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01/06/2025

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Pausa para uma série: 'A Melhor Irmã'


As surpresas de um homicídio contadas através de uma família disfuncional. Ao remexer traumas familiares, mostrando a bagunça da verdade de um assassinato através de personagens moralmente ambíguos, a nova série da prime video A Melhor Irmã mergulha em um drama incisivo que se entrelaça no suspense de forma organizada. Ao longo dos oito episódios, vamos criando uma imensa curiosidade sobre as verdades que vão aparecendo em doses precisas.

Baseado na obra The Better Sister, escrito pela romancista norte-americana Alafair Burke, o projeto apresenta seu ‘Casos de Família’ através dos ressentimentos e traições, um duelo entre a espontaneidade e o modelo da perfeição. O foco principal são duas irmãs e muito mais que um conflito. Em cena, brilham duas atrizes em excelência na atuação - Elizabeth Banks e Jessica Biel - nos guiando para um desfecho de tirar o fôlego.

Chloe (Jessica Biel), é um mulher bem-sucedida, editora-chefe de uma revista de sucesso, que vive sua rotina de milionária ao lado do marido, o advogado Adam (Corey Stoll), e do filho Ethan (Maxwell Acee Donovan). Sua rotina é interrompida quando Adam é brutalmente assassinado e Chloe encontra seu corpo quando chega em casa. A partir desse momento, segredos profundos sobre o casamento começam a vir à tona — incluindo a chocante revelação de que Ethan é, na verdade, fruto de um relacionamento entre Adam e Nicky (Elizabeth Banks), irmã de Chloe. Sem opções, a não ser lidar com o passado e os conflitos entre elas, Chloe e Nicky precisam superar as desavenças e encontrar soluções para os conflitos que aparecem.

O roteiro segue uma linha reta rumo ao desembaralhar os conflitos, um discurso forte e poderoso que passa pela curas das feridas mais profundas. Personagens ambíguos vão preenchendo todo o epicentro da trama dando forma a um instigante drama familiar. Passando pelas memórias nem sempre boas e as verdadeiras companhias nos momentos sombrios, as margens para surpresas se tornam constante em um esforço bem-sucedido de evitar a obviedade.

A narrativa é modelada com o auxílio de flashbacks, fato que ajuda demais para as arestas serem alinhadas. Com a investigação do assassinato indo calmamente para um plano de fundo, a luz se joga para assuntos que circulam os conflitos no presente entre as irmãs. Assim, ganhando camadas imprevisíveis, chegamos na violência doméstica, olhar para a maternidade, o alcoolismo, segredos e traumas do passado. Ainda em relação à narrativa, há um interessante ponto que merece destaque: poucos personagens são escanteados, cada subtrama exerce a função de complemento e se cruzam com a história principal.

A Melhor Irmã é uma série que surpreende, não tanto pelo suspense mas pelos fios de reconstrução de laços entre duas irmãs marcadas por eventos que fizeram seus caminhos se distanciarem - e novamente se unirem. É uma série que te prende desde o primeiro episódio. Se você está em busca de uma série envolvente para maratonar, essa é a escolha certa para dar o play.

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16/05/2025

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Pausa para uma série: 'Procurados - EUA: Osama Bin Laden'


Na manhã de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque, o mundo assistiu, estarrecido, a um ataque aéreo sem precedentes contra um dos maiores símbolos dos Estados Unidos. A partir daquele momento, iniciou-se uma longa caçada — atravessando dois governos — para capturar o principal responsável pelo atentado: o líder da organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda.

Percorrendo detalhes poucas vezes vistos, com entrevistas emocionadas de personagens importantes do governo norte-americano, da CIA, de forças especiais, e uma recriação impecável de situações ocorridas nesse período de angústia e ansiedade com o objetivo de encontrar Osama Bin Laden, a excelente série documental Procurados - EUA: Osama Bin Laden nos faz voltar no tempo para entender melhor os pormenores dessa caçada.

Dividida em três episódios, a minissérie explora os acontecimentos que antecederam e cercaram a operação que culminaria em seu objetivo final. Em meio a mudanças no comando do poder, pessoas que participaram diretamente ou acompanharam de perto as reuniões secretas tornam-se peças-chave na construção da narrativa. A força de seus depoimentos sustenta a base desta investigação documental, que lança luz sobre um dos episódios mais marcantes da história norte-americana.

Da difícil tarefa de reviver os dias de tensão até a conclusão de um árduo trabalho – que mexeu com muitas vidas pessoais - quando o principal símbolo do terror foi localizado e morto em um esconderijo nos arredores de uma cidade no Paquistão, os depoimentos dos analistas da CIA são estarrecedores, um recorte de emoções que marcou a trajetória de cada uma dessas pessoas.

Pelas entrelinhas, enxergamos questões políticas, divergências conflitantes, onde o medo do fracasso se torna uma variável a se prestar a atenção. De George W. Bush a Barack Obama: o primeiro, presidente durante os atentados e os dias de tensão que se seguiram; o segundo, encarregado de cumprir a missão que se tornou um dos principais objetivos de seu governo, acompanhamos decisões cruciais que levaram ao sucesso da operação final ocorrida em 2 de maio de 2011.

Procurados - EUA: Osama Bin Laden é mais uma série consistente da Netflix dentro desse caminho de explorar com ampla investigação fatos marcantes dentro de acontecimentos chocantes nos Estados Unidos. Estão no catálogo da líder dos streamings também, Procurados - EUA: O.J. Simpson e Procurados - EUA: O Atentado à Maratona de Boston.


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Pausa para uma série: 'A Garota Roubada'


Com um piloto aceitável e alguns episódios sonolentos que se seguem, num balanceamento desequilibrado dos elementos de uma narrativa, chegou sem muito alarde ao catálogo da Disney Plus a minissérie A Garota Roubada. Estrelada por Denise Gough e Holliday Grainger esse projeto te deixa preso num primeiro momento em uma história de desaparecimento mas que logo sofre por um desenvolvimento com o freio de mão puxado apresentando um recheio - nada satisfatório - de clichês.

A vida da aeromoça de jatos particulares Elisa (Denise Gough) vira de ponta a cabeça após permitir que sua filha durma na casa de uma nova amiguinha, influenciada pela insistência da mãe da garota, Rebecca (Holliday Grainger). Em uma busca do paradeiro da filha após percebido o sumiço, a protagonista e o pai da menina, Fred (Jim Sturgess), acionam a polícia. Ao longo do desenrolar dos dias, algumas surpresas do passado de Elisa, e também sobre esse casamento, vão aparecendo.  

