14/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #93 - Karina Massud


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistada de hoje é cinéfila, professora de inglês e redatora do site Papo de Cinemateca (https://www.papodecinemateca.com.br/). Karina Massud é formada em Direito. Também é apresentadora e roteirista do programa PipoKa na Do Vale TV, comentarista da rádio Jovem Pan e colunista do jornal In Foco Avaré.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Avaré: Cine Uniplex, pela variedade de programação e conforto do local.

São Paulo: Itaú Cultural, Reserva Cultural, Cinemark, Petra Belas Artes - cinemas que nos proporcionam programação que vai do blockbuster ao cult, conforto e ambiente agradável pros cinéfilosl

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Em 1978, eu tinha 5 anos e meu pai me levou pela primeira vez ao cinema, fomos ver Superman - O Filme, fiquei fascinada e nasceu ali essa cinéfila que vos fala!

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Francis Ford Coppola - O Poderoso Chefão

Quentin Tarantino - Pulp Fiction

Ingmar Bergman - O Sétimo Selo

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Carlota Joaquina, Princesa do Brasil, direção da Carla Camurati, porque foi depois dele que comecei a ver o cinema nacional com outros olhos.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinéfilo é um apaixonado e viciado, aquele que não só consome muuuitos filmes, mas que faz do cinema parte da sua vida. A paixão sempre vai além das telonas e traz uma experiência sensorial a cada nova produção, renovando o tesão pela sétima arte!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maioria das programações são feitas por pessoas que não entendem de cinema, mas de marketing e contabilidade, pois infelizmente os blockbusters tem ocupado a maior parte das salas, tirando a chance de filmes menores serem exibidos.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Jamais!!! Ir a uma sala de cinema é uma experiência única: a telona, som e imagem de alta definição, a pipoca dourada e o clima que existem lá são inigualáveis. Quando surgiu o vídeo cassete falaram que os cinemas acabariam, idem quando a Netflix foi inventada, disseram que os serviços de streaming iriam levar os cinemas à extinção. Talvez hoje ir ao cinema não seja um programa tão banal quanto foi há algumas décadas atrás, pelo preço e facilidade de se ver filmes em casa, no entanto continua sendo um programa sensacional para todos os tipos de público.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Lady MacBeth, filme de 2016 adaptado do romance do escritor russo Nicolai Leskov. Um drama de época visceral, com suspense psicológico de primeiríssima e um final arrebatador. Passou despercebido do grande público, por isso digo: Assistam!!!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim, já estão abrindo em alguns países onde a pandemia já está mais controlada, com os devidos cuidados é possível receber um público reduzido e tentar salvar as salas que ainda não faliram.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Excepcional!!! Temos produções de todos os gêneros de altíssima qualidade, uma pena que a distribuição seja sofrida e boa parte do público não tenha a oportunidade de conferir a maioria dos filmes nacionais lançados.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernanda Montenegro.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é paixão e vício, é arte, diversão, informação e cultura.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Certa vez fui com uma a uma sessão onde a sala estava bem vazia, sentamos numa das últimas fileiras. Era um tempo onde os ingressos não tinham lugar demarcado, aí chegou uma senhora e começou a contar as poltronas, ela então nos pediu para mudar de fileira porque ela sempre sentada na exata poltrona que ficava no meio, tinha essa mania, TOC (transtorno obsessivo compulsivo) e por isso sempre ia a sessões vazias. Que bom que depois disso os ingressos passaram a ser numerados!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Afe! Tá na lista do "Não vi nem verei!"

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não obrigatoriamente mas seria bom que fosse, pois só se tem referências vendo muitos filmes.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Foram muitos mas eu procuro deletar e guardar só coisas boas! Um dos últimos foi Calmaria (2019), fujam dele!!!

 

17) Qual seu documentário preferido?

São tantos, amo documentários!! Vou citar os mais recentes que me marcaram: The Cave, Honeyland e What Happened ,Miss Simone?

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim!!!! Recentemente para Parasita e Bohemian Rhapsody.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Despedida em Las Vegas.

 

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13/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #92 - Ibirá Machado


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é o geógrafo mais cinéfilo que eu conheço! Ibirá Machado trabalha desde 2010 com distribuição de cinema independente, quando produziu o lançamento do filme Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano, primeiro longa-metragem de Beatriz Seigner. Depois, entrou na Vitrine Filmes no ano de sua fundação, onde coordenou o lançamento de mais de 30 filmes, incluindo O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, Frances Ha, de Noah Baumbach, e Las Acacias, de Pablo Giorgelli. Com a experiência acumulada e a vontade de abrir mais espaço para a pluralidade de narrativas, fundou a Descoloniza Filmes em 2017.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Resposta complicada essa, por sorte São Paulo tem uma oferta boa de salas com boa programação. E com cada uma eu tenho um carinho específico.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Na verdade, foi o primeiro filme que assisti no cinema e a memória ficou, que foi O Cristal Encantado, quando eu tinha 3 anos. O filme é feito com bonecos em live action, totalmente num mundo imaginário, porém mais realista do que fosse uma animação, por exemplo, e na época ainda não existia a computação gráfica. Então ficou bem fundo em mim esse lugar do cinema como ferramenta de criação de mundos possíveis, de reflexão sobre nosso próprio mundo.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Também não sei responder essa pergunta, sou aquariano demais pra me fixar em um nome rs, até porque tenho fases. Mas talvez o maior êxtase que eu já tenha tido foi assistindo Satantango, do Béla Tarr, no Cinesesc.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Também muito difícil responder rs.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É olhar para o cinema enquanto o mais eficaz meio que temos disponível até o momento para criar universos, mesmo quando se tratando de documentários. É se entregar às possibilidades de relação entre enquadramento e edição, oferecendo perspectivas tanto de olhar, quanto de narrativas.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Até acredito que sim, em maior ou menor nível. O problema de todo programador não é do programador, mas da obrigação de mercado.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não. A sala de cinema é o único lugar para criar a experiência imersiva absoluta.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Que se Move, do Caetano Gotardo, foi muito pouco visto e quem viu se dividiu em polêmica. E eu cito especificamente esse filme não só porque me tocou muito fundo, mas também porque meu caminho enquanto distribuidor passa pelo cinema indiano, que tem uma cinematografia muitíssimo incompreendida ao trazer para esse formato o intervalo musical, que é um recurso típico da narrativa dos contadores de histórias de vários lugares do mundo - e inclusive era totalmente presente na dramaturgia grega, de onde o ocidente herdou a jornada do herói, mas abandonou esse recurso.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Até acho que sim, respeitando os protocolos.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sinto que estamos em um nível excepcional e é só o começo de um processo de amadurecimento que nem a fase atual irá atrapalhar.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Faço questão de acompanhar vários, não posso citar um.

