O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Alessandra Carneiro tem 42 anos, é
carioca, jornalista com passagens pela Globo, Jornal O Dia, Jogos Rio 2016 e
hoje é editora da Agenda Carioca e fala um pouco sobre cinema no perfil do
Instagram @streamingetc. Também fez
faculdade de cinema e ama viajar e cachorros. Adora ver filmes em qualquer
lugar, de qualquer forma, mas acha que nada tem a mesma magia que uma sala de
cinema.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Acho que a tendência dos cinéfilos é dizer o circuito Estação, né? Com uma variedade
maior de filmes de arte e fora do circuito comercial hollywoodiano. E, sim,
apesar de ser clichê, não tem como não citar o circuito Estação. Mas não só:
porque eu também não dispenso um bom blockbuster. E aí vou citar meu cinema
preferido: Roxy, do Grupo Severiano Ribeiro, em Copacabana,
um dos poucos cinemas de rua que ainda resistem na cidade e pertinho da minha
casa. Fora que é um local que me traz muita memória afetiva. Espero que volte a
reabrir após o fim da pandemia.
2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e
pensado: cinema é um lugar diferente.
O primeiro filme que vi: Fantasia, da Disney. Eu
era muuuito nova, devia ter uns 4 anos, mas lembro como se fosse ontem eu me
arrumando pra ir nessa mágica chamada cinema. E tudo me encantou: o tamanho da
tela, a sala escura, o mickey gigante na minha frente, as músicas e tudo em som
alto... isso para uma criança nos anos 80, com aquelas telinhas pequenas da TV
e cheias de interferência e bombril na antena...imagina o choque!
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Ai, difícil citar um só...Amo alguns. Pulp Fiction do Tarantino;
Carne Trêmula do Almodóvar, Manhattan e Annie Hall
do Woody Allen (não me cancelem! rs
Mas eu realmente acredito na inocência dele e confio nas investigações que o
absolveram); Laranja Mecânica do Kubrick; O Mestre do Paul Thomas
Anderson. Acho que vale citar também que amo filmes de terror e dois
diretores mais contemporâneos têm me chamado muito atenção: Ari Aster (meu preferido dele é Midsommar) e Jordan Peele (amo Corra!).
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Se for pensar apenas criticamente, Cidade de Deus. Acho que tecnicamente o filme é perfeito! Aquela
cena de abertura então... uma obra-prima! Mas fiquei fascinada por Bacurau quando vi. Então...os dois.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É ser, acima de tudo, apaixonado por cinema. Consumir cinema
em todas as suas vertentes.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece
possuem programação feita por pessoas que entendem de cinema?
Sim e não. Nos chamados cinema de arte, sim. Nos "de
shopping", não necessariamente. E acho que mesmo que entendam de cinema,
não é a qualidade do filme que motiva o circuito, e sim, o potencial de
bilheteria.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Espero que não. rs. Não, não acho que irão acabar. Mas acho
que serão enxutas, sim, infelizmente. Cinema, cada vez mais é frequentado por
quem ama a sétima arte como um todo, e não para quem só busca uma opção de
entretenimento fora de casa.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Poderia citar vários filmes fora do circuito blockbuster,
mas acho que a maioria dos cinéfilos já viram. Ou The Rocky Horror Picture Show, um dos meus filmes preferidos de
todos os tempos, mas tem seu público cult e fiel também. Mas sabe um filme bem
despretensioso que acho divertidíssimo e que pouca gente viu, apesar de um
elenco com várias estrelas (Ben Affleck,
Casey Aflleck, Kate Hudson, Christina Ricci)? "200 Cigarros". Outro que amo: "Amor à queima-roupa", com Christian
Slater, Patricia Arquette e Gary Oldman. E Nu em Nova York, com o Eric
Stoltz. Nenhum deles é um filme que vai mudar sua vida, mas são filmes que
me divertem muito e nem sei como revê-los. Ah! Lembrei de mais um! E esse acho
um filmaço mesmo: "Estranhos
Prazeres", com Juliette Lewis e
Ralph Fiennes.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Acho complexo... No atual momento, mesmo com a vacina? De
jeito nenhum. Estamos no pior momento da pandemia. Mas acho que pode ser
possível mesmo antes de atingir os tais 70% da população vacinada. Tudo depende
dos números, da medição de risco. Temos que ouvir e acreditar nos especialistas
nessa situação. Eu entendo que é difícil manter salas abertas após tantos meses
fechados. Infelizmente, empresários de diferentes setores foram muito atingidos
e não há um plano de ajuda. Então apesar de não concordar, eu entendi a
reabertura das salas num momento em que a proliferação do vírus parecia mais
controlada.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Acho que temos cada vez mais opções para diferentes gostos.
Aproveito para citar um filme recente que acho que todo mundo deveria ver: Pacarrete.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Wagner Moura.
12) Defina cinema com
uma frase:
Vou roubar uma frase de Godard:
"Cinema é a mais linda fraude do mundo"
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Era um Festival do
Rio e a pré-estreia de Carne
Trêmula, do Almodóvar. Cinema lotado, com pessoas sentadas no chão (na
época, enchiam o cinema nesse nível). Eis que uma ratazana enorme começa a
correr entre as pernas dos presentes e foi uma gritaria e todo mundo correndo.
Foi no antigo Condor, em Copacabana. E outra que lembrei agora: o Roxy, um
cinema do Rio com 3 salas. No cinema 1 estava passando Trainspotting, onde eu estava; e no cinema 2 alguma animação
infantil que não lembro agora. Eis que entra na sala de Trainspotting um pai
com uma criança de uns 7 anos. Claramente entrou no cinema errado. Ele ainda
assistiu uns 15 minutos do filme antes de se tocar que estava no filme
errado...
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Nunca vi. Mas dizem que é ruim, né? rs. Mas na época com o
estouro da Carla Perez tinha seu
público.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Precisar, não precisa. Mas acho que é preciso ter visto
muitos filmes, ter referências, e ser apaixonado por aquilo para realmente
fazer excelentes filmes.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Pior? Nossa...já vi tanta coisa ruim. Mas um filme que me
incomodou demais e saí do cinema com dor de cabeça foi "A Última Paixão de Cristo".
17) Qual seu
documentário preferido?
Dois brasileiros: Cabra
Marcado para Morrer, do Eduardo Coutinho; e Notícias de uma guerra particular,
de Katia Lund e João Moreira Salles.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Nossa...pra tantos...mas o último que lembro fazer isso foi
"Infiltrado na Klan", do Spike Lee.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
"Coração
Selvagem", do David Lynch
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
A sessão de críticas do NYT
(sou fã da Manohla Dargis), IMDB e Rotten Tomatoes.
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Telecine Play.