15/10/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #530 - Rita Vaz


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Curitiba (Paraná). Rita Vaz tem 56 anos. Está na área do jornalismo há 12 anos, anteriormente trabalhou na área onde é graduada, que é Administração de Empresas com Habilitação em Comércio Exterior, tem cursos diversos na área da escrita, com alguns contos publicados e vencedores de prêmios. Tem curso de história do cinema, curso de roteiro, cursos de imersão na obra de determinados diretores, e estuda “cinema e psicanálise”. É idealizadora e administradora do site de cinema Tudo Sobre Filme, há mais de dez anos. Faz crônicas e críticas de filmes que são publicados em alguns veículos de comunicação. A paixão pela leitura, escrita e pelo cinema sempre esteve com ela.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Na minha cidade, meu cinema preferido, é o Cine Passeio. Ele é um cinema de rua, inaugurado há dois anos e tem uma programação especial, e um estilo único. Além de passar os filmes considerados blockbusters, ele passa muitos outros que não tem chances em outros cinemas. São filmes independentes, filmes de festivais dos mais diversos locais, de dentro e de fora do Brasil. E também proporciona master classes com diretores, roteiristas e muitos estudos do cinema. É um lugar ímpar. Recomendo.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro filme que me lembro, de ter assistido no cinema e que teve um impacto grande em mim foi “King Kong” a versão de 1976 com Jessica Lange e Jeff Bridges. Nesse dia o cinema se mostrou para mim, como algo realmente diferente e mágico.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Na verdade, tenho vários diretores favoritos, pois, alguns deles sempre nos impactam de algum modo em todos os seus trabalhos. Mas, para responder você, vou selecionar um, que sempre mexeu comigo, é o François Truffaut. Para mim, um diretor que realmente expressou seus desejos e intenções nos trabalhos que produziu, tanto que influenciou e influencia, gerações de cineastas, além de ser fundador do movimento Nouvelle Vague.

O meu filme favorito de Truffaut é “Os Incompreendidos”. Uma história de abandono e pedido de socorro, das mais lindas e bem construídas que já assisti. E ainda por cima, com um final antológico. Recomendo!

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tenho muitos filmes que gosto, mas, para destacar aqui, vou falar do “Bye, Bye Brasil” do Cacá Diegues.

Um filme empolgante, subversivo (ainda mais prá época), uma verdadeira aula de história. Além de abranger a cultura artística, a cultura popular, a arte em geral de uma forma bastante orgânica, em plena ditadura militar. A trilha sonora é um caso a parte, de tão boa. Um filme que fala de uma realidade que muita gente hoje, desconhece, ou faz questão de esquecer.

Inclusive, vou assistir de novo, fiquei empolgada aqui.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfila para mim, é gostar de cinema em todas as suas possibilidades. Encontrar a beleza da arte em produções pequenas, simples, ou grandes e com orçamentos milionários. Ser cinéfila é se deixar levar pela magia que o cinema realmente produz, e fazer de cada filme, um evento cinematográfico.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Infelizmente não. Acredito que as redes de cinemas estão mais interessadas no lucro proporcionado por um determinado filme, do que o que esse filme possa proporcionar para um indivíduo em si. Mas, há exceções.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. Apesar do streaming ganhar, cada vez mais espaço, somado à pandemia, e a possibilidade de você assistir filmes no conforto do seu lar, nada se compara à emoção de uma sala de cinema.

Primeiro, o ritual em si, de escolher um filme, de escolher a companhia, de ir até um local específico para assistir uma história que outros desconhecidos também se interessaram, é prazeroso. E a reação, a determinada cena de um filme, de dezenas de pessoas ao mesmo tempo, é alucinante. E isso a gente não consegue em casa.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Eu indico “A Vida Invisível”, baseado na obra de Martha Batalha intitulada “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, e dirigido por Karim Ainouz. Um filme elegante, que fala de modo sutil sobre o que as mulheres das décadas passadas (só das passadas?) sofriam.

