10/12/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #207 - Roger D. Bravo


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Roger D. Bravo é nascido e criado na Zona Leste de São Paulo. Participa da produtora artística independente Vivárte, é um dos realizadores do Cinédito (Instagram @cineditobr), canal dedicado à apresentação e discussão do cinema brasileiro. O projeto foi desenvolvido em 2019 com dois amigos, a Júlia e o Eduardo - esse que continua o ajudando na manutenção do conteúdo. Vê no cinema uma manifestação social como possível espelho de quem somos e, por isso, luta pelo acesso e divulgação do audiovisual nacional para todos nós que, por direito, o merecemos.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Por vários motivos, não costumo visitar tantas salas quanto gostaria. Em 2020, obviamente visitei ainda menos kkkk. Mas curto muito a programação do Cine Marabá, um cinema de rua que fica no centro da cidade. É um cinema de poucas salas, mas que mistura muito bem sua programação entre "blockbusters" e filmes nacionais e independentes. Fora isso, não posso deixar de falar que o preço é ótimo, além de ser um local histórico da nossa cidade e do nosso cinema.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Stalker, do Andrey Tarkovsky.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não consigo escolher de verdade uma diretora ou diretor favorito, mas vou citar Rogério Sganzerla e seu filme Sem Essa, Aranha.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Terra em Transe, do Glauber Rocha. Dizer o porquê é muito difícil: são muitos motivos e se eu soubesse explicar, não seria meu filme favorito.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é se importar com cinema. Propaga-se muito (e toscamente) a ideia de que ser cinéfilo é ver todos os filmes do momento e assistir várias produções diferentes para encher sua conta do "Letterboxd". Mas isso não significa nada. Muitos dos "cinéfilos" que conheço são meros consumistas - não ligam para cinema. Um cinéfilo é (ou deveria ser) aquele que se importa com a função do cinema, com o encaminhamento e preenchimento da uma indústria que afetou fortemente o passado e afetará diretamente o futuro. Isso, inclusive, vale para a relação desse indivíduo com a produção do seu país - usando o cinema como espelho dialético da sua realidade.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

As programações são prioritariamente feitas por quem entende e gosta de dinheiro. Se o cinema é ou deveria "ser dinheiro" ou não, é uma discussão boa. Quem tem a resposta é o público - então, precisamos de mais salas de cinema pelo Brasil para responder o que é cinema antes de mais nada.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Ganga Zumba, do Carlos Diegues.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, mas também não devo dizer se uma pessoa deveria ou não sair de casa durante a pandemia para ver filme meia-boca no cinema. Eu, definitivamente, não recomendo comprar um ingresso para ser cobaia de distribuidora. Sobre cinemas pequenos (que correm mais riscos financeiros com a pandemia) existem diferentes formas de ajudar esses locais sem ser com a compra física de ingressos.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Artisticamente, falando de filmes, está maravilhosa. Institucional e politicamente, um desastre. A Cinemateca brasileira, por exemplo, acaba de ser sequestrada pelo Ministério do Turismo; diversas produções sofrem com a incompetência das agências e indivíduos responsáveis pela cultura nacional; e a luta por mais diversidade e acesso no nosso mercado ainda engatinha aos poucos. Mesmo assim, focar no "lado bom", nas produções incríveis que temos e que têm ganhado popularidade recentemente, como a recente vencedora do Emmy "Ninguém tá Olhando", é um ótimo caminho para conseguirmos lidar com as partes desastrosas e gerar a comoção necessária para a mudança.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

André Novais Oliveira.

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é política, mesmo quando feito de filmes não-políticos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não me lembro de nada sensacional, mas, uma vez, aconteceu um erro na projeção que fez o filme parar e ser exibido de novo. Não durou muito e foi bem pouco romântico.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Melhor do que muitos imaginam.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Citando uma frase que li do Adirley Queirós, um diretor que curto muito, "cinéfilos cabulosos viram cineastas cabulosos". Então, é possível fazer um filme sem ser cinéfilo, mas esse filme dificilmente será cabuloso.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Talvez Holocausto Canibal. E não falo isso de um jeito sensacionalista, tipo, "esse filme é tão violento, meu deus, que aterrorizante", mas de um jeito sincero. É um filme bem ruinzinho mesmo, coisa do homem branco com complexo de colonizador.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Vou falar do clássico Cabra Marcado para Morrer, do Eduardo Coutinho, mas gostaria de fazer uma menção aos filmes do próprio Adirley Queirós, que já citei aqui. Seus documentários mudaram para sempre minha forma de ver o estilo.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não, e acho bem ridículo quem faz isso em sessões comuns hahaha. Compreendo aplaudir em festivais e coisa do tipo, mas não vejo porque fazer isso dentro de uma sala da Moviecom ou sei lá. As risadas, lágrimas, sustos ou seja lá o que for ao longo do filme são as verdadeiras palmas.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Adaptação, do Spike Jonze.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Acho que o Cinemascope e o Cinemação.