17/12/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #216 - Igor Galletti


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, do Rio de Janeiro. Igor Galletti é jornalista, com passagens pelo jornalismo esportivo, que se aventurou no jornalismo cultural, com a página @cine.cldscp, no Instagram. Carioca, de 27 anos, pai orgulhoso, que ama cinema, música e literatura.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O meu cinema favorito na cidade do Rio de Janeiro é o Cinema Estação de Botafogo. Cada uma com sua peculiaridade, ambas bem organizadas e com ótimas programações, mesclando filmes comerciais, nacionais e europeus, do circuito mais alternativo. Os cinemas são de rua, ao lado de bares, em uma das ruas mais efervescentes do bairro, além de oferecer cursos de cinema e promover outros eventos.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Foi o filme Edukators (2004), de Hans Weingartner. Eu era bem novo e fui com minha mãe e uma amiga dela. O filme teve um impacto interessante, pois fala sobre desigualdade social, com uma crítica interessante ao sistema capitalista. Eu consegui pescar, mesmo que de forma inocente, a essência do filme e me senti influenciado pelo o que o filme queria dizer. Foi a primeira vez que eu percebi o impacto social e transformador que um filme pode ter na sociedade.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

É difícil escolher um, mas vou ficar com o Martin Scorsese. O meu favorito dele é "Taxi Driver" (1979).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cidade de Deus (2002), pois é um filme que traz um marco importante para o cinema nacional, consegue aliar a essência do Cinema Novo com técnicas modernas de edição e filmagem, estabilizando o cinema nacional após a Retomada, com seu sucesso internacional avassalador. Os atores, que não eram atores de formação, são impressionantes, o roteiro e a montagem são incríveis, a trilha sonora no ponto, é perfeito no ponto de vista técnico. É um filme que define uma época, assim como foi Bacurau agora e os filmes de Gláuber Rocha.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Sabe quando você sente vontade de bater palma depois que um bom filme acaba? Acho que ser cinéfilo é isso, sentir o filme de uma forma diferente, mais passional, saber o efeito que um filme, enquanto expressão artística, pode transformar as pessoas e, consequentemente, a sociedade. Ser cinéfilo é assistir e deixar ser assistido por um filme.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que sim. O cinema faz parte da indústria cultural, tanto em sua produção quanto na distribuição. Quem faz a distribuição também pensa no lucro que o filme pode render e acredito que esse seja o primeiro pensamento ao organizar uma programação, o que aquele filme pode render financeiramente, não mais precisamente na qualidade do filme em si. Mas também há cinemas que abrem espaço para filmes com outras características, mais independentes ou alternativos. Nas duas opções, quem organiza um cinema precisa ter um olhar diferenciado para ajeitar suas programações, o que eu acho que acontece de uma maneira geral.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não, nunca. O que vai acontecer (e já acontece) é o surgimento de novas formas e meios de se assistir um filme, como é o caso do streaming, mas é difícil que apareça um meio que substitua o cinema, ao ponto de o torna-lo obsoleto. É difícil que apareça um novo meio que consiga emular fidedignamente o cinema e as sensações adquiridas em uma sala de cinema, essa imersão total, o afastamento do agora. São essas sensações únicas, e que precisam ser saciadas, que diferencia o cinema de outros meios e o torna insubstituível.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Vou falar um brasileiro: Arábia (2018), de João Dumans e Affonso Uchoa, um retrato primoroso da classe operária brasileira.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

As autoridades brasileiras não entendem (ou não querem entender) como lidar com a pandemia. Não acredito que a sociedade brasileira esteja preparada para reaberturas tão significativas, justamente por não ter uma consciência coletiva de como enfrentar a doença de forma sensata. Nesse cenário em que vivemos, acredito que não seria o mais indicado abrir antes da vacina. Mas, se seguirem os protocolos de segurança e saúde, se pensar um modelo que não seja tão nocivo e, ao mesmo tempo, acessível, podem-se encontrar boas saídas para a abertura.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Alta qualidade. O cinema brasileiro evoluiu bastante tecnicamente e esteticamente. É um cinema de fato brasileiro, pois se vê boas produções feitas em diversas regiões, não se limitando ao eixo Rio-São Paulo. Além disso, é um cinema feito na raça, pois os incentivos do governo diminuíram significativamente, o que faz com que o cinema atual seja de resistência. Então, é admirável o que foi feito com as dificuldades, o que só reforça o quão rico culturalmente o nosso cinema é.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernanda Montenegro e Wagner Moura.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Espelho dos sonhos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Uma vez o filme simplesmente sumiu da tela. Deu uma pane no projetor e a sessão teve que ser encerrada. Ninguém terminou de assistir o filme e o cinema deu ingresso de graça para escolher uma outra sessão em qualquer horário para repor a falha.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Mais um clássico do É o Tchan.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não precisa ser cinéfilo, precisa ter coragem, e amor pela arte.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Cada Um Tem a Gêmea que Merece.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Estamira (2004), de Marcos Prado.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Já! Com vergonha, mas já. Na maioria das vezes, espero alguém puxar a palma e vou atrás.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O Senhor das Armas.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Imdb.com