12/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #27 - Francisco Carbone

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Figura presente em diversos festivais de cinema pelo Brasil, dono de um texto maravilhoso sobre a arte de que tanto ama, nosso convidado é o cinéfilo mais ranzinza que eu conheço e automaticamente um dos que mais respeito e adoro conversar, Francisco (Frank) Carbone. Crítico de cinema, jornalista. Se você digitar o nome dele no Google, vai ser creditado em tanto site e matérias que deveria virar tema de documentário sobre cinéfilos. Com vocês, meu amigo, Frank.

Obs: Não esqueço do dia que na cabine de Me Chame pelo Seu Nome, no RJ (mais especificamente numa das salas do Grupo Estação), produzido pelo querido cinéfilo Rodrigo Abreu Teixeira. Quando acaba a sessão encontro Frank aos prantos. Bonito ver o quanto uma obra pode emocionar até os amigos mais rabugentos J

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Grupo Estação, especificamente os da Voluntários da Pátria. Bom, é lá que me sinto à vontade, que vejo os grandes filmes em cartaz, que me sinto à vontade, que encontro amigos, que troco ideias e, muitas vezes, afetos.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Bom, creio que você esteja falando da experiência cinematográfica completa, e não filme visto em casa. Pois bem, o primeiro filme que lembro de ter sentido um arrepio diferente dentro da sala de cinema, foi o Almas Gêmeas, do Peter Jackson. O assisti numa sala que não existe mais, e por lá, vendo um filme adulto e sozinho, bateu uma certeza diferenciada.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Da vida, Bergman - meu preferido é Persona, acho. São tantas obras-primas desse mestre... entre os que estão vivos, Paul Thomas Anderson. Também ele me embolo pra decidir o melhor, mas vou de Boogie Nights, a despeito de inúmeros filmaços.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bandido da Luz Vermelha, do Sganzerla. Porquê? Ah, é a minha praia o desafio, a ousadia, o risco, a experimentação.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é, acima de tudo, não apenas amar o cinema como complementar a sua visão com inúmeras trocas infinitas com outros como você.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

Eu acredito que uma parte dessas pessoas entende, mas não todas. E nem sei dizer se seriam a maioria, mas sinto que existe uma mentalidade que precise combinar o conhecimento com a necessidade de cada espaço.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Os 'coveiros do cinema' existem desde o início do mesmo. Passaram pelas guerras, pela TV, pela Internet - acho que estão todos errados.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Ghost World, de Terry Zwigoff, é um dos filmes emblemáticos da minha vida, creio que poucos viram.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que não. Na verdade, eu acho que essa correria de buscar datas para coisas como Tenet é prejudicial não apenas ao cinema como negócio como principalmente às obras.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Essa última década o nosso cinema deu um salto qualitativo que tem a ver com a descentralização do mesmo, da amplitude de olhares que invadiram várias tribos, idades, sexos e lugares, e nos colocou num patamar onde estamos de igual pra igual com o melhor cinema produzido no mundo, seja de que parte for.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Atualmente estou fascinado por Grace Passô, em todas as vertentes que esse colosso de artista se apresente. Nossa melhor tradução hoje.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema me salva desde a adolescência, e hoje vai além da minha vida - é um desdobramento meu.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Nossa, eu já vi de tudo. Já vi gente sendo retirada carregada de uma sessão de Blue Jasmine (Woody Allen), já vi críticos extremamente mal educados dentro da sessão de Cães Errantes (Tsai Ming-Liang), já vi bate boca por assento, já vi pessoas morrendo de rir em 'Saló' (Pasolini), já vi pessoas muito loucas aplaudindo uma sessão de 'Lendas da Paixão' (Edward Zwick)... e muita coisa que eu não lembro agora. Comigo, duas situações inusitados - eu caindo da cadeira na sessão de Mapas para as Estrelas e dando esporro em espectadores em Árvore da Vida (Terence Malick).

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #26 - Monica Marraccini

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nossa entrevistada de hoje é uma das pessoas mais cultas e carinhosas que frequentam os cinemas do Rio de Janeiro. Professora de idiomas, intérprete e tradutora, Monica Marraccini morou anos na Alemanha e tem histórias sensacionais dentro dos cinemas em vários cantos desse mundão. Cinéfila de carteirinha, quando o Central do Brasil ganhou o Festival de Berlim, justamente na época em que ela estava se mudando de volta para o Brasil, traduziu na época todos os artigos elogiosos que saíram do alemão para o português e deixou num envelope para o Walter Salles na livraria do hoje Estação Rio. Quatro anos mais tarde, encontrou com o mesmo em um evento e ele disse que tinha recebido e se alegrado com a lembrança. Essas e outras curiosidades sobre essa querida amiga cinéfila você lê agora.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

São os cinemas da rede Estação, principalmente o Estação Rio. Desde o início, o Grupo Estação optou por uma programação mais distante do cinemão comercial hollywoodiano.  Não tenho nada contra assistir a um filme considerado main stream de vez em quando, há alguns excelentes, mas acho desesperador viver em um local onde estes sejam os únicos filmes disponíveis. Também frequentava muito o Espaço Itaú, mas observei uma mudança de foco nos últimos anos em direção a filmes que podem ser assistidos em muitos outros cinemas.