“A Vida Invisível” é um filme imprescindível de se assistir, traz uma das melhores produções nacionais dos últimos tempos e eleva o nosso cinema para uma categoria superior, aquela dos filmes que te faz pensar e se emocionar com a história, mesmo depois de muito tempo de você o ter visto.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que não deveriam abrir, apesar dos evidentes prejuízos econômicos. As pessoas precisam ficar em casa para que essa pandemia acabe logo. E quanto antes isso acontecer melhor para todos.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Eu acho que o cinema brasileiro está crescendo novamente. Apesar do governo anti cultura, apesar da pandemia, apesar dos baixos recursos, muito está sendo feito, e com muita qualidade. E eu acredito que agora, depois desse evento mundial ter afetado todo mundo, e a arte ter sido fundamental para que pudéssemos passar pela pandemia com menos estragos, as pessoas se voltarão tanto para assistir, quanto para produzir trabalhos que expressem as emoções pelas quais passaram. E o Brasil é enorme, um celeiro de arte, e muita coisa boa ainda está por vir.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Quando eu fico sabendo que uma nova obra do Fernando Meirelles está em produção, eu já fico na expectativa pra assistir. Ele é um diretor que sabe fazer cinema da melhor qualidade. Ele sabe se expressar e se comunicar com o espectador. Sou muito fã.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é Cultura.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Eu estava em uma cabine de imprensa e o alarme contra incêndio da sala disparou. Eu, imediatamente levantei e me retirei da sala. Acontece, que das vinte e poucas pessoas que estavam lá, somente eu fiz isso. Todas as outras continuaram assistindo ao filme, como se nada estivesse acontecendo. Realmente, nada aconteceu, graças a Deus. Foi um alarme falso, porém longo. Mas, quando eu voltei, comentei com todos que o nível de sobrevivência deles, estava baixíssimo. E se fosse séria a coisa. Fiquei passada.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Vergonha alheia.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

A princípio eu acredito que precisa ser cinéfilo sim. É como um escritor, que (eu acho) precisa ler, para saber se expressar. Assim é o diretor de cinema que precisa de muitas referências para se expressar, mas, novamente, há exceções.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Eu não gosto de falar mal de um filme, porque todo filme envolve muito trabalho e sonhos. Mas, alguns a gente não entende, realmente porque foi feito. É o caso de “Cada um Tem a Gêmea que Merece”. Um roteiro chato, com piadas sem graça e péssimas atuações.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Gosto muito de documentários e acho que as pessoas deveriam aproveitá-los melhor. Um dos que gosto bastante é o “Uma Verdade Inconveniente” do Davis Guggenheim, que tem o ex vice presidente dos Estados Unidos, Al Gore, como porta-voz. Um filme que tem uma análise real e crível do que estava acontecendo no nosso planeta e que, infelizmente, ainda está. Inclusive o “Uma Verdade Mais Inconveniente”, feito dez anos depois do primeiro, é muito bom também.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim, já bati para vários e de variados gêneros. Alguns que eu me lembro: “Questão de Tempo” de Richard Curtis, “Vingadores Ultimato” de Joe Russo e Anthony Russo, “Moonlight: Sob a Luz do Luar” de Barry Jenkins, “Poesia” de Lee Chang-Dong, “O Senhor dos Anéis – Todos” de Peter Jackson e muitos outros.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Nicolas Cage já fez muitos e bons filmes, atualmente ele tem feito alguns filmes estranhos, mas, vamos ao que interessa. Ele fez filmes de todos os gêneros e eu poderia elencar um de cada, mas, vou no primeiro que me veio à lembrança e eu tenho certeza de que todo mundo também gosta.: “A Lenda do Tesouro Perdido”. É divertido, cheio de ação, enigmas, romance, suspense, marcou uma época, enfim, é tudo de bom.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

O que eu mais acesso é o Tudo Sobre Filme, idealizado e administrado por mim.

www.tudosobrefilme.com.br