O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, do Rio de Janeiro. Igor Galletti é jornalista, com
passagens pelo jornalismo esportivo, que se aventurou no jornalismo cultural,
com a página @cine.cldscp, no Instagram. Carioca, de 27 anos, pai orgulhoso,
que ama cinema, música e literatura.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
O meu cinema favorito na cidade do Rio de Janeiro é o Cinema Estação de Botafogo. Cada uma
com sua peculiaridade, ambas bem organizadas e com ótimas programações,
mesclando filmes comerciais, nacionais e europeus, do circuito mais
alternativo. Os cinemas são de rua, ao lado de bares, em uma das ruas mais
efervescentes do bairro, além de oferecer cursos de cinema e promover outros
eventos.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Foi o filme Edukators
(2004), de Hans Weingartner. Eu era
bem novo e fui com minha mãe e uma amiga dela. O filme teve um impacto
interessante, pois fala sobre desigualdade social, com uma crítica interessante
ao sistema capitalista. Eu consegui pescar, mesmo que de forma inocente, a
essência do filme e me senti influenciado pelo o que o filme queria dizer. Foi
a primeira vez que eu percebi o impacto social e transformador que um filme
pode ter na sociedade.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
É difícil escolher um, mas vou ficar com o Martin Scorsese.
O meu favorito dele é "Taxi Driver" (1979).
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Cidade de Deus
(2002), pois é um filme que traz um marco importante para o cinema nacional,
consegue aliar a essência do Cinema Novo com técnicas modernas de edição e
filmagem, estabilizando o cinema nacional após a Retomada, com seu sucesso
internacional avassalador. Os atores, que não eram atores de formação, são
impressionantes, o roteiro e a montagem são incríveis, a trilha sonora no
ponto, é perfeito no ponto de vista técnico. É um filme que define uma época, assim
como foi Bacurau agora e os filmes
de Gláuber Rocha.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Sabe quando você sente vontade de bater palma depois que um
bom filme acaba? Acho que ser cinéfilo é isso, sentir o filme de uma forma
diferente, mais passional, saber o efeito que um filme, enquanto expressão
artística, pode transformar as pessoas e, consequentemente, a sociedade. Ser
cinéfilo é assistir e deixar ser assistido por um filme.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Acredito que sim. O cinema faz parte da indústria cultural,
tanto em sua produção quanto na distribuição. Quem faz a distribuição também
pensa no lucro que o filme pode render e acredito que esse seja o primeiro
pensamento ao organizar uma programação, o que aquele filme pode render
financeiramente, não mais precisamente na qualidade do filme em si. Mas também
há cinemas que abrem espaço para filmes com outras características, mais
independentes ou alternativos. Nas duas opções, quem organiza um cinema precisa
ter um olhar diferenciado para ajeitar suas programações, o que eu acho que
acontece de uma maneira geral.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Não, nunca. O que vai acontecer (e já acontece) é o
surgimento de novas formas e meios de se assistir um filme, como é o caso do
streaming, mas é difícil que apareça um meio que substitua o cinema, ao ponto
de o torna-lo obsoleto. É difícil que apareça um novo meio que consiga emular
fidedignamente o cinema e as sensações adquiridas em uma sala de cinema, essa
imersão total, o afastamento do agora. São essas sensações únicas, e que
precisam ser saciadas, que diferencia o cinema de outros meios e o torna
insubstituível.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Vou falar um brasileiro: Arábia (2018), de João Dumans
e Affonso Uchoa, um retrato
primoroso da classe operária brasileira.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
As autoridades brasileiras não entendem (ou não querem
entender) como lidar com a pandemia. Não acredito que a sociedade brasileira
esteja preparada para reaberturas tão significativas, justamente por não ter
uma consciência coletiva de como enfrentar a doença de forma sensata. Nesse
cenário em que vivemos, acredito que não seria o mais indicado abrir antes da
vacina. Mas, se seguirem os protocolos de segurança e saúde, se pensar um
modelo que não seja tão nocivo e, ao mesmo tempo, acessível, podem-se encontrar
boas saídas para a abertura.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Alta qualidade. O cinema brasileiro evoluiu bastante
tecnicamente e esteticamente. É um cinema de fato brasileiro, pois se vê boas
produções feitas em diversas regiões, não se limitando ao eixo Rio-São Paulo.
Além disso, é um cinema feito na raça, pois os incentivos do governo diminuíram
significativamente, o que faz com que o cinema atual seja de resistência.
Então, é admirável o que foi feito com as dificuldades, o que só reforça o quão
rico culturalmente o nosso cinema é.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Fernanda Montenegro
e Wagner Moura.
12) Defina cinema com
uma frase:
Espelho dos sonhos.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Uma vez o filme simplesmente sumiu da tela. Deu uma pane no
projetor e a sessão teve que ser encerrada. Ninguém terminou de assistir o
filme e o cinema deu ingresso de graça para escolher uma outra sessão em
qualquer horário para repor a falha.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Mais um clássico do É o Tchan.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não precisa ser cinéfilo, precisa ter coragem, e amor pela
arte.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Cada Um Tem a Gêmea
que Merece.
17) Qual seu
documentário preferido?
Estamira (2004),
de Marcos Prado.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Já! Com vergonha, mas já. Na maioria das vezes, espero
alguém puxar a palma e vou atrás.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
O Senhor das Armas.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Imdb.com