24/02/2020

Crítica do filme: 'Exit' (Eksiteu)


A eletrizante maneira de encontrar sua vocação quando tudo está perdido. Navegando pelo drama, comédia e ação de forma impressionante, contagiando os nossos olhos a cada minuto dos 103 de projeção, Exit, Eksiteu no original, que provavelmente nunca chegará aos cinemas brasileiros, é uma fita cheia de adrenalina que exala carisma dentro de uma narrativa para lá de afiada. Usando a base conhecida do fim do mundo (ou algo parecido com isso, no caso um ataque terrorista) como plano de fundo, assuntos variados vão virando subtemas como a desconfiança da família quanto a sua profissão, as entrelinhas de um amor fora de hora e as segundas chances que a vida nos apresenta de maneira inusitada. Excelente estreia como diretor do sul coreano Sang Geun Lee. Alô distribuidoras brasileiras! Tem muito filme bom oriental que não chega por aqui!!

Na trama, conhecemos Yong-Nam (Jung-suk Jo) um jovem que está confuso e pressionado sobre seu futuro já que não possui trabalho fixo e possui uma paixão/vocação pelo alpinismo. Durante uma data comemorativa familiar, com toda sua família reunida em um lindo salão nos últimos andares de um prédio requisitado no centro da maior cidade da Coreia do Sul, um maluco para um caminhão repleto de gás tóxico deixando o protagonista e sua família ilhados e em busca de uma solução para fugir da ação do ato terrorista. Assim, reunindo toda sua coragem, ao lado de Eui-Joo (Yoon-ah Im), uma velha conhecida das aulas iniciais de alpinismo e que agora trabalha na empresa de buffet que estava no comando da festa, Yong-Nam precisará escalar paredes complicadas em busca de uma saída para todos.

Em sua primeira incursão como diretor e roteirista de um longa-metragem, o sul coreano Sang Geun Lee prova que a Coreia do Sul está no Top 5 mundial de tudo que pensamos sobre como contar uma boa história numa tela gigante. Vamos ver se com cada vez mais filmes interessantes e de diversas formas os filmes sul coreanos cheguem cada vez mais ao circuito exibidor brasileiro, que as distribuidoras que aqui estão olhem com carinho para esse mar maravilhosos de narrativas eletrizantes.


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20/02/2020

Crítica do filme: 'Dolittle'


Quando o carisma não salva. Chegando aos cinemas nesse início de ano, até certa forma gerando um pouco de expectativa por conta do interessante trailer, Dolittle tem um elenco estelar, (Banderas, Martin Sheen, Downey Jr...) mas nada disso adianta quando a trama não evolui. Não definido se para públicos de todas as idades ou para os mais maduros, as questões que deveriam ser profundas, fruto do pensar melancólico do protagonista e as razões do seu trauma com o desaparecimento de sua esposa, são rasas como uma piscina sem água. Infelizmente o filme dá sono quase a todo tempo, seria pior senão fosse a poderosa trilha sonora assinada pelo craque Danny Elfman que tenta transformar metáforas visuais sem sentido em algo épico. As vezes parece que estamos em um vídeo game onde os controles não funcionam.

Na trama, conhecemos conhecido, genial e excêntrico Dr. Dolittle (Robert Downey Jr.), um homem recluso que passa os dias lutando contra a solidão desde o dia que sua esposa partiu em uma aventura e nunca mais voltou. Tudo muda quando o protagonista recebe duas visitas ao mesmo tempo e acaba embarcando em uma aventura para salvar uma rainha de um terrível final.  

Personagem excêntrico/egocêntrico é com Downey Jr, por isso Dolittle parecia se encaixar com perfeição na teia de ótimos personagens do eterno iron man. Mas não é isso que acontece, interagindo de forma peculiar com personagens feitos por efeitos, o projeto se torna um monólogo com vestimentas de aventuras sem pé nem cabeça. É um filme pipoca, blockbuster, completamente esquecível.

