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19/07/2025

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Crítica do filme: 'Marcos, o Errante' [Festival Cinemato]


Com simplicidade, faz-se um bom cinema. Selecionado para a Mostra Competitiva de Curtas-Metragens do Festival de Cinema e Vídeo – Cinemato –, Marcos, o Errante conduz sua narrativa com objetividade ao longo de seus 12 minutos, apresentando a autorreflexão como elemento central. Acompanhamos a trajetória de um homem à margem da sociedade, vivendo em condições de subsistência e buscando, em meio a um horizonte incerto, apenas sobreviver.

O filme gira em torno de Marcos, um morador de rua em uma grande cidade baiana, conduzindo o espectador por momentos e lugares marcantes de sua trajetória. Através de suas histórias, revelam-se fragmentos do passado, reflexões do presente e as incertezas que rondam seu futuro. A partir da figura desse nômade que escolhe viver à margem, constrói-se um panorama sociológico potente, capaz de despertar reflexões profundas.

Tendo o próprio personagem como narrador, o filme ganha força ao adotar esse olhar que, longe de estar perdido, enxerga com lucidez os detalhes sociais ao seu redor. Especialmente quando direciona sua atenção ao outro — mais do que a si mesmo —, somos levados a críticas e questionamentos sutis, que emergem mesmo nas entrelinhas. É impossível não refletir, por exemplo, sobre as políticas públicas e suas falhas na prática.

Com a câmera na mão e entregue ao acaso — talvez à espera do inesperado —, o cineasta Thiago Brandão escapa do lugar-comum e acerta ao transmitir com precisão o discurso que deseja. Parte em busca da realidade que se revela diante dele, alcançando muito com muito pouco.

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18/07/2025

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Crítica do filme: 'Cabeça de Boi' [Festival Cinemato]


É sempre gratificante encontrar nos festivais obras criativas que apostam no inusitado para expandir nosso campo de reflexões. Selecionado para a Mostra Competitiva de Curtas-Metragens do Festival Cinemato, o curta Cabeça de Boi nos conduz por uma narrativa bem-humorada e debochada, inspirada em uma sequência de fatos curiosos que se desenrolam a partir de uma curiosa lenda sobre um terreno amaldiçoado em uma cidade remota do país.

Escrito e dirigido por Lucas Zacarias, o filme costura elementos da cultura e da arte por meio de uma fabulação conduzida pela voz de um forasteiro — cuja visão é marcada por constantes desencontros com a realidade. Com um discurso preciso, a narrativa articula três temas centrais que se conectam simbolicamente à figura da cabeça de boi, construindo um imaginário potente que dá forma a críticas sociais relevantes.

Dentro dos vestígios simbólicos que compõem a criativa construção narrativa, as contradições de uma cidade tendo o espiritismo como força, um lugar de descobertas paleontológicas e um espaço de referência ao gado, nos levam até surpreendentes constatações no híbrido entre documentário e ficção.

Essa jornada se mostra fascinante, elementos como a dança e até o inventivo uso de inteligência artificial na composição de um personagem narrador preenchem com força as mensagens. Críticas sobre o poder e a riqueza logo se mostram presentes dentro de um peculiar contraponto ligado as raízes culturais da tal cidade, logo alcançando reflexões variadas.

Tendo sua primeira exibição no circuito de festivais brasileiro no Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – Cinemato – o filme também fora selecionado para o Festival de Gramado deste ano.

 

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16/07/2025

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Crítica do filme: 'Benção' [Festival Cinemato]


Histórias que envolvem o elo entre netos e avós — figuras maternas em dobro — sempre carregam uma força especial, ainda mais quando exploradas com sensibilidade no audiovisual. Esse é exatamente o caso do curta-metragem baiano Benção, selecionado para a Mostra de Curtas-metragens do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – Cinemato.

Dirigido por Mamirawá e Tainã Pacheco, este singelo e poderoso curta de 11 minutos nos conduz ao reencontro de um jovem com suas raízes. Após ter saído ainda cedo da comunidade onde foi criado, ele retorna já adulto, em uma espera silenciosa para rever sua maior referência de vida: a avó. Nesse retorno, mais do que reencontrar uma pessoa, ele se reconecta com sua identidade e ancestralidade — marcas profundas que o tempo jamais conseguiu apagar.

O sentimento puro em relação aos avós é apenas o primeiro passo de um filme que ultrapassa as fronteiras de sua primeira camada fazendo uma reconexão com a terra, com a família, com ancestrais. Inspirada em uma história real, a narrativa preenche seu minutos com a força de imagens que dizem no olhar, nas entrelinhas pulsantes de sentimentos que parecem em conflito mas na verdade estão voltando a se alinhar.

Sem espaço para um aprofundamento mais amplo da relação, o projeto segue por uma estrada em linha reta rumo à própria história e raízes, deixando lacunas intencionais sobre o antes e o depois. Essas ausências, longe de afastar, acabam aproximando ainda mais o público da jornada apresentada. Fica uma vontade danada de mergulhar mais fundo e conhecer tudo o que há por trás dessa história.

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Crítica do filme: 'Dandara' [Festival Cinemato 2025]


Com uma criativa apresentação dos créditos que já prende a atenção nos primeiros segundos, o filme goiano Dandara, selecionado para a Mostra Competitiva de Curtas-Metragens do Festival Cinemato 2025, mergulha em reflexões potentes sobre o bullying e o racismo. A produção entrega um retrato sensível e carregado de emoção, equilibrando o peso da realidade com a potência transformadora da imaginação na forma de enxergar o mundo.

Dandara é uma jovem negra, super alegre, que certo dia começa a sofrer bullying na escola onde estuda. Tentando entender os porquês dessa ação, passa por um processo de entendimento da situação onde num primeiro momento se questiona sobre várias questões, inclusive sua identidade. Quando a mãe dela fica sabendo, a volta da alegria vira uma questão de tempo, embalada inclusive por ancestrais.

