O CineBH vem trazendo em sua programação deste ano preciosos documentários, alguns sobre assuntos pouco conhecidos. É o caso de Memoria Implacable, co-produção Argentina e Chile que apresenta, por meio de um road movie, a desapropriação de terras e genocídio do povo indígena Mapuche a partir da chegada militar pelos dois lados da Cordilheira dos Andes. Através das descobertas de uma acadêmica descendente Mapuche, percorremos os lugares por onde, entre dores e desamparo, seu povo foi obrigado a passar logo após a expulsão de suas terras.
A oportunidade de reencontrar as verdades dessa história é o
grande objetivo de Margarita, uma ativista que dedicou sua vida a se reconectar
com o passado de seus antepassados e entender de vez a história de sua família
e seu povo. Guiada por essa missão, ela busca informações em relatos e registros da
brutalidade, buscando por memórias enterradas, esquecidas ou negadas. A cada
nova parada, uma nova reflexão se soma ao seu caminho.
A contextualização histórica é apresentada com eficiência, e
logo compreendemos a natureza dessa jornada. Os Mapuches habitavam o centro-sul
do Chile e sudoeste da Argentina antes de terem seu território invadido por
forças chilenas e argentinas, em ambos os lados dos Andes. Um fato que nunca
foi reparado, com uma negação histórica que persiste até hoje. Essa negação é
algo que pulsa em todo o documentário, despertando questionamentos sobre suas
causas.
O grande desafio da narrativa é ilustrar essa história que
tem sua força motriz apenas em memórias documentadas. A saída criativa é
fascinante: entrevistas e narrações de registros sobre o ocorrido se encontram
com uma composição visual deslumbrante, um cenário que se contrapõe as horrores
cometidos nesses mesmos lugares. O silêncio também é um elemento que se faz
presente, ganhando muitos sentidos dentro de um discurso que nunca perde sua
direção.
Um dos objetivos de documentários como este é impedir que
fatos sejam esquecidos, além de lançar luz sobre temas distantes para muitos,
mas que ajudam a entender absurdos muitos vezes escondidos. Memoria Implacable constrói um retrato doloroso e de impacto, que
provoca muitas reflexões.