Em poucos minutos, o primeiro episódio realiza com eficiência a difícil tarefa de apresentar, de forma objetiva e com ritmo acelerado, os alicerces da história, despertando interesse genuíno pelo que está por vir. No entanto, a partir do segundo episódio, a narrativa começa a se desviar do rumo: acumulam-se pontas soltas, e temas promissores que poderiam render reflexões mais profundas acabam tratados de maneira superficial, com resoluções simplistas e pouco impactantes.

Os holofotes se colocam num duelo entre anti-heroína e vilã, se esquecendo de resolver os conflitos de outros personagens escanteados da história. Elementos desse grupo dos esquecidos, estão Fred e Selma (Ambika Mod), essa última, uma jornalista investigativa que pega o bonde andando desse furo de reportagem - a falha tentativa de crítica ao circo midiático em todo caso de repercussão - se tornando coadjuvante até mesmo da sua própria jornada.

Baseado na obra Playdate, da escritora norueguesa Alex Dahl, essa minissérie de cinco episódios segue na linha do convencional para convencer o público com uma receita de bolo batida de suspense que se joga em reviravoltas pra lá de mirabolantes e pouco convincentes. Tudo começa bem mas desanda, rumando para um desinteressante duelo contra a previsibilidade.


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15/05/2025

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Pausa para uma série: 'Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto Por Engano'


Uma luta por justiça e respostas. Era julho de 2005, em um país europeu abalado por recentes atentados terroristas. Em meio ao clima de tensão, com a polícia e autoridades debatendo os próximos passos na segurança pública, um erro imperdoável resultou na morte do brasileiro Jean Charles de Menezes.

Apresentando detalhes chocantes desse TRUE CRIME, chegou na Disney Plus a minissérie de quatro episódios Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto Por Engano, marcada por cenas fortes e perturbadoras. Ao longo dos impactantes capítulos, vamos entendendo o antes e o depois de um quebra-cabeça de erros onde a incapacidade de comando determinou uma tragédia.

Percorrendo um intervalo pequeno de dias, conhecemos Jean Charles (Edison Alcaide), um brasileiro batalhador que trabalha como eletricista em uma Londres de 20 anos atrás. Com a cidade sendo alvo recente de ações desumanas que vitimaram mais de 50 pessoas, a polícia resolve criar forças tarefas para retomar o controle e aliviar a pressão pública. No dia 22 de julho, em meio a uma falha operacional inacreditável, Jean foi confundido com um terrorista procurado e executado com onze tiros pela Polícia Metropolitana de Londres, dentro de uma estação de metrô.

Um importante trunfo desse projeto chocante é o passo a passo do que aconteceu antes e depois da morte do brasileiro, sempre tendo mais de um ponto de vista. Com uma contextualização eficiente, que resume em pouco tempo todo o caos e medo que viviam os moradores da capital inglesa naquela época, acompanhamos – com indignação - uma série de erros e abusos de poder serem expostos. A narrativa logo encontra um ritmo intenso chegando na aflição, na angústia, se construindo em volta de um retrato assustador – bem exposto - de incompetência policial.

As derrapadas morais vão de encontro a uma série de personagens importantes que se misturam no não saber lidar com o fracasso de uma operação e reconhecer o erro, até outros que ajudaram a trazer verdades pra frente das barreiras que foram colocadas. Os pais de Jean Charles foram consultores da série, um fato importante, algo que deixa mais próximo da verdade tudo que acompanhamos.

Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto por Engano culmina em uma poderosa mensagem de luta por justiça e por respostas. Com todos os episódios já disponíveis no Disney Plus, é bem provável que você termine a minissérie tomado por um profundo sentimento de indignação.


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09/05/2025

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Pausa para uma série: 'As Quatro Estações do Ano'


Os altos e baixos do matrimônio. Buscando uma atualização de uma obra homônima lançada no início da década de 1980, escrita e dirigida por Alan Alda – que faz uma pequena participação aqui – o novo seriado da Netflix As Quatro Estações do Ano traz aos olhos do público uma história bem-humorada, madura, que envolve questões sobre o casamento na visão de três casais, amigos de longa data. Já podemos considerar essa como uma das ótimas adições ao catálogo da toda poderosa do mundo dos streamings.

E o motivo dos elogios é simples: É muito fácil se identificar! Desde a reviravolta do primeiro episódio, é provável que você seja capturado por essa história! Com um texto leve, divertido, sem esquecer de dar um pulo em camadas além do superficial – principalmente quando embates mais evidentes saltam na tela – ao longo de oito episódios dessa (provável) primeira temporada, vamos navegando no mar das instabilidades de uniões que para muitos parecem ser perfeitas.

Um grupo de amigos animados se encontram sempre que tem uma folguinha para compartilhar de mais momentos juntos. Assim, somos apresentados aos casais: Kate (Tina Fey) e Jack (Will Forte), Danny (Colman Domingo) e Claude (Marco Calvani), Anne (Kerri Kenney) e Nick (Steve Carell). A questão que gira em torno de tudo que acompanhamos é a de que Nick resolve se separar, pegando a todos de surpresa. Esse fato apresenta mais conflitos ao grupo de amigos, principalmente quando ele assume um novo romance, com Ginny (Erika Henningsen), uma mulher mais jovem.

Com muito episódios escritos por Tina Fey, esse projeto segue uma fórmula bem definida com um quase ‘começo, meio e fim’ a cada dois episódios. Isso ocorre pois as estações do ano viram quatro atos, então, a cada dois capítulos vemos um novo reencontro. Os ganchos para tais deslizam entre o tema central (a já mencionada separação de um dos casais) e atualizações sobre o cotidiano dos períodos. Um mérito que fica bem exposto é a forma como abrem-se camadas para todos os casais e seus conflitos. As entrelinhas são poucas.

Com locações que circularam entre Nova Iorque e a Califórnia, essa série que deve chegar rapidamente ao TOP 10 da plataforma, apresenta também uma maturidade nos diálogos levando esse projeto para um outro patamar em comparação a muitas obras (filmes ou séries) que buscaram o mesmo caminho: falar com propriedade sobre relacionamentos. Ajuda, o ótimo elenco que apresenta um carisma impressionante com seus maravilhosos e bem entrosados personagens.

Os conflitos de casais sempre geram muitas reflexões, em As Quatro Estações do Ano não é diferente. A fácil identificação é trunfo bem desenvolvida, segue na linha do existencial sem parafernalhas. Ao fim do oitavo episódio fica um gostinho de quero mais. Quem sabe não vemos mais uma temporada em breve. Ganchos tem aos montes!