Com simplicidade e objetividade, a narrativa nos conduz por uma estrada de emoções intensas, onde aflição, medo, tristeza e insegurança ganham contornos comoventes na vivência da infância. Enxergamos o mundo pelos olhos de Dandara, uma criança negra que se depara com o preconceito justamente no espaço onde antes se sentia segura e feliz: a escola. Nesse momento, a figura da professora surge como um elo essencial, um abrigo sensível — mas é na reação da mãe que reside o entendimento mais profundo da situação. Entre idas e vindas emocionais, o filme se revela no aprendizado delicado, construído no tempo certo para tocar o público.

Trabalho de conclusão de curso da cineasta Raquel Rosa, Dandara é mais do que um exercício acadêmico — é um recorte sensível sobre como compreendemos e questionamos as relações humanas em sociedade. Com uma abordagem atual e elementos que dialogam diretamente com o presente, o filme preserva o olhar genuíno de uma criança diante de suas primeiras aflições. Em apenas 14 minutos, emociona e preenche a tela com delicadeza.


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Crítica do filme: 'Mãe' (2025) [Festival Cinemato 2025]


Exibido na Mostra Competitiva de Curtas-Metragens do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – o Cinemato –, o curta gaúcho Mãe aborda um tema potente e raramente retratado nas telas: a maternidade de uma mulher trans. Dirigido por João Monteiro – que também atua no filme – e roteirizado por ele ao lado de Julia Katharine e Homero Mendes, o projeto, com apenas 20 minutos de duração, rompe barreiras e amplia horizontes ao tocar em questões profundas como o racismo, a transfobia e os desafios sociais, tudo isso com sensibilidade e força narrativa.

Maria (Valéria Barcellos) é uma mulher trans que vive feliz ao lado do seu carinhoso marido Dário (João Monteiro). Certo dia, o jovem Zezinho é deixado pela mãe biológica na casa deles. O tempo passa e uma relação de afeto e amor é estabelecida pela família mas as barreiras sociais ainda se tornam um quebra-molas que gera insegurança.

Com profundidade e delicadeza, a narrativa prende a atenção desde os primeiros instantes, mergulhando em um recorte intimista e familiar sobre amor, reconhecimento e pertencimento. São poucos minutos, mas repletos de significado — deixam no ar o desejo por mais. O preconceito, embora presente em cenas marcantes, jamais se sobrepõe à força do afeto. O roteiro constrói, com sensibilidade, uma jornada de resistência e ternura, onde o amor não apenas sobrevive, mas triunfa.

A maternidade de uma mulher trans é o fio condutor que ilumina toda a narrativa, atravessando cada cena com a potência de uma personagem inesquecível, vivida com brilho e sensibilidade por Valéria Barcellos. Com representatividade pulsante, o filme confronta o preconceito de frente e reafirma, com firmeza e delicadeza, que o amor é capaz de transformar realidades.

Mãe deve circular por outros festivais, se você tiver a oportunidade de assistir, tenho certeza que não irá se arrepender.

 

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12/06/2025

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Crítica do filme: 'Sertão 2138' [CINEPE 2025]


A introspecção de uma solidão. É tão bom vermos filmes brasileiros de ficção científica ganhando os holofotes e chegando com fortes mensagens para refletirmos sobre o nosso agora. Esse é o caso de Sertão 2138, uma engenhosa – e ao mesmo tempo simples - distopia gravada no sertão de Pernambuco que passando pela inspiração, a importância da referência, da pesquisa, chega até um olhar atento para as questões climáticas e socioeconômicas.

Neste sci-fi ambientado no sertão e dirigido por Deuilton Júnior, o futuro, a tecnologia e o conhecimento formam o tripé de uma narrativa que, embora careça de ritmo, propõe um debate através do olhar melancólico de uma protagonista em crise, às vésperas de uma fuga de um planeta adoecido.

Em um futuro não tão distante, uma brilhante pesquisadora desenvolve uma estação espacial fora da Terra — uma alternativa para um novo mundo, repleto de possibilidades, diante de um planeta que se tornou quase inabitável por múltiplas razões. Quando ela está indo pra lá, surge uma missão que a coloca em novos debates sobre a existência.

Criado na Universidade Federal de Pernambuco, por estudantes atentos aos assuntos do cotidiano de um planeta com muitas questões que precisam serem debatidas, em 19 minutos vemos o local (o sertão) como um forte elemento representativo, cheio de saídas para nosso pensar. Os conceitos imaginativos oriundos da ficção científica viram uma espécie de cereja do bolo que ilustra e convida o público para conversar sobre as nossas necessidades para o agora.

Selecionado para a 2ª Edição do Festival de Cinema de Xerém, esse curta-metragem nos leva até o encontro entre o empírico e o inesperado. Cheio de interpretações e cantinhos de reflexões ao longo de seu desenvolvimento, faz parte da galeria de obras audiovisuais que aplicam criatividade ao mostrar verdades.

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07/06/2025

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Crítica do filme 'A Caverna' (2025) - [CINEPE 2025]


Conseguindo o efeito de uma poderosa bomba criativa que chega na raiz dos seus conflitos de forma acachapante, o filme A Caverna apresenta, de forma contundente, um recorte de uma relação intensa entre mãe e filha. A narrativa, com seus toques alegóricos certeiros, se liberta no denso terreno das emoções, formando uma experiência envolvente que facilmente fisga o olhar de quem enxerga algo próximo de alguma realidade.

Exibido na Mostra Competitiva de Curtas Nacionais da 2ª Edição do Festival de Cinema de Xerém, esse interessante projeto parte do princípio de que tudo em cena importa, utilizando muitas vezes de um incomodar para chamar a atenção do público. Associado a isso, logo o temporal que se cruza, busca nas infinidades do cinema uma porta de entrada para o ‘fora da caixa’.

Mãe e filha se veem em momentos distantes, com a segunda prestes a sair da casa onde sempre morou e descobrir o mundo que se apresenta através do seu olhar como artista. Nesse conflito, que também tem lampejos do forte amor desse laço eterno, ambas buscam soluções para a relação já fragmentada por cuidados em excesso. Num lugar figurativo, cheio de possibilidades de entendimento - uma caverna - se torna o espaço onde soluções podem ou não serem alcançadas.

