Falar de um artista que ainda pulsa por meio de sua obra nunca é simples. O documentário Cazuza: Boas Novas, exibido com grande sucesso no Festival In-Edit Brasil, mergulha de forma sensível e intimista em um recorte marcante do fim dos anos 1980 — um período turbulento e intenso na vida pessoal e profissional do eterno Cazuza. A produção revela a explosão de emoções e criatividade de um dos nomes mais geniais da nossa música.
A obra percorre histórias curiosas contadas por amigos e
familiares, entrelaçadas com reportagens de TV e canções que muitos de nós
sabemos de cor e seguimos cantando até hoje. Clássicos como Faz Parte do Meu Show, Codinome Beija-Flor
e tantos outros não ficam de fora. O mais interessante é como essas músicas
surgem dentro de um contexto que dialoga com os arcos da narrativa, permitindo
que o filme flua com leveza, mesmo ao abordar temas polêmicos que marcaram a
trajetória de Cazuza.
Repleto de depoimentos de figuras marcantes da nossa música,
como Gilberto Gil, Ney Matogrosso e Roberto Frejat, o documentário acerta
ao construir uma narrativa organizada que mistura falas emocionantes,
reportagens, imagens de arquivo e apresentações musicais — algumas
possivelmente inéditas. Entre os destaques, está o espetáculo O Tempo Não Para,
que arrastou multidões por todo o país. Em seus 90 minutos de projeção, o filme
prende do início ao fim: é emoção atrás de emoção, e o tempo, ironicamente,
parece mesmo não passar.
Dirigido por Nilo
Romero e co-dirigido por Robert
Moret — primeiro amigo e diretor musical do show final de Cazuza — o
documentário tem como maior mérito a proximidade genuína que alcança com seu
personagem central. A cada história contada, o público é conquistado por uma
narrativa que flui de forma artesanal, conduzida por alguém que viveu
intensamente os bastidores daquilo que vemos na tela. As longas conversas dos
convidados, e também amigos de Cazuza, com o próprio Nilo, carregadas de emoção
e memórias vívidas, transformam-se na cereja do bolo de um filme que tem tudo
para se tornar atemporal — como toda grande obra que revela, com honestidade,
as verdades de um artista único.