30/11/2024

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Pausa para uma série: 'Belo: Perto Demais da Luz'


Buscando apresentar retratos de uma trajetória com altos e baixos de um dos mais bem sucedidos cantores brasileiros, o documentário Belo: Perto Demais da Luz ao longo de quatro episódios – todos já disponíveis na Globoplay - joga para o público reflexões sobre as polêmicas e o caminho trilhado pelo paulista Marcelo Pires Vieira. Sem passar pano e jogando na tela versões de fatos que caíram na curiosidade do povo, esse projeto nos mostra um pouco mais do Marcelo e momentos importantes da carreira de Belo.

A narrativa proposta busca preencher seus espaços primeiro com um pouco da história da infância e depois até sua entrada no grupo de pagode Soweto, passando nos episódios finais para as prisões e as mais recentes polêmicas que lotaram jornais e as redes sociais. Em todo esse processo, vemos em grande parte a história contada pelo próprio Belo e pessoas que sempre estiveram próximas a ele. Bastidores de turnês, imagens de arquivos, ilustram os episódios.

Com criação de José Junior, numa parceira entre Globoplay e a AfroReggae Audiovisual, não é esquecida a menção à ascensão do pagode no início dos anos 1990, onde Belo e outros artistas ganharam oportunidades em programas televisivos e um maior alcance de seus trabalhos. Art popular, Negritude Junior, Exaltasamba e tantos outros apareceram ao Brasil nesse período, abrindo espaço para futuros artistas. Para quem tem 30 anos ou mais lembra bem dessa época! 

A impressionante maneira de Belo se reinventar mesmo com os quebra-molas que apareceram na sua frente parece ser um fio condutor do projeto. Midiático desde que alcançou o sucesso e sem nunca perder a fidelidade de seu enorme público, sua vida virou um livro aberto à interpretações. Essa série, segue nessa linha. Com tanta exposição, polêmicas não faltaram ao longo dos seus 50 anos, completados em 2024.

Desde os relacionamentos com outras personalidades artísticas, a famosa dívida com um ex-jogador de futebol, até os problemas com a justiça, são mencionadas com versões que algumas vezes se chocam deixando para o público qualquer veredito. Há dois momentos que se tornam os pontos altos, os bastidores das prisões de Belo e o forte depoimento de Gracyanne Barbosa, ex-esposa de Belo. 

Com direção artística de Jorge Espírito Santo, roteiro e direção de Gustavo Gomes, Belo: Perto Demais da Luz é uma série documental que consegue fugir de ser chapa branca apresentando fatos, versões, numa modelagem de uma quebra-cabeça de uma figura por vezes enigmática que nunca deixou de ser amada por seu público.

 

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Crítica do filme: 'Submissão'


Tentando implementar um suspense sensual em meio a um retrato melancólico de um drama familiar o suspense Submissão caminha de forma desordenada pela redundância, se distanciando do discurso. Dirigido por SK Dale e protagonizado por Megan Fox, a produção que estreou na Prime Video nesse segundo semestre de 2024 é uma junção de peças sem sentido que nos levam até o caminho do desinteresse.

Na trama conhecemos Nick (Michele Morrone), um pai de família que vive um presente conturbado precisando cuidar dos dois filhos pequenos e com a esposa Maggie (Madeline Zima) precisando de um transplante de coração pra sobreviver. Para ajudá-lo no seu cotidiano, ele compra uma robô, Alice (Megan Fox). Aos poucos vai percebendo que essa escolha pode trazer muitos perigos para sua família quando a inteligência artificial começa a descobrir atualizações em seu sistema.

As questões sociais e os impactos da implantação da tecnologia é um tema recorrente no mundo do cinema. Por aqui ganha foco na questão da substituição de humanos por máquinas. Usuário principal, protocolos, sistemas em conflitos, rebelião de IA, há uma tentativa de imersão nesse universo e os contrapontos que atingem a sociedade. A questão é que sem a profundidade necessária, o projeto não encontra camadas, se tornando refém de chamativas cenas sensuais para gerar um clímax sem criatividade.  

A tecnologia como negócio, com as grandes corporações fazendo uso da inteligência artificial via robôs programados para fazerem tudo parece ser uma linha que busca juntar os pedaços dessa narrativa sonolenta, previsível, que se perde ao tentar unir a isso o forte drama familiar instaurado. A questão mais evidente que percebemos é que tinha elementos que poderiam serem melhor explorados. É como se a história estivesse lá mas a narrativa não acontece.