Um dilema aliado ao discurso - o ficar ou abandonar – guiados por duas inspiradas artistas em cena (Patrícia Saravy e Natália Garcia), se mostra uma base importante para pensarmos sobre a sociedade e os obstáculos na interrelação. Associado a isso, trazendo um olhar para o real através de um assunto que não se mostra completamente, a Síndrome do Pânico, vamos percorrendo embates fervorosos.

Escrito e dirigido por Luísa Fiedler, esse curta-metragem dá margens para interpretações sem perder um ponto fixo onde seu desabrochar acontece.


 

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31/10/2022

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Crítica do filme: 'Reflect'


Se aceite e seja feliz! No ritmo da leveza e da delicadeza, o curta-metragem Reflect, disponível no catálogo da Disney Plus, nos leva a refletir sobre a aceitação do nosso corpo. Se formos pensar mais profundamente, encontramos uma relação com a sociedade que ainda massacra as emoções criando traumas através de um padrão. O trabalho é assinado por Hillary Bradfield, em seu primeiro projeto como diretora, antes ela realizou inúmeros trabalhos no departamento de artes em filmes como: Encanto, Frozen 2 e mais recentemente no aguardado filme de James Cameron, Avatar: O Caminho da Água. Reflect apresenta a primeira protagonista plus size da história da Disney.


Na trama, que explora os conceitos de disformia corporal, acompanhamos uma bailarina que tem um grande problema com o espelho por não se sentir bem com seu corpo. Nas aulas de balé, se sente com vergonha mas acaba descobrindo uma maneira de encarar essa situação quando se aprofunda nesse conflito. Ela se projeta para dentro de uma metáfora sobre o medo percebendo que pode reverter toda sua não aceitação e a jogar para escanteio.


A perspectiva é a de uma bailarina, uma grande ideia do roteiro. A importância da dança, uma arte cultural, chega quando pensamos que a personagem está em um ambiente em que ela tem que olhar para si, mesmo não querendo. Interessante aqui a questão do espelho, mesmo não querendo olhar para si, ao redor seus reflexos, o conflito chega e a protagonista precisa entrar em uma jornada de encarar esse trauma. Podemos ler que o sentido de corpo nesse projeto é um compartimento de emoções, muitas vezes conflituosas, deixando nas entrelinhas as verdades sobre o caminho do viver e que os momentos ruins vão existir mas a aceitação está dentro da gente.


Impressionante como alguns curtos minutinhos nos fazem pensar sobre traumas, aceitações, dentro de uma metáfora objetiva e com uma mensagem super positiva: Se sentir feliz é uma grande arma contra qualquer medo.


 

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09/05/2021

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Crítica do filme: 'Angela'


Quando há poesia sobre a eterna arte de se redescobrir. Curta-metragem de menos de 15 minutos, dirigido pela cineasta Marília Nogueira, Angela mostra de maneira bem descontraída uma ‘doutora do cotidiano’, eternamente preocupada com receitas médicas de doenças que não possui, hábitos, diagnósticos, que começa a enxergar a vida de outra ótica quando sua introspectiva reflexão é descoberta por amigas de mesma idade. Uma obsessão? Hipocondrismo descontrolado de maneira não tradicional? A redescoberta de novos prazeres na vida a partir da amizade é mostrado de maneira tão bonita, além dos paralelos com as imagens em um bom tom do tão importante movimento dentro de uma narrativa cinematográfica. Protagonista interpretada pela carismática atriz mineira Teuda Bara.


Indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro - Melhor Curta-Metragem Ficção, o filme nos apresenta Angela (Teuda Bara), uma velhinha que encontra dentro de idas mentirosas a médicos um passatempo colecionável para sua parede que é preenchida semanalmente com unidades de receitas médicas sobre os mais diversos problemas, diagnósticos imaginários de doenças que nunca chegaram perto de seu corpo e mente. Quando uma amiga entra em sua casa e descobre o curioso hábito da protagonista, Angela embarca em uma jornada de novas descobertas sobre a vida.


Aquela velha questão sobre não olhar as bulas dos remédios pois você pode endoidar na questão dos porquês e dúvidas sobre a medicação encaixam bem aqui nesse recorte interessante na vida de uma quase solitária mulher e seu hobby bastante peculiar. Partindo desse princípio, esse curta que está disponível no ótimo streaming MUBI, consegue encontrar a sensibilidade nas imagens quando convoca as breves reflexões sobre caminhos da melhor idade, há uma poesia sobre a existência e os sentidos da vida que vão ser captadas rapidamente pelos corações mais abertos ao sonhar.


Se a lei do curta fosse respeitada e programadores tivessem curiosidade, faro cinéfilo e interesse, chegariam à conclusão de que esse filme conversa com boa parte do público do chamado circuito de arte. Poderia ser exibido em telas grandes pelo país.

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01/05/2021

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Crítica do filme: 'Olla'


A independência do feminismo contra o machismo descarado. Escrito e dirigido pela cineasta grega Ariane Labed, Olla é um curta-metragem que deixa sua marca com paralelos importantes ligados à luta das mulheres e sua liberdade contra o conservadorismo, o pensamento machista, quase um desabafo do que se pode encontrar na realidade dos quatro cantos do planeta. Exibido no Festival de Cannes em 2019, em Clermont-Ferrand e Sundance em 2020.


Na trama, conhecemos Olla (Romanna Lobach), uma jovem que vem de uma parte menor da Europa, no leste e acaba conhecendo virtualmente através de um anúncio o francês Pierre (Grégoire Tachnakian), logo sem seguida a protagonista vai morar com Pierre e a mãe dele em uma casa pequena no subúrbio mas nada sai conforme o planejado, nem na visão de um, nem na visão da outra.


