26/08/2018

Crítica do filme: 'O Aviso'


O destino e a matemática andando lado a lado. Disponível no catálogo da Netflix, o longa metragem espanhol O Aviso aborda uma fábula matemática ligada ao destino, quando uma misteriosa ligação entre assassinatos em um mesmo lugar, ao longo de anos, se tornam uma obsessão para um homem, campeão de olimpíadas de matemática, que luta contra sua psicopatia. Dirigido pelo cineasta espanhol Daniel Calparsoro (do interessante Cien años de perdón) e protagonizado pelo ótimo ator Raúl Arévalo (do surpreendente Pecados Antigos, Longas Sombras), o projeto entrega um belo roteiro com um final cheio de opções de interpretações.

Baseado na obra El Aviso de Paul Pen, o filme, ao longo de duas linhas temporais com dez anos de diferenças, acompanha em uma delas Jon (Raúl Arévalo), um homem com problemas pessoais que após parar em um posto de gasolina, vê seu melhor amigo ser assassinado a sangue frio por assaltantes. Enquanto o amigo luta pela vida contra o coma, Jon, um homem ligado à matemática, começa a pesquisar sobre o passado daquele posto de gasolina e descobre uma enorme coincidência ou não sobre relações com outros assassinatos que foram cometidos no mesmo lugar. Lutando contra o tempo e buscando soluções para sua equação, Jon ainda tem que se preocupar com seu estado de saúde mental, já que tomava remédios controlados para combater seu lado psicótico. 10 anos à frente, o jovem Nico (Hugo Arbues), perceberá que sua vida pode mudar caso Jon não seja ouvido no passado.

Mesmo o inusitado tomando conta de todo o background do filme, o roteiro, muito bom, consegue percorrer caminhos de temas atuais como o bullying, enfrentado, muito bem retratado, pela subtrama familiar, dez anos à frente, que tem o jovem Nico e sua mãe Lucía (Aura Garrido, em grande atuação) no centro. Outro tema interessante é a questão do desligar ou não os aparelhos de um paciente com poucas chances de sobrevivência, núcleo encabeçado pela ótima Belén Cuesta e sua personagem Andrea, futura noiva do amigo de Jon, em coma.

Mas o que move as ações são mesmo as ansiedades e desespero de Jon, que dão ritmo ao filme. O desfecho é convincente, mesmo beirando um certo absurdo, encontra-se uma certa lógica para todos os argumentos apresentados. O Aviso é aquele tipo de filme que torcemos para descobrir o final, já que várias portas são abertas.