Logo alcançando o top 1 da Prime Video, Submissão (Subservience, no original) é um passatempo pouco criativo que busca chamar a atenção no ardente conflitante de um pai juntando os cacos de um presente caótico com cenas pouco inspiradas de máquinas em busca de atualizações para terem autonomia. Muito pouco para agradar.   

 

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26/11/2024

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Crítica do filme: 'Manas'


Vi um dos grandes filmes brasileiros dos últimos anos, um projeto dilacerante, angustiante e que mostra verdades duras. Selecionado para a Mostra de Cinema de Gostoso 2024, depois de passar por outros festivais com grande sucesso, Manas apresenta o recorte de uma família pela visão de uma jovem adolescente que sofre com muitos tipos de violência em seu cotidiano. Dirigido por Marianna Brennand, o projeto dilacera de forma contundente os muitos tipos de abusos dentro e fora de casa.

Na trama conhecemos Tiele (Jamilli Correa), que vive com sua família em uma região na Ilha de Marajó, no Pará. Cheia de sonhos logo entra em um pesadelo, começando por perguntas em respostas no sumiço da irmã. Quando se vê perdida e completamente atingida pela violência que chega aos seus olhos de forma cruel, persegue o socorro por um caminho solitário até as últimas consequências.

Impressiona a maneira como a violência é retratada, de forma sutil a competente narrativa apresenta a angústia de forma dilacerante. Os olhares vão todos para a protagonista num clímax constante, numa busca por soluções para os absurdos que passa se colocando muitas vezes em uma estrada de rompimento do silêncio. Sem esquecer de outras fortes críticas sociais, percebemos um labirinto dentro de uma bolha com respostas cada vez mais distantes.

O núcleo familiar adiciona as camadas para esse poderoso drama que personifica muitas realidades pelo Brasil. Na incompreensão da passividade da mãe – interpretada pela ótima atriz Fátima Macedo – na iminência dos confrontos com o pai (Rômulo Braga) , até seu despertar para fugir do seu futuro naquelas condições, Tiele passa pelo terror sabendo que medidas drásticas podem ser a única solução para sair dele.

Rodado na região amazônica, o filme é brilhante tecnicamente falando. As imagens e movimentos se tornam elementos que ajudam a nos mostrar as incertezas colhidas por essa estrada. É como se cada detalhe fosse pensando para criar a imersão necessária para a angústia saltar aos nossos olhos e de maneira constante.

Eu estava com muitas expectativas pra assistir e valeu cada segundo. Será um filme que ficará nas minhas memorias por muito tempo. Manas é um filme duro, chocante, uma forte crítica social e um retrato dilacerante da violência.


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25/11/2024

Crítica do filme: 'GTMax'


Sem nunca esconder que é um filme de ação daqueles onde o foco é quase total nas cenas coreografadas – aqui em alta velocidade – o longa-metragem francês GTMax parte de um conflito familiar e problemas no passado para compor uma parte dramática genérica longe de qualquer empolgação. Dirigido pelo cineasta Olivier Schneider, debutando na carreira de diretor de longas-metragens, esse é mais um filme parecido com tantos outros.

Ao longo de 100 minutos de projeção acompanhamos a história de Soélie (Ava Baya), uma ex-campeã de Motocross que se depara com complicados problemas financeiros que sua família se meteu. Buscando salvar a pista de corrida que são donos, pagar dívidas imensas com um banco e salvar o irmão Michael (Riadh Belaïche) de uma enrascada, resolve aceitar um trabalho criminoso organizado pelo violento Elyas (Jalil Lespert).  

Com a trama girando ao redor de poucos personagens, resta ao roteiro buscar elos através de um trauma vivido pela protagonista para se chegar até o clímax com uma estrutura narrativa batida. Nesse projeto, que logo alcançou ao top 10 da Netflix nos seus dias de estreia na plataforma, não há pretensões de ser nada diferente do que parece, reúne, numa linha definida, os heróis e os vilões, deixando o senso crítico estabilizado numa reta rumo ao previsível.

Por um olhar mais profundo, há brechas de reflexões sobre a moral, até mesmo as inconsequências das ações de um policial inconsequente que soma pouco a tudo que vemos. Pode-se caminhar também na relação familiar, mesmo sem chegar em muitas camadas, numa difícil relação entre pais e filhos. 