Limitada ao conservadorismo, Olla sente a liberdade quando está sozinha, seu ponto de reflexão, quase um desabafo de uma indomável mulher à frente do seu tempo que após entender toda a situação que vive resolve tomar atitudes que a fazem mais feliz. Seu contra golpe contra a violência e o machismo desenfreado é emblemático. O roteiro é objetivo, afinal são menos de 30 minutos, mas é preciso uma lida rápida na sinopse para se situar em pequenas referências que aparecem em quase escondidas entrelinhas.

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29/04/2021

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10 Curtas que você precisa conferir


Iniciando mais essa série de listas cinéfilas buscando trazer, dessa vez, uma reflexão não só para as grandes obras que listamos abaixo mas também sobre a importância do curta-metragem. Praticamente o patinho feio do circuito exibidor (mesmo existindo a Lei do Curta...), muitos curtas-metragens ganharam novo fôlego com a chegada dos streamings e a possibilidade de enfim conseguirem chegar até os olhos de todos aqueles que amam a sétima arte.


Segue abaixo os primeiros dez filmes dessa contínua lista que faremos ao longo desse ano:

 

White Eye (2020, Israel)

 

O viciado e triste olhar do preconceito. Uma bicicleta roubada. As questões burocráticas da lei. Olho branco, viciado dentro do preconceito. Em tempos onde a linha tênue do bom senso insiste em não existir. Para onde caminhará nossa humanidade? Escrito e dirigido pelo cineasta Tomer Shushan, em seu segundo curta-metragem na carreira, White Eye é o retrato de muitos países europeus onde o medo dos imigrantes é constante, tentando se estabelecer em um país onde não nasceram.

 

 

Finalista do Oscar 2021 de Melhor Curta de Ficção, o curta-metragem israelense em pouco mais de 20 minutos nos mostra um conflito quase banal que acaba se tornando uma questão legal sobre um imigrante que luta pelo bem-estar de sua família buscando ser um trabalhador honesto em um país diferente do dele, com mais oportunidades. Interpretados por Daniel Gad e Dawit Tekelaeb, dois homens, duas histórias, se cruzam em torno do roubo ou não de uma bicicleta sendo que um deles acaba acionando a polícia para uma rápida resolução. Mas será que era a melhor solução? O peso na consciência bate rapidamente quando percebe que a polícia está com o olhar viciado em relação ao outro homem.

 

 

O filme reflete dilemas sociais que vemos muito por aqui também na América Latina, sobre a ótica do resolver as coisas como adultos ou envolver a polícia e complicar tudo mais ainda? Será que as leis serão justas para todos? Aonde foi parar o bom senso da própria comunidade?

 

 

 

O Som do Tempo (2010, Brasil)

 

O mundo da mudança ao olhar da simplicidade. Vencedor de mais de duas dezenas de prêmios em festivais espalhados pelo Brasil, O Som do Tempo, é um dos primeiros curtas-metragens da carreira do excelente cineasta cearense Petrus Cariry. Em curtos dez minutos de projeção, somos testemunhas da habilidade técnica, na criação de emoções através do movimento do impacto, das imagens, buscando a reflexão de toda ou qualquer forma dentro do contexto de uma mulher mais velha vendo as transformações do pequeno pedaço de universo que vive ao longo do tempo.

 

O silêncio que não existe mais. Ao redor prédios e barulhos, o verdadeiro caos urbano das grandes cidades que não param de se expandir. Em contraponto, a vida simples, uma casinha humilde em meio a enormes estruturas, avenidas barulhentas e palavras gritadas pra todos os lados. Em até certo ponto dentro de uma forma de poesia de imagens, identificamos um olhar muito humano e honesto compreendido mais de perto por quem está no epicentro dessa mudança, olhando um mundo novo diferente do que vira até então.

 

Quase sem palavras (usando a força do ver em vez do escutar), quando chega, a música em um gran finale mostra mais detalhada a questão cultural e existencial e de alguma forma explica bastante das imagens que vemos ao longo desse trajeto, o seguir em frente em meio às transformações que não abalam em nada quem apenas quer viver de sua maneira.

 

 

Dois Estranhos (EUA, 2020)

 

Cortesia, profissionalismo e respeito. Será? Vencedor do Oscar de melhor curta-metragem em 2021, Dois Estranhos explora o eterno giro de 360 graus constante onde os paralelos entre a autoridade e o preconceito parecem dois rios que acabam se unindo gerando dor e sofrimento. Dá um aperto no peito, são cenas fortes e infelizmente muitas dessas vistas por muitos olhos nas ruas pelo mundo todo o dia, tamanho o preconceito e intolerância dos olhares brancos contra os negros. É um filme arrebatador, conversa demais com muitos dos acontecimentos viralizados sobre preconceito e violência policial nos Estados Unidos que nos trazem muito tristeza. Dirigido por Travon Free e Martin Desmond Roe. Imperdível! Disponível na Netflix.

 

 

Na trama, conhecemos um jovem trabalhador chamado Carter (Joey Bada$$), em um dia de grande alegria por ter conhecido um provável futuro amor, Perri (Zaria). Ele está voltando para casa onde está seu cachorrinho fofo o qual ama muito e até mesmo aciona via wi-fi um lança biscoitinhos para ele enquanto não chega em casa. Ainda na calçada, em frente ao prédio onde estava é abordado de maneira abrupta e desleal pelo policial branco Merk (Andrew Howard) e assim, em fração de segundos, sua vida corre sérios riscos. Acontece que um loop infinito é ativado (volta sempre ao mesmo dia e momento da tragédia) e agora o protagonista precisa encontrar alguma maneira de ter um final diferente para essa história. Mas será que existe?

 

 

Um filme reflexivo, que coloca o dedo bem fundo na ferida de uma sociedade polarizada, ainda muito preconceituosa, em alguns momentos nada amistosa, onde a cor da pele vira questão de escolha de quem é bom ou mau. Two Distant Strangers, no original, usa da criatividade para mostrar diversas formas onde o preconceito se instaura tendo os mesmos personagens. Somos testemunhas oculares das várias abordagens policiais equivocadas, com o preconceito dentro da força desproporcional, na mira da metralhadora...

