Sendo bem direto, Redención propõe o choque entre dois mundos ao retratar os dilemas de um casal evangélico incapaz de ter filhos. O longa-metragem peruano constrói seu drama familiar a partir de conflitos que tensionam valores morais e revelam camadas controversas. Desde o início, aposta em uma narrativa que cresce em intensidade até atingir um ponto de ebulição, onde múltiplas interpretações se abrem. A sugestão, mais do que a explicação, torna-se o fio condutor — mas essa escolha acaba por comprometer a coesão da narrativa, gerando uma sensação de desarmonia.
Escrito e dirigido por Miguel
Barreda-Delgado, o filme nos conduz à tragédia por meio da rotina de um
humilde vendedor de sanduíches, casado com uma enfermeira. Devotos fervorosos,
o casal leva uma vida simples, pautada pela fé, até que tudo começa a
desmoronar com a chegada de uma jovem grávida, que vive com a tia surda. O que
parece ser um gesto de acolhimento logo revela seu lado sombrio: a jovem foi,
na verdade, violentada pelo próprio trabalhador que agora a abriga — ponto de
virada que acende os conflitos centrais da trama.
Logo em seu início, o longa-metragem revela certo potencial,
estabelecendo os conflitos a partir de um evento que, à primeira vista, parece
um gesto de compaixão, mas rapidamente se revela uma agressão covarde. Esse
ponto de partida abre espaço para o desenvolvimento dos personagens. No
entanto, ao tentar abordar o comportamento humano sob a lente da fé, o filme se
apoia em uma crítica tímida, que evita tocar nas feridas mais profundas. Assim,
acaba estagnado em conflitos superficiais, apostando apenas no imprevisível
como trunfo narrativo.
Dentro do triângulo proposto, que inclui ainda um pastor
intrometido, revolta, esperança, violência e desejo se misturam de forma
confusa, prejudicado também por escolhas pouco acertadas na composição das
cenas. Diálogos mal construídos e ações que se sobrepõem a explicações apenas
sugeridas geram uma narrativa truncada, afastando-se progressivamente de um discurso
que, inicialmente, parecia mais consistente e sólido.
Redención foi
selecionado para a Mostra Competitiva Sul-americana de Longas-metragens do
Bonito CineSur 2025. Um filme que prometia mas se perde em um mar de situações
mal desenvolvidas que distancia o espectador a cada minuto que passa. Uma pena.