 

12) Defina cinema com uma frase:

A arte de criar universos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não é exatamente inusitada, mas lembro de assistir Dançando no Escuro numa retrospectiva do Lars Von Trier na Cinemateca, e no final tinha uma mulher chorando tanto que várias pessoas se juntaram para ajudá-la, trazer água, e levou um bom tempo pra ela se acalmar.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Hahahahahahahahahahahahahahahaha.

 

15) Você como excelente profissional do audiovisual trabalhando com distribuidora, acha que está cada vez mais difícil colocar um filme em cartaz nas salas de cinema?

Sim, bem difícil, mas isso é um reflexo da aumenta de oferta, o que é um resultado positivo. O mais árduo nesse processo é a formação de público, garantir que o público do cinema independente cresça junto da oferta, de forma a garantir também o aumento das salas disponíveis para programar esse tipo de cinema. Em experiências pelo mundo, geralmente isso é acompanhado de políticas públicas contundentes.

 

16) Qual o pior filme que viu na vida?

Um Homem Comum.

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12/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #91 - Marcos Craveiro


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cineasta, formado em publicidade pela PUC / Campinas em 1980. Marcos Craveiro já filmou vários filmes em super-8 nos anos 70, incluindo o documentário Close-Up: Regina Duarte; Portfolio (1978) e Marilia Pera - Bewitched (1979). Ele também já filmou centenas de comerciais de TV. Participou de três cursos de roteiro e cinematografia com o renomado diretor Robert Wise em seus estúdios nos Sunset Gower Studios (anteriormente Columbia Pictures Studios) nos EUA, respectivamente em 1980, 1983 e 1985.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

KINOPLEX - IMAX Som e imagem nota 10.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Canção do Sul, da Disney (relançamento dos anos 70).

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Steven Spielberg - Caçadores da Arca Perdida.

 

4) O que é ser cinéfilo para você?

Ir no cinema (muito) e ver filmes em casa também!

 

5) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Sim.

 

6)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não.

 

7) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Across the Universe.

8) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

SIM.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Muito boa e cada vez mais digna no mercado mundial.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Paulo Gustavo.

 

12) Defina cinema com uma frase:

MAIOR INVENÇÃO DE TODOS OS TEMPOS.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Levei um tapa ao beijar minha primeira namorada na sala!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras..

Não assisti!

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

SIM.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O Último Tango em Paris.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Everest, do IMAX.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Sim. O Rei do Show, com Hugh Jackman.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

60 Segundos.

 

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11/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #90 - Igor Nolasco


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo e um grande estudioso do cinema brasileiro. Igor Nolasco é graduando em Cinema e Audiovisual na ESPM Rio. É diretor e roteirista de filmes em curta-metragem, crítico de cinema no portal Plano Aberto, colunista na revista Badaró e no portal Quinquilharia. Também é colaborador da revista Contrabando.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O Cine Arte UFF é imbatível nesse sentido. Rua Miguel de Frias, em frente à praia de Icaraí. Sua programação merece destaque pela diversidade e pela qualidade. Já vi de tudo lá. Filmes de maior apelo comercial, que geralmente são exibidos nos grandes circuitos multiplex, como Homem-Aranha no Aranhaverso e Viva: A Vida É Uma Festa, e filmes que tiveram pouquíssimas janelas de exibição fora das grandes capitais, como A Moça do Calendário e Antes o Tempo Não Acabava.

Niterói é uma cidade que vive à sombra do Rio de Janeiro em muitos sentidos, então nem sempre os filmes que passam em salas como o Espaço Itaú e o Estação Botafogo chegam aqui. O Cine Arte UFF é a melhor janela que Niterói tem, nesse sentido. É um cinema relativamente pequeno, apenas uma sala, feita no prédio do antigo Cassino Icaraí. Fundado, inclusive, pelo grande Nelson Pereira dos Santos. Os programadores de lá precisam encaixar uma variedade imensa de títulos dentro da rotina de apenas uma sala. É um trabalho árduo.

Tive grandes momentos na sala do Cine Arte UFF. Vi grandes filmes. Mostras com os filmes de Glauber Rocha, Ingmar Bergman, Nelson Pereira dos Santos. Exibições 35mm de Lavoura Arcaica, Rio, Zona Norte, Boca de Ouro, Memórias do Cárcere. Sessões de Nosferatu, A General e Metrópolis com acompanhamento musical feito ao vivo por orquestras. Sessões incríveis, que guardo com muito carinho em minha memória.