 

 

O desfecho é emblemático, lembra de diversos nomes de pessoas negras que tiveram suas vidas tiradas em questões muito parecidas das quais o filme aborda. Um projeto para todos nós, brancos e negros, refletirmos sobre o mundo em que vivemos e se de alguma forma podemos caminhar para uma melhora através do diálogo.

 

 

Boa Noite (Gana/Bélgica, 2020)

 

Os horrores camuflados de bondade. Um dos 15 semifinalistas ao Oscar 2021 de Melhor Curta de Ficção, Good Night (Da Yie) , co-produção Gana/Bélgica, é um filme que escancara aos nossos olhos os horrores de uma realidade, um retrato chocante de uma parte do mundo que carece de atenção. Dirigido pelo cineasta Anthony Nti, em 20 minutos somos jogados a uma história que fala sobre sonhos, impunidade e os absurdos que a vida apresenta. Um filme forte, porém necessário, para reflexão.

 

 

Na trama, conhecemos Matilda e Prince, duas crianças muito amigas que possuem em comum um grande amor pelo futebol. Certo dia, no campinho onde jogam, um estranho mas conhecido por eles estaciona o carro e os chama para irem lanchar e passear pela cidade. Só que as verdadeiras intenções desse estranho aos poucos vão sendo reveladas.

 

 

Tenso, fala sobre memórias, traumas, conversas que vão colocando dúvidas no personagem que começa a sofrer de peso na consciência, levando a trama para um desfecho que chama a atenção. Os jovens falam sobre seus sonhos, visitam o mar, falam de momentos tristes da vida, fotografia, futebol, repletos da inocência da idade e falta de maturidade para enxergar os perigos que se apresentam. Good Night (Da Yie) foi o vencedor de Melhor Filme da Competição Internacional do prestigioso Festival de Curtas de Clermont-Ferrand 2020. Um filme importante que fala as verdades sobre um mundo ainda muito cruel que muitos vivem.

 

 

O Presente (Palestina/Inglaterra, 2020)

 

Os absurdos de um presente que não esquece do passado. Vencedor do BAFTA de melhor curta-metragem de ficção e indicado ao Oscar 2021 na mesma categoria, O Presente, sendo bem objetivo, gera angústia, raiva e um enorme sentimento de tristeza com a absurda situação vivida por um pai, sua filha e uma geladeira. Bons curtas são aqueles que dentro de um recorte chamativo, conseguem expor problemas universais. Dirigido pela cineasta britânica Farah Nabulsi, esse projeto palestino faz refletir sobre a intolerância jogada na nossa cara. Esse filme gera uma indignação profunda por sabermos que os fatos aqui relatados acontecem de diversas maneiras na realidade.

 



Na trama, conhecemos Yusef (Saleh Bakri), um homem de meia idade, trabalhador, que acorda em uma manhã, após uma noite onde chegara muito tarde, com o objetivo de comprar um presente para a sua esposa já que ambos completam mais um aniversário de casamento. Assim, ele leva sua filha Yasmine (Mariam Kanj) para ir até Beitunia fazer compras e pegar o presente da esposa. Só que para ir e vir, Yusef e todos que moram naquela região da Cisjordânia precisam passar por um ponto de checagem israelense. E assim, um conflito se estabelece na ida e na volta do resgate do presente.

 

 

A falta de liberdade do ir e vir é o principal ponto de reflexão desse pequeno grande projeto. A falta de humanidade, compaixão dos soldados na ‘fronteira’ mostram as hipocrisias que comandam ações do universo da generalização em vez de olhar para o indivíduo. Sensibilidade? Isso não existe nesses lugares. Tentando se locomover por uma Cisjordânia controlada, com estradas segregadas, milhares de pessoas diariamente precisam ser ‘checadas’ perdendo princípios básicos dos seres humanos. O filme escancara verdades que poucos gostam de dizer ou até mesmo conhecem. O cinema tem esse papel: gerar reflexões para quem sabe trazer mudanças.

 

 

 

The Letter Room (EUA, 2020)

 

 

Quando o introspectivo se une ao intermediário. Um dos concorrentes ao Oscar 2021 de Curta-metragem de ficção, The Letter Room, ou a Sala de Correspondência, se formos traduzir literalmente para o nosso idioma, conta a história de alguns através do olhar curioso de um personagem que acaba sendo testemunha de relatos pessoais da família e dos presos, inclusive para os que estão no corredor da morte, após assumir o novo cargo de diretor de comunicação dos prisioneiros. Escrito e dirigido pela cineasta Elvira Lino, o projeto (com potencial de ser um longa-metragem) possui um indecifrável lado tragicômico escondido por trás da história, sentimos que há muito mais por conhecer desse curioso protagonista. Ótima interpretação do ator Oscar Isaac.

 

 

Na trama, conhecemos o boa praça e simpático agente penitenciário Richard (Oscar Isaac), um ser solitário que vive de ir ao trabalho e voltar pra casa, tendo apenas a companhia de seu cachorro. A fim de se desenvolver profissionalmente, se inscreve para outras funções na penitenciária que trabalha, por mais que tenha um ótimo relacionamento com os outros guardas, a chefe do local e os presos. Assim caba indo para no setor de comunicação da prisão, onde precisa escanear e analisar possíveis irregularidades nas mensagens externas que chegam para os que estão presos. Mas ele acaba se envolvendo mais do que devia e assim acaba embarcando nas soluções de duas questões para dois prisioneiros.

 

 

Há um composto interessante ligado ao desejo e as emoções que o guarda acaba sentindo, não consegue fugir das diversas reflexões daquelas palavras espalhadas nas mensagens. Precisa ir atrás das resoluções daquela história, como se fosse um intermediador, um fato que acaba se conectando com seu perfil introspectivo de pouco contato com o mundo lá fora. O personagem em cima é longe de ser caricato detalhista, inclusive controla a alimentação através de um bloquinho de papel preenchido com as calorias diárias ingeridas, talvez uma ideia que teve a partir de alguma referência que viu nas dezenas de horas que fica de frente para a televisão quando não está trabalhando.