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19/02/2020

Crítica do filme: 'Aprendendo a Andar de Skate em uma Zona de Guerra (Se Você For uma Menina)'


O que é coragem? Porque é importante ter coragem? Vencedor do Oscar de melhor curta metragem, Aprendendo a Andar de Skate em uma Zona de Guerra (Se Você For uma Menina), passando pelos períodos das estações, usados como pequenos arcos para o desenvolvimento da narrativa, entendemos melhor um projeto inovador para meninas de origem muito pobre com famílias conservadoras. Em um planeta que preza pelo egoísmo e a falta de reflexão sobre o outro, os olhos do mundo devem estar atentos a esse belo trabalho da cineasta Carol Dysinger.

Em um país devastado pela guerra de décadas, onde o básico ler e escrever ainda é um grande desafio, principalmente para as mulheres, sempre estando em perigo nas ruas, sem segurança, um pequeno oásis acontece em Kabul, no Afeganistão, com a criação de um projeto chamado Skateistão que associa aulas para meninas carentes e aulas de skate. Toda uma equipe de pessoas com enorme coração é vista fazendo seu trabalho com toda dedicação. Desde a professora que prefere não mostrar o rosto, até a jovem instrutora de skate, além da assistente social que tem como uma de suas funções recrutar novas jovens que se encaixem no perfil do projeto.

Vivendo com o dia a dia intenso, ajudando nas tarefas de casa e o medo da violência diária, as pequenas guerreiras não desistem dos seus sonhos, nem de seu livre arbítrio do pensar e praticar esse esporte muito popular que as leva para outros lugares durante aquelas horas que praticam. Em busca de um futuro melhor, percebemos no arco final que os sonhos começam a brotar e isso é algo que ninguém tira delas, jamais.

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18/02/2020

Crítica do filme: 'Memorável'


Pintar com os dedos invoca o homem primitivo que há entre nós. Indicado ao Oscar de Melhor curta de animação, o projeto francês Memorável fala sobre as nuâncias da nossa mente em momentos chaves de nossa vida. Na surreal que a vida presente os prega, um pintor e sua esposa precisam conviver com as mudanças oriundas do tempo mas sem deixar de acessar memórias que não há como serem esquecidas. Um belo curta. Pena que os cinemas brasileiros não exibem curtas antes dos longas em seu circuito exibidor (o capitalismo em exagero chega mais forte pela ótica do lucro dos chatos e inúmeros comerciais antes das histórias), tem tanto curta bom por aí...como esse.

12 minutos de muitas emoções onde o coração pulsa mais forte nessa singela história sobre as memórias de alguém ainda vivo.  Há poesia nos respingos das tintas do artista, há muita metáfora nas explicações sobre os nós que nossa mente submete, tudo isso é tratado com muita delicadeza e uma trilha sonora instrumental que chega bem forte aos nossos corações. 

Escrito e dirigido pelo cineasta francês Bruno Collet, Mémorable, no original, nos puxa para refletirmos sobre a arte de amar igual muitas vezes. Importante os detalhes à força da arte, pelo seu precioso protagonista e suas novas descobertas de uma vida recheada de boas memórias.  

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17/02/2020

Crítica do filme: 'Irmã'


As memórias que não existiram mas que também nunca se foram. Usando a técnica de stop-motion, a animação chinesa dirigido pela cineasta Siqi Song, transforma uma frustração em uma grande carta poética em forma de animação. Irmã, em seus curtos minutos, fala muito sobre o sentimento das famílias chinesas que viveram dentro dos 30 anos da política de apenas um filho. Selecionado pelo Festival de Sundance ano passado e um dos 5 indicados ao Oscar na categoria melhor curta de animação desse ano, o filme é um relato importante sobre um fato que afetou milhares de pessoas no país mais populoso do planeta.

Em 08 minutinhos, ambientado na década de 90, somos envolvidos em um pequeno retrato que vai do imaginário a realidade. Conhecemos um jovem que relata sua convivência com sua irmãzinha, muitas situações que acontecem com a chegada da nova integrante da família, só que descobrimos que essa irmã nunca existiu pois a família do protagonista não poderia ter mais de um filho por conta de uma política de 30 anos das autoridades chinesas.

Lançada pelo governo chinês no fim da década de 1970, essa lei que é pano de fundo dessa história, consistia numa lei segundo a qual ficava proibido, a qualquer casal, ter mais de um filho (em outubro de 2013, o governo chinês aboliu essa lei). Fato esse que deixou vários filhos únicos sem a possibilidade de dividir sua vida com um irmão ou irmã. O curta navega nessa vertente e usa a imaginação do pensar como forma de homenagem a todos que não puderam ter um irmãozinho durante todo esse período na China. O cinema é isso, uma maneira de refletir sobre nossas épocas: passado, presente ou futuro.

