03/01/2022

Crítica do filme: 'A Filha Perdida'


A atenção é a forma mais pura e genuína de generosidade. Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza 2021, A Filha Perdida, disponível na Netflix, é um projeto que nos mostra a complexa saga emocional de uma mãe e suas escolhas. Em um ping pong temporal vamos conhecendo melhorar essa complexa personagem, seus momentos marcantes na educação de suas filhas, suas euforias, seus abalos profundos que transbordam quando gatilhos desencadeiam uma reação emocional intensa e excessiva. Esse longa-metragem é o primeiro da carreira de Maggie Gyllenhaal como diretora, não podia começar melhor. A força da protagonista está em cada cena, com a força da natureza Olivia Colman e a impecável Jessie Buckley, a primeira interpretando a personagem nos tempos atuais, a segunda no passado. O projeto é baseado na obra homônima da escritora italiana Elena Ferrante.


Na trama, conhecemos Leda (Olivia Colman), uma professora universitária de Literatura comprada que vai passar férias em uma região agradável na Grécia. Recebida por Lyle (Ed Harris), os primeiros minutos parece que seriam calmos e da maneira como ela queria, descansar e trabalhar um pouco. Só que logo chega Nina (Dakota Johnson) e sua enorme família. Algumas situações que ela observa acaba gerando uma série de lembranças e assim vamos conhecendo melhor sua história nos primeiros anos de sua jornada como mãe de duas crianças e tendo uma série de realizações profissionais e uma amorosa tendo que equilibrar.


A composição da protagonista em duas linhas temporais coloca o público muito próximo da complexa personagem. A força feminina está em cada linha do roteiro, fruto também da qualidade reflexiva impressionante de Ferrante nas folhas de sua obra. Leda é Introspectiva, parece que gatilhos chegam na força das suas emoções a fazendo reviver algo de seu passado que a princípio não fica muito claro para o espectador mas entendemos logo em seguida com conflitos cheios de simbolismos e ações descontroladas, fruto de um abalo de incertezas dentro de suas escolhas. Observadora, parece que cada detalhe é fruto de algum pensar dentro de uma ótica de inveja ou junções de sentimentos que nascem a partir dos outros, como se pudesse entender aquela situação vivida nos tempos atuais por Nina e se identificando como mulher que já viveu algo parecido.


A Filha Perdida foi indicado em duas categorias no Globo de Ouro (melhor direção e melhor atriz) e com toda certeza deve beliscar alguma vaga no próximo Oscar. Do roteiro à fotografia e também as atuações, direção transformam esse em uma excelente fonte reflexiva sobre o universo da maternidade e feminino. Um filme profundo, denso onde as mulheres vão se identificar muito mais que os homens.