O que é lembrado, vive. Um dos filmes mais badalados para a próxima premiação do Oscar, Nomadland, escrito (baseado no livro homônimo de Jessica Bruder), dirigido e editado pela cineasta chinesa Chloé Zhao é um road movie cíclico sobre a solidão e os desencontros em relação ao lugar no mundo de uma forte e solitária protagonista (interpretada pela ótima Frances McDormand). Nos faz refletir bastante sobre nossa existência e também sobre as estradas da vida que todos enfrentamos, cada qual a sua forma. Assuntos atuais como a crise econômica e as gangorras de um capitalismo que leva a maioria dos trabalhadores a serem um mero número sem piedade quando as dificuldades ou rendimentos abaixo do esperado chegam também estão presentes nesse belo trabalho vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza.
Na trama, conhecemos Fern (Frances McDormand) uma mulher mais velha que vive em uma Van antiga,
nômade, pelas estradas da vida. Sem lugar fixo, trabalha em determinadas época
do ano na mesma filial de distribuição da Amazon. Combate a solidão, o frio, as
desconfortantes situações que precisar enfrentar para buscar respostas que
tanto procura. Quando o amor chega inesperadamente, ou algo parecido com isso, acaba
gerando uma espécie de conflito dentro dela e decisões precisarão serem
tomadas.
Lar é só um nome ou é algo que carregamos conosco? A
protagonista não é uma mulher perdida no mundo, na verdade é uma corajosa ser
humana, dona de uma atitude para muitos radical mas que para ela se torna uma
única saída. A decisão de viver sozinha a leva a um combo de emoções. A perda
do marido, conexão com a natureza, à espera de uma palavra amiga nos momentos
mais duros e difíceis, há muitos pontos para análise nessa construção profunda
de uma personagem forte que aos poucos vai aprendendo a cada dia mais sobre a
vida sozinha e sobre os obstáculos que pode enfrentar pelo caminho.
A direção é magistral. Zhao consegue nos mostrar as belezas da
solidão, o elo da protagonista com a natureza (em cenas belíssimas) e a dureza
de momentos conflituosos onde as lágrimas se tornam as grandes companheiras de
viagem. Alguns acharão um ‘filme lento’ mas as conexões com a histórias estão
por todo lugar, além disso, por conta de depoimentos de outros na mesma
situação de Fern, em praticamente um retrato real sobre nômades, vamos refletindo
sobre essa situação de muitas almas solitárias e suas escolhas em estarem
sozinhos nas respectivas fases da vida que se encontram. Belo filme.