05/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #5 - Zeca Seabra

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) desde 2013 e crítico do site Almanaque Virtual, o cinéfilo Zeca Seabra é visto constantemente em mesas de bate papo sobre cinema ou entre uma sessão e outra nos cinemas de Copacabana, no Rio de Janeiro. Formado pela PUC-RJ em Comunicação Social na década de 80, Zeca é um dos mais queridos críticos de cinema da capital carioca. Conversar com ele sobre cinema é sempre enriquecedor e o papo dura horas e horas! Com tanta história para contar sobre esse universo mágico audiovisual, convidamos o jornalista para responder nossas perguntas.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Tenho uma ligação muito profunda com Copacabana (bairro que morei 1/3 de minha vida). Frequento o Roxy desde adolescente por ser um dos cinemas de rua mais imponentes da cidade (1.600 lugares) e pela facilidade de acesso. Depois da reforma nos anos 90, continuei frequentando as 3 salas que, para minha surpresa, mantém uma programação variada e eclética. O Roxy faz parte do Festival do Rio e todo ano dou preferência à sua programação.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu tinha 10 anos quando fui no Metro Copacabana assistir 2001 - Uma Odisséia no Espaço com meu pai e fiquei extasiado com a ópera futurista de Kubrick. Foi quando caiu a ficha que o cinema era algo mais que uma simples diversão.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Kubrick - 2001 e Barry Lyndon

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tenho profundo respeito por Central do Brasil, que foi um filme com uma tremenda identidade brasileira mas com características universais. A história da jornada de dois seres diferentes que desbravam um país gigantesco para encontrar suas raízes, me toca profundamente.  Além disso, temos o reconhecimento internacional da primeira e única indicação de uma atriz brasileira ao Oscar.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo não é ter uma atitude passiva e sentar numa poltrona e dizer para a tela: Me divirta. É participar e manter um diálogo frequente com a arte e reconhecer que em cada filme existe uma referência e um tema que não estão visíveis.  

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Eu diria que a menor parte faz isso. Em cidades como RJ e São Paulo, o leque é bem mais amplo e tem profissionais que realmente entendem de cinema, mas basta ir um pouco para as periferias e verificar a péssima qualidade da programação que entopem as salas com os mesmos blockbusters em horários alterados.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não. E falo isso com receio, pois vejo uma nova geração preguiçosa viciada em cultura rápida e cômoda que não frequenta cinema porque em poucas semanas terão os filmes na palma da mão.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Uma Vida Oculta (A Hidden Life) do Terrence Malick. Passou em circuito pouco antes da pandemia explodir. É um belo trabalho do Malick baseado numa história real de um camponês austríaco que se recusou a lutar pelo nazistas transformando-se num mártir da 2º Guerra. Planos de tirar o fôlego.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não saberia responder esta pergunta com alguma certeza. Por um lado, acho que muitas salas não irão resistir até a descoberta de uma vacina em ampla escala, o que é uma pena. Por outro, acho arriscado confinar um grupo de pessoas em ambiente fechado por quase 2 horas. É uma questão muito complicada.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O grande problema do nosso cinema é a distribuição comercial. O grande público só tem acesso às comédias populares, deixando de assistir filmes com mais conteúdo crítico. No entanto muitos cineastas brasileiros estão mais preocupados com o reconhecimento internacional que seu filme terá em festivais e mostras abrindo mão de uma linguagem mais acessível. Alguns excelentes filmes nem entram em circuito nacional e essa briga não é saudável pois gera uma enorme necessidade de insumos, patrocínios e suportes para o cinema sobreviver. O cinema tem que ir até o público e não ao contrário.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Marcélia Cartaxo. Desde A Hora da Estrela de 1985, sigo o trabalho desta fantástica atriz nordestina. Seu último trabalho, Pacarrete, infelizmente não chegou ao circuito comercial pelas razões citadas acima, o que é uma pena.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é sonhar de olhos bem abertos

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

No meio de uma sessão no Itaú Unibanco em Botafogo, um gato pulou no meu colo me dando um susto tremendo. O animal entrou pela porta dos fundos do cinema e se escondeu numa das salas, aparecendo no meio da sessão. Ficou no meu colo até o fim da sessão e depois fugiu.


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04/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #4 - Rodrigo Fonseca

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Nosso convidado de hoje é o que podemos chamar de bíblia cinéfila. Carioca de Bonsucesso, do Morro do Adeus, formado pela UFRJ, Rodrigo Fonseca completa 20 anos como crítico de cinema em 2020. Roteirista da TV Globo, escreveu o programa dos Trapalhões e o Encontro da Fátima Bernardes, além de ter sido pesquisador das séries Segunda Chamada e Sob Pressão. É autor do Blog P de Pop do Estadão e escreve críticas pro site C7nema. 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Espaço Itaú e UCI Norte Shopping. Ambas são pautadas pela diversidade e pela qualidade da projeção. O mesmo vale pro Cine Joia.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Os Trapalhões no Reino da Fantasia, em 1985, em Olaria.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Paul Thomas Anderson, Sofia Coppola e Christopher Nolan são a minha trinca favorita, seguidos por Fatih Akin e Beto Brant. Meus xodós: O Mestre, Encontros e Desencontros e Dunkirk, seguidos por Do Outro Lado e Ação Entre Amigos.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Bar Esperança, O Último Que Fecha, do Hugo Carvana, pois nunca uma estética foi tão política quanto a amizade.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É imergir na imagem, sonhar com ela e usar o espaço de transcendência das telas como lugar de revolução.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Nem de longe. Raras são as salas que tem uma programação com curadoria, seja numa linha de risco, seja numa onda mais comercial. O Estação Botafogo e o Espaço Itaú são belas exceções de excelência.

