As dores de uma tragédia anunciada. Exibido no segundo dia de mostras competitivas do Bonito CineSur 2025, o novo trabalho da diretora e atriz Bárbara Paz, Rua do Pescador, nº 6 apresenta reflexões em meio a destruição e desilusão narrada por quem viveu os fatos de uma das maiores tragédias climáticas de nosso país. Com pausas reflexivas que buscam ganhar fôlego com uma raiz de conexões do discurso que se mostram amplas, o projeto parte de um olhar de uma comunidade ribeirinha gaúcha remetendo ao passado, sem saber sobre o futuro, mesmo do olhar presente.
Pouco tempo atrás, um fato de conhecimento público deixou o
Brasil em choque. 478 das 497 cidades do estado do Rio Grande do Sul ficaram
completamente inundadas culminando na maior tragédia climática da história da
Região. Rua do Pescador, nº 6 se
aprofunda na questão, apresenta novos olhares, a partir de uma Ilha de
pescadores e seus moradores.
Esse é um longa-metragem que tem vários caminhos de análise.
Dentre os elementos que se mostram em total evidência, o uso da versatilidade do
P&B do início ao fim propõe uma imersão intensa por dentro das emoções. Com
muitas cenas impactantes, dentro daquele chocar com intuito de gerar mais
reflexões, nos levam para uma amplitude atemporal onde a fé e um ponto de
interrogação sobre o futuro mostram suas facetas. Soma-se a isso algumas
entrevistas que ajudam a contar a história.
A posição de observadora de um fato histórico, proposta feita
com eficiência pela diretora, encaixa muito bem na condução desse documento
histórico. Mesmo com desencontros narrativos, passando por leve redundância, o
discurso é traduzido com imagens e movimentos de forma eficaz e que realmente
prendem nossa atenção. Mas uma grande questão se apresenta quando reunimos todas
as peças dessa crítica social: questionamentos de alguns porquês não encontram
muitas camadas chegando apenas até uma crítica superficial.
O papel de todo documentário é registrar e ampliar debates
sobre determinado assunto. No caso de Rua
do Pescador, nº 6 soma-se o fato de dimensionar o tamanho dessa tragédia. É
realmente muito chocante alguém de fora de toda região atingida perceber cada
detalhe desse evento catastrófico. Narrador por quem viveu os fatos, o filme
impacta, documenta a dor de forma visceral.