Para os amantes do motociclismo, as cenas de ação podem ser um alento, são bem filmadas e com coreografias que podem empolgar. Esse ponto pode ser enxergado por algumas pessoas como um oásis, até mesmo um aceitável passatempo, em meio a uma história sonolenta que é decifrada rapidamente ao longo de poucos minutos. Não sabemos se é o caso, mas parece uma tentativa nada empolgante de um ‘Velozes e Furiosos’ sobre duas rodas.

 

 

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23/11/2024

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Crítica do filme: 'Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí' [Mostra de Cinema de Gostoso 2024]


Uma história de amor em meio a um rico material de um profissional exemplar que sempre colocou a cultura brasileira em suas pautas. Assim podemos começar uma análise sobre esse cativante projeto. Exibido em primeira mão na Mostra de Cinema de Gostoso 2024, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí reúne uma importante pesquisa, que junta materiais de arquivo aos detalhes do cotidiano, para registrar o começo, meio e as novas descobertas do viver de um homem diagnosticado com uma doença cruel que continua a escrever a sua própria história.

Diagnosticado com demência frontotemporal, o jornalista Maurício Kubrusly marcou a história do rádio e da televisão brasileira. Desde a primeira matéria de repercussão – ainda quando era estagiário – um furo de reportagem sobre a passagem da atriz francesa Brigitte Bardot pelo Rio de Janeiro décadas atrás, até as lendárias críticas musicais, passando também por um quadro de sucesso no importante programa televisivo da Rede Globo, Fantástico, que levou o olhar curioso de vários pontos do Brasil que poucos conheciam, Kubrusly é um mestre na arte de como atrair a atenção dos espectadores - inspiração para tantos outros profissionais da área.

Fugindo do convencional, o projeto vai do divertido ao curioso, guiado por um olhar delicado, sensível, que navega pelo tempo sendo essa uma variável com paralelos e trocas com a fabulosa carreira do personagem principal. Com um rico material, em áudio e vídeo, ultrapassa os desafios dos arquivos criando uma sintonia no discurso honesto e intimista que se propõe. Através de retratos de uma história de amor, sua forte ligação com a esposa – que conheceu anos atrás em um site de relacionamentos – logo chegamos na intimidade que conversa com as lembranças e se juntam com a sua condição de hoje, na perda da memória.  

Sendo também importante para falar de uma condição de saúde (demência frontotemporal (DFT) que invade tantos outros lares, que recentemente ganhou holofotes por ser a mesma que passa o ator Bruce Willis, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí é um recorte também sobre os caminhos para lidar com essa doença e pode servir de inspiração para tantas outras famílias que passam pela questão com um alguém próximo.

Dirigido por Caio Cavechini e Evelyn Kuriki esse projeto que chega no início de dezembro na Globoplay se consolida como uma obra atemporal, muito bem estruturada, comovente, que vai seguir como um importante registro de um jornalista único, uma linda história de amor e a eterna arte de novos olhares para o viver.  

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19/11/2024

Crítica do filme: 'Mia' [Festival de Cinema Italiano 2024]


O passo a passo de um desmoronamento familiar. Com um foco quase que total em um pai controlador e uma mãe perdida em como lidar com algumas situações que se apresentam, o longa-metragem Mia possui um clima angustiante, focalizando no limite das emoções uma gangorra de desespero apresentando os detalhes do antes e depois de um acontecimento trágico. Dirigido por Ivano De Matteo, esse forte drama aborda e reflete sobre relacionamentos tóxicos, as indescritíveis camadas da dor e a incapacidade de ajuda.

Na trama conhecemos Sergio (Edoardo Leo) um bondoso motorista de ambulância que vive com sua esposa Valeria (Milena Mancini) e a filha de 15 anos, Mia (Greta Gasbarri). Exigente e muitas vezes controlador, Sergio está sempre atualizado sobre a vida da filha. Um dia Mia conhece um jovem com quem passa a ter um relacionamento que logo se mostra tóxico. A partir desse ponto, a família passará por uma enorme tempestade que deixam em iminência uma tragédia.