 

 

Em cerca de 30 minutos, ficamos refletindo muito sobre a personalidade e as ações tomadas, certas ou erradas, pelo personagem, gerando a curiosidade de querer conhecer mais sobre a história dessa alma introvertida e as prováveis sinucas que se envolve a partir da curiosidade.

 

 

Hair Love (EUA, 2019)

 

O amor por nossos filhos nos fazem ser fortes em qualquer situação. Vencedor do prêmio de melhor curta de animação no Oscar 2020, Hair Love mostra tanto amor em 7 minutos que os ensinamentos se prolongam para nossas vidas. Produzido, escrito e dirigido pela ex-atleta da NFL Matthew A. Cherry, o filme conta um pequeno retrato na vida de um pai e uma filha pequena e a tentativa do primeiro em pentear o cabelo da filha pela primeira vez.

 

 

Simples e profundo como todo bom curta deve ser. A difícil missão de um pai em fazer um belo penteado no lindo cabelo de sua filha, nos leva em uma jornada linda em analogias para nossa realidade, principalmente quando entendemos no finalzinho desse belo trabalho o porquê daquela missão ser tão importante sem ser cumprida por esse super pai. A mamãe da jovenzinha está em uma luta contra doença no hospital e o corte especial é para ela ir toda linda encontrar a mamãe.

 

 

Nessas horas é que vemos o exemplo e pensamos em muitos outros super papais. Tendo apenas um vídeo gravado pela mãe da menina como único auxílio na tentativa de ser bem-sucedido, o poder da animação entra como uma rajada de criatividade metafórica simbolizando aquela simples luta como algo tão importante que vira algo inspirador nossos corações. Belíssimo curta.

 

 

Irmã (China, 2019)

As memórias que não existiram mas que também nunca se foram. Usando a técnica de stop-motion, a animação chinesa dirigido pela cineasta Siqi Song, transforma uma frustração em uma grande carta poética em forma de animação. Irmã, em seus curtos minutos, fala muito sobre o sentimento das famílias chinesas que viveram dentro dos 30 anos da política de apenas um filho. Selecionado pelo Festival de Sundance ano passado e um dos cinco indicados ao Oscar na categoria melhor curta de animação em 2020, o filme é um relato importante sobre um fato que afetou milhares de pessoas no país mais populoso do planeta.

 

 

Em 08 minutinhos, ambientado na década de 90, somos envolvidos em um pequeno retrato que vai do imaginário a realidade. Conhecemos um jovem que relata sua convivência com sua irmãzinha, muitas situações que acontecem com a chegada da nova integrante da família, só que descobrimos que essa irmã nunca existiu pois a família do protagonista não poderia ter mais de um filho por conta de uma política de 30 anos das autoridades chinesas.

 

 

Lançada pelo governo chinês no fim da década de 1970, essa lei que é pano de fundo dessa história, consistia numa lei segundo a qual ficava proibido, a qualquer casal, ter mais de um filho (em outubro de 2013, o governo chinês aboliu essa lei). Fato esse que deixou vários filhos únicos sem a possibilidade de dividir sua vida com um irmão ou irmã. O curta navega nessa vertente e usa a imaginação do pensar como forma de homenagem a todos que não puderam ter um irmãozinho durante todo esse período na China. O cinema é isso, uma maneira de refletir sobre nossas épocas: passado, presente ou futuro.

 

Memorável (França, 2019)

 

Pintar com os dedos invoca o homem primitivo que há entre nós. Indicado ao Oscar de Melhor curta de animação em 2020, o projeto francês Memorável fala sobre as nuâncias da nossa mente em momentos chaves de nossa vida. Na surreal que a vida presente os prega, um pintor e sua esposa precisam conviver com as mudanças oriundas do tempo mas sem deixar de acessar memórias que não há como serem esquecidas. Um belo curta. Pena que os cinemas brasileiros não exibem curtas antes dos longas em seu circuito exibidor (o capitalismo em exagero chega mais forte pela ótica do lucro dos chatos e inúmeros comerciais antes das histórias), tem tanto curta bom por aí...como esse.

 

 

12 minutos de muitas emoções onde o coração pulsa mais forte nessa singela história sobre as memórias de alguém ainda vivo.  Há poesia nos respingos das tintas do artista, há muita metáfora nas explicações sobre os nós que nossa mente submete, tudo isso é tratado com muita delicadeza e uma trilha sonora instrumental que chega bem forte aos nossos corações. 

 

 

Escrito e dirigido pelo cineasta francês Bruno Collet, Mémorable, no original, nos puxa para refletirmos sobre a arte de amar igual muitas vezes. Importante os detalhes à força da arte, pelo seu precioso protagonista e suas novas descobertas de uma vida recheada de boas memórias.  

 

 

Aprendendo a Andar de Skate em uma Zona de Guerra (Se Você For uma Menina) – (Inglaterra, 2019)

 

O que é coragem? Porque é importante ter coragem? Vencedor do Oscar de melhor curta metragem anos atrás, Aprendendo a Andar de Skate em uma Zona de Guerra (Se Você For uma Menina), passa pelos períodos das estações, usados como pequenos arcos para o desenvolvimento da narrativa, entendemos melhor um projeto inovador para meninas de origem muito pobre com famílias conservadoras. Em um planeta que preza pelo egoísmo e a falta de reflexão sobre o outro, os olhos do mundo devem estar atentos a esse belo trabalho da cineasta Carol Dysinger.

 

 

Em um país devastado pela guerra de décadas, onde o básico ler e escrever ainda é um grande desafio, principalmente para as mulheres, sempre estando em perigo nas ruas, sem segurança, um pequeno oásis acontece em Kabul, no Afeganistão, com a criação de um projeto chamado Skateistão que associa aulas para meninas carentes e aulas de skate. Toda uma equipe de pessoas com enorme coração é vista fazendo seu trabalho com toda dedicação. Desde a professora que prefere não mostrar o rosto, até a jovem instrutora de skate, além da assistente social que tem como uma de suas funções recrutar novas jovens que se encaixem no perfil do projeto.