 

7)  Algum dia as salas de cinemas vão acabar?

Jamais, pois a cultura da cinefilia é autorregenerativa. A necessidade da troca, o sentimento do coletivo... Isso é maior do que qualquer aposta na acomodação caseira. Vamos ter um boom da streamingosfera. Mas os espetáculos fílmicos à lá Bohemia Rhapsody sempre vão mobilizar a massa.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo:

O Príncipe, de Ugo Giorgetti, e Coisas Para Se Fazer Em Denver Quando Você Estiver Morto, do Gary Fleder.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Desde que haja um sistema de segurança que respeite os protocolos. Tenho muito orgulho da cultura do drive in que voltou à baila. Foi uma reação vívida de sociabilização. Espero que as grandes estreias estejam nesse rodízio também. Mas tomara que as salas se regulem logo com normas de segurança adequada. O respeito aos protocolos é uma essencialidade. Saúde, saúde, saúde.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Um país que gera um Bacurau, que toma a Berlinale de assunto com um bonde de longas, que tem uma cineasta da ousadia da Sabrina Fidalgo quebrando paradigmas e que tem documentaristas como Susanna Lira, Petra Costa, Emília Silveira e Joel Zito Araújo desafiando as convenções do Real só pode se sentir honrado de existir. De quebra existe um poeta do desenho como Marão fazendo seu primeiro longa. É nóis.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Vou responder essa citando um filme... o filme brasileiro mais dilacerante e provocador que vi em muito tempo: M8: Quando a Morte Socorre a Vida, do Jeferson De. O que a Mariana Nunes faz ali é de lavar a alma. 

 

12) Defina cinema com uma frase:

"O Bem vence o Mal,/ Espanta o temporal,/ O azul, o amarelo,/ Tudo é muito belo".

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Estive na sessão de Cruising (Parceiros na Noite) em Cannes e ouvia uma risada compulsiva atrás de mim, de alguém que ia a júbilo com o filme. Era o Tarantino, de mãozinha dada com a namorada.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Laroiê!!


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03/08/2020

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Pausa para uma série: #11 - The Umbrella Academy - 2a Temproada

Não importa em que tempo estivermos, nunca deixaremos de tentar unir nossa família, seja como for. Após um destacado sucesso na sua primeira temporada, a história dos irmãos super-heróis repleto de problemas interpessoais retorna de maneira apoteótica inserindo novas conceitos, novas subtramas e abrindo caminhos para no mínimo mais umas três temporadas. The Umbrella Academy, baseada na história em quadrinho do vocalista do My Chemical Romance e o ilustrador brasileiro Gabriel Bá virou um fenômeno pop da Netflix. Usando e abusando de conceitos sobre o tempo, uma tendência em seriados de sucesso recentes, essa 2ª temporada é a comprovação que o seriado está no caminho certo.

Daqui pra baixo: contém spoilers.

Nessa segunda temporada, recheada de gratas surpresas, acompanhamos os desfechos de mais uma saga dos irmãos Hargreeves após terem pulado para trás no tempo (para fugir do apocalipse) no final da primeira temporada. Cada irmão foi para um passado na década de 60 e anos subsequentes, e presos por lá, acabaram desenvolvendo uma vida: uma casa, o outro vira guru de sucesso, um fica preso no manicômio etc. Tentando reunir todos novamente, o gênio e comandante da equipe, Cinco (Aidan Gallagher, novamente brilhante no papel), enxerga um novo fim do mundo e a equipe precisa se reunir para tentar salvar a todos e voltarem juntos para a sua verdadeira linha temporal.

Os conceitos de viagem no tempo são ampliados nessa segunda temporada. Os poderes de todos os irmãos estão mais entendidos pelos personagens, os tornando mais habilidosos. Mas também a chegada de novos vilões, como os irmãos suecos e o retorno de The Handler (Kate Walsh) com uma surpresa, sua filha Lila (Ritu Arya), colocam sempre em cheque as conclusões positivas dos carismáticos super-heróis.

A trajetória dessa temporada gira em torno de como os irmãos podem se despedir com dignidade de um tempo que não era um deles mas que reflete demais nos tempos atuais, como a questão racial, o amor homossexual, tabus que no passado sobreviviam em meio a uma sociedade dura e sem habilidades para entender que a felicidade pode ser encontrada em todo lugar e por qualquer pessoa que está viva. Essas crítica sociais só elevam a qualidade dessa segunda temporada que deve agradar mais ainda que curtiu a primeira. Que venha a terceira temporada!


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #3 - Clarissa Kuschnir

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Nessa semana, convidamos Clarissa Kuschnir, jornalista especializada em cinema que começou sua carreira no audiovisual em algumas revistas como Ver video e Preview. Além dessas publicações citadas, a nossa convidada já trabalhou em diversas áreas da indústria cinematográfica brasileira: já foi repórter, crítica, assessora de imprensa, júri em festivais de cinema, curadora e produtora. Fatores que contribuíram para ser cada vez mais cinéfila, se tornando inclusive uma grande colecionadora de filmes. Nas redes sociais, Clarissa sempre comenta com bastante argumentação sobre os mais diversos assuntos ligados a essa arte que amamos.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Em relação a programação mais independente fico com o CineSesc, que durante o ano inteiro promove mostras de diferentes diretores mundiais. Nos últimos meses, antes da quarentena, eu vinha frequentando bastante também a Cinemateca. Me bate uma tristeza de saber o que estão fazendo, como esse nosso patrimônio. Quanto ao circuito comercial, eu gosto muito das salas do Cinépolis, principalmente as do complexo JK Iguatemi. 

 

2) Qual o primeiro filme que você  lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

São tantas lembranças da infância. Frequento salas de cinema, desde muito pequena. E eu ia muito aos cinemas de rua da Avenida Santo Amaro, aqui em São Paulo (entregando a idade rs). Minha mãe me lembrou outro dia, que eu fiquei encantada com a animação Bernardo e Bianca, da Disney. Mas dois filmes que mexeram muito comigo foram: Os Saltibancos Trapalhões (nunca esqueço minha emoção ao final do filme) e E.T, que eu tive a oportunidade de assistir naquelas salas enormes do centro de São Paulo (os meus tios avós me levaram). E eu lembro que eu tive que ficar sentada no chão, pois o cinema estava lotado.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Sergio Leone, e claro, Era Uma Vez na América.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Poxa, difícil de responder, pois sou muito ligada ao nosso cinema. Mas vamos lá. Depois que assisti A História da Eternidade, do pernambucano Camilo Cavalcante, ele se tornou meu filme número 1 da lista. Acho que A História da Eternidade é tão universal. Ele é pura poesia, retrata um Brasil que muitos desconhecem mas de forma muito sutil, encantadora e muito emocional. Sem contar as belezas do sertão sendo retratadas ali, com uma das mais belas fotografias que eu já vi, no cinema nacional.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Eu acho que o cinema me traz tantos aprendizados, além de entreter claro. Sem contar que ele já me levou para tantos lugares, tantos festivais e me fez conhecer tantas pessoas bacanas. Mesmo nos momento mais difíceis, não tem como um bom filme, não nos fazer bem. A prova disso é pelo momento mundial que estamos passando e os filmes, além da arte são um bálsamo para nós. Sem contar que esse é o meu trabalho. Foi o que sempre quis fazer.  E Já fiz tantas coisas dentro desse universo. Agora só falta dirigir...

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece  possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Eu acho que cada cinema tem seu público especifico. Então, para cada tipo de complexo, há um tipo de programação. O que eu penso é que alguns programadores poderiam olhar melhor para o cinema independente autoral  e,  para cinema nacional. E sou defensora de que se possa trazer de voltas os curtas, para as salas de cinema. Mas para isso acontecer é preciso ir atrás, aprender e até entender melhor o que acontece fora dos grandes circuitos comerciais.  

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Isso eu nunca achei. Mesmo na época do boom do mercado de vídeo (e olha que minha formação cinéfila, se deve muito a esse mercado) eu achei que os cinemas fossem acabar. A experiência de se assistir a um filme em sala de cinema é única. É uma imersão de algumas horas ali sem o contato com o mundo, que traz as mais diferentes emoções.  

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Eu vou citar aqui o ótimo e divertido filme uruguaio Whisky do diretor Juan Pablo Rebella (falecido em 2006) e Pablo Stoll, que eu acho que muitas pessoas não viram. Se puderem vejam!!!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

 

Outra pergunta complexa para nós cinéfilos, pois mesmo com todos os protocolos de segurança, acho muito complicado (pelo menos para mim) entrar em uma sala de cinema, nos próximos meses. O problema é que no Brasil, as pessoas não respeitam as regras. Se na ruas, muitas pessoas não estão respeitando nem o uso de máscaras, imagine em um lugar fechado (mesmo com a obrigação do uso). Como será esse controle? Tanto de limpeza quanto de controle de público.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

 Sou suspeita para falar. Acompanho há muito anos, afinal de contas, cresci vendo o cinema dos Trapalhões. E, desde a retomada, em meados dos anos 90 e com a criação do Ancine nos anos 2000, além de leis de incentivo, nosso cinema tem se diversificado e muito. Sem contar, os cineastas que fazem cinema na guerrilha. Temos muita coisa de qualidade, mas que muitas vezes, esses filmes não têm uma boa distribuição e não chegam ao grande público. Sem contar que a cada ano, o número de curtas metragens tem aumentado em quantidade e qualidade. Temos muito festivais independentes acontecendo (principalmente no interior). O nosso maior problema agora é a nossa atual política que ameaça toda uma cadeia que levou tantos anos para se consolidar.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Irandhir Santos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Quanto mais cinema melhor.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Eu frequentava muito o Cine Mam (que não tem mais), aqui em São Paulo. Aí uma vez eu estava assistindo ao filme Tokyo-Ga em uma Mostra do Wim Wenders. Estava tudo silencioso, até que um maluco começou a mexer em um saco plástico. Mesmo com as pessoas chamando a atenção dele, ele não parava. Ele ficou praticamente o filme inteiro, mexendo naquele saco. Pode uma coisas dessas???

 


Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #3 - Clarissa Kuschnir

01/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #2 - Juan Zapata

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Para iniciar uma das colunas dessa semana, que vai ter espaço semanal nesse espaço cinéfilo, entrevisto abaixo um cineasta colombiano que ama o Brasil, Juan Zapata. Um apaixonado pela sétima arte, sempre com seu portunhol afiado e bem informado sobre o mercado audiovisual da América Latina, o artista, que já foi diretor do Instituto Estadual de Cinema do RS (Iecine), estudou cinema na Universidade Jorge Tadeo Lozano, em Bogotá, e na Escola Internacional de Cinema e Televisão de Cuba, em Havana. Uma figura inteligente e bastante querida, longos papos sobre cinema com Zapata é sempre uma grande aula para qualquer cinéfilo.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, Cine Bancarios, Capitolio, Espaço Itau e Guion.  Pela sua qualidade de programação e diversidade.

Los Angeles: O cinema de Tarantino em West Hollywood. É a mais eclética programação que já vi na minha vida e um dos meus cinemas favoritos no mundo.

Medellin: Procinal Las Americas, Centro Colombo Americano, Odeon 80, La America y Capri: foram minha escola e refúgio na minha cidade natal. Aí sonhei fazer cinema e aprendi amar esta arte.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

E.T.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Muitos, difícil escolha. Desde Paul Thomas Anderson, Richard Lindaker, Alejandro Amenabar, Woody Allen, Almodovar, Agnes Varda, Coutinho, Kurosawa, Kusturica, Campanella e tantos, mas valorizo muito a Eliseo Subiela e o impacto que teve El Lado Oscuro del Corazón na minha vida e na minha escolha por fazer cinema (sempre é polêmico quando confesso isto).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Edifício Master e Jogo de Cena. Desculpa, mas é difícil e injusto escolher só um.

Acho que Coutinho estava sempre passos à frente de todos. Baita cineasta e ser humano. Quanta saudade o cinema brasileiro sente por alguém como ele.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É encontrar no cinema as respostas da vida. É amar e entender esse poder do cinema e fluir, surfar nele. É refúgio, abrigo, colo, um bom filme é como um cafuné na alma!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Vou a todo tipo de cinema, em diferentes partes do mundo.  É meu vício.  E devo te dizer que nas minhas favoritas sim, entendem e muito, mas constato cada vez mais que redes de cinema e algumas salas tem como prioridade muitas outras coisas e não o entender o cinema e seu cliente. Vivemos num universo de imposição de programação por interesses econômicos das 'Maiors", por isso valorizar as salas rebeldes e corajosas que dão alternativas.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não imagino o mundo sem cinemas.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Vou indicar alguns que estão em plataformas, dois colombianos que admiro muito, Jardin de Amapolas e Perro come Perro.

Tem um filme que curto muito chamado El Espanto (Argentino) e Matar un Muerto (Paraguaio)

Cinéfilo sempre quer compartilhar pérolas, e amo cinema Latino.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Espanha abriu com nível de ocupação de 10% por exemplo. Sou a favor do Livre arbítrio, na consciência social.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro é melhor do que ele mesmo acha que é. Só precisa dialogar mais com o mercado internacional, inclusive para sua legitimidade nacional, como vem sendo nos últimos anos. Sou fã deste cinema e acredito no seu potencial.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

É ampla esta pergunta. Qualquer filme com Fernanda Montenegro. Admiro e desejo algum dia trabalhar com ela.

Enquanto a diretores... posso me encrencar nesta resposta, mas gosto muito de Karim, Beto Brand, Bodanski, Furtado, Nascimento, Padilha, sinto muita falta do cinema do Meirelles, são tantos e tão diversos. 

 

12) Defina cinema com uma frase:

Plenitude.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Na minha adolescência ia sempre a filmes e sessões em horários onde normalmente estava sozinho. É meu barato, primeira sessão e o cinema para mim. Mas no cinema já vi desmaios ( Cisne Negro)... sim... isso foi notícia nacional e estava aí. Já vi todo o cinema chorar ao ponto de não conseguir escutar o filme (Titanic), já vi sair gritando (La Mosca), já gritei e participei do filme (Jumanji, primeira versão), vi dormir e roncar a vários (Samsara... filme que eu curto muito). Mas principalmente no cinema tenho visto sorrir, se divertir e emocionar tantas vezes ao meu filho junto que acho que é essa a melhor que tenho experimentado.

 

O próximo trabalho no cinema de Zapata será como diretor do filme Uma Vez em Veneza, todo rodado na Itália, o longa-metragem fala sobre dois estrangeiros com visões distintas sobre o amor. O lançamento comercial está previsto para o início de 2021.


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31/07/2020

Crítica do filme: 'Magnatas do Crime'

No final do jogo, ganha que é o mais esperto. Escrito e dirigido pelo ótimo cineasta britânico Guy Ritchie, The Gentlemen, no original, é um filme de ação com sátiras ao planeta, às organizações administrativas e podemos fisgar também uma singela homenagem aos saudosos filmes de gângsters de décadas passadas. Contando através de uma cronologia louca seu desenrolar, o projeto vai caindo no gosto cinéfilo aos poucos chegando a um desfecho para lá de convincente. O elenco está ótimo, com destaques para: Matthew McConaughey, Charlie Hunnam, High Grant e Michelle Dockery.

Orçado em um pouco mais de 20 milhões de dólares, o filme conta a história de Michael Pearson (Matthew McConaughey) um engenhoso plantador e traficante de maconha milionário que resolve se aposentar dos negócios e deseja vender todo o império que construiu. Para isso faz uma oferta para um outro bandido, Matthew (Jeremy Strong). Só que a chegada de um outro personagem que está interessado no império de Michael mudará os rumos dessas história.

Sob a ótica de Fletcher (personagem caricato e ótimo de Hugh Grant) enxergamos a visão da malandragem, da espionagem quase amadora mas que acaba sendo peça importante para toda a trama pois conseguimos navegar nas razões e consequências dos personagens. Falando nisso, esse é um filme de personagens fortes. O hilário Coach, interpretado por Colin Farrell tem ótimas tiradas. Ray (Charlie Hunnam), o fiel guarda-costas e braço direito de Michael é uma mistura de vários homens de confiança de filmes de outrora.

O vai e vem do roteiro balança mais não cai, deixa o filme redondinho nos instantes finais das conclusões sendo bom destaque. Talvez se o filme fosse contado de outra forma, não seria tão divertido.


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30/07/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #1 - Hsu Chien

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi, eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Para iniciar essa coluna que vai ter espaço semanal nesse espaço cinéfilo, entrevisto abaixo um dos mais cinéfilos cariocas, Hsu Chien. O mais taiwanês dos brasileiros, formado em uma das melhores faculdades de Cinema do Brasil, a UFF de Niterói, é um dos mais requisitados assistentes de direção do mercado audiovisual brasileiro (tem ficha extensa no IMDB), ramo esse que atua desde a década de 90, tendo no currículo cerca de 50 filmes de longa-metragem, fora os excelentes curtas que realizou. Ele respira cinema como poucos. Figurinha carimbada no Festival do RJ e seguido por uma legião de cinéfilos desde os tempos distantes do Orkut, Hsu tem mais de meio século de histórias nesse mundo mágico do cinema.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Vario entre o circuito Estação e o Itaú, ambos em Botafogo, berços da cinefilia carioca. Ambos têm programação que mescla filmes de arte com filmes de circuito, são bem localizados, perto de metrô, com bom atendimento e promoção durante o início da semana. E também porque é point certo para encontrar amigos cinéfilos, além de terem livraria para passar o tempo e esperar o filme começar.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Os Saltimbancos trapalhões. O filme fala sobre magia, lúdico, sonhos e ambições para se tornar um artista. Fala sobre cinema, Hollywood, ou seja, para mim que sempre quis trabalhar com cinema, o filme foi o ideal para alimentar esse desejo por querer ver e contar histórias para o público.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Woody Allen. "Manhattan"

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Céu de Suely. O filme é um assombro de bom: primeira vez que vi Hermila Guedes, essa atriz extraordinária, dominar as telas em um filme baseado em história real sobre uma personagem que busca sua felicidade, mesmo não sabendo aonde encontrá-la. Um filme que fala sobre amor, desamor, frustração, sonhos roubados, com lindas cenas de sexo e um drama visceral. Jamais esqueci o embate entre Suely e sua avó, que bate nela para valer. A fotografia de Walter Carvalho e a trilha sonora são inesquecíveis.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É estar vivo. Não consigo passar um dia sem ver um filme, é o que me alimenta. Sou Cinéfilo que assiste de tudo, de A a Z, sem restrições, sem preconceitos.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Depende do que você chama de "entender de cinema". O cinema atinge qualquer classe social, qualquer faixa etária, qualquer escolaridade. Cada um tem os seus gêneros preferidos, mas a função social do cinema, a principal, é entreter. E isso sim, atinge.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca, jamais. É o segundo lar de todos os cinéfilos raiz.  O ritual de ir ao cinema, estar na sala escura e compartilhar emoção com outras pessoas, é insubstituível.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Rei de King Island. Um filme para rir, se emocionar, chorar e conhecer o trabalho desse ator jovem fenomenal, Peter Davidson.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Essa pergunta é pegadinha. Para mim que não vivo sem uma sala de cinema e não vejo a hora de estar em uma, sim, quero ir, nem que seja com máscara, luvas, o que for. Sei que existem pessoas de grupo de risco que infelizmente não podem, mas eu moro sozinho então sou eu comigo mesmo.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Brilhante, tem filme para todos os gostos e gêneros com perfeição técnica. O que tem que parar, são os chatos de plantão que insistem em detonar o filme popular. Tem que aceitar que o filme popular tem público, então esse filme não é para você. Parem de reclamar e agradeçam que o filme rendeu trabalho para centenas de profissionais e faz muita gente se divertir. Parem de elitizar a arte, achando que tudo tem que ser para um público seleto e distinto.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Karin Ainouz.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Duas horas para esquecer que o mundo lá fora tá chato demais.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

Uma vez, durante uma sessão lotada do Festival do Rio, eu segurei a cadeira ao lado da minha com minha mochila enquanto minha amiga Kathia Pompeu estava no banheiro. Chegou uma pessoa, parou do meu lado, pegou minha mochila e jogou longe, gritando que não podia segurar lugar. Fiquei tão pasmo que nem reagi.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Tenho o Dvd e o Vhs. Não preciso dizer mais nada.

 

Um dos próximos trabalhos que Hsu Chien participou, Veneza (de Miguel Falabella), no qual foi co-diretor, deve estrear logo após o reestabelecimento completo das salas de cinema, muito provavelmente no ano que vem.


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Crítica do filme: 'Deus é mulher e seu nome é Petúnia'

A força de uma mulher. Dirigido pela cineasta Teona Strugar Mitevska e exibido no Festival de Berlim do ano passado, Deus é mulher e seu nome é Petúnia é uma peculiar história de uma jovem um pouco perdida no que vai fazer de sua vida profissional que acaba, no impulso, sendo jogada em um grande debate sobre tradições e machismo na comunidade onde vive. O filme, que desembarcou no Brasil no final do ano passado, é um bom retrato sobre a cultura que pouco conhecemos, ainda de pensamentos antigos, da Macedônia (mais precisamente a do Norte), além de validar a força feminina para quebrar preconceitos que já nunca deveriam existir.  

Na trama, acompanhamos a história de Petunia (Zorica Nusheva), uma jovem perto de trinta e poucos anos que do dia pra noite vira notícia na cidadezinha que mora. Formada em história mas atualmente desempregada, a personagem principal, possui uma relação bastante conturbada com a mãe mas um apoio incondicional do pai. Todo ano, em uma cerimônia religiosa liderada pelo padre local, esse mesmo joga uma cruz num rio para que homens busquem por ela pois ela dará sorte pro ano todo. Dessa vez, Petúnia entra na água quase imperceptível e consegue ser a primeira a encontra a cruz. Mas os participantes e o padre local não aceitam sua vitória e assim se inicia um conflito que mexe com a polícia da cidade, uma jornalista e tradições machistas.

Na sala de interrogatório, onde parte do clímax do filme se passa, vemos toda uma exposição de constrangimento perante a jovem do comandante da polícia que não sabe o que fazer com a situação pois além de saber que Petúnia não fez nada, não quer ficar mal com a ‘autoridade da igreja’. Há uma exposição do machismo constante em grandes parte das linhas do roteiro assinado por Elma Tataragić. Que não só se mostra no epicentro da trama, mas já na entrevista constrangedora de emprego que a protagonista vai, sendo praticamente humilhada por um homem sem caráter nenhum que a denigre com violência verbal e física.

O papel da imprensa é colocado de maneira meio espalhafatosa na ambígua personagem Slavica (Labina Mitevska), nunca sabemos se ela quer a polêmica para dar audiência ou se realmente ela quer ajudar Petúnia com os absurdos que passa. Gospod postoi, imeto i' e Petrunija, no original, busca também falar muito sobre o desemprego mas a profundidade não é desenvolvida.


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29/07/2020

Crítica do filme: 'Chasing Trane'


É algo realmente notável tocar em um nível tão especial. Tentando decifrar, de alguma forma, parte da genialidade de um dos maiores músicos saxofonistas da história desse imenso planeta em que vivemos, Chasing Trane, dirigido pelo cineasta John Scheinfeld, exibe várias curiosidades de um dos mitos das origens do jazz, John Coltrane. Filho único, nascido no sul dos Estados Unidos, tocava em casas de shows badaladas (algumas cheias de cafetões e vigaristas) trabalhando para sustentar sua esposa e a sua enteada, desde os tempos em que era integrante da espetacular banda de outro genial, Miles Davis (Miles Davis Quintet). O documentário, que tem narração de passagens na voz de Denzel Washington, é cronológico e aos poucos, com muitos detalhes, acompanhamos a construção desse mito do sax. Um projeto para sempre ser exibido a cada nova geração. Nunca podemos nos esquecer dos bons, jamais.

A dor que temos, a esperança que sofremos. Em suas canções, e principalmente após se descobrir um ótimo compositor, Coltrane aborda política, desigualdade social e outros temas em um som puxado para um pop jazz que ninguém fazia, sendo responsável pela divulgação cada vez mais forte do poderoso jazz norte-americano. Viciado em heroína logo no início de carreira, quase seguindo o destino de outra lenda do jazz Charlie Parker (Bird, do qual era fã), Coltrane consegue com muita força de espírito sair de alguma forma desse vício horroroso o que elevou sua vontade de viver e automaticamente sua criatividade musical.

Com depoimentos de biógrafos, filósofo, músicos como o baterista do The Doors que era seu fã, amigos próximos, parte de sua família, e até do ex-presidente Bill Clinton, vamos navegando na mente de um dos mais criativos artistas das últimas décadas. Imagens antigas da década de 40, 50 e 60 caminham junto à cronologia que que se adapta a todos os feitos e importantes marcos na carreira de Coltrane, como a composição de um de seus maiores sucessos Alabama que teve como inspiração o terrível atentado a uma igreja batista por supremacistas brancos que mataram quatro crianças.

Contra o contexto do preconceito os negros usavam a música como forma de alegria e equilíbrio emocional. Há um paralelo importante entre Martin Luther King e John Coltrane, o segundo encontra na música uma forma de lidar contra tudo de complicado que enxerga ao seu redor, e nós sentimos em nossos corações.





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Crítica do filme: ' Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado'


Do triunfo ao quase desastre, sempre na esperança de voltar a falar com seu público. Muitas gerações recentes aqui no Brasil talvez nem nunca tenham ouvido falar no porto riquenho Walter Mercado. Sem zap, internet, quem comandava a festa da informação/comunicação eram as televisões e suas enormes audiências. Assim, anos atrás, na década de 90, um chamativo homem sempre com roupas extravagantes, capas, falando sobre astrologia dominou o interesse popular no Brasil e em toda a América Latina durante anos mandando mensagens positivas para milhares de devotos. Mas como que no auge da carreira e exposição na mídia, essa figura pública amada sumiu e nunca mais voltou à tv? Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado, produzido pela Netflix, dirigido pela dupla de cineastas Cristina Costantini e Kareem Tabsch, mostra as verdades sobre tudo que aconteceu na formação, no auge do sucesso e no pós sumiço televisivo desse personagem sempre intrigante da televisão. Dois pontos muito interessantes: o encontro do atual gênio da Broadway Lin-Manuel Miranda com seu ídolo de infância é algo que emociona. Segundo, o projeto nos faz uma pergunta indiretamente: será que Walter Mercado faria sucesso nos dias atuais? A resposta está no filme!


Dividido em arcos muito bem compostos, esse ótimo documentário navega em pontos importantes da trajetória do astrólogo mais famoso do mundo na década de 90. A questão sobre a sexualidade dele, assunto que Walter não gostava de falar muito sobre, contorna o documentário sob ponto de vista de um ativista lgbt de Porto Rico que teve nele como alguém de referência para ser quem ele queria ser. Outra questão é a briga na justiça que Mercado teve com seu ex-empresário. Como a maioria dos artistas que se dedicam fortemente à sua arte sem pensar na estrutura que precisa administrar para que tudo aconteça, Walter acaba caindo em armadilha contratuais que praticamente extinguiram sua marca, seu nome que sempre lutou para deixar intacto no auge. Há um belo destaque também para as lembranças da carreira de ator de Walter, uma passagem muito bonita em um lindo teatro em Porto Rico ganha destaque no documentário.


Ícone da moda? Figura pop? Rei dos memes foi por jovens que nunca o viram na tv? Cascateiro? Ingênuo? Walter Mercado pode ser definido por você leitor da forma como o enxergar mas uma coisa não tem como nenhum de nós negar: marcou a história da televisão mundial.

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28/07/2020

Crítica do filme: 'Verão em Berlim' (Sommer vorm Balkon)


As entrelinhas da monotonia de um cotidiano sempre em crise. Utilizando a tática do ‘ritmo labirintesco’, o que de fato se aproxima da realidade, Sommer vorm Balkon, no original, lançado faz 15 anos na Alemanha e dirigido pelo competente cineasta Andreas Dresen explora as ações e consequências de uma classe média perdida em uma europa em constante transformações. Os contrapontos entre as idas e vindas dentro das situações da vida das duas amigas protagonistas coloca o que vemos sempre em pontas opostas, mostrando dor e sofrimento com pitadas de esperança. O roteiro assinado pelo alemão Wolfgang Kohlhaase se pergunta a todo instante, implicitamente falando: afinal, o que é felicidade?

Na trama conhecemos Katrin (Inka Friedrich) e Nick (Nadja Uhl), duas inseparáveis amigas que estão perto dos 40 anos e ainda não conseguem encontrar rumos em alguns campos de suas respectivas vidas. Quando a segunda, uma leitora assídua de Stendhal, começa um relacionamento com um caminhoneiro que leva tapetes pelas estradas da Alemanha, a primeira, que enfrenta forte preconceito por sua idade nas entrevistas de trabalho que vai, entra em certo desespero mas aos poucos começa a entender melhor toda a situação. Composto por pequenos recortes do cotidiano dessas duas ótimas personagens, o filme navega pelos conflitos europeus bastante atuais.

A classe média e seus problemas. Só por tocar nesse tema, o projeto seria um grande palco para análise de antepassados economistas e sociólogos. As reflexões do medo mas nunca deixar de tentar, transforma jornadas em ações longe de uma perfeição nos vários campos da vida: no amor, nas relações interpessoais, nas profissões. Há uma melancolia no ar que é facilmente detectada pelos olhos mais atentos, como se as personagens abrissem portas e sempre do outro lado tem a mesma coisa. Mas por conta disso a fita é honesta e bastante próxima da realidade, afinal, aqui desse lado da telona o dia a dia de muitos se reflete a enormes decepções e fragmentos de felicidade que se tornam poeiras em pouco tempo.

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27/07/2020

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Pausa para uma série: #10 - Rick and Morty – 1ª Temporada


Para entender o mundo complexo que vivemos nada melhor que um pouco de loucura. Com estreia aguardada no longínquo ano de 2013 (quase 2014), Rick And Morty, criado pela dupla Dan Harmon e Justin Roiland, essa genial série de aventura é um fenômeno que grita pelas entrelinhas e também choca em alguns momentos, mostrando uma série de aventuras interdimensionais de uma família, com núcleo centralizado em um avô louco (Rick, uma espécie de Dr. Emmett Brown em formato de desenho) e seu neto Morty. Usando a técnica de animação para falar muito sobre o mundo atual, os embates entre gerações, as genialidades perdidas e outras surpreendentemente questões, Rick And Morty é um fenômeno pop, com intensos 22 minutos por episódio.


Criada a partir de uma paródia animada em curta-metragem do clássico filme De Volta Para o Futuro produzida para o festival de cinema Channel 101, Rick and Morty nos mostra as aventuras de um cientista/físico louco e que gosta de uma bebida, Rick, avô do tímido e curioso Marty. Ambos vivem com o restante da família: Jerry (o pai de Morty), Summer (a irmã) e Beth (a mãe de Morty e filha de Rick). A dupla viaja por interdimensões, vão para outros planetas, sempre em uma nova aventura provocada por algum problema existencial do cotidiano deles. Simplesmente genial.


E o que acontece quando encontramos nós mesmos? Filosofando de maneira divertida e muito inteligente, essa e outras questões existenciais volta e meia ganham destaque nos onze episódios de sua primeira temporada (atualmente já existem quatro temporadas na Netflix) que saúda com louvor os órfãos de mais aventuras de Mcfly e Emmett Brown. A ficção científica aplicada à trama cai como uma luva para os cinéfilos que adoram as loucuras geniais de Nolan e cia. Cada episódio é uma fonte de criatividade misturada com conceitos complexos em formas debochadas de como podemos enxergar quem realmente somos.

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Crítica do filme: 'Marieke, Marieke'


Segredos e a rotina de não saber o que vai acontecer com o seu futuro. Fita alemã/belga de dez anos atrás, que nunca chegou a ser exibida no Brasil, Marieke, Marieke é uma pequena jornada rumo ao recorte no passado de mãe e filha, onde segredos do passado acabaram de alguma forma moldando as personalidades delas depois do trauma vivido. Primeiro longa-metragem da cineasta Sophie Schoukens, que também escreve o roteiro, o projeto conta com uma ótima atuação de sua protagonista, interpretada pela artista belga Hande Kodja.

Na trama, conhecemos a intrigante personagem principal, Marieke (Hande Kodja), por muitas vezes parece perdida em suas próprias atitudes, sempre munida de uma pequena máquina fotográfica tirando fotos de corpos com quem se encontra, se relaciona com homens mais velhos e trabalha em uma fábrica de doces artesanais na cidade onde vive. Possui um relacionamento conturbado com sua mãe Jeanne (Barbara Sarafian), o que só gera mais conflito quando chega um enigmático personagem chamado Jacoby (Jan Decleir) que diz ser o editor do livro que seu pai escreveu anos atrás e promete contar a Marieke algumas verdades de seu passado.

Espírito livre e completamente em desalinho sobre rumos e focos do que fazer com sua rotina monótona e quase sem esperança em um mundo que para ela se coloca como cheio de obstáculos, perdido, todas as respostas e perguntas da história giram em torno da protagonista, praticamente não há outra ótica. A sociologia por trás de toda a complicada personagem é colocada de maneira sutil, passando de um feminismo que acompanha o seu tempo e ao mesmo tempo toda a imaturidade de uma jovem que tenta entender a vida de maneira as trancos e barrancos, sendo pouco compreensível aos olhos de quem a tem por perto.

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20/07/2020

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Crítica do filme: 'Greyhound'


Como faz falta uma sala de cinema! Com um orçamento de cerca de 50 milhões de dólares, com roteiro escrito pelo próprio Tom Hanks baseado no livro The Good Shepherd, de C.S. Forester, Greyhound, nova estrela no catálogo da Apple Tv é um filme de guerra sem muitas pausas para absorvermos os inúmeros termos náuticos de combate em meio a um oceano atlântico que lembra o bom e velho batalha naval que jogávamos na infância. No papel principal, também Hanks com pitadas de um pouco mais do mesmo visto em outros filmes. Pena que esse filme não conseguiu chegar aos cinemas, pelo menos ainda não, pois as cenas muito bem conduzidas e o som principal deixariam o espectador com uma interação mais profunda com tudo que acontece na tela aos longos dos menos de 100 minutos de projeção.

Na trama, dirigida pelo cineasta Aaron Schneider, conhecemos o capitão da marinha norte-americana Ernest Krause (Tom Hanks) que tem uma missão muito complicada, na fase inicial da Segunda Guerra Mundial, liderar diversas embarcações de mais de três dúzias de navios norte-americanos e britânicos a cruzar o enorme Oceano Atlântico e protege-los dos ataques perigosos dos enormes submarinos nazistas. Ao longo de todo o filme, vamos vendo toda a angústia e pressão na cabine de comando.

Um dos méritos do filme é conseguir criar o clima de tensão, principalmente pelo comandante interpretado por Hanks, a cabine onde acontecem as maiores situações de perigo e decisões que influenciam todo o comboio é vista de perto pelo espectador graças à boa condução da direção dessas cenas por Schneider. A experiência com certeza foi pensada para ser exibida na tela enorme dos cinemas pelo mundo, muitas cenas com ótimas técnicas são vistas e passam tamanha realidade. Recheado de termos técnicos de combate em alto mar, o filme não deixa marca no coração cinéfilo mas não deixa de ser um competente trabalho.

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Crítica do filme: 'Extreme Job'


Meio comédia pastelão, meio filme de ação com cenas milimetricamente bem coreografadas, Extreme Job tem vários elementos que podem conquistar o espectador que resolve escolher um filme para se divertir, sem mensagens metafóricas nas entrelinhas, sem muitos temas para se pensar. Partindo do princípio de um empreendimento inusitado que alcança sucesso, um grupo de detetives bem loucos da cabeça precisam combater o crime organizado de maneira bastante peculiar.  Dirigido pelo cineasta sul coreano Byeong-heon Lee e escrito pelo roteirista conterrâneo Se-Young Bae, a comédia/ação que levou apenas quatro dias para ser vista por um público de 2 milhões de pessoas na Coreia do Sul (o que ocasionou em um novo recorde do cinema sul coreano, pelo curto tempo pela marca alcançada).

Na trama, conhecemos uma unidade de detetives da polícia de uma cidade da Coreia do Sul, comandada por um comandante atrapalhado, que está tramando como prender um alto figurão do crime organizado local. Para tal ação, eles conseguem imaginar o inusitado, quando descobrem que na frente do lugar onde esse chefão frequenta constantemente, existe um restaurante que vende frangos fritos que está à venda. Assim, resolvem comprar o estabelecimento, o que não esperavam é que a receita de molho pro frango que inventam acaba caindo no gosto dos frequentadores e o restaurante vira um gigante sucesso.  

Com orçamento de quase seis milhões de dólares e lançado em janeiro do ano passado na Coreia do Sul e sem nenhuma previsão de desembarcar no Brasil, Geukhanjikeob, no original é bastante honesto com o espectador, desde seu início repleto de ações desencontradas e cenas que miram a comédia como protagonista em relação à ação, até o seu clímax inusitado mas exatamente o que fará muita gente procurar por esse filme, o projeto possui arcos organizados e brindam o espectador com boas gargalhadas. A composição dos personagens é superficial pois o foco é todo nas loucuras dos desenrolares de seu elemento principal que é o fato peculiar que caminha pela trama. Extreme Job prova que, se alguém ainda tinha dúvidas, não só de ‘filmes de arte’ vive o excelente cinema sul coreano contemporâneo.

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