legião de fãs do famoso cineasta. O Lar das Crianças Peculiares é um trabalho que mostra a marca desse incrível diretor e sua arte de dar vida a seres inusitados que exalam carisma em cada cena.

Na trama, conhecemos o jovem Jacob (Asa Butterfield), um adolescente que após uma impactante tragédia ocorrida com seu avô em barca em uma aventura para descobrir as respostas de alguns mistérios cheios de lacunas. Assim, embarca com o pai até uma região remota do País de Gales à procura do desconhecido Orfanato da Srta. Peregrine para crianças Peculiares. O que ele não esperava era encontrar um incrível universo cheio de poderes especiais, fendas que estabilizam o tempo e personagens inesquecíveis.

A arte de trabalhar com o sobrenatural e as ramificações oriundas da leveza do ser humano é uma das marcas desse incrível projeto. Burton se supera mais uma vez, preenche os elementos técnicos do filme com muita sabedoria, dá voz a alma de todos os personagens, impressionante como conseguimos nos conectar com a trama a cada segundo. Os movimentos inusitados que o roteiro feito por Jane Goldman (que participou das equipes de dois filmes da franquia X-Men) aborda se tornam um grande canal de conexão com o espectador.


Ao longo dos 127 minutos de projeção, nos sentimos em um grande jogo de RPG, onde cada rodada novos personagens ficam mais fortes e surpresas pelo caminho são eminentes. O Lar das Crianças Peculiares não é o melhor filme de Tim Burton mas é uma aventura que entra para a galeria de personagens incríveis que só um diretor como Burton consegue dar vida sempre em torno de uma poesia melodramática dark que se torna sempre diferente de tudo que já vimos.
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