Destrinchando relações entre três elementos do mesmo lar, percorremos alguns momentos na vida de uma família como se após a ultrapassagem de uma linha – entenda como um fato marcante – uma desconstrução acontecesse. Do amor ao desespero, com a culpa logo se tornando um elemento importante de uma equação sem solução, o projeto ruma para seu clímax com a tensão contínua marcado pela violência de muitas formas. O elenco é muito bom, grande harmonia em cena.

O apartamento onde moram se torna o cenário de uma transformação que liga os pontos do sofrimento. A direção de arte é muito bem feita, elementos em cena conversam com o abstrato dos conflitos que se estabelecem somatizando cenas impactantes e de confronto. A narrativa bem conduzida por Matteo apresenta cada detalhe e as verdades de um relacionamento tóxico e como isso atinge a todos os personagens. Muitas reflexões dessa obra passam por esse ponto, parecendo perguntar ao espectador o que faria naquela situação.

Rumando para interpretações de uma revolta seguida de dor, Mia não é um filme fácil, é um recorte duro sobre o desencontro no ajudar e as fraquezas que refletem em comportamentos.


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Crítica do filme: 'A Alma em Paz' [Festival de Cinema Italiano 2024]


Uma família disfuncional, uma jovem cheia de sonhos distantes. Começando uma jornada de desconstruções com essas duas variáveis se chocando em ações inconsequentes, o longa-metragem A Alma em Paz logo se identifica como um drama contundente que joga um alvo nos desperdícios de oportunidades. A normalização da dor e das dificuldades cotidianas apontam olhares beirando o precipício da moral, sem saídas, em um mundo injusto onde o desmoronar virou uma rotina.

Na trama, ambientada ainda nos tempos onde a pandemia buscava ser controlada na Itália, conhecemos Dora (Lívia Antonelli) uma jovem de origem humilde que trabalha duro para sobreviver e na outra parte do dia complementa a renda traficando. Ela vive com a tia e a mãe e tem um passado repleto de traumas. Lutando para ter de volta os irmãos entregues para a assistente social, acaba conhecendo um homem que a faz acreditar em alguns sonhos perdidos.

Há soluções em meio ao caos? Logo percebemos que o ambiente se torna um paralelo para que a narrativa amplie o olhar. Com as ruas vazias e a violência se mostrando uma força que cisma em dar as caras, percorremos os conflitos emocionais da protagonista a partir das diferentes formas de encarar o mundo ao seu redor. Com os pés no chão e explorando recortes de realidades, o roteiro fortalece o discurso sobre os desencontros com a felicidade.

Interpretações sobre o sentido de família - aqui fortemente colocados sobre os deslizes da figura materna - também ganham os holofotes dando voltas na pergunta: O que precisamos ter para ser feliz? Nesse forte drama selecionado para o Festival Italiano de Cinema 2024, escrito e dirigido por Ciro Formisano, a normalização de uma situação caótica abre camadas para reflexões sociais e tantos outros assuntos.   


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18/11/2024

Crítica do filme: 'Um Mundo à Parte' [Festival de Cinema Italiano 2024]


O sonhar e o realizar. Buscando por meio do sorriso abrir leques superficiais de reflexões sobre questões sociais – principalmente ligadas à educação e a imigração – o longa-metragem Um Mundo à Parte, selecionado para o Festival de Cinema Italiano 2024, é antes de mais nada um filme nada pretencioso. Por meio de suas mensagens diretas e objetivas, o simpático projeto escrito e dirigido por Ricardo Milani, nos leva para um recorte na vida de um professor que passa por uma enorme transformação quando tem um desejo realizado.

Na trama conhecemos Michele (Antonio Albanese) um professor do ensino fundamental que está louco pra sair de Roma e ser transferido para um cidade do interior do país. Um dia ele consegue, indo parar numa cidadezinha gelada no interior que tem pouquíssimos habitantes. Quando consegue se estabelecer no lugar, o risco da escola ser fechada o faz ir atrás de soluções ao lado de Agnese (Virgínia Raffaele), a diretora do colégio.

O que muda e o que permanece. A escolha de um protagonista professor obviamente nos leva para as problemáticas do sistema educação, aqui caminhando apenas no superficial quando pensamos em críticas contundentes. Desmotivado num grande centro, o personagem principal entra em total desconstrução quando se vê envolvido como peça fundamental de um resgate para melhorias de um novo lugar. O que acontece de interessante a partir disso, dessa parte da premissa, é que entramos em interessantes debates sobre o êxodo das cidades menores, além de abrir seus olhares para a questão dos refugiados.