Um problema recorrente nos cinemas do Rio é o ar condicionado. Já deixei o cinema doente mais de uma vez, e o Itaú exagera na temperatura gelada. Curti muito o Cine Joia nos tempos do programador Raphael Camacho, pois a seleção era realmente ainda mais ousada do que a do Grupo Estação e o Cine Clube era uma delícia. Se o cinema fosse um pouco maior e confortável, creio que poderia ter permanecido um sucesso.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Meus pais eram cinéfilos e ouvi falar de cinema e de atores muito cedo na vida. Meu pai chegou a rodar um western que não foi lançado, mas está no catálogo da Cinemateca Nacional. No meu aniversário de 11 anos, descemos ao Rio de Petrópolis para alugar um filme na antiga Mesbla que meu pai exibiu no seu projetor para os meus amigos. Me senti muito especial naquela ocasião. Era um filme com Sophia Loren e não exatamente infantil, mas as crianças adoraram. Minha primeira paixão cinematográfica foi pouco original: A Noviça Rebelde. Depois passei a assistir filmes de Walt Disney, filmes bíblicos como Ben-Hur e Quo Vadis, comediantes franceses como Louis de Funnes e Jacques Tati. Petrópolis tinha muitos cinemas de rua nos anos 70 e assisti filmes maravilhosos como A Filha de Ryan de David Lean e A Flauta Mágica de Ingmar Bergman. Quando mudei para o Rio, passei a frequentar a Cinemateca do MAM onde se podia ver filmes de Fellini e de Andrzej Wajda. Quando mudei para a Alemanha, sofri um pouco com o fato dos filmes serem dublados, mas fiz muitos amigos cinéfilos e os papos que levávamos depois dos filmes compensavam. E me tornei frequentadora do Festival de Berlim que fazia do frio mês de fevereiro o mais estimulante do ano para mim. Quando voltei para o Rio, fui salva pelo Grupo Estação. Petrópolis infelizmente quase já não tinha cinemas.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Pergunta difícil. Gosto muito do Mike Leigh, do Robert Altman, do David Lean, do Truffaut, do Visconti, do Bertolucci, do Bergman e de muitos outros. Mas se tivesse que escolher, iria com o agora renegado Woody Allen. Identifico-me muito com as vozes eloquentes dos seus filmes, adoro a mistura de comédia e intelecto. Pena que o escândalo e o pessimismo tenham escurecido tanto sua atual produção. Gosto de muitos filmes dele, mas escolheria Manhattan nos anos 70, Radio Days nos anos 80, Husband and Wives nos anos 90 e Midnight in Paris nos últimos anos. Este último me fez flutuar como a Goldie Hawn. Amei aquela viagem ao passado parisiense.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Por acaso estava revendo uma hora atrás no Canal Brasil: Central do Brasil. Acho uma história belíssima que enfoca o Nordeste de forma muito poética, com uma dupla de atores espetaculares e a saudosa Marília Pera. Além disso, Central ganhou o Festival de Berlim justamente na época em que eu estava me mudando de volta para o Brasil e a emoção dos brasileiros que lá viviam com aquela vitória foi imensa. Traduzi na época todos os artigos elogiosos que saíram do alemão para o português e deixei num envelope para o Walter Salles na livraria do hoje Estação Rio. Quatro anos mais tarde, encontrei com ele em um evento e ele me disse que tinha recebido e se alegrado com a lembrança.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