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15/02/2020

Crítica do filme: 'Hair Love'


O amor por nossos filhos nos fazem ser fortes em qualquer situação. Vencedor do primeiro de melhor curta de animação na cerimônia do Oscar que ocorreu no domingo passado (09), Hair Love mostra tanto amor em 7 minutos que os ensinamentos se prolongam para nossas vidas. Produzido, escrito e dirigido pela ex-atleta da NFL Matthew A. Cherry, o filme conta um pequeno retrato na vida de um pai e uma filha pequena e a tentativa do primeiro em pentear o cabelo da filha pela primeira vez.

Simples e profundo como todo bom curta deve ser. A difícil missão de um pai em fazer um belo penteado no lindo cabelo de sua filha, nos leva em uma jornada linda em analogias para nossa realidade, principalmente quando entendemos no finalzinho desse belo trabalho o porquê daquela missão ser tão importante sem ser cumprida por esse super pai. A mamãe da jovenzinha está em uma luta contra doença no hospital e o corte especial é para ela ir toda linda encontrar a mamãe.

Nessas horas é que vemos o exemplo e pensamos em muitos outros super papais. Tendo apenas um vídeo gravado pela mãe da menina como único auxílio na tentativa de ser bem-sucedido, o poder da animação entra como uma rajada de criatividade metafórica simbolizando aquela simples luta como algo tão importante que vira algo inspirador nossos corações. Belíssimo curta.

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Crítica do filme: 'Simonal'


O pecado de um artista que tinha tudo e ficou com nada. Lançado em meados do ano passado, o longa-metragem nacional Simonal traz à tona a vida de um homem que teve tudo em suas mãos, o principal músico do Brasil na década de 60/70, Wilson Simonal, e seu declínio após um acontecimento ocorrido durante a ditadura. Com arcos corridos, tentando apresentar os fatos mais marcantes da vida do artista, o filme busca apresentar argumentos que o levaram do topo ao nada ao longo de 105 minutos. No papel principal, o ótimo Fabricio Boliveira, a direção é de Leonardo Domingues.

Orçado em 7.5 milhões de reais, Simonal nos mostra o sempre animado Wilson Simonal (Fabricio Boliveira) e seu início na carreira de músico se apresentando em festas e eventos com o grupo Dry boys. Após conhecer Carlos Imperial e seu assistente na época, Erasmo Carlos, ganha a grande chance de sua vida e daí vira um dos grandes cantores do Brasil. Um dos pioneiros na criação da própria gravadora, Simonal, no auge, é envolvido em um escândalo, condenado por sequestro e extorsão, além de sair dessa história como dedo duro da ditadura. Exilado no próprio país, sendo negado pela grande maioria da classe artística, restou apenas pelas décadas seguintes tentar provar que nunca havia sido um delator a serviço da ditadura militar.

Um homem com um carisma único que queria levar sua música a todos, branco, preto, pobre ou rico. Um homem com uma vida recheada de emoções. Reunir tudo em um filme de 105 minutos realmente é uma tarefa árdua mas bem executada, com leves pitadas de imagens originais do próprio Simonal, o filme navega pelos principais shows, os mais emblemáticos e marcantes além de seus problemas fora do palco que acabaram derrotando essa figura tão popular da nossa música. Mais de 300 shows por ano, porém gastos extravagantes pessoais vão aos poucos minando tudo que ele conquistara e por conta do destino chega-se ao fato que o marcou como dedo duro.

Do país tropical à ditadura. Explorado em um arco já no seu fim o tão polêmico envolvimento com agentes do DOPS durante a ditadura, e também a acusação de sequestro e extorsão contra um ex-funcionário de sua gravadora levaram o rei do swing ao declínio. Em resumo, o filme cumpre seu papel em apresentar os fatos deixando o público dar o seu veredito, mas uma coisa não pode-se negar, Simonal em cima do palco foi um dos artistas mais importantes de toda nossa história.