O Paulo Máttar e a equipe do Cine Arte UFF merecem toda a gratidão da cinefilia da cidade. É preciso ressaltar que é um cinema público, mantido pela Universidade Federal Fluminense. Isso é muito importante. Os ingressos são os mais baratos da cidade.

 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Difícil dizer. Tive muitos momentos marcantes envolvendo cinema, conheci minha companheira convidando-a para uma sessão de La Strada, por exemplo. Não foi uma ideia muito inteligente, saímos do filme arrasados com o baque que é aquele filme agridoce do Fellini. Mas acabamos ficando juntos.

Muitas sessões me marcaram desde a infância, mas acho que uma sessão que realmente me fez repensar o quanto o espaço da sala de cinema pode acrescentar enquanto uma grande experiência espectatorial foi a de Apocalypse Now, que assisti no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro.

Fui com dois amigos. Ao fim da sessão, todos – não só nós três, todos os presentes mesmo – estavam profundamente abatidos. Ninguém pegando o celular pra ver mensagem, ninguém pegando a bolsa e saindo, ninguém conversando com o amigo ao lado sobre qual bar ir para conversar sobre o filme. Todos de cabeça baixa, o olhar pesado enquanto os créditos finais rolavam e as luzes se acendiam. Foi ali que percebi que cinema é um lugar diferente.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não sei se, hoje em dia, tenho um diretor favorito. Mas se for para citar um cineasta e um filme dele pra ilustrar meu gosto, fico com Nelson Pereira dos Santos e sua obra-prima "Rio, Zona Norte".

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Eu teria que responder, novamente, Rio, Zona Norte. É um marco no nosso cinema. O que o Nelson faz aqui é único. Ele joga uma luz sobre uma questão flagrante da indústria cultural brasileira: a arte legítima, feita pelo popular, pelo intelectual orgânico (e no caso do filme, com o samba, feita pela população negra, periférica) é tomada de assalto pelo mercado, representado por empresários astuciosos e mal intencionados, destituída de quem a criou e vendida de forma higienizada e massificada.

O Nelson faz tudo isso com um poder nas imagens, dentro de um estilo que o Glauber Rocha viria a chamar de "neorrealismo carioca", e conta com uma performance belíssima do Grande Otelo, que atuava como ninguém tanto em comédia quanto em drama. Tem sequências inesquecíveis, como o momento no qual o personagem do Grande Otelo escuta um samba que escreveu, tendo como base uma tragédia pessoal, sendo cantado pela Ângela Maria, que interpreta a si mesma no filme. Sublime.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É sempre estar buscando se aprofundar naquilo que você ama, se aprofundar no cinema. Sair da superfície. A superfície é ótima, nada contra um blockbuster bem feito. Mas é um tipo de cinema que domina o parque exibidor (e o gosto de quem frequenta o parque exibidor, por consequência). Se você vai no cinema multiplex da sua cidade e lá só passa filmes de Hollywood com orçamentos de milhões de dólares, é só isso o que você vai ver, seu gosto vai ser voltado para isso e ditado por isso. De certa forma acho que o amor pelo cinema estimula o espectador a buscar mais.

Desenvolver uma vontade de me aprofundar no cinema brasileiro foi algo que sinto que me ajudou muito nesse sentido. Conhecer a história cinemática do país ao qual pertenço, descobrir cineastas brasileiros geniais e os grandes filmes feitos por eles. Mas não é só isso, lógico.

Eu amo cinema brasileiro. Sou crítico de cinema, e enquanto crítico, escrevo apenas sobre filmes nacionais, porque sinto que há uma lacuna na crítica em relação ao cinema brasileiro. Tem críticos que escrevem textos excelentes sobre cinema brasileiro, como o Filipe Furtado, mas sinto que a maioria da crítica ainda se interessa mais pelo cinema da Europa ocidental, por Hong Kong, pela Coréia e pelo cinema independente estadunidense. Nada de errado com isso, lógico, todos esses lugares são expoentes de grandes filmes. Mas pessoalmente, prefiro olhar para o que está por aqui, no Brasil.

Com isso você acaba tendo mais espaço pra escrever. Se você quer escrever sobre Orson Welles, por exemplo, você vai estar escrevendo sobre um assunto saturado. Há um quantidade incalculável de escritos sobre Orson Welles, sobre todos os aspectos de sua obra; escritos em todas as línguas modernas conhecidas pelo homem. Agora, pegando um diretor brasileiro que era obcecado pelo Welles, que é o Rogério Sganzerla. É um cineasta bem conhecido, muito já foi escrito sobre ele. Mas não tem comparação o número de textos, livros, sobre Orson Welles e sobre Rogério Sganzerla. Se você escreve sobre Sganzerla, tem mais chance de estar escrevendo algo digno de nota, de estar elaborando alguma visão acerca de sua obra ainda não expressada em texto, de estar fazendo alguma observação nova, do que se você escrever sobre Welles.

Mas não vejo só filmes brasileiros. Ver só filmes brasileiros seria outra forma de me limitar. Então tento assistir de tudo, me aprofundar em tudo o que está ao meu alcance e dentro do meu interesse. Cinema de múltiplos países, feito por múltiplos diretores, filmes de múltiplas épocas. Acho que o amor pelo cinema, no fim das contas, é isso. É a celebração da variedade de visões dentro de uma mesma arte, e a paixão de descobrir essas visões.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

"Entender de cinema" é muito relativo. Olha, vou dizer a impressão que eu tenho. Eu acho que os programadores de cinema, em geral, são pessoas que precisam ter um olhar mercadológico muito forte acerca das atividades de uma sala de cinema, porque querendo ou não a sala de cinema é um negócio. Custa caro. Luz, ar-condicionado, pessoal, aluguel do espaço, tudo. No que se refere a bilheteria, uma parte considerável do dinheiro que entra não vai para quem mantém a sala, mas sim para as companhias que disponibilizam os filmes. Um cinema multiplex de shopping center se sustenta não por bilheteria, mas pelos combos de pipoca e refrigerante sendo vendidos a preços exorbitantes nas bombonieres e coisas do gênero.

Dessa forma, as pessoas que estão por trás do multiplex precisam de muita gente no cinema para que ele seja um negócio rentável. E como é que fazem isso? Programando os filmes que dão mais público, lógico. A conta é simples. Mesmo quem busca se aprofundar no cinema para além da superfície precisa entender isso. O cinema precisa se bancar. Se um multiplex de shopping exibir só os filmes de um cinema dito "de arte" como o Estação Botafogo e o Espaço Itaú do Rio de Janeiro passam, ele fecha as portas em dois meses. O multiplex lida com um público mais diverso, um público mais geral, enquanto o cinema "de arte" lida com um público de nicho. Mercadologicamente falando, os cinemas "de arte" são bem menos rentáveis, todo mundo sabe disso.

No fim das contas, acho que tentar traçar um perfil para o programador de cinema com base no que é exibido nas salas não é muito efetivo. Um programador de multiplex pode ser apaixonado por cinema. Pode ter Lav Diaz e James Benning como seus diretores favoritos. Nada disso importa, porque se ele exibir exclusivamente o tipo de filme que ele gosta ali, o negócio dele não rende, e precisa render, porque no fim do mês as contas chegam. As contas são irredutíveis e não se importam com o seu gosto pessoal. Essa é a dura realidade.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

De maneira alguma. Pode ser que acabem para o público geral, no sentido que conhecemos hoje, salas multiplex que exibem estreias da semana. A cultura da sala de cinema, no entanto sempre continuará entre grupos de nicho. Entre quem tem interesse em se aprofundar mais no cinema, prevalece a cultura da espectatorialidade coletiva, da experiência de se assistir a um filme e debatê-lo. Seguindo esse raciocínio, os cinemas ditos "de arte" e as cinematecas continuariam mesmo com o fim das redes multiplex, enquanto houver cinema nos moldes tradicionais.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Jardim de Guerra. É o primeiro longa-metragem do Neville D'Almeida, que é um cineasta brasileiro genial. O filme foi lançado em 1968, e a versão que existe disponível por aí infelizmente foi objeto de uma série de cortes por parte da Censura da ditadura militar. Ainda assim, essa subtração de trechos não tira do filme o seu poder, suas virtudes em linguagem e em discurso, mesmo que as partes mais diretas nesse sentido tenham sido cortadas.

Tive a oportunidade de assistir a versão sem cortes do filme em uma sessão na Cinemateca do MAM. Cópia 35mm, a única que sobreviveu à Censura. É um dos filmes da minha vida.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho o cinema brasileiro um dos melhores cinemas do mundo, tanto historicamente quanto atualmente. Hoje a produção é mais diversa, proveniente de diversos pontos do Brasil, que é um país imenso, continental.

O cinema brasileiro como o conhecemos atualmente, institucionalizado e amparado por políticas públicas, já está aí há quase vinte anos. A Agência Nacional do Cinema tem quase vinte anos. Ainda assim, apenas nesse ano, 2020, o estado de Alagoas lançou o seu primeiro longa-metragem feito por um edital, que é o Cavalo, de Rafhael Barbosa e Werner Salles.

Dentre as primeiras tentativas de se fazer cinema no Brasil, tivemos filmes feitos em Pelotas, Recife e Cataguases, por exemplo, que são lugares pouco óbvios. Isso durante o que hoje é definido como o período dos "ciclos regionais". Depois disso, com as tentativas de se fazer cinema de estúdio no Brasil, espelhando-se em Hollywood, porém com muito menos dinheiro, o cinema brasileiro acabou fincando suas raízes nas duas capitais financeiras do país, que são Rio e São Paulo. Isso ocorreu porque, querendo ou não, era onde tinha gente com capital pra bancar tentativas de se fazer filmes no Brasil, que era uma tarefa inglória, com pouco ou nenhum retorno.

Por mais que o Cinema Novo, que era um tipo de cinema feito sob uma lógica de produção completamente oposta ao cinema de estúdio, estendesse seus membros para além do eixo Rio-SP, ele ainda era centrado no Rio de Janeiro. O Nelson Pereira dos Santos costumava dizer que "Cinema Novo é quando o Glauber [Rocha] está no Rio". Mesmo depois dos anos 1960 essa centralização em Rio-SP perdurou. Nunca se deixou de se fazer bom cinema ao redor do Brasil, mas era incontornavelmente um cinema feito com menos dinheiro e que chegava a menos gente.

Essa barreira só foi ser superada a partir do período que hoje chamamos de "retomada", entre o final dos anos 1990 e o começo dos anos 2000, com a criação de leis de incentivo, políticas públicas, editais. Isso pluralizou muito a produção. Os filmes brasileiros que passam em circuito hoje são fruto disso. São filmes que ganham o Brasil e o exterior, nos festivais internacionais. O cinema brasileiro contemporâneo, em toda a sua pluralidade, ainda não penetra de forma tão significativa no parque exibidor massificado de seu próprio país, porque infelizmente este está sujeito à lógica mercadológica do multiplex. Por causa disso, o filme acaba sendo menos distribuído e menos visto, uma consequência triste, porém real.

Distribuição e exibição são problemas seculares do cinema brasileiro. Não há resolução fácil para esses problemas. Qualitativamente, no entanto, o cinema brasileiro vai muito, muito bem. Temos cineastas e filmes incríveis.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Neville D'Almeida e Julio Bressane são dois cineastas brasileiros com décadas de carreira que continuam, dentro do possível, trabalhando em novos projetos. Sou obcecado por ambos. Assisti a tudo deles que esteve ao meu alcance.

O último filme do Bressane, inclusive, foi exibido em pouquíssimos lugares. É o Nietzsche Sils Maria Rochedo de Surlej. Passou no Festival Ecrã de 2019, na Cinemateca do MAM, e eu fui lá ver o filme do Bressane. Ele já está com um filme novo encaminhado; ao que parece o Bressane fez a sua versão de Dom Casmurro, que deve sair em algum momento entre 2021 e 2022. Assim que for possível, assistirei.

O Neville D'Almeida quer filmar O Anti-Nelson Rodrigues. É a penúltima peça do Nelson, o maior dramaturgo que esse país já teve. Neville tem uma história com Nelson Rodrigues, porque já adaptou duas obras dele antes: a peça Os Sete Gatinhos e o conto A Dama do Lotação. A obra do Neville como um todo me desperta muito interesse, pra além de suas adaptações rodrigueanas.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é o conjunto de possibilidades, discursos, ideias e principalmente imagens e sons que se desenvolve entre o início e o fim da projeção.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Sessão de Divino Amor no Cine Arte UFF. Alguns pais e mães estavam na sala com suas crianças. É um filme que não desperta muito interesse ao público infantil, então naturalmente as crianças ficaram um pouco dispersas. Mesmo com isso, elas não estavam fazendo muito barulho, pessoalmente não me causavam incômodo algum.

Algumas pessoas ali presentes não compartilhavam da minha opinião, porque eventualmente começaram a gritar de forma recriminatória no meio da sessão, direcionando críticas aos pais das crianças. Estes, evidentemente, rebatiam também em voz alta. Se instaurou um bate boca enquanto o filme seguia sendo exibido em tela, inclusive já se encaminhando para o final.

A discussão dificultava bastante o entendimento do filme. Em certos momentos, me peguei fazendo leitura labial nos personagens para poder captar as falas. Após o fim da sessão, na saída, o clima era de guerra fria.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Adaptação brasileira pra uma clássica fábula estrangeira. Acho louvável, deveria ser mais feito.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que para dirigir bem a pessoa precisa ser criativa. Criatividade não está necessariamente atrelada a uma cultura cinéfila. O pioneiro Georges Méliès não tinha uma cultura cinematográfica forte, porque ele evidentemente começou a filmar em um momento no qual o cinema ainda estava engatinhando enquanto arte. Toda a sua mise-en-scène foi construída com base no teatro, nos truques de ilusionismo e na literatura fantástica europeia, e o cinema dele funciona maravilhosamente.

Lógico que as condições de um aspirante a cineasta em 2020 são bem diferentes das condições nas quais o Méliès estava inserido. Acho, sim, que uma cultura cinematográfica é um alicerce benéfico para a construção de um grande cineasta. Não só cinefilia propriamente dita, mas o estudo da teoria do cinema e da crítica de cinema também.

Por mais que eu considere tudo isso uma série de fatores de grande ajuda para a formação de um diretor, não afirmo que são fundamentais. Fundamental é a visão do diretor, sua percepção acerca da imagem e da linguagem. Isso pode vir do estudo, da intuição ou de qualquer outra coisa. Geralmente estudo e intuição se complementam, claro. Isoladamente, por vezes funcionam, por vezes não. Existem diretores que são mestres em técnica e realizam filmes fracos, enquanto em contrapartida existem grandes cineastas intuitivos.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Já vi muitos filmes ruins, mas não guardo rancor específico de nenhum. Já guardei; hoje, não mais. A vida é muito curta para guardar rancor de filme. Hoje raramente considero um filme ruim o suficiente para que ele se torne memorável. A maior parte dos filmes ruins que vejo atualmente são medíocres, e você não fica remoendo um filme medíocre. Você o assiste e esquece todo o seu conteúdo no caminho de volta para casa.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Um Dia na Vida, do Eduardo Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Já fiz muito isso, por diversos motivos. As vezes se aplaude aos realizadores, atores e técnicos que estão presentes na sessão, ou aos programadores que a organizaram. Outras vezes, claro, mesmo sem ninguém responsável pelo filme ou pela sessão presente na sala, se aplaude puramente pelo conteúdo do filme. Você aplaude por compartilhar daquele entusiasmo coletivo. Há quem considere um gesto meio despropositado, porque não é como no teatro, onde atores e equipe estão ali escutando os seus aplausos. Acho que pensar assim é tentar racionalizar um gesto puramente emotivo.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Olhos de Serpente, do Brian de Palma.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #90 - Igor Nolasco

10/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #89 - Ana Rodrigues


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nossa entrevistada de hoje é uma grande cinéfila carioca além de ser uma pessoa querida por todos. Ana Rodrigues é jornalista da Rádio SulAmerica Paradiso e Presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro. Jornalista desde o início da década de 90, trabalhou nas rádios Tropical, Tupi e Nativa e no Jornal do Brasil.

Obs: querida amiga Aninha! Quantas vezes foi fazer debates de filmes maravilhosos nos cinemas que trabalhei? Um montão! Adoro conversar sobre cinema com aninha, entende tudo de sétima arte e sempre aprende com nossos papos.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Espaço Itaú, em Botafogo. Pela diversidade. Todo multiplex deveria ser assim.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Os Trapalhões no Planalto dos Macacos, tinha 6 anos. O amor começava ali. Me senti feliz naquele lugar. 

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Ingmar Bergman e O Sétimo Selo. A cena da dança da morte está tatuada no meu braço esquerdo.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. É um dos filmes mais importantes de todos os tempos. Através de uma temática brasileira que remete aos manifestos modernistas de Oswald de Andrade, “Deus e o Diabo...” traduz as facetas da formação do povo brasileiro e seu caráter messiânico. Ao mesmo tempo é universal ao desconstruir temas como pecado, moral e culpa. Deus e o Diabo na Terra do Sol é um filme para agora. Urgente.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ver cinco filmes num dia só e sentir que foi o melhor dia da vida. Aí você me diz: “Ah, Ana, que bobagem. E se metade deles é filme ruim?”. A gente sempre aprende com os erros.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

O que é entender de cinema? Isso é muito relativo. Prefiro dizer que a programação ideal é aquela que é feita por quem gosta de cinema sem qualquer tipo preconceito. O programador deveria ver o máximo de filmes possível. E não apenas o que é apresentado a ele. O profissional precisa ser, acima de tudo, um pesquisador, buscar o que há fora da caixa.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Todas as tecnologias dos séculos XIX e XX não morreram, apenas avançaram. Telefone, Rádio, TV, Fotografia e Cinema. Mudaram muito? Sim. Mas o princípio continua sendo o mesmo. Ir à uma sala de cinema proporciona uma experiência de imersão que não é completa no sofá da sua sala. Fellini dizia que cinema é uma experiência de sonho. Quando sonhamos há a luz dos nossos desejos na escuridão do inconsciente, portanto, não é possível abrir mão dessa experiência. Além de tudo, ir ao cinema é um movimento social, compartilhado depois em bons papos e bons textos. Ir à sala de cinema é essencial.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Para a garotada: Os Esquecidos, do Luis Buñuel.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

A vida é o mais importante, mas países como Nova Zelândia e Portugal mostram que é possível ir ao cinema em uma situação controlada, mesmo sem vacina. Creio que aqui a abertura pode ocorrer nas cidades onde a situação está sob controle. O problema do Brasil é que estamos mergulhados em um desastre humanitário.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

A partir da retomada em 1995, o cinema brasileiro lançou realizadores e profissionais com identidade que inspirou uma nova geração. O fato do cinema brasileiro explorar na última década o cinema de gênero, por exemplo, com riqueza estética e sem medo, mostra o quanto somos grandes, mesmo caminhando hoje pelo “vale das sombras da morte”. 

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

São tantos...Marjorie Estiano, Matheus Nachtergaele...

 

12) Defina cinema com uma frase:

Luz que revela o que somos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

 

Não me lembro de nada em especial. Só me choco ainda com a falta de educação das pessoas que conversam alto e usam telefone celular na sala de cinema. Pensei que iam se educar, mas infelizmente não.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Não vi.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Claro que sim. Como isso é possível, não ser?

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O mais recente é aquele com Anne Hathaway e Ben Affleck que está no Netflix. Esqueci o nome.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Os Olhos de Orson Welles, do Marc Cousins.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Muitas vezes. Uma inesquecível foi no Cine Leblon para o doc. Vinicius, do Miguel Faria Jr. Era uma sessão normal, domingo à tarde, a sala cheia se emocionou. O filme é lindo mesmo. 

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Feitiço da Lua, do Norman Jewison. Com Cage e a diva Cher. Uma beleza.

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09/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #88 - Rafael Félix


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso convidado de hoje é crítico de cinema há cerca de 5 anos, residente no site Cambada de Críticos desde 2018, Rafael Félix, 24 anos, mora na bela Lisboa, em Portugal. Também é, co-criador dos espaço Please Rewind, no Youtube, e do podcast Barulho de Fundo, espaços inteiramente dedicados à sétima arte. Para conhecer um pouco mais sobre esse querido cinéfilo português fomos conversar com o Rafa para esse especial.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O “Espaço Nimas” no centro de Lisboa é facilmente o “go to” para qualquer cinéfilo da capital portuguesa. Uma das poucas salas que sobreviveu à gentrificação da cidade, o Nimas é uma sala que valoriza o cinema do passado e o cinema contemporâneo, com constantes retrospectivas sobre os grandes nomes do século XX como Bergman, Fellini ou Kurosawa, mas nunca esquecendo que a sétima arte está viva e de boa saúde, dando espaço a filmes que secalhar não conseguem encontrar tanto espaço nas salas comerciais como Portrait of a Lady on Fire ou Parasite.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

The Curious Case of Benjamin Button foi o filme que acabou por mudar a minha perspectiva no que toca ao cinema. Devia ter os meus 12 ou 13 anos e foi o primeiro filme que vi em sala que retratava realmente temas adultos e tocou-me de uma forma que até hoje se torna bastante difícil de explicar.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Escolher um realizador é sempre difícil, mas provavelmente Paul Thomas Anderson, e o meu filme preferido dele, e ainda o melhor filme que o século XXI nos deu There Will be Blood.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O cinema português era, e continua a ser, um dos meus calcanhares de Aquiles, mas vale a pena salientar o trabalho que Tiago Guedes fez o ano passado com A Herdade, um filme que prova que há mais esperança no produto nacional do que aquilo que tantos, incluindo eu, achamos.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é ter uma mente aberta. É começar cada filme, seja ele qual for, preparado para tirar dali uma aprendizagem. Nem sempre é possível, seja porque o filme não o permite, seja porque nos deixamos tantas vezes sucumbir aos nossos próprios preconceitos e não deixamos que o filme o faça, mas o objetivo é sempre tirar o melhor daquilo que vemos. Isso e, obviamente, ver filmes o mais diversificados possível, seja em termos de língua, tempo ou género, não interessa, é sempre preciso sair da nossa zona de conforto e descobrir as maravilhas que estão além do cinema que nos é constantemente impingido pelos grandes estúdios, olhando apenas para o presente e esquecendo o passado.

