Uma suposição indigesta que leva a um caminho de descobertas. Durante o Festival do Rio 2025, em meio a tantos filmes badalados, fomos conferir uma obra que se revelou intrigante partindo de uma situação alarmante e abrindo-se em camadas de revelações. Tendo como vetor principal um psicológico abalado - uma protagonista mergulhada em conflitos -, esse filme sueco aposta num destrinchar de uma suposição fazendo uma ponte com um despertar para a vida.
Laura (Embla
Ingelman-Sundberg) viaja com sua amiga Alex (Aviva Wrede) pela Europa, uma ideia que vem sendo planejada há
anos. Em um dos países que desembarcam, Laura acorda certa manhã numa cama, com
indícios de que passou a noite com alguém. Em conflito com a situação e sem saber
ao certo o que aconteceu – tendo apenas leves lembranças -, a protagonista
passa por uma jornada de descobertas, na qual o medo do que pode ter acontecido
se torna cada vez mais sufocante.
Esse é um filme que aborda o despertar, mas também a linha
tênue com a autodestruição e a inconsequência. Com boas atuações de um jovem
grupo de artistas escandinavos, chegamos até o dilacerante universo da dúvida, centrado
em uma personagem principal sempre fiel a seus princípios que se vê arrastada
para uma corrente de liberdade que nunca tinha vivido. Esse contraste entre o
se lançar ao mundo e as responsabilidades morais torna-se uma gangorra sufocante,
transformando a diversão em autoavaliação. O filme explora esse conflito muito
bem e com grande sensibilidade.
Um dos méritos do roteiro é sustentar um clímax constante a
partir de seu acontecimento principal, compondo cenas de impacto. A narrativa
guia nos olhares constantemente para o psicológico, onde o ambiente – o fora de
casa – acaba sendo uma variável importante que se soma ao medo de não saber
lidar com uma situação embaçada nas memórias. Como é um filme que navega pela
visão unilateral de uma situação, o olhar de terceiros surge aos poucos, revelando-se
pelas camadas que começam a se formar ao longo da trama.
Selecionado para a Mostra Expectativa do Festival do Rio
2025, e ainda sem previsão para chegar no circuito brasileiro de exibição, Viva um Pouco, escrito e dirigido por Fanny Ovesen, é um filme que se revela
aos poucos, levando nossos olhares por muitos lugares – das ponderações existenciais às percepções sobre relacionamentos, do entusiasmo de um despertar ao total desalento de memórias que não se apresentam.