O cinéfilo sente alegria com a simples visão de um cinema de rua. O dia do cinéfilo se torna imediatamente feliz se ele sabe que vai ter tempo para ir ao cinema ver um bom filme. Não consigo imaginar minha vida sem assistir filmes em um cinema. Por melhor que sejam as Netflix da vida, não vejo o momento de voltar a comprar o jornal na sexta e começar a sublinhar os filmes que quero ver durante a semana. No cinema!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Aqui no Rio temos a grande sorte de possuir uns poucos cinemas que se dedicam a um público mais exigente. A maioria dos cinemas quer vender entradas, pipoca e refrigerante com filmes fabricados em Hollywood para este objetivo.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Se ocorrer, espero que eu não esteja mais viva. Seria uma tristeza difícil de digerir.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Carrington com a Emma Thompson. Baseado na história da pintora Dora Carrington que tinha uma paixão platônica por seu companheiro de uma vida, o escritor gay Lytton Strachey. O filme tem um elenco incrível com o belíssimo Jeremy Northam e o talentosíssimo Jonathan Pryce, um dos meus atores favoritos. Além da Emma, óbvio.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Se as salas não se encherem muito e o ar condicionado for muito bem controlado, creio que sim. Caso contrário, teremos em breve ainda menos cinemas de rua do que temos atualmente. E sinceramente nunca tive vontade de assistir a filmes dentro de um carro. Fico logo em casa se esta for a única possibilidade. Cinema ao ar livre pode ser uma boa opção por enquanto.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Confesso que me sinto sem autoridade para julgar. Não tenho sentido vontade de ver a nossa realidade, que já anda muito triste, nas telas de um cinema. Tenho evitado cinema brasileiro.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Gostava muito dos documentários do Eduardo Coutinho que perdemos tragicamente.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Como diria talvez Woody Allen, algo que faz a vida realmente valer a pena.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Perdi o controle uma vez em um cinema na Alemanha, pois tinha esperado anos para ver O Inocente do Visconti na telona e dois sujeitos começaram a conversar do meu lado, levantei indignada, expressando um desespero tão grande que eles ficaram me olhando impressionados. Adorei dançar junto com os faxineiros do Cinema Leblon ao som dos Rolling Stones no filme do Scorsese. Recordações nada bonitas são as que tenho dos anos 70 quando eu era uma jovem que ia cinema sozinha assistir filmes como O Franco Atirador e sempre tinha algum sujeito inconveniente na sala que gostava de assediar mulheres sozinhas. Sofri muito com isto, pois na época não se falava sobre o assunto.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Não vi. Nem sei direito do que se trata rsrs.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Certamente. Os grandes escritores são todos grandes leitores e acho difícil alguém fazer um bom filme sem ter assistido a dezenas de excelentes filmes antes.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #25 - Alessandro Giannini

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Jornalista, muito querido, já trabalhou em diversos veículos de renome no cenário nacional, um crítico de cinema com uma análise sempre inteligente sobre as obras. Nosso convidado de hoje é o grande Alessandro Giannini. Já foi repórter na revista Set, editor de Cinema do UOL e colaborou durante um tempo com a equipe do jornal Metro, além de sua passagem pelo Jornal O Globo, entre outros. Eu mesmo sempre que via o nome do Giannini no texto eu prestava até mais atenção pois sempre era uma grande aula principalmente porque você percebe logo de cara que é um grande cinéfilo, sempre com ótimas referências.

Curiosidade de quem vos escreve: Eu uma vez, uns dez anos atrás na frente do Estação Botafogo, durante aquelas maravilhosas maratonas do Festival do RJ, na rua Voluntários da Pátria, perto de uma barraquinha de pipoca que sempre está por lá, eu vi o Alê lendo o programa do Festival. Ia falar com ele mas fiquei com vergonha, rs. 

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Difícil responder a esta pergunta cravando um só lugar, porque temos, em São Paulo, pelo menos três cinemas com programações que desviam do cardápio mais comercial - alguns deles fogem disso como o diabo da cruz. Pela ordem: Reserva Cultural, Espaço Itaú e Cinesesc.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro que assisti no cinema foi uma versão da Disney de Robinson Crusoé ou da famigerada família Robinson. Mas não tenho uma memória viva desse momento. No entanto, lembro de assistir a Rastros de Ódio, do John Ford, na TV, com o meu pai e chorar feito uma criança - que eu, de fato, era - quando o John Wayne finalmente encontra Natalie Wood.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Outra pergunta difícil e que se move de acordo com o momento. Eu acho o Martin Scorsese um gênio, e isso está meio que comprovado pelo corpo de obra e por filmes como Touro Indomável ou Os bons companheiros ou Cassino. Além de tudo, o cara é cinéfilo e fez dois docs que são aulas sobre cinema americano e italiano. Mas poderia citar, também, Roberto Rossellini (Roma, Cidade Aberta) e Fellini (Amarcord).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Assalto ao Trem Pagador, do Roberto Farias. Baseado numa história real, o filme retrata o famoso assalto ao trem da Central do Brasil. Acho que é um filme que fala e mostra como funciona o preconceito social e o racismo no Brasil.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

 