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Crítica do filme: 'Good Boys'


Uma tentativa frustrada de um novo Superbad. Good Boys, filme dirigido pelo estreante em longas metragens Gene Stupnitsky e produzido por Jonah Hill, Seth Rogen e outros, conta a saga de três jovens amigos que precisam enfrentar um dia repleto de situações estranhas e novas em busca de um drone sequestrado. Mesmo com arcos finais surpreendentemente muito bons quando tenta chegar na parte importante das consequências de toda a aventura, com a intervenção dos pais e a aproximação com a realidade com situações mais reais a idades dos protagonistas, o filme naufraga pelo seu início muito fraco. 

Na trama, conhecemos Max (Jacob Tremblay), Lucas (Keith L. Williams) e Thor (Brady Noon), três pré-adolescentes que tem um dia atípico em suas rotinas quando ao tentarem bisbilhotar duas jovens adolescentes tem seu drone sequestrado pelas mesmas. Buscando uma solução para a inusitada situação, eles precisarão enfrentar situações novas mas sem perder o olhar ainda imaturo sobre a vida e as consequências dela. 

Orçado em 20 milhões de dólares e já arrecadando 82 milhões de dólares em bilheteria somente nos Estados Unidos (números de quando esse texto fora escrito), talvez pela força do marketing do filme em associar o projeto a seus produtores famosos, fato que aqui no Brasil não resultaria em gigantes resultados, Good Boys busca ser engraçado e chocante ao mesmo tempo, nos terríveis arcos iniciais, colocando situações e diálogos que não condizem muito com a realidade de muitos jovens da mesma idade. Good Boys não será exibido nos cinemas aqui no Brasil (opção do distribuidor). 

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14/02/2020

Crítica do filme: 'As Panteras' (2019)


Pô, sempre mais do mesmo! Onde esconderam a criatividade? Depois de uma série de sucesso e filmes com nomes importantes do cinema mundial, As Panteras versão 2019 busca resgatar a essência dos outros filmes com muita ação e cenas impossíveis, dessa vez um roteiro modelado em arcos sem muita inspiração que em breve deve estar nas sessões da tarde das televisões nacionais. Um blockbuster fraco filmado em lugares lindos. Um grande sono chega, menos quando acordamos e percebemos algumas boas reviravoltas, até o fim dos intermináveis 118 minutos.

Na trama, conhecemos as espiãs Sabina (Kristen Stewart) e Jane (Ella Balinska), duas experientes agentes da equipe do misterioso Charlie que são comandadas pela chefe Bosley (Elizabeth Banks). Durante uma missão mais uma mulher com potencial de ser agente, Elena (Naomi Scott), se junta a elas. Aprendendo a ser espiã durante a missão para salvar sua própria vida, Elena embarcará uma aventura que mudará para sempre sua maneira de ver o mundo da espionagem.

Passando que nem uma flecha pelo circuito nacional de exibição (graças a Deus), As Panteras busca nos plot twists algum oásis em meio ao caótico roteiro que nos é apresentado. Mesmo com boas cenas de ação, os arcos são confusos, principalmente os iniciais, deixando uma árdua tarefa chegarmos ao desfecho com os olhos abertos. Com direção da atriz Elizabeth Banks e orçado em inacreditáveis 90 milhões de dólares (imaginem quanto filme bom poderia ser feito com esse valor), o projeto se encaixa no mais do mesmo de tantos outros lançamentos lançados ano após ano.

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Crítica do filme: 'O Caso Richard Jewell'



O poder das palavras vs o poder da ingenuidade. Lançado no Brasil na primeira cine semana de 2020, O Caso Richard Jewell traz à tona um famoso caso de grande repercussão nos Estados Unidos na década de 90 que envolveu terrorismo, a força da mídia, e um homem inocente que foi tratado como culpado. Dirigido pela lenda Clint Eastwood, o filme conta com ótimas atuações (inclusive uma indicação ao Oscar para Kathy Bates na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante) e algumas polêmicas após seu lançamento por conta de uma contestação de veracidade de familiares da jornalista responsável pela exposição de Richard Jewell na lista de suspeitos.

Na trama, conhecemos a vida do ingênuo e trabalhador boa praça Richard Jewell (Paul Walter Hauser), um homem que consegue depois de muito tempo realizar seu sonho de trabalhar como agente de segurança. Anos se passam e ele está trabalhando em um evento, dentro das olímpiadas de Atlanta em 1996, quando acha suspeito uma mochila e dispara a notícia de emergência para os demais agentes, só que minutos depois a mochila com uma bomba explode. Mesmo com algumas poucas mortes, Jewell num primeiro momento é tratado como herói nacional. Só que dias depois, agentes federais pressionados por não encontrarem suspeitos, resolvem investigar Richard Jewell e a informação vaza para a repórter Kathy Scruggs (Olivia Wilde) que com seu artigo consegue transformar o herói em um vilão aos olhos da mídia. Completamente perdido, Richard só pode contar com sua carinhosa mãe Bobi Jewell (Kathy Bates) e um velho amigo e ótimo advogado Watson Bryant (Sam Rockwell) para provar sua inocência.

Entre verdades e ficção, o filme navega na linha investigativa, tendo bons trechos de profundidade sobre a personalidade acanhada do protagonista e sua relação com sua parente mais próxima e seus poucos amigos. O circo que é montado pela mídia talvez seja o retrato mais impactante desse trabalho que se junta a outros na galeria de Eastwood em mostrar histórias de norte americanos e seus dramas, nos últimos anos. Um dos pontos de vistas é bem claro, a mídia como vilão causou repercussão em seu lançamento, principalmente da maneira como fora conseguida a informação pela repórter (verdade ou ficção?).  

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31/01/2020

Crítica do filme: 'Adoráveis Mulheres'


Bonitinho e chatinho, uma grande montanha russa de emoções. Uma das obras mais adaptadas para tv, teatro e cinema (há um filme em 1994), o clássico livro de Louisa May Alcott, Little Women ganha mais uma adaptação, agora na visão da ótima atriz, diretora e roteirista Greta Gerwig. Adoráveis Mulheres conta a saga de uma família repleta de mulheres inteligentes, corajosas que são mostradas ao público em paralelos de tempo, indo e voltando, sobre amores, desejos, sonhos e as escritas do futuro que as reservam. Com momentos excelentes como as ótimas cenas da protagonista Jo March (Saoirse Ronan) e sua luta em publicar seus textos, e outros terrivelmente chatos e desinteressantes, o projeto é uma grande gangorra de emoções onde no fim, para saber se gostou do filme, você precisa pesar as duas balanças e ver com qual fica.

Na trama, conhecemos a adorável família March. Jo (Saoirse Ronan), Meg (Emma Watson), Amy (Florence Pugh, ótima no papel e indicada ao Oscar), Beth (Eliza Scanlen) e a mãezona Marmee (Laure Dern) vivem juntas em uma casa aconchegante no passado e esperam ansiosamente notícias de seu pai que fora para guerra, além de conhecerem mais de perto o peculiar vizinho Laurie (Timothée Chalamet) que acaba virando um grande amigo da família. Já no futuro, as meninas cresceram e suas vidas mudam de rumo conforme vários acontecimentos viram fatos e vamos descobrindo aos poucos os porquês de determinadas conclusões.

O fato da estrutura do roteiro ir pra frente e pra trás na linha do tempo deixa o espectador um pouco confuso da maneira como é feita nessa adaptação mas abre um leque de possibilidades onde o meio é a grande chave na conclusão.  Existem arcos ótimos e outros sonolentos. O brilho de algumas atrizes são mais fortes que de outras. Saoirse Ronan e Florence Pugh colocam o filme no bolso, excelentes atuações. Timothée Chalamet e seu excêntrico personagem brilham em alguns momentos sendo um elo condutor de parte da trama.

Destacando a força da mulher, a amizade, a família e como toda e qualquer escolhas que fazemos impactam não só nossas vidas como também a de todos que estão ao nosso redor, se você conseguir ler nas entrelinhas e chegar na conclusão da razão x emoção, Adoráveis Mulheres pode ser uma experiência interessante. Caso contrário, uma gangorra de emoções.