As diferentes tradições culturais dentro do mesmo país, as formas distintas de relações, são elementos que também contornam as boas reflexões dessa história. De forma animada, esse projeto se consolida como uma honesta boa sessão da tarde com muitas cenas engraçadas.


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Crítica do filme: 'Parece Bastante Paris' [Festival de Cinema Italiano 2024]


As alegrias de uma falsa verdade. Uma criativa viagem de mentirinha para cumprir o último desejo do pai é a base da história do longa-metragem Parece Bastante Paris, selecionado para o Festival de Cinema Italiano 2024. Nessa comédia com leves pitadas dramáticas, baseada em partes numa história real que aconteceu em 1982 na Toscana, acompanhamos desabafos de parentes afastados envolvidos por um só objetivo.

Na trama conhecemos três irmãos afastados que se reencontram num momento delicado. O pai vai parar no hospital e lá ficam sabendo da condição dele. Mesmo com as desavenças que o passado deixou, resolvem realizar o último desejo dele: visitar Paris. Só que pela condição do pai, optam por criar uma viagem fictícia, rodando numa van por uma região que conhecem e assim recriando o trajeto para a capital da França.

Quem nunca viu em um filme uma história sobre família e seus problemas? Seguindo na linha do convencional da maioria das tramas que abordam o tema, o projeto busca o riso a todos instante. A partir de um tema beirando ao fúnebre o roteiro opta pela alegria ao encontrar um gancho na criatividade da premissa como força motora.

Memórias antigas e desabafos do presente se tornam o fôlego para a narrativa preencher - com exageros - lacunas para reflexões. Com as peças avançando em trocas sobre os próprios presentes, o drama chega por meio das frustrações, dos segredos, da intimidade, gotas num oceano envolvida pelo inusitado.

A vida e suas variáveis de aflições logo se tornam elementos importantes e contornam parte desse recorte que ruma ao intimista. Parece bastante Paris é um filme na linha do trivial, onde todos não se dão bem mas saem felizes dessa jornada. Nos filmes e suas infinitas possibilidades, essa sempre é uma delas.


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16/11/2024

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Crítica do filme: 'As Crianças Perdidas'


A sobrevivência em meio as leis da selva. Reunindo uma série de detalhes sobre um dos resgates mais emocionantes de toda a história da América do Sul, o excelente documentário As Crianças Perdidas nos leva até uma região conflituosa, onde grupos paramilitares, indígenas e militares entram em embates faz muitos anos e se tornam variáveis de uma busca por crianças que sofreram uma traumática tragédia no coração da Amazônia Colombiana.

No início do ano passado, quatro irmãos pequenos embarcaram em um avião em Araracuara para ir encontrar o pai/padrasto no município de San José del Guaviare. Um acidente terrível acontece, com o meio de transporte caindo numa região de difícil acesso. Logo o governo colombiano é avisado e começa uma intensa busca pela difícil selva. Mas será que alguém sobreviveu? Ao longo de desgastantes 40 dias, as respostas vem chegando conforme pistas aparecem e com a adição necessária ao grupo de busca de voluntários representantes indígenas que melhor conhecem a região.

A narrativa chama a atenção pela forte contextualização não só da vida das vítimas mas também sobre a violência em um país de belezas mas de enormes perigosos: uma nação em eterno conflito interno, assim pode ser definida a Colômbia. O governo numa luta de muitas décadas contra a FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), também vê embates entre seus militares e tribos indígenas, tudo isso é mostrado através dos relatos de heróis que fizeram parte da expedição.

Repleto de depoimentos de testemunhas dessa busca, familiares e conhecidos das vítimas, vamos de forma impactante conhecendo melhor um contundente recorte de uma região que logo vira um pano de fundo para um final que já se conhecia. A sabedoria indígena ganha destaque, um ponto onde o sobrenatural chama a atenção, algo que ao lado da estratégia dos militares vira uma soma importante para a equação de salvamento ter êxito. Esse entendimento entre as partes envolvidas em prol do salvamento pode ter aberto caminho para curar feridas do passado. Pelo menos uma porta se abriu.

As Crianças Perdidas completa um ciclo sobre uma situação abrindo camadas para tantas outras reflexões, um trabalho impecável que liga o passado ao presente mostrando a importância das conciliações através do caos de um desaparecimento.


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