É uma paixão que não tem muitos limites e nem preferências. Acho que um cinéfilo de verdade não rejeita os filmes da Marvel e só consome filmes de arte. Ele encara tudo. E pode gostar mais de um tipo de filme ou de outro, mas está sempre aberto à descobrir algo novo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não a maior parte. Os grandes complexos certamente têm profissionais competentes, mas tratam os produtos com um olhar mais comercial do que cinéfilo. Agora, as salas que mencionei acima são dirigidas por gente com um olhar um pouco mais aguçado, sem deixar de enxergar o que podem lucrar com os filmes.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho impossível, porque é um lugar de entretenimento e também de reflexão. Assim como os teatros não acabaram e as bibliotecas também não fecharam. O que pode acontecer é uma transformação, mas não saberia dizer como.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Honeyland. Foi candidato ao Oscar de filme internacional e documentário longa. Um prodígio de narração e um retrato emocionante de uma personagem muito sofrida e com um gosto enorme pela vida. Infelizmente, foi comprado pouco antes de a pandemia chegar até nós. Quem tiver oportunidade, por favor, assista. É uma beleza.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, apesar de achar que muitos desses negócios vão sofrer mesmo que abram com as medidas de distanciamento.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Até a entrada do atual governo, estávamos em um ciclo virtuoso. As estatísticas compiladas pela Ancine mostravam isso. Uma indústria que empregava 300 mil pessoas e havia ultrapassado outros segmentos tradicionais. É muito triste, porque tínhamos muitos bons filmes sendo feitos, uma geração nova se revelando. O que temos hoje são espasmos. Você vê um Pacarrete aqui, um Partida acolá... Mas aquela explosão de novidades, acho que vai demorar um pouco para acontecer de novo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Beto Brant é um cara que sempre faz coisas interessantes e que me instigam. O Invasor dele está entre os meus dez melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Jorge Furtado, que não tem filmado muito, é outro. Fernando Meirelles também.

 

12) Defina cinema com uma frase:

É um lugar de paz e de encontro comigo mesmo. (Um clichê, claro, mas verdadeiro)

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Fui a muitas "cabines", as famosas sessões para jornalistas, ao longo da carreira. Mas nenhuma foi tão divertida quanto a de Cidade dos Sonhos (2001), do David Lynch, que tem aquela estrutura dividida - são praticamente dois filmes em um. E um crítico muito respeitado, que estava bem velhinho e tinha um problema de incontinência, saiu da sala para ir ao banheiro pouco antes da virada. Quando ele voltou, ficou ali parado por uns minutos, até perguntar para alguém que filme estavam projetando. Ele mesmo, que já não está mais entre nós, deu risada da situação.

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11/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #24 - Glaucia Hamond


A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Natural de Jundiaí (SP), formada em comunicação social, nossa convidada de hoje, Glaucia Hamond, já foi vendedora de loja, professora de inglês e até já vendeu sanduíche natural. Mas isso tudo ficou para trás quando resolveu seguir seu sonho de infância de se tornar uma atriz. Na década de 90, entrou para a famosa CAL e desde de então vem aprimorando sua arte inicialmente no teatro depois em comerciais, webséries e cinema. No RJ há muitos anos, essa cinéfila dona de uma gargalhada única ama expressar sua arte seja lá onde for.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu prefiro as salas do Cinemark do Shopping Downtown. Pois além de ser no bairro onde moro, as salas são confortáveis e o valor costuma ser mais barato que outros cinemas. E como tem várias salas, sempre consigo ver lá os filmes que busco.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Não tenho certeza qual foi o primeiro. Mas creio ter sido A Noviça Rebelde ou Fernão Capelo e Gaivota. Mas o cinema foi o antigo Cine Opera na Praia de Botafogo (onde hoje acho que funciona uma "Casa & Video"). Minha mãe lia a legenda para mim, já que eu era muito nova pra acompanhar a rapidez com que as frases apareciam na tela. Pra desespero das outras pessoas ao redor... hahaha E eu me apaixonei por aquela atmosfera mágica do cinema!