 

 

Vivendo com o dia a dia intenso, ajudando nas tarefas de casa e o medo da violência diária, as pequenas guerreiras não desistem dos seus sonhos, nem de seu livre arbítrio do pensar e praticar esse esporte muito popular que as leva para outros lugares durante aquelas horas que praticam. Em busca de um futuro melhor, percebemos no arco final que os sonhos começam a brotar e isso é algo que ninguém tira delas, jamais.

 

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22/04/2021

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Crítica do filme: 'O Som do Tempo'


O mundo da mudança ao olhar da simplicidade. Vencedor de mais de duas dezenas de prêmios em festivais espalhados pelo Brasil, O Som do Tempo, é um dos primeiros curtas-metragens da carreira do excelente cineasta cearense Petrus Cariry. Em curtos dez minutos de projeção, somos testemunhas da habilidade técnica, na criação de emoções através do movimento do impacto, das imagens, buscando a reflexão de toda ou qualquer forma dentro do contexto de uma mulher mais velha vendo as transformações do pequeno pedaço de universo que vive ao longo do tempo.


O silêncio que não existe mais. Ao redor prédios e barulhos, o verdadeiro caos urbano das grandes cidades que não param de se expandir. Em contraponto, a vida simples, uma casinha humilde em meio a enormes estruturas, avenidas barulhentas e palavras gritadas pra todos os lados. Em até certo ponto dentro de uma forma de poesia de imagens, identificamos um olhar muito humano e honesto compreendido mais de perto por quem está no epicentro dessa mudança, olhando um mundo novo diferente do que vira até então.


Quase sem palavras (usando a força do ver em vez do escutar), quando chega, a música em um gran finale mostra mais detalhada a questão cultural e existencial e de alguma forma explica bastante das imagens que vemos ao longo desse trajeto, o seguir em frente em meio às transformações que não abalam em nada quem apenas quer viver de sua maneira.

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18/04/2021

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Crítica do filme: 'Dois Estranhos'


Cortesia, profissionalismo e respeito. Será? Concorrente ao Oscar de melhor curta-metragem em 2021, Dois Estranhos explora o eterno giro de 360 graus constante onde os paralelos entre a autoridade e o preconceito parecem dois rios que acabam se unindo gerando dor e sofrimento. Dá um aperto no peito, são cenas fortes e infelizmente muitas dessas vistas por muitos olhos nas ruas pelo mundo todo o dia, tamanho o preconceito e intolerância dos olhares brancos contra os negros. É um filme arrebatador, conversa demais com muitos dos acontecimentos viralizados sobre preconceito e violência policial nos Estados Unidos que nos trazem muito tristeza. Dirigido por Travon Free e Martin Desmond Roe. Imperdível! Disponível na Netflix.


Na trama, conhecemos um jovem trabalhador chamado Carter (Joey Bada$$), em um dia de grande alegria por ter conhecido um provável futuro amor, Perri (Zaria). Ele está voltando para casa onde está seu cachorrinho fofo o qual ama muito e até mesmo aciona via wi-fi um lança biscoitinhos para ele enquanto não chega em casa. Ainda na calçada, em frente ao prédio onde estava é abordado de maneira abrupta e desleal pelo policial branco Merk (Andrew Howard) e assim, em fração de segundos, sua vida corre sérios riscos. Acontece que um loop infinito é ativado (volta sempre ao mesmo dia e momento da tragédia) e agora o protagonista precisa encontrar alguma maneira de ter um final diferente para essa história. Mas será que existe?


Um filme reflexivo, que coloca o dedo bem fundo na ferida de uma sociedade polarizada, ainda muito preconceituosa, em alguns momentos nada amistosa, onde a cor da pele vira questão de escolha de quem é bom ou mau. Two Distant Strangers, no original, usa da criatividade para mostrar diversas formas onde o preconceito se instaura tendo os mesmos personagens. Somos testemunhas oculares das várias abordagens policiais equivocadas, com o preconceito dentro da força desproporcional, na mira da metralhadora...


O desfecho é emblemático, lembra de diversos nomes de pessoas negras que tiveram suas vidas tiradas em questões muito parecidas das quais o filme aborda. Um projeto para todos nós, brancos e negros, refletirmos sobre o mundo em que vivemos e se de alguma forma podemos caminhar para uma melhora através do diálogo.

 

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09/04/2021

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Crítica do filme: 'Good Night (Da Yie)'


Os horrores camuflados de bondade. Um dos 15 semifinalistas ao Oscar 2021 de Melhor Curta de Ficção, Good Night (Da Yie) , co-produção Gana/Bélgica, é um filme que escancara aos nossos olhos os horrores de uma realidade, um retrato chocante de uma parte do mundo que carece de atenção. Dirigido pelo cineasta Anthony Nti, em 20 minutos somos jogados a uma história que fala sobre sonhos, impunidade e os absurdos que a vida apresenta. Um filme forte, porém necessário, para reflexão.


Na trama, conhecemos Matilda e Prince, duas crianças muito amigas que possuem em comum um grande amor pelo futebol. Certo dia, no campinho onde jogam, um estranho mas conhecido por eles estaciona o carro e os chama para irem lanchar e passear pela cidade. Só que as verdadeiras intenções desse estranho aos poucos vão sendo reveladas.


Tenso, fala sobre memórias, traumas, conversas que vão colocando dúvidas no personagem que começa a sofrer de peso na consciência, levando a trama para um desfecho que chama a atenção. Os jovens falam sobre seus sonhos, visitam o mar, falam de momentos tristes da vida, fotografia, futebol, repletos da inocência da idade e falta de maturidade para enxergar os perigos que se apresentam. Good Night (Da Yie) foi o vencedor de Melhor Filme da Competição Internacional do prestigioso Festival de Curtas de Clermont-Ferrand 2020. Um filme importante que fala as verdades sobre um mundo ainda muito cruel que muitos vivem.