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30/01/2020

Crítica do filme: 'O Escândalo'


A força das mulheres contra a imbecilidade de homens sem caráter. Baseado em fatos reais e com orçamento de 35 milhões de dólares, O Escândalo é um filme que se aprofunda no tema do assédio contra a mulher tendo como ponto principal o escândalo envolvendo um dos homens da Tv Norte-americana mais poderosos do mundo. Indicado a três Oscars o filme busca, sem muito brilho, em seus corretos arcos, passar o máximo de detalhe sobre todo o ocorrido mas acaba devendo pois não consegue amarrar as pontas de interseção de maneira mais profunda. Vale a mensagem do filme que pode servir como força para muitas mulheres denunciarem caso sofram ou tenham sofrido abusos no trabalho ou em qualquer lugar.

Na trama, conhecemos três histórias que ocorrem no mesmo ambiente de trabalho mas em situações diferentes. Gretchen Carlson (Nicole Kidman) é um experiente apresentadora que está há 14 anos na Fox News e decide por conta de acontecimentos do passado e do presente denunciar o assédio contra um chefão do alto setor do comando da emissora que trabalha,  Roger Ailes (John Lithgow). Paralelo a isso, acompanhamos também a novata Kayla Pospisil (Margot Robbie) que sofre um terrível assédio na sala de Roger e após conseguir tomar coragem se une ao grupo de mulheres que também sofreram assédio de Ailes. E no foco principal disso tudo Megyn Kelly (Charlize Theron) a apresentadora mais famosa da emissora resolve liderar e reunir as denúncias contra Ailes.

Por mais que tenham pontas soltas no roteiro, as três artistas principais estão muito bem em cena. Inclusive, Margot e Charlize concorrem ao Oscar desse ano por seus respectivos papéis nesse projeto. O preenchimento de pano de fundo e os argumentos colocados em tela para denunciar o ambiente de trabalho tóxico vivido pelas personagens chegam em boas doses aplicados ao talento em tela já comentado. Mas podia ter sido mais impactante, o roteiro de Charles Randolph (A Grande Aposta) teve perto de ser muito bom mas acaba fracassando nas linhas de interseção entre os arcos.

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27/01/2020

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Crítica do filme: 'Um Lindo dia na Vizinhança'


A mudança do mundo destruído pelas palavras. Um cotidiano das emoções em forma de declamações, um livro contado sobre a arte das emoções. Baseado em fatos reais, mais precisamente do artigo de Tom Junod, Can You Say ... Hero, Um Lindo dia na Vizinhança, que estreou faz poucos dias no concorrido (por termos muito poucas salas) circuito brasileiro de exibição, navega pelos sentimentos de forma bastante simples que dão a entender algo parecido a original, as declamações de pensamentos nos levam ao instantâneo ato de pensar sobre aquilo buscando referências em nossas próprias vidas. No papel principal o ator Matthews Rhys, em atuação apenas ok. No papel coadjuvante, nosso eterno Forrest. Tom Hanks é um ator diferenciado, sempre em busca dos mais complexos personagens e sempre com maestria para nos contar suas histórias. Somos sortudos por ser da mesma geração desse gênio da arte de interpretar. A direção é da cineasta californiana Marielle Heller (do elogiado Poderia Me Perdoar?).

Na trama, conhecemos um rabugento jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys, do ótimo seriado The Americans) que após uma ordem de sua chefe, precisa fazer um texto de 400 palavras sobre o famoso apresentador de público infantil, Fred Rogers (Tom Hanks). Conforme vai conhecendo mais a fundo seu entrevistado, o protagonista começa a passar por mudanças profundas na sua forma de pensar e expressar seus sentimentos, principalmente com o recém aparecido pai.

Um Lindo dia na Vizinhança é um projeto peculiar que você precisa ser convencido que ele pode ser uma boa experiência. Não deixa de ter também quebra de certos paradigmas como o olhar para a câmera. A tal da inteligência emocional, a partir da inspiração. Um Lindo dia na Vizinhança é um filme que você precisa ser convencido que ele pode ser uma boa experiência, isso pode acontecer. A paciência é um fator importante. Nas imperfeições, a subtrama do protagonista e sua saga em reconciliar com seu pai seja pouco profunda, quando Hanks sai de cena o filme dá umas despencadas, mesmo Chris Cooper estando ótimo no papel do pai do protagonista.

Onde ir onde quando a alma está ferida? Um fator interessante é que há uma conversa franca com o espectador. Uma grande sessão de terapia que ultrapassa as barreiras da telona. Muitos podem se identificar demais com a história contada, sobre pais e filhos. Psicólogos, psicanalistas, psiquiatras precisam assistir a esse filme. Gera um bom debate.