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Quero acreditar que sim, mas uma parte de mim também sabe que quem decide muito dessas programações são os contabilistas. Eu percebo o porquê, mas é uma pena.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acabar de vez, não. Mas penso que cada vez mais as salas irão ficar reduzidas aos grandes blockbusters e o cinema independente, ou menos comercial pelo menos, vai acabar por viver do streaming. O que parcialmente, já está a acontecer.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Olhando para este ano, gostava imenso que Never Rarely Sometimes Always tivesse mais público, porque é de todas as formas um filme extraordinário.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não penso que haja razão para não o fazer. A única razão que posso ver que possa causar problemas tem a ver com a subsistência das próprias salas, que a funcionar a 20, 30 ou 40% talvez acabem com mais prejuízo do que se se mantivessem fechadas. Salvo isso, e seguindo estritamente as medidas de segurança, acho que é mais do que possível a reabertura das salas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema português atualmente?

A ideia que passa, é que o cinema português, ou o dinheiro nele colocado está a ser bastante canalizado para nomes que realmente fazem filmes que pouco ou nada oferecem de novo à cena, e os realizadores mais jovens são deixados ao abandono e à sua sorte, com pouco ou nenhum investimento neles, e com isso, o cinema português vai morrendo lentamente. Tem se visto alguns laivos de mudança positiva nos últimos anos, mas vai ser um processo lento. Para não falar do total desinvestimento na cultura em Portugal, mas isso é um assunto muito mais delicado.

 

11) Diga o artista português que você não perde um filme.

Reportório curto, um pouco como o meu investimento em cinema português, mas qualquer coisa que Filipe Melo faça, eu estarei na primeira fila para ver.

 

12) Defina cinema com uma frase:

A vida em imagens.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

O clássico “casal a ser expulso por estar a praticar relações sexuais consideravelmente barulhentas contra as costas da minha cadeira”.

 

14) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não, mas acho que ser cinéfilo te pode tornar muito melhor realizador do que alguém que não procura ver coisas novas, inspirar-se e crescer. 

 

15) Qual o pior filme que você viu na vida?

O pior não sei, mas o que me deixou completamente enojado e a querer atirar um cocktail molotov ao ecrão foi o remake do The Lion King.

 

16) Qual seu documentário preferido?

Talvez Encounters at the End of the World de Werner Herzog ou The Endurance de George Butler.

 

17) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Já sim, até a meio do filme, tal como o resto da sala, na sessão de Parasite no Festival de Cannes.

 

18) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Raising Arizona ou Wild at Heart. São excelentes por razões diferentes, mas Nicolas Cage está no seu melhor em ambos.

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #88 - Rafael Félix

08/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #87 - Calebe Lopes


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é baiano, de Salvador. Calebe Lopes faz parte da Olho de Vidro Produções como diretor, roteirista e montador. Realizou curtas-metragens como A Triste Figura (2018) e Pelano! (2019), exibidos e premiados em dezenas de festivais, entre eles Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Curta Cinema e Mostra do Filme Livre. Interessado no cinema de gênero, em especial o cinema fantástico, possui um blog onde posta entrevistas com realizadores, críticas e ensaios textuais: https://medium.com/calebelopes

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Aqui o Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha é o que melhor une essa ideia de um cinema de rua com uma programação vasta. O ambiente é bonito, charmoso, as salas são bem equipadas e a programação consegue alinhar muito bem um cinema dito comercial com um cinema "de arte", sempre oferecendo um bom panorama do que tem sido feito no mundo e distribuído no Brasil.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Talvez tenha sido Psicose. Tive uma sessão memorável numa madrugada assistindo ao filme pela primeira vez, na TV de casa, no início da adolescência. Senti medo, tensão e tomei susto. Eu não era acostumado a ver filmes de terror na época, então aquilo tudo me levou a uma nova percepção do que o cinema podia fazer.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Alfred Hitchcock. Meu filme favorito dele é meu filme favorito da vida: Um Corpo Que Cai.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cabra Marcado Para Morrer. Acho que é um marco do cinema documental nacional, um filme que nasce como ficção que já se utilizava de elementos documentais em sua narrativa e, por interferência do mundo externo, é interrompido e volta a ser realizado como documentário. A maneira como Coutinho rege esses dois registros enquanto conta a história daquela família despedaçada é impactante. Me parece um filme só possível de ser feito no Brasil.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Acho que amar o cinema, apenas. No meu caso, foi uma das coisas que mais me deu propósito na vida, porque descobri o prazer não apenas para assistir mas fazer filmes. A droga do cinema é viciante.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maior parte talvez seja exagero, visto que a maioria das salas que conheço são de cinemas de shopping, onde a ideia de programação não passa tanto por um desejo de curadoria, e sim de retorno financeiro.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Muito provável que não. Talvez reduzam bastante, mas dificilmente a experiência conjunta da sala escura sumirá, ao meu ver. Acho que será diluída, talvez acrescentada a outras experiências.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Boro in the Box, dirigido por Bertrand Mandico. Uma bela fábula repleta de desejo por cinema.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

De jeito nenhum.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Talvez seja um dos mais diversos do mundo. Temos progredido cada vez mais, graças às políticas públicas de fomento à cultura e à formação profissional Brasil afora.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Gabriela Amaral Almeida.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Ver e mostrar nunca visto.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Eu chorei feito criança ao fim de Vingadores Ultimato (sim, eu sou essa pessoa) e estranhos de poltronas atrás vieram me perguntar se estava tudo bem. Foi fofo e vexaminoso.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Eu.