DA YIE by Anthony Nti - Trailer from Salaud Morisset on Vimeo.

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01/04/2021

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Crítica do filme: 'O Presente'


Os absurdos de um presente que não esquece do passado. Vencedor do BAFTA de melhor curta-metragem de ficção e indicado ao Oscar 2021 na mesma categoria, O Presente, sendo bem objetivo, gera angústia, raiva e um enorme sentimento de tristeza com a absurda situação vivida por um pai, sua filha e uma geladeira. Bons curtas são aqueles que dentro de um recorte chamativo, conseguem expor problemas universais. Dirigido pela cineasta britânica Farah Nabulsi, esse projeto palestino faz refletir sobre a intolerância jogada na nossa cara. Esse filme gera uma indignação profunda por sabermos que os fatos aqui relatados acontecem de diversas maneiras na realidade.

Na trama, conhecemos Yusef (Saleh Bakri), um homem de meia idade, trabalhador, que acorda em uma manhã, após uma noite onde chegara muito tarde, com o objetivo de comprar um presente para a sua esposa já que ambos completam mais um aniversário de casamento. Assim, ele leva sua filha Yasmine (Mariam Kanj) para ir até Beitunia fazer compras e pegar o presente da esposa. Só que para ir e vir, Yusef e todos que moram naquela região da Cisjordânia precisam passar por um ponto de checagem israelense. E assim, um conflito se estabelece na ida e na volta do resgate do presente.


A falta de liberdade do ir e vir é o principal ponto de reflexão desse pequeno grande projeto. A falta de humanidade, compaixão dos soldados na ‘fronteira’ mostram as hipocrisias que comandam ações do universo da generalização em vez de olhar para o indivíduo. Sensibilidade? Isso não existe nesses lugares. Tentando se locomover por uma Cisjordânia controlada, com estradas segregadas, milhares de pessoas diariamente precisam ser ‘checadas’ perdendo princípios básicos dos seres humanos. O filme escancara verdades que poucos gostam de dizer ou até mesmo conhecem. O cinema tem esse papel: gerar reflexões para quem sabe trazer mudanças.

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29/03/2021

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Crítica do filme: 'The Letter Room'


Quando o introspectivo se une ao intermediário. Um dos concorrentes ao próximo Oscar de Curta-metragem de ficção, The Letter Room, ou a Sala de Correspondência, se formos traduzir literalmente para o nosso idioma, conta a história de alguns através do olhar curioso de um personagem que acaba sendo testemunha de relatos pessoais da família e dos presos, inclusive para os que estão no corredor da morte, após assumir o novo cargo de diretor de comunicação dos prisioneiros. Escrito e dirigido pela cineasta Elvira Lino, o projeto (com potencial de ser um longa-metragem) possui um indecifrável lado tragicômico escondido por trás da história, sentimos que há muito mais por conhecer desse curioso protagonista. Ótima interpretação do ator Oscar Isaac.


Na trama, conhecemos o boa praça e simpático agente penitenciário Richard (Oscar Isaac), um ser solitário que vive de ir ao trabalho e voltar pra casa, tendo apenas a companhia de seu cachorro. A fim de se desenvolver profissionalmente, se inscreve para outras funções na penitenciária que trabalha, por mais que tenha um ótimo relacionamento com os outros guardas, a chefe do local e os presos. Assim caba indo para no setor de comunicação da prisão, onde precisa escanear e analisar possíveis irregularidades nas mensagens externas que chegam para os que estão presos. Mas ele acaba se envolvendo mais do que devia e assim acaba embarcando nas soluções de duas questões para dois prisioneiros.


Há um composto interessante ligado ao desejo e as emoções que o guarda acaba sentindo, não consegue fugir das diversas reflexões daquelas palavras espalhadas nas mensagens. Precisa ir atrás das resoluções daquela história, como se fosse um intermediador, um fato que acaba se conectando com seu perfil introspectivo de pouco contato com o mundo lá fora. O personagem em cima é longe de ser caricato detalhista, inclusive controla a alimentação através de um bloquinho de papel preenchido com as calorias diárias ingeridas, talvez uma ideia que teve a partir de alguma referência que viu nas dezenas de horas que fica de frente para a televisão quando não está trabalhando.


Em cerca de 30 minutos, ficamos refletindo muito sobre a personalidade e as ações tomadas, certas ou erradas, pelo personagem, gerando a curiosidade de querer conhecer mais sobre a história dessa alma introvertida e as prováveis sinucas que se envolve a partir da curiosidade.

 

 

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28/03/2021

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Crítica do filme: 'White Eye'


O viciado e triste olhar do preconceito. Uma bicicleta roubada. As questões burocráticas da lei. Olho branco, viciado dentro do preconceito. Em tempos onde a linha tênue do bom senso insiste em não existir. Para onde caminhará nossa humanidade? Escrito e dirigido pelo cineasta Tomer Shushan, em seu segundo curta-metragem na carreira, White Eye é o retrato de muitos países europeus onde o medo dos imigrantes é constante, tentando se estabelecer em um país onde não nasceram.


Finalista do Oscar 2021 de Melhor Curta de Ficção, o curta-metragem israelense em pouco mais de 20 minutos nos mostra um conflito quase banal que acaba se tornando uma questão legal sobre um imigrante que luta pelo bem-estar de sua família buscando ser um trabalhador honesto em um país diferente do dele, com mais oportunidades. Interpretados por Daniel Gad e Dawit Tekelaeb, dois homens, duas histórias, se cruzam em torno do roubo ou não de uma bicicleta sendo que um deles acaba acionando a polícia para uma rápida resolução. Mas será que era a melhor solução? O peso na consciência bate rapidamente quando percebe que a polícia está com o olhar viciado em relação ao outro homem.


O filme reflete dilemas sociais que vemos muito por aqui também na América Latina, sobre a ótica do resolver as coisas como adultos ou envolver a polícia e complicar tudo mais ainda? Será que as leis serão justas para todos? Aonde foi parar o bom senso da própria comunidade?

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