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Crítica do filme: 'Judy - Muito Além do Arco-Íris'


O que atinge o coração dos outros podem servir de aconchego para a fonte da emoção. Buscando retratar com bastante delicadeza um pequeno recorte, já na parte final da vida, da famosa atriz Judy Garland, o cineasta britânico Rupert Goold contorna com muita emoção as linhas do roteiro baseado na obra de Peter Quilter. No papel principal, a veterana atriz Renée Zellweger que consegue sua grande atuação na carreira, por esse papel já ganhadora dos prêmios de Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro 2020 e a estatueta de Melhor Atriz no Critics' Choice Awards, se tornando praticamente eminente sua estatueta do Oscar desse ano. Judy, se encaixa entre outros, quando a atuação supera o filme.

Na trama, conhecemos os últimos meses de vida da impactante atriz Judy Garland (Renée Zellweger) eternizada pelo seu papel como Dorothy em O Mágico de Oz (1939), em sua temporada de shows em Londres onde tentava recuperar a carreira, ou pelo menos se sustentar já que passava por uma crise emocional e financeira fruto de uma vida cheia de controle que culminou em suas viagens pelo mundo do excesso de substâncias que fazem mal.

Delicado e com ritmo lento, Judy é um retrato de muitos artistas famosos que acabam nos deixando por conta do descontrole em não conseguir achar seu caminho nesse mundo tão rígido e implacável. Indo e voltando com pequenos flashs da época que conseguiu seu primeiro (e o grande) trabalho de sua extensa carreira, aos poucos vamos tentando entender a personalidade forte da atriz, mãe de três filhos, inclusive Liza Minelli. A questão da guarda dos filhos e as brigas com o ex-marido Syd (Rufus Sewell) também contornam a trama dando uma pitada na questões sobre a saudade e a necessidade de conseguir se estabelecer como artista.

Mas o grande destaque é mesmo a atuação de Renée Zellweger que aplica uma dose de ternura e um gestual impressionante na sua Judy. Nesse ano com boas atuações femininas em ótimos filmes, vai levar o Oscar pois caminhou pela emoção, cantando e expressando muito pelo olhar.

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Crítica do filme: 'Parasita'


Indicado na principal categoria do Oscar 2020 (melhor filme), e em mais outras cinco, o filme sensação do universo cinéfilo dos últimos meses Parasita merece realmente todos os elogios por sua trama impactante que não deixa de ser interessante um só segundo. Além de abordar temas importantes da nossa sociedade, como o desemprego, o projeto vai rumo ao brilhantismo ao mostrar as linhas psicológicas mais complexas do ser humano e todo seu poder de conseguir o novo e destruir. Escrito e dirigido pelo cineasta sul-coreano Bong Joon Ho (dos excelentes O Expresso do Amanhã e Mother - A Busca Pela Verdade), essa obra-prima asiática é um filme inesquecível, muito por conta de muitas de suas cenas impactantes que vão demorar a sair de nossa memória cinéfila.

Vencedor do prêmio de Melhor Filme de Língua Estrangeira no Globo de Ouro desse ano, Parasita conta a saga de Kim Ki-woo (Woo-sik Choi) e sua família toda desempregada. Passando os dias olhando pela janela da casa no subsolo onde vivem, Kim Ki-woo consegue através de uma amigo que vai viajar uma oportunidade única: ser professor de inglês de uma jovem milionária. Assim, usando todas as suas facetas de um grande cara de pau aos poucos vai instalando na família da jovem empregos para toda sua família. Quando determinadas situações acontecem, a família trambiqueira precisará realizar escolhas que mudarão os rumos de toda essa impactante história.

Foco principal na trama, a questão da ascensão familiar é o grande background para ações e consequências eletrizantes. Sem o mínimo de pudor, a família consegue aos poucos ganhar a confiança de quase todos nesse novo universo que lhes é proposto. Mas as reviravoltas da trama evoluem a história e deixam cenas marcantes na nossa memória. Reflexivo e até certo ponto aterrorizador, os limites do ser humano são colocados em cheque fruto de um deslumbramento sem pilares de resistência culminando numa impressionante jornada de queda.

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