Nunca.

Assisti.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Para dirigir um filme, talvez não. Para dirigir bons filmes, muito provável que sim. Cinema feito sem amor pelo cinema é estéril.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Não consigo lembrar de exatamente um que seja o pior de todos, mas sempre que penso em filme ruim me vem à mente Os Seis Ridículos, original Netflix cometido por Frank Coraci e responsável pelas duas horas mais dolorosas de minha existência.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Edifício Master.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Sim. Basta as pessoas na sessão baterem que eu não resisto e sigo o bonde.

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #87 - Calebe Lopes

07/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #86 - Carolina Dib


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, graduada em Publicidade e propaganda pela faculdade Gama Filho e pós graduada em Tv, Cinema e Midias Digitais pela UFJF. Carolina Dib foi diretora, coordenada e assistente de direção de diversos projetos ligados ao audiovisual, como no longa-metragem O Sonho de Rui de Cavi Borges. Para falar um pouco sobre suas preferências cinéfilas, fomos conversar com ela para esse especial.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Aqui em Juiz de Fora, ficamos sem os cinemas de rua. Restam apenas as salas Multiplex, com os blockbusters e raras exceções de filmes nacionais e de arte... No Rio, Circuito Estação Botafogo, Espaço Itaú de Cinema e Cine Joia, todos com um cardápio de filmes de arte, europeus e brasileiros imperdíveis!

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro filme que assisti foi Fantasia da Disney, no belíssimo Cine Theatro Central em Juiz de Fora. Me lembro do colorido, das imagens, e vi que ali tinha um encantamento... Mas o filme que realmente me tocou foi Os Saltimbancos Trapalhões (1981).  Ali eu tive a certeza que eu queria fazer parte de tudo isso...

 

 3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Frederico FelliniA Estrada da Vida.

 

 4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

São quatro: Rio 40 Graus, pela riqueza da narrativa cinematográfica, com sucessão de planos gerais belíssimos, o filme Central do Brasil, pela grandeza de Fernanda Montenegro e por retratar com fidelidade a realidade do povo brasileiro, Os Fuzis, do mestre Ruy Guerra, pelo impacto e toda sua linguagem cinematográfica e Leila Diniz (1987), de Luiz Carlos Lacerda, pela oportunidade de conhecer a história desta mulher percussora e revolucionária, feito com muita maestria.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cineasta é antes de tudo pensar sobre a importância do cinema como instrumento de reflexão... É uma arte de transformação... cada filme assistido abre espaço para um novo olhar sobre a vida cotidiana. 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Poucas salas de cinema possuem uma programação criteriosa. A maioria das salas de cinema visam somente o comercial, e não em levar um cinema de qualidade para o grande público.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Jamais!!!  O cinema nunca perderá sua majestade! Mesmo com todo crescimento de diferentes plataformas de streaming, a experiência das salas de cinema, em assistir à um filme na tela com outras pessoas, este evento fílmico nunca deixará de existir...

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Balão Vermelho, um filme francês de 1956, dirigido por Albert Lamorisse.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho muito complicado! Saúde em primeiro lugar!

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Eu vejo um cenário muito promissor, com muita gente nova chegando! Sou muito fã do cinema de Pernambuco. Assisti muitos curtas de uma leva bem criativa do Festival CurtaTaquary Online, do Alexandre Soares. Estive no primeiro festival em 2006, e pude ter contato com vários diretores, artistas pernambucanos e percebi a riqueza e explosão do nosso cinema! É um cinema muito forte e vem crescendo muito! E não posso deixar de dizer também do trabalho e incentivo que o Cavi Borges faz com novos cineastas! Vem muita coisa boa por ai!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Kleber Mendonça Filho.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é cachoeira (Humberto Mauro).

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Foi uma sessão do filme Aquarius, no Espaço Itaú, com uma plateia que vibrava, batia palma, cantava, foi uma energia muito diferente! Nunca tinha assistido um filme assim! No final, as pessoas se levantaram e aplaudiram o filme de pé! Eu chorei, é claro!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Eu não assisti, mas deve ser surpreendente!!! Kkkkk

 

15)  Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que é natural, até porque quando você faz um trabalho que você ama, aquilo está presente o tempo todo! É uma necessidade! Mais esta intensidade é diferente pra cada pessoa! As vezes um filme de Fellini basta pra mim por um longo tempo...  Já em outras, elas sentem a necessidade de assistir vários filmes, todos os dias! Isto depende muito!

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Não existe um filme ruim! O que pode ser ruim pra mim, para outra pessoa pode ter outro significado! O que podemos chamar de ruim é quando um filme apresenta uma sucessão de erros técnicos, de edição e acaba quebrando a diegese...

 

17) Qual seu documentário preferido?

O País de São Saruê (1971) de Vladimir Carvalho e Santiago (2007) de João Moreira Salles.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Aquarius e Bacurau!

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Cidade dos Anjos (1998).

 

 

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