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Nossa, tão difícil essa! Tenho apreço por vários diretores! Não consigo citar um só. Gosto do Tarantino, do Coppola, Almodóvar, Stanley Kubrick, etc. rsrs

Filme, a mesma coisa. Mas tem alguns que me marcaram muito. O Dólar Furado, por exemplo. Pois assisti ainda pequena com meu pai na TV mesmo. Passou na "Primeira Exibição", que acontecia aos sábados à noite, na Rede Globo. Eu deveria ter uns 4 anos. E meu pai foi o meu primeiro incentivador a assistir filmes. Eu era tão pequena que nem conseguia falar "primeira exibição". Eu dizia: "Oba! Hoje tem Primeira Bibibição"! Hahaha

Meu pai citava a sinopse dos filmes com tanto fervor, que eu ficava louca para assistí-los logo! Ele dizia, com o dedo pro alto, como um político num discurso: "O sujeito foi salvo por uma moeda de 1 dólar que estava em seu bolso! A bala pegou na moeda, salvando seu coração! Por isso o nome do filme!" Ele dava spoiler mesmo. Hahahaha Mas os spoilers que me deixavam com mais vontade ainda de ver logo aquilo tudo convertido em imagens.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tem muitos! Mas Central do Brasil me tocou bastante e como teve indicação de melhor filme estrangeiro e melhor atriz para Fernanda Montenegro (sendo a primeira latino-americana indicada ao Oscar) isso colocou o cinema nacional numa evidência internacional.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É apreciar uma obra cinematográfica por inteiro (como se aprecia um bom vinho, uma boa música, uma peça de arte num museu). Levando em consideração todo o processo de sua elaboração, as pessoas envolvidas (atores, produtores, maquiadores, figurinistas, etc) e o porquê daquela obra; sua mensagem. É decifrar os mistérios ou enigmas ali presentes. É captar os segredos que possam estar nos pequenos detalhes. Pois um filme sempre te passará algum conteúdo e com isso, sempre te fará crescer.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não exatamente. Tirando alguns cinemas que tem uma programação diferenciada (no caso daqueles que só passam filmes cults, por exemplo) os cinemas, no geral, passam de tudo um pouco, uma "salada" de estilos e gostos. E eu entendo. Eles precisam de dinheiro para se manter. Por isso essa variedade na programação.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Creio que não, pois a magia de se assistir numa telona não tem comparação!

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Ih, têm muitos! Principalmente os mais antigos. A juventude tem muito preconceito com filme antigo. Filme antigo é uma obra de arte, e tecnologia alguma irá superar! Por isso tenho uma certa implicância com remakes. Sendo assim, indico, pra galera mais nova principalmente, Midnight Cowboy (Perdidos na Noite) com Jon Voight e Dustin Hoffman. Filme que rendeu algumas referências em outros filmes posteriores, principalmente pela música tema Everybody's Talkin de Harry Nilsson. Em Forrest Gump, por exemplo, a cena de Forrest atravessando a rua com o cadeirante e ex-combatente (Tenente Dan), faz essa menção ao filme.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Olha, tenho receio disso... Mas caso reabram deve-se ter um rigor enorme! Checagem de temperatura na entrada, álcool 70 disponível para todos, assentos intercalados, higienização geral das salas e poltronas entre sessões, e além da máscara individual, o uso do Face Shield (aquele protetor facial) que de repente possa ser emprestado pelo próprio cinema, assim como eram os óculos 3D, porém esterilizados após cada uso.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Está crescendo bastante! Tanto na parte de produção da obra quanto na atuação dos atores. Conheço pessoas que diziam não gostar de cinema brasileiro e que hoje assistem com muito prazer.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Eu não costumo ver um filme apenas pelo ator/atriz. Eu vou pelo conjunto da obra. Mas se é pra citar um, cito Wagner Moura.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Vou citar algo parecido que escrevi logo após as filmagens de um curta que participei (sou atriz).

"Cinema é a luz que ganha vida logo após se escutar a palavra "ação", e é nesse exato momento que a magia entra em cena".

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Ah, aconteceu comigo. Em meados dos anos 90 fui ao cinema com alguns amigos assistir A Rede (The Net) com Sandra Bullock. O problema é que eu gosto muito de rir, gargalhar. As vezes vejo graça onde ninguém mais viu... rsrs. Num determinado momento do filme, a protagonista é perseguida por um atirador num parque de diversões cheio de gente. E como todo parque americano, tem um mascote, um sujeito vestido de coelho, no caso. Aí, quando o atirador está prestes a alcançar a moça, o coelho esbarra sem querer no sujeito, fazendo-o cair, e ainda o pega pelos braços como se quisesse dançar uma valsa. O atirador, raivoso, o empurra para o chão. O coelho se levantou puto e dá uma "banana" com as mãos, dizendo "gee" (caramba). Foi com essa cena boba que eu comecei a gargalhar sem parar! Eu chorava de tanto rir! Porém eu fui a ÚNICA no cinema inteiro a achar graça desta cena boba... hahaha