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07/05/2025

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Pausa para uma série: 'Étoile: A Dança das Estrelas'


A californiana Amy Sherman-Palladino já é um nome bastante conhecido dos amantes das séries. Mente criativa por trás de sucessos como: Gilmore Girls e Maravilhosa Sra. Maisel, em 2025 chega com seu novo trabalho: Étoile: A Dança das Estrelas. Percorrendo os bastidores de duas companhias de balé de forma sarcástica e com muito humor, trazendo problemas atuais para uma arte centenária - além de um ótimo elenco - o projeto se consolida como uma obra-prima de oito episódios que emociona e faz rir na mesma intensidade tendo a cultura como força motriz.  

Com um texto inteligente e empolgante – que nunca escapa de seu discurso afiado - conhecemos os conflitos de bailarinos, administradores, mães e filhas, pessoas influentes querendo se impor, além de trazer para debates questões sociais importantes quando o assunto é contemplar em vez de postar. Cheio de críticas pelas suas entrelinhas, essa nova série da Prime Video é viciante, daquelas para maratonar em um único dia!

Jack (Luke Kirby) é o administrador de uma renomada companhia de balé norte-americana que passa por grandes sufocos na tentativa de renovar o interesse do público para os espetáculos. Sofrendo do mesmo problema, Geneviève (Charlotte Gainsbourg) se encontra numa forte pressão dos patrocinadores da sua companhia, também famosa, na França. Quando surge uma mirabolante ideia, trocar os talentos para um intercâmbio durante um período, a vida desses dois administradores trará conflitos que vão do céu o inferno.

O desenvolvimento dos personagens é algo que chama a atenção. Nossos olhares se desdobram para acompanhar subtramas profundas que logo atingem os epicentros dos sentimentos. Como não amar Geneviève – interpretada pela fabulosa atriz Charlotte Gainsbourg – uma mulher na casa dos 40 anos que vive um furacão no seu presente, tendo que lidar com o problemas de seu trabalho e ainda se entendendo no momento atual da vida pessoal. Outra personagem que chama a atenção é Cheyenne (Lou de Laâge), um ponto de encontro de muitos dos conflitos que aos poucos vai ganhando camadas para a entendermos melhor.

Mas o ‘pulo do gato’ aqui é conseguir chegar ao interessante por meio de bastidores de uma espécie de empresa. As vertentes administrativas aqui ganham desdobramentos hilários, é um shoe de sofrimentos recompensadores que saltam aos nossos olhos. O roteiro consegue adaptar o contemporâneo com uma arte cultural centenária por meio dos deslizes das emoções e também do lado moral. Mesmo quem não conhece o universo do balé vai se deliciar com os ótimos debates que ganham tons provocativos através do sarcasmo em cada um dos episódios.  

 

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01/05/2025

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Pausa para uma série: 'Os Ladrões de Diamante'


Com um roteiro bem bolado que explora uma tentativa de roubo cinematográfico, chegou sem muito ‘oba oba’ na Netflix uma intrigante minissérie policial de apenas três capítulos que consegue jogar uma lupa para um amplo contexto de uma Inglaterra no início dos anos 2000. Produzido por Guy Ritchie e tendo no centro dos holofotes os pontos de vistas ladrões, polícia e imprensa, Os Ladrões de Diamante é um prato cheio pra quem curte true crime!

Achada no Zaire em meados dos anos 1990, a cobiçada pedra preciosa Millenium Star, da De Beers (empresa sul-africana-britânica líder mundial na indústria de diamantes), um diamante com mais de 200 quilates, ganhou os olhares do mundo na virada do milênio sendo exposta no mega empreendimento Domo do Milênio. Essa última, uma grande construção em forma de cúpula na Península de Greenwich, no sudeste de Londres.

Com tantas notícias sobre, chamou a atenção de um grupo de ladrões que aos poucos foram se organizando para executar um roubo que tinha tudo para ser o maior já feito na história da criminalidade. Em três dinâmicos capítulos, essa série nos mostra os bastidores desse crime ousado que apresenta muitas surpresas, pois, a polícia desconfiada por algumas movimentações, também armou uma estratégia bem criativa nesse duelo entre os heróis e os criminosos.

O projeto consegue ampliar o contexto de alguns porquês através das ações para o novo milênio e as mudanças na terra da Rainha, onde o primeiro-ministro Tony Blair e toda a base governamental buscava cada vez mais impulsionamentos nos atrativos culturais e financeiros das suas regiões. A justiça, a imprensa, também ganham força ao longo dos capítulos. Podemos acompanhar as conclusões desse caso através também dessas variáveis importantes.

Mas a sacada principal da série é a mescla de ficcional com documental, uma fórmula inteligente que se mostra dinâmica preparando o terreno para as surpresas. E bem que poderia virar um filme só de ficção futuramente! A narrativa explora recortes da vida do líder dos assaltantes de joias, numa espécie de antes e depois onde as verdades saem com mais facilidade.

Os Ladrões de Diamante entrou sem muita divulgação na Netflix, mas acreditem: é uma verdadeira pérola a ser descoberta! Pra quem curte True Crime então...


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Pausa para uma série: 'O Eternauta'


O silêncio e o estrondo nas relações humanas. Enfim chegou na Netflix a tão aguardada série argentina O Eternauta, protagonizada por Ricardo Darín, baseada na clássica história em quadrinhos de ficção científica criada por Héctor Germán Oesterheld (em colaboração com o desenhista Francisco Solano López), crítico ferrenho aos golpes de estado que marcaram o cotidiano dos nossos vizinhos. Tem invasão alienígena, dilemas dilacerantes, viagem no tempo, várias surpresas e muito mais!

Com uma veia crítica afiada e apontada para os deslizes da sociedade em momentos de crise, essa releitura da criação de Oesterheld nos joga para uma gangorra de paranoia aliada ao medo concreto onde um novo sentido do confiar cria barreiras e dilemas, escancarando em camadas sutis as relação familiares e de amizade. Irmãos, pais e filhos, amigos de longa data se veem na necessidade de ativar o instinto de sobrevivência, colocando qualquer laço à prova.

Sempre renovando uma amizade de quase 40 anos, quatro amigos se reúnem toda sexta-feira para jogar truco. Num desses dias, algo estranho acontece. Ao perceberem estar sob uma misteriosa e mortal nevasca, Juan Salvo (Ricardo Darín) e o restante do grupo precisarão encontrar soluções para sobreviver quando os perigos se mostram presentes. Conforme os dias passam começam a entender que uma invasão aconteceu e nada será como antes.

Ao longo dos seis episódios dessa primeira temporada, que começa com um piloto morno mas que apara o terreno para os cinco restantes deixarem nossos olhares não saírem de perto da televisão, buscamos decifrar um enorme contexto – ainda pouco explicado – através de um pai em busca da sua única filha.

Entre caminhadas solitárias e ações em grupo percebemos ao longo dessa primeira temporada a essência do que está nos quadrinhos. Trazendo as prováveis uniões e a ação conjunta a favor de um objetivo, esse espírito do ‘herói coletivo’ está nítido desde os primeiros minutos. As linhas tênues entre a moral e a ignorância também se mostra presente quase numa espécie de investigação sobre o comportamento humano em momentos decisivos.

Como tudo mudou é capaz de você mudar também. Com os pés no chão sem deixar se levar pelas infinitas possibilidades mirabolantes de caminhos para se reconstruir essa emblemática história, o criador e roteirista da série Bruno Stagnaro explora os conflitos de seus personagens de forma inteligente nos levando para embates que tem como base a: superação vs limitação.

Para criar essa distopia, de invasão do mundo que conhecemos, é importante mencionarmos a impecável direção de arte que com muita criatividade consegue ser um importante elemento. Realmente nos sentimos passeando pelas famosas ruas de Buenos Aires. As filmagens duraram cerca de 5 meses na capital argentina, e se espalharam em cerca de 50 locações. Além disso, contou com quase 3.000 artistas entre elenco e figurantes.

Com ainda muitas pontas soltas e apresentando apenas um pequeno pedaço de toda uma enorme história cheia de reviravoltas, O Eternauta chegou com sua primeira parte buscando explorar cada cantinho dessa distopia que traça pelas entrelinhas vários paralelos com a realidade. E atenção: logo nos créditos do último episódio dessa jornada de seis episódios, a confirmação: teremos uma segunda temporada! Aguardaremos!


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23/04/2025

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Pausa para uma série: 'Congonhas: Tragédia Anunciada'


Vida, verdade, justiça. Trazendo ao público detalhes impressionantes da trágica história do maior acidente aéreo da América Latina, a minissérie documental investigativa Congonhas: Tragédia Anunciada parte da dor das famílias – com muitos depoimentos de cortar o coração - rumo a uma análise bem apurada sobre responsabilidades pelo ocorrido, chegando em fatores políticos e econômicos de um setor que vinha de uma série de instabilidades e incertezas.  

O fato, de repercussão internacional, se desenrolou da seguinte forma: na tarde de 17 de julho de 2007 um avião Airbus A320 da TAM decolava do aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre rumo a um outro que fica no meio da cidade de São Paulo, Congonhas. Ao se aproximar para pouso, com chuva e tempo instável, não consegue frear a tempo e atravessa a pista se chocando em alta velocidade com um prédio da própria companhia aérea. A vida de quase 200 pessoas seriam perdidas nesse momento.

Após o ocorrido, uma série de situações transformaram esse acontecimento em um tabuleiro de muitas perguntas e respostas, inclusive com o circo midiático a todo vapor em cima de personagens que de alguma forma estavam no raio do contexto do que as investigações viriam a descobrir. A proposta dessa minissérie documental – feita com uma impressionante pesquisa – é exatamente, ao longo dos seus três impactantes capítulos, acompanharmos pontos de vistas, reportagens, depoimentos, situações e ações que fizeram parte dessa tragédia anunciada.

No seu capítulo inicial somos apresentados a história de familiares e o início de suas lutas por justiça pela morte de seus parentes. A partir do segundo capítulo, o projeto encontra um caminho detalhista para traduzir em uma narrativa imersiva a fatos e situações que circularam meses próximos da data do ocorrido. Confusões, ‘Apagão Aéreo’, e um certo caos no setor ganham argumentos em amplo contexto que vai de encontro a fatores políticos, escolhas e decisões da companhia aérea, da infraero e no centro dos holofotes a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Criada e roteirizada por Angelo Defanti (que em seu trabalho anterior, Veríssimo, nos brindou com um documentário belíssimo sobre o escritor Luís Fernando Veríssimo), Congonhas: Tragédia Anunciada apresenta a dor e a insensibilidade, um contraste marcante que não deixa de representar os fatos reais de uma tragédia que nunca será esquecida.

 

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07/04/2025

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Pausa para uma série: 'Alvo Primário'


Intrigas no mundo da espionagem é algo de certa forma bastante corriqueiro quando pensamos em filmes e séries. Trazer algo novo e que chame a atenção dentro desse contexto não é uma missão fácil. Lançado nesse início de 2025 no ótimo streaming Apple TV+, Alvo Primário segue a cartilha dessas produções trazendo em sua primeira temporada um recheio considerável de clichês que se amontoam em oito episódios que flertam com o previsível. Criada por Steve Thompson, podemos bater o martelo de que essa é umas das grandes decepções do ano até aqui.

Edward Brooks (Leo Woodall) é um jovem matemático, orgulho do corpo docente da prestigiada Universidade de Cambridge, que está produzindo uma pesquisa para seu doutorado numa análise profunda e bastante complexa sobre teorias no padrão dos números primos. Quando seu trabalho é apresentado a um dos professores mais prestigiados da universidade, uma série de situações o colocam de frente para o perigo. Para ajudá-lo em busca de respostas, entra em sua vida a analista da NSA, Taylah Sanders (Quintessa Swindell).

Quando o foco é criar o terreno para eventuais reviravoltas, a qualquer custo, geralmente não sai conforme o pensado. Em sua tentativa de criar camadas para seu nada carismático protagonista, o roteiro esbarra na ingenuidade da superfície, não tirando o pé do acelerador em nenhum momento. O quebra-cabeça emocional que vive o personagem acaba sendo pouco explorado por uma narrativa se construindo de forma atabalhoada com subtramas desinteressantes que forçadamente ganham elos com a trama principal.

O matematiquês aqui fica em segundo plano, então calma você que odeia matemática! Os dramas pessoais buscam um respiro mas acabam confundindo mais do que adicionando. As relações interpessoais que se apresentam são cheias de lacunas, parece um abre alas para futuros desenrolares (algumas produções seriadas cismam em pensar numa segunda temporada), um deslize que transformam os cerca de 60 minutos por episódio em uma sequência de achismos por parte do público.

Na sua busca por conexões interessantes ao apresentar personificações (leia-se as já mencionadas relações interpessoais) em forma de paralelos para brincar de ficção com teorias que circulam sobre os mistérios ainda indecifráveis de números naturais que possuem somente dois divisores: 1 e eles mesmos, Alvo Primário e seu aulão de espionagem deixariam Pitágoras com uma enorme preguiça.


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12/03/2025

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Pausa para uma série: 'Whiskey on the Rocks'


Pincelando as ironias da geopolítica com um episódio absurdo que aconteceu durante o período de guerra fria, a brilhante minissérie sueca Whiskey on the Rocks – pouquíssimo divulgada aqui no Brasil – usa sem abusar da sátira nos levando para um registro histórico que ficou perto de colocar em linhas de combate os Estados Unidos e a ex-União Soviética (URSS). Criada por Henrik Jansson-Schweizer e Björn Stein, Whiskey on the Rocks também é um show de desabafos que mostra através da comédia tensões em três pontos do mundo num momento caótico do planeta.

No ano de 1981, nos últimos anos de guerra fria, um fato curioso aconteceu em águas escandinavas. Um submarino russo classe Whiskey, U-137, em treinamento, após uma enorme bebedeira por parte de sua tripulação, acaba ficando encalhado no território sueco. Durante quase duas semanas uma série de situações políticas criou um verdadeiro alarde para os mandachuvas das duas maiores potências mundiais tendo no centro do tabuleiro o ex-primeiro ministro sueco Thorbjörn Fälldin (Rolf Lassgård) que fez de tudo para que a diplomacia vencesse quem tinha a pólvora nas mãos.

A polarização do bloco comunista e capitalista ao longo de mais de quatro décadas é uma página batida em livros de história, algo que aprendemos com certa ênfase por conta de seus desenrolares que só foram desfeitos com o declínio financeiro e político da ex-União Soviética (URSS) já nos anos 1990. Esse assunto, que ficara no imaginário de muitas pessoas, se desenvolveu com muitas histórias desse período que já foram adaptados para projetos audiovisuais.

Em Whiskey on the Rocks a fórmula encontrada para contar mais um capítulo desse embate é o humor. Com generalizações simplificadas dentro de estereótipos guiados pelo calor daqueles momentos, chegamos em personagens conhecidos da história mundial, como o ex-presidente norte-americano Ronald Reegan (Mark Noble) que logo no seu início de governo buscava frear a influência global da União Soviética. Também ganha o palco o Ex-secretário-geral do Partido Comunista da URSS, Leonid Brejnev (Kestutis Stasys Jakstas). No meio disso tudo, não podemos esquecer a Suécia e sua política interna controlada, guiada por um criador de ovelhas, Thorbjörn Fälldin.

Com seus diálogos memoráveis e uma contextualização eficiente - até visualmente com o uso de um ‘tabuleiro de War’ a cada ping pong nas conexões - Whiskey on the Rocks coloca por entrelinhas o desespero por um estopim para se criar uma inconsequente guerra. Jogando para escanteio qualquer tipo de profundidade dramática, com a espionagem também ganhando seus contornos, essa ótima minissérie nos leva até um aulão bem-humorado que coloca em evidência a diplomacia, algo difícil por aqueles tempos.


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Pausa para uma série: 'Paradise'


Com uma forma criativa e concisa de apresentar sentimentos e dilemas em torno do fim do mundo – e também no declínio das relações sociais - chegou nesse início de 2025 na Disney Plus o surpreendente seriado Paradise. Criado pelo excelente roteirista Dan Fogelman, que já tinha deixado sua marca com a aclamada This is Us, esse seu novo projeto atrai o público com reviravoltas, mistérios e camadas que se abrem aos montes nos levando para uma jornada empolgante através de personagens enigmáticos.

Tudo ia bem numa comunidade perfeita de algumas milhares de pessoas até que um dia o presidente Cal (James Marsden) é brutalmente assinado no seu quarto. Logo, Xavier (Sterling K. Brown), o responsável chefe por sua segurança, começa a juntar as peças desse quebra-cabeça que nos leva até a exposição de fatos surpreendentes que vão de encontro aos interesses de Sinatra (Julianne Nicholson) uma influente nas relações políticas. Se você acha que a trama se prende a isso, não ande por esse caminho. Ao final do primeiro episódio entendemos um pouco do que é aquele lugar.

Trazer o fim do mundo e os dilemas que surgem a partir de decisões no calor do momento amplia os horizontes dessa obra-prima de oito episódios que trazem surpresas atrás de surpresas. Impressiona como são bem desenvolvidos os personagens – os principais e os coadjuvantes – fato fundamental para entendermos ações que se completam com um contexto que se mostra bem mais amplo que a premissa.

Indo mais a fundo, precisamos falar também de algumas atuações. O trio protagonista formado por James Marsden, Sterling K. Brown, Julianne Nicholson é impressionante, dominam nossos olhares. Muitas vezes taxados como heróis ou vilões alguns personagens tem um brilho que ultrapassa essa corrente simplista, esses três personagens se encaixam nesse ponto. Merecem estar na próxima temporada de premiações.

Do drama ao suspense tendo as verdades nas entrelinhas, as etapas da jornada do herói são complexas com o passado interligando o presente. Para isso o recurso narrativo de flashbacks se tornam uma mola propulsora e certeira. Com essa estrutura sólida, chegamos nos emaranhados dos campos políticos, nas relações familiares, nos traumas e consequências e nos deslizes da moral.

A fórmula encontrada por Fogelman encontra horizontes, caminhos que se cruzam, com as ótimas Fallout e Silo, mas tem sua própria identidade, segue por outros caminhos que elevam a qualidade do projeto. Um destacado mérito é conseguir amarrar as pontas soltas até seu season finale sem deixar de plantar dúvidas sobre o que virá pela frente. Alguns dos episódios, principalmente o penúltimo que se torna um enorme divisor de águas, podem pintar em listas futuras de melhores capítulos de uma série nos últimos anos.

Com a segunda temporada já garantida nos resta aguardar os novos desenrolares dessa que é até agora a melhor série do ano.


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07/03/2025

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Pausa para uma série: 'A Dona da Bola'


Mesmo não apresentando nada de novo e seguindo a linha convencional de uma série de comédia que derrapa sem receios no ‘nonsense’, o projeto da Netflix A Dona da Bola é um passatempo que diverte nos levando até os desenrolares de conflitos dos muitos personagens tendo como foco uma família disfuncional e o mundo empresarial de um dos esportes mais lucrativos dos Estados Unidos em plano de fundo.

A vida da acomodada e milionária Isla Gordon (Kate Hudson) se resume a ser a chefe de um setor filantrópico da organização milionária da família, o time de basquete Los Angeles Waves. Quando seu irmão Cam (Justin Theroux) é internado em um clínica de reabilitação, a empresa precisa de um novo presidente e o cargo é oferecido para Isla. Grande entendedora de basquete, ela precisa agora, juntamente com sua equipe, decifrar os caminhos para o sucesso de um negócio dominado pelo patriarcado.

Muitas camadas de uma família cheia de problemas nas relações interpessoais, o machismo nas organizações, a guerra do marketing, o conflito de classes, traições, dopping, problemas com drogas, o tumultuado novo mundo do glamour e dinheiro, são alguns dos pontos que transbordam nesse projeto criado pelo trio Ike Barinholtz, Mindy Kaling e Elaine Ko.  

Trazer os bastidores dos esportes para uma série de televisão não é algo inovador. De formas diferentes, vimos isso na ótima Lakers: Hora de Vencer e também na aclamada série da Apple Tv Plus, Ted Lasso. Em relação a essa última, pode ser traçar alguns paralelos com essa série da Netflix, uma pessoa que não entende muito bem do novo cargo e descobre nas relações caminhos para o sucesso. Mas A Dona da Bola não encontra o brilhantismo do projeto estrelado por Jason Sudeikis, além de escorregadas ao tentar abraçar todos os embates de seus muitos personagens. Há alguns, como o irmão recém-descoberto Jackie (Fabrizio Guido) que são esquecidos ao longo dos episódios.

Parece bobinha mas a série tem suas questões apresentadas de forma reta e objetiva chegando em boas reflexões. Pode até mesmo – para o olhar mais atento – encostar na realidade: tem romance, drama, pontos que se interligam pelos tons cômicos e situações mirabolantes. Ao longo de 10 episódios de 30 minutos, e com uma enxurrada de subtramas, o seriado protagonizado pela indicada ao Oscar Kate Hudson tem um ritmo acelerado com acertos e erros em todos os seus capítulos dessa primeira temporada. 


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26/02/2025

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Pausa para uma série: 'A História da minha Família'


Uma das gratas surpresas do ano até agora, a minissérie italiana A História da minha Família é um desfile profundo pelo acaso moldando de forma contagiante uma história de perda e luto se descontruindo através de uma necessidade de laços afetivos. A partir de um carismático personagem principal e seu último desejo, vamos embarcando em uma jornada comovente sobre resiliência e quando o amor bate de frente com a dor.

Ao longo de seis episódios, essa minissérie - que entrou no catálogo da Netflix nesse início de 2025 - nos apresenta a vida de Fausto (Eduardo Scarpetta) em dois momentos. No primeiro, como um carinhoso pai de família que encontrou o amor de sua vida de forma inusitada, numa cafeteria. Anos mais tarde, já separado e com a ex-esposa Sara (Gaia Weiss) enfrentando graves problemas psicológicos, é diagnosticado com uma doença terminal e precisa arrumar as peças soltas em sua família desestruturada antes de partir.

Um momento difícil na vida de uma pessoa sempre é algo tocante. Mas como transformar uma história que ruma para a tristeza em algo leve e revigorante? Ao longo dos capítulos dessa trama - que utiliza com sabedoria o flashback - conhecemos seus personagens de forma individual e coletiva, com cada episódio dedicado a um olhar mais próximo de algum deles. Tendo o protagonista como o elo que constrói todos os laços por aqui, o roteiro não entra em fantasias, busca se aproximar de verdades possíveis na realidade.

O tempo se torna uma peça importante para chegar aos conflitos através de um trivial antes e depois. Abordando relações antes apaixonadas e que depois chegam em suas rupturas, vamos acompanhando ao longo desse tempo as mudanças de vidas e as adaptações necessárias ou impostas por acontecimentos. Desde os primeiros passos do sonhar, passando por amadurecimentos precoces, até a chegada ao concreto das desilusões, a narrativa preenche seus conflitos sem se entregar completamente ao melodrama.      

Mesmo com alguns exageros e ponta soltas dentro de um conflito central que se expande, A História da minha Família comove e chega rapidamente em lições por todos os lados. Se animar em assistir, prepara o lenço, emoção é o que não falta!


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21/02/2025

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Pausa para uma série: 'Dia Zero'


Um ataque cibernético em grande escala ameaça o solo norte-americano. Dá pra imaginar isso na vida real? Bem, na ficção é o cenário da aguardada minissérie da Netflix Dia Zero - primeiro projeto seriado protagonizado pelo lendário Robert de Niro.

Um liquidificador de atritos com manobras políticas, sociopatas descarados, o quarto poder se manifestando, retóricas radicais, vão se tornando elementos de um campo minado político que apresenta em sua figura central as fragilidades de um ex-presidente que embarca na jornada do herói - aos trancos e barrancos.

O ex-mandachuva da maior potência mundial George Mullen (Robert de Niro) vive seus dias na tranquilidade de sua confortável residência ao lado da esposa Sheila (Joan Allen). Certo dia, após um ataque hacker sem precedentes, é convocado pela atual presidente Evelyn Mitchell (Angela Bassett) para ser o encarregado pela 'comissão do dia zero' - uma ação definida pela presidente com extensão de poderes totais até os responsáveis serem descobertos. Aos poucos vai percebendo que nada será simples.

Os episódios iniciais buscam preencher as lacunas no modo de pensar e atual momento do protagonista, algo que se torna prolongado, caindo em certa redundância. Mesmo assim, o desenvolvimento do personagem chama a atenção, com mistérios sobre sua saúde mental, um segredo escondido durante sua administração, sua rede de contatos e uma relação complicada com a filha. Há também um conflito interessante quando percebe um país e governo completamente diferentes dos seus tempos como presidente. De Niro debuta no mundo das séries com eficiência dando vida a esse difícil personagem.

Falar de política é sempre complexo ainda mais num país que tem cada detalhe esmiuçado em todos os cantos. Mas esse roteiro consegue furar barreiras do politiques, transformando esse eterno caldeirão para os tempos atuais. Nos sentimos em alguns momentos numa espécie de jogo de RPG político onde ficamos imaginando o que faríamos se fossemos tal personagem.

Aos poucos, um ninho de cobras que vão de empresários controladores, empreendedores com dedo no governo (já viram isso por aí, né?), até políticos em busca do mais alto escalão vão dando as caras dentro de uma certa obviedade em forma de armadilha política. A arte do convencimento se choca com uma variável bem explorada: o confronto com o inimigo interno.

Outro ponto interessante é que as subtramas - muito bem aproveitadas - ajudam a contar essa história. Temos a filha deputada, que por desavenças com o pai aceita ser marionete num jogo de poder, um fiel escudeiro com segredos no passado, uma competente chefe de gabinete com laços secretos com o ex-chefe, entre outros e outras.

Dividida em seis longos episódios Dia Zero embala na reta final, mais precisamente no penúltimo episódio com as cartas escondidas se mostrando chaves para resoluções. Então paciência que pode ser recompensado! Pra quem curte projetos onde não ficam prontas soltas, esse pode ser um bom achado.


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18/02/2025

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Pausa para uma série: 'Homicídio nos EUA: Gabby Petito'


Uma viagem pelos Estados Unidos de dois jovens recém noivos termina com apenas um deles voltando pra casa. Partindo desse ponto para montar peças de um quebra-cabeça macabro que envolve a violência doméstica e a dependência emocional, chegou ao catálogo da Netflix uma série documental de três episódios que apresenta os fatos de um crime que chocou um país.

Homicídio nos EUA: Gabby Petito nos leva até acontecimentos de anos atrás, um true crime que mostra muito mais do que um frio assassinato mas contribui para bons debates sobre o circo midiático em casos como esse, além de reflexões sociais profundas na ação policial.

Uma van e um sonho. Depois de pouco mais de um ano juntos, o casal Gaby e Brian partiram para morar um tempo juntos, vivendo como nômades, num veículo com tudo que precisam. Ela com o sonho de ser vlogueira, ele acompanhando. Quando Gaby fica sem dar notícias por duas semanas, sua família entra em contato com a polícia e assim inicia-se um capítulo triste dessa história.

Usando a inteligência artificial para recriar a voz de Gabby para textos do seu diário e mensagens, o documentário - também investigativo - acompanha detalhes dessa relação através de depoimentos dos pais, das forças policiais e amigos próximos. Um retrato de Brian vai sendo montado sob o ponto de vista de todos que cercam Gaby. Não há um outro lado dessa história pois todos ligados a Brian não quiseram dar depoimentos.

Conduzindo o documentário com os elementos que tem em mãos, a dupla de diretores consegue chegar até mesmo em críticas sociais profundas, com duas delas em destaque. Uma sequência chama muito a atenção, quando a van do casal é parada por policiais numa estrada, após uma denuncia ser feita, o tratamento e conclusões da situação escancaram o machismo e o despreparo policial em identificar um grave problema. Outro ponto é a questão do jornalismo em relação aos fatos. O documentário apresenta questões que vão muito além do circo midiático que virou o caso.


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12/02/2025

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Pausa para uma série: 'Os Assassinatos de Åre'


Crônicas do caráter no gelo e no sangue. Dividido em duas partes, com complementos vindos apenas do desenvolvimentos dos protagonistas, a série sueca Os Assassinatos de Åre é uma engenhosa e macabra trama que parte de duas personalidades que tinham tudo para entrar em rota de colisão e nos guia até mentes doentias. Essa importância e detalhes na construção dos arcos dramáticos deixam poucas pontas soltas, dando chance para o suspense brilhar e surpreender.

Com um discurso sóbrio que caminha nas linhas tênues das relações de confiança, seja nas soluções dos casos de assassinatos, seja na própria vida pessoal dos personagens principais, o projeto que logo chegou ao Top 10 da Netflix é uma adaptação dupla, de dois livros da escritora e advogada Viveca Sten: Hidden in Snow e Hidden in Shadows.

Nos três primeiros episódios tomamos conhecimento dos perfis dos protagonistas. A detetive Hanna (Carla Sehn) resolve ir relaxar e esquecer dos problemas em uma área mais isolada da Suécia se distanciando do mundo na casa da irmã. Mas logo chama sua atenção o desaparecimento de uma jovem, fato esse que a faz trabalhar com Daniel (Kardo Razzazi), o encarregado das investigações que recentemente foi pai. Ao longo dos dias, descobrirá segredos e enfrentará a desconfiança da sua dupla.

Todo filmado na própria cidade de Åre – um lugar gelado que tem cerca de 1.300 habitantes – essa primeira parte da história, adaptação de Hidden in Snow, é quase um prólogo quando pensamos nos personagens. A desconfiança, elemento presente todo o tempo, dá lugar as novas formas de enxergar uma cidade pacata com pouco alvoroço. Sob neve constante, o clima esquenta conforme pistas vão surgindo guiando o público para entrelaços que surpreendem. Aqui, o mistério ganha o protagonismo, fisgando o público a cada descoberta.

Já no segundo caso, adaptação do livro Hidden in Shadows, a dupla de protagonistas precisa enfrentar as perguntas que giram em torno do assassinato brutal de um ex-atleta olímpico que tinha uma empresa. Nesse ponto da história, Hanna e Daniel estão muito próximos e essa relação se estreita com os problemas em casa que o segundo enfrenta.

Mesmo seguindo ainda um detalhado olhar para o campo da investigação – que se perde em alguns momentos com subtramas pouco desenvolvidas - nesses capítulos finais, o foco acaba sendo a relação mais próxima e de provável conflito entre os dois detetives. Mas nada apaga a riqueza na forma de dissecar as emoções e os limites do comportamento humano – leia-se dentro da ética e moral – algo refletido em uma direção de arte e fotografia que andam em total harmonia transformando Os Assassinatos de Åre em um ‘Dois em um’ que vale o ingresso.

 

 

 

 

 

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Pausa para uma série: 'Sobrevivendo à Queda dos Black Hawks'


O que é o certo e o errado em uma guerra? Não é de hoje que ações militares de países em território distante sempre nos colocam de frente com evidências sobre as formas e os porquês de determinada ordem. Trazendo depoimentos de dois lados de uma batalha ocorrida num país da África Oriental, a nova série documental da Netflix, dividida em três partes, Sobrevivendo à queda dos Black Hawks nos leva de volta até os horrores documentados quando um fato mudaria os rumos dessa ação norte-americana na capital da Somália, Mogadíscio.

A história - que foi o ponto principal para o filme de Ridley Scott, Falcão Negro em Perigo – nos leva de volta até o início do segundo semestre de 1993 quando a maior força armamentista mundial mandou suas forças especiais militares (inclusive os Delta Force, famosa tropa de elite) para ajudar uma campanha humanitária da ONU. Mas a ação logo virou uma intervenção para atuar contra as milícias que reuniam exércitos numerosos de fiéis seguidores.

Dentro desse cenário e sob as ordens do até então presidente norte-americano Bill Clinton, no início de outubro uma batalha pelas ruas da cidade litorânea de Mogadíscio (capital da Somália) ficariam marcadas para sempre na história militar norte-americana, com a queda de dois helicópteros Black Hawks e soldados perdidos em linha de fogo esperando reforço. Mas até esse epicentro, é importante entender o cenário como um todo, algo que a minissérie busca em sua narrativa só que de forma bem superficial.

Temos de um lado um país em guerra civil – algo que perdura até hoje - que levou a fome generalizada e uma divisão entre lados milicianos. Do outro, o mais poderoso país do mundo em uma missão de apoio à ONU, que logo vira uma ação de captura e depois uma missão de resgate. Desde a chegada dos norte-americanos ao território alvo, as interações com a população foram da esperança ao ódio agitando uma panela de pressão que culminaria em horas de terror e heroísmo.

Civis e aliados de malícias contam suas versões do que viveram. Militares que estiveram de frente na linha de confronto também, inclusive com histórias que se interlaçam. Assim, conseguimos chegar em várias linhas de reflexões que passam inclusive pelos pensamentos humanitários isolados pelo medo de uma situação de risco.

Diversos pontos de vistas são usados para dar o máximo de realidade ao ocorrido. Entre depoimentos e simulações fictícias - contando ainda com filmagens reais feitas por um cinegrafista amador somaliano – é fácil entender que a dor e o sofrimento estavam em todos os lugares. Uma cronologia detalhista - com uma riqueza de ações e emoções – nos leva para um tabuleiro estratégico onde a parte política ganha holofotes por algumas vertentes.  

Sobrevivendo à queda dos Black Hawks é um retrato sobre dores e traumas. O certo e o errado de um confronto ganham interpretações colocando em evidência que as ilusões de uma paz ficam cada vez mais distantes quando o real problema vira uma questão política.

 

 

 

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14/01/2025

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Pausa para uma série: 'Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação'


Tudo – e realmente tudo – pela audiência. Chegou na Netflix nesse início de 2025, uma minissérie de dois episódios que mostra os bastidores e depoimentos da equipe de um dos mais polêmicos shows televisivos da história da televisão mundial. Tendo como foco as quase inacreditáveis pautas de The Jerry Springer Show - programa camuflado de um talk show – vamos percorrendo as ações de produtores, suas relações de trabalho e com os convidados. Antes de mais nada, esse é um projeto assustador quando pensamos em nós como sociedade.

O sensacionalismo é algo que chama a atenção de muitas pessoas, hoje, por exemplo, vemos alguns tipos de exploração migradas para as redes sociais onde a liberdade virou uma faca de dois gumes. Mesmo com as lutas e até alguns merecidos cancelamentos que ajudam a tentar equilibrar os valores morais, a humanidade sempre esteve próxima do interesse pelo chocar. Esse projeto mesmo beirando ao superficial, traz luz para essas reflexões.

Ex-ancora e comentarista de televisão, Jerry Springer também foi prefeito de Cincinatti. Então, jamais foi um nome totalmente desconhecido. Ele chega em Chicago com o objetivo de lançar um programa de tv e consegue um espaço numa famosa emissora. Junto a uma equipe que encarna o espírito do sensacionalismo e do banal, na guerra pela audiência, ao longo de 28 temporadas consegue o ibope que queria, mesmo sendo alvo de críticas por todos os lados.

Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação chega para decifrar os caminhos até esse sucesso que teve como força motora as maiores baixarias já vistas no universo televisivo. Teve brigas com vias de fato, um homem casado com um cavalo, embates feitos para criar o caos e até um episódio de assassinato que se tornou emblemático e marcou o ponto que iniciou a ladeira abaixo do programa.

Nos dois episódios que praticamente se definem como um ‘começo, meio e fim’, vamos acompanhando depoimentos chocantes que, entre outros pontos, encontram a relação da violência de muitos tipos com a vitória na audiência. Reflexo da sociedade? Limites na busca pela fama? Muitas perguntas giram em torno dessa minissérie mas sempre tendo poucas respostas. Até hoje, parte da sociedade, de uma maneira geral, insiste em não refletir sobre o que consome. E assim caminha a humanidade...


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Pausa para uma série: 'Terra Indomável'


Trazendo para reflexões assuntos que até hoje estão em alta nas pautas políticas, como: migração e a colonização, o novo seriado da Netflix Terra Indomável nos transporta até o já conhecido e conturbado velho oeste americano, mais precisamente no ano de 1857, onde nativos, exército americano, milícia mórmon entram em choque para alcançar a liberdade, o poder, pelo que acreditam ou simplesmente pela sobrevivência.

Contado de forma visceral, com cenas de tirar o fôlego e uma narrativa cirúrgica, essa minissérie de seis episódios apresenta recortes profundos sobre as formas de pensar diferente de nômades das indefinições de um país em conflito. As tradições vão de encontro a uma cultura de sobrevivência, com num trajeto de muitos perigos e violência por todos os lados, somos guiados por uma mãe e seu passado misterioso em busca de um refúgio.

Ambientado na região de Utah no século XIX, sob diversos pontos de vistas, conhecemos Sara (Betty Gilpin), uma mãe desesperada para chegar até o oeste com o filho Devin (Preston Mota). Seu caminho acaba se cruzando com o de Isaac Reed (Taylor Kitsch) que a ajuda numa jornada de muita dor, sangue e batalhas pela sobrevivência. Paralelo a isso, uma disputa por poder deixa toda a região selvagem e imprevisível.

Retratar o velho oeste norte-americano sempre foi um enorme desafio para as centenas de produções que assim fizeram. Emboscadas, traições, violência, a distância da lei, sempre tomaram conta dos roteiros. Em Terra Indomável, longe de ser um guia definitivo sobre essa era cheia de questões da história norte-americana, vemos a jornada da heroína muito bem construída e arcos dramáticos junto de conflitos e desenvolvimento bem executados. Uma equação que realmente prende a atenção do público.

Criado pelo roteirista norte-americano Mark L. Smith, o seriado que vem conquistando a atenção do público na mais famosa plataforma de streaming, usa o desejo e objetivo dos personagens para criar um retrato impactante de uma natureza bela e selvagem. Com subtramas muito bem embaralhadas vemos constantes distantes, como a escassez de recursos e a esperança, andarem lado a lado em disputas que não conhecem a paz.


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