Lembrando que eu tenho uma gargalhada bem exagerada... E o pior foi que, no decorrer do filme, eu relembrava o coelho e caía na gargalhada de novo. Meu amigo ao meu lado, me dizia: "Gláucia, você ainda tá rindo do coelho? Não teve graça nenhuma! Para de rir!" E essa frase só fez aumentar ainda mais a minha vontade de gargalhar! As pessoas, incomodadas, CLARO, começaram a pedir silêncio fazendo "sshhiiiii" e eu tive que começar a pensar em coisas muito tristes para poder conter o meu riso. Hahahahaha. Óbvio que por isso nem prestei muita atenção na estória do filme... Mas quando a sessão terminou, eu do lado de fora, me vi finalmente livre para expor minha comoção e voltei a gargalhar! Eis que um adolescente aponta para mim e diz: "olha! Ela que estava rindo!" E eu voltei pra casa chorando de rir daquilo que não teve graça alguma... rsrs

Já revi este filme e realmente, a cena não é tão engraçada assim... rsrs


14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Posso definir com uma só palavra: Misericórdia! Hahahaha

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho sim! Melhor dizendo, acho que um diretor deve conhecer de tudo um pouco do universo cinematográfico. Assim como qualquer outra profissão, em que o profissional tem que estudar, pesquisar, ler, buscar fontes, para se inteirar do assunto a ser tratado/executado. Sendo assim, o cineasta que quer reconhecimento e um bom produto final, precisa assistir vários filmes, sim! Simplesmente para não ficar limitado, preso a u
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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #23 - Itamar Borges

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nascido e criado em Goiania, nosso convidado de hoje é cinéfilo desde a década de 60. Produtor responsável por vários festivais de cinema pelo Brasil, Itamar Borges é figura sempre muito querida nas redes sociais de quem tem a honra de tê-lo como amigo. Sempre com dicas e pensamentos profundos sobre o audiovisual brasileiro, conversar com esse querido cinéfilo é sempre muito bom.

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Aqui até há alguns anos a sala preferida era a dos Cinemas Lumiere no Shopping Bougainvile (filmes estrangeiros na sua maioria), que foram fechadas bem antes da pandemia, e o Cine Cultura (Cinema da Secretaria Estadual de Cultura) com uma programação de filmes brasileiros mais forte, mas não se esquecendo de filmes estrangeiros muitos deles fora de circuito comercial.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Difícil.... minha primeira lembrança de cinema  eu acho que tinha uns 8 anos e fui levado ao Cine Teatro Goiânia na matinê de sábado e foi uma festa, mas o filme não me lembro o nome mas era alguma coisa do tipo Robinson Crusoé... isso faz tempo!!!

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

São vários diretores e diretoras Bergman, Hitchcock, Chaplin, Visconti, Spielberg, Scorsese, Kurosawa, Copolla, Fellini, Agnès Varda, Suzana Amaral, Buñuel, Wood Allen, Kubrick, Godard, Anna Muylaert, Samira Makhmalbaf, Dee Rees, Jane Campion, Scola, Allan Parker, Claudio Assis, Camilo Cavalcante, Bigode, KMF, PTA, Coutinho, Brant, Asghar Farhadi, Abbas Kiarostami, Almodovar, Pasolini, Sergio Leone ou seja eu gosto de muita gente.... gosto de bons filmes e se for citar todos aqui vou ficar o dia inteiro e isso vai ficar muito longo e eu vou esquecer um monte de gente...

 

4) Qual seu filme favorito e porquê?

Eu realmente não tenho um filme favorito, tenho filmes que gosto muito de rever como por exemplo revi há pouco Amantes Eternos (Jim Jarmusch), Diários de Motocicleta (Walter Salles), Um Dia Muito Especial (Ettore Scola), A Hora da Estrela (Suzana Amaral) ou seja sou bem eclético quanto a filmes... Adoro animações.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Aprendizado, diversão e entretenimento, trabalho tudo isso ao mesmo tempo e agora.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maioria dos cinemas “independentes” que conheço tem bons programadores, com mostras bem interessantes e outros tem aquela programação feita para o seu público cativo, estes na sua maioria os multiplex que priorizam mais o lado comercial .....

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não, pois não existe nada mais mágico do que a sala escura e a tela grande sendo iluminada e aquela imersão que isso proporciona. E antigamente tinha cinemas que tinham a cortina que abria... Se acabar um dia vai ser muito chato, como é chato ir ao cine drive in e ficar dentro de um carro vendo um filme...Mas a ideia de voltar a este tipo de cinema é bacana. Não imagino o mundo sem salas de cinema.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Frank  de Lenny Abrahamson, acho bem interessante e esquisito mas é legal.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho complicado, mesmo com todos os protocolos de segurança.... em primeiro lugar vem a saúde, a minha e a do próximo a mim.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sou suspeito pois acho que não devemos nada em qualidade atualmente a nenhum cinema feito no mundo, isso em longa metragem e no curta metragem também. O nosso problema é a distribuição e atualmente a  “nova politica cultural do governo brasileiro” que insiste em desmontar toda a cadeia que há anos vem se consolidando  cada vez mais, mas vamos resistir  e ganhar essa guerra.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Matheus Nachtergaele, Irandhir Santos.... são muitos.

 

 

 

12) Defina cinema com uma frase:

Parafraseando “Cinema é luz, é raio estrela e luar. Manhã de sol meu iaiá meu ioiô. Você é sim e nunca meu não, quando tão louco me beija na boca e me ama no chão”.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Nunca vou esquecer em Brasília, quando fui assistir Saló (Pier Paolo Pasolini), fila enorme, sala lotada.... no meio do filme, sala ficando vazia e no fim éramos somente eu e o meu amigo Emerval Crespi e mais umas duas pessoas. Nunca tinha visto isso.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

A melhor comedia romântica brasileira dos últimos tempos!!

 

15) Você trabalha com cinema em um Brasil que já enfrentou diversas dificuldades quando falamos em incentivo à Cultura. Que dica você pode dar para os jovens cinéfilos q pensam em trabalhar no audiovisual futuramente?

“ Se for, vá na paz”

 

16) Diga o pior filme que assistiu na vida.

Adoro Ficção Cientifica... mas Tau de Federico D' Alessandro, não sei se é o pior pois isso é muito subjetivo.... não me pegou.

 

17) Depois de Gloria Pires e o falecimento do grande Rubens Ewald Filho, quem deveria comentar os prêmios do Oscar na TV aberta ou fechada?

Gente que entende de filme e premiações e principalmente gente que assiste filmes e que saiba falar dos filmes e não apenas que o vestido é maravilhoso ou como ela é linda ou ele é lindo. Claro que isso é divertido também!

               

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #23 - Itamar Borges

10/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #22 - Aly Muritiba

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nosso convidado é cineasta, baiano, formado em história pela USP. Ganhador do prêmio Global Filmmaking do Festival de Sundance em 2013, e muito elogiado por toda sua bela filmografia com destaque para: Ferrugem em 2018 (lançado no Festival de Sundance), e Para minha Amada Morta, em 2015. Aly Muritiba é um dos cineastas mais premiados da nova geração do audiovisual brasileiro. Tendo o grande Michael Haneke como um de seus diretores preferidos, fico muito feliz por Aly poder participar desse nosso questionário/entrevista cinéfilo.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Cine Passeio é uma sala pública, com programação variada e voltada à filmes independentes e ingressos acessíveis.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Jurassic Park do Steven Spielberg, o primeiro filme que eu vi numa sala de cinema.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Michael Haneke, Caché.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Abril Despedaçado, a mais bela adaptação que o cinema brasileiro já produziu. O filme fala de um sertão profundo e violento onde a arte é apresentada como ferramenta capaz de romper o ciclo de morte.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Amar, odiar, apreciar e rechaçar filmes, mas sempre respeitá-los através da análise crítica.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não e não acho que devam. Cinema não necessariamente precisa ser "entendido", mas antes experienciado.

 

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não sei se vão acabar, mas estão cada vez mais se tornando algo de galeria, elitizado e apartado do público. E se continuar nessa toada elitizada, prefiro que acabe.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Caché.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

De modo algum. A vide é infinitamente mais importante que o cinema.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Temos feito filmes incríveis nos últimos anos e estamos buscando a reconciliação com o público, deixando um pouco de lado o hermetismo vazio de outros tempos.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Adirley Queirós.

 

12) Defina cinema com uma frase:

24 quadros de mentira por segundo. 24 quadros de verdade por segundo.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Não lembro de nenhuma específica. É sempre pipoca, gente dormindo, gente falando, gente chorando, gente sorrindo, eventualmente gente se pegando.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um clássico.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Tanto quanto um cinéfilo precisa ser diretor para apreciar um filme.  Eu, por exemplo, não sou cinéfilo e dirijo meus filmes.

 

16) Você é cineasta e bastante conhecido pelos cinéfilos brasileiros. Que dica você daria para os jovens que futuramente pretendem trabalhar com cinema no Brasil?

Arranje um turma e comece já.

 

17) Algum artista que você ainda não trabalhou mas quer muito trabalhar?

Fernanda Montenegro.

 

18) Diga o pior filme que você viu na vida:

Todo filme tem algo de bom. E quem o fez merece respeito, então não consigo fazer tal eleição.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #22 - Aly Muritiba

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #21 - Bernardo Brum

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nosso entrevistado de hoje é um grande pensador cinéfilo e escritor. Começou a escrever sobre cinema em antigos fóruns nos primórdios das interações sociais digitais. Jornalista de formação, adora descobrir ou redescobrir filmes antigos e faz parte de um time de críticos de cinema importantes para a formação cinéfila de várias gerações, oriundos do ótimo site Cineplayers (https://cineplayers.com/). Para contar um pouco sobre suas raízes e pensamentos cinéfilos, procuramos Bernardo Brum para responder ao nosso questionário/entrevista.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

A rede de cinemas Estação. Lá vi filmes que não veria em nenhuma outra franquia, além de serem a "casa" dos festivais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

É algo que precisa ser respondido em duas "partes", digamos assim. Gosto de algo que o Woody Allen disse sobre "filmes da infância", pelos quais temos admiração afetiva e "filmes da maturidade", pelos quais nutrimos admiração intelectual. Então, respondendo sob esses parâmetros, diria que Jurassic Park e Annie Hall.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Alfred Hitchcock é o diretor que mais admiro os filmes, o estilo autoral, as temáticas escolhidas, a persona. Apesar da escolha difícil, vou de Um Corpo que Cai.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bandido da Luz Vermelha. Sganzerla deglutiu a revolução do cinema novo, o gênero policial e a desconstrução formal de Orson Welles e pariu um filme até hoje único não só na história da cinematografia brasileira mas em qualquer cinema.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser um aficcionado não apenas pelo ato de ver filmes mas também viver numa cultura que gira em torno disso, no tocante a conversar e debater sobre e conhecer diferentes propostas ao ser exposto frente a um manancial infinito de possibilidades.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

"Entender cinema" acho um termo muito relativo. A maioria dos cinemas de shopping ou de rua tem uma mentalidade comercial, orientada para o retorno imediato nas bilheterias. Se falham - como no episódio de lançar Guerra ao Terror nos cinemas após o mesmo ser indicado ao Oscar, quando já havia até DVD do mesmo - advém dessa mentalidade. Mas cinemas como o Estação ou o Cine Joia de Copacabana você já sente a disposição em disponibilizar maior diversidade.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Como conhecemos? Sim. A reconfiguração é inevitável, e já acontece. Cinema era barato, agora já não o é, por exemplo. Com isso, os filmes tendem a ficar mais espetaculares, mais sensacionais, as salas tem que se adaptar ao espetáculo técnico oferecido. Com isso, algumas propostas são deixadas de lado e em nome de serem realizadas têm de procurar outras mídias, como a televisão e os serviços de streaming. Agora, eles ficam mais nos shoppings do que nas ruas, tendem a direcionar-se a toda família, o que implica numa série de custos, então os filmes que são lançados no cinema tem que gerar alguma espécie de retorno se não forem apoiados por políticas públicas, então cria-se uma lógica "seriada" para ver filmes em sequência que justifiquem os custos (vide a Disney e seu MCU)... E assim vai. Já não é a lógica de, digamos, 25-30 anos atrás, quando você ia no cinema e poderia topar tanto com Forrest Gump quanto Pulp Fiction disputando espaço. O segundo não teria chance. Se isso é ruim? Bem, o teatro e a ópera que conhecemos hoje não são as mesmas de 100, 200 ou mesmo 2.000 anos atrás - com o cinema não vai ser diferente.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Nausicäa do Vale do Vento, de Hayao Miyazaki. Uma das grandes animações já feitas, nunca falada o suficiente.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Isso não deveria nem ser cogitado. Não precisa nem de muitos fatos para conferir como seria uma irresponsabilidade. Porém, os governos deveriam estar discutindo há muito tempo políticas públicas para a manutenção desse setor que é um dos que mais movimentam dinheiro no mundo (incluindo no Brasil).

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Tão diverso e inventivo como sempre foi. Agora, felizmente, outros núcleos e ciclos têm mais visibilidade que o do núcleo Rio-SP.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 

Atualmente, Irandhir Santos (no cinema; novela não é do meu interesse).

 

12) Defina cinema com uma frase:

"A verdade 24 vezes por segundo" (Jean-Luc Godard). Inclusive quando mente.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Ouve-se um toque de celular. Pára. Recomeça. As pessoas começam a xingar, enfurecidas e justificadamente. O telefone continua tocando, e tocando, e tocando... Todos se olham acusadoramente, querendo saber quem está recebendo ligação. Eis que a porta do cinema abre e... "Gente, alguém viu um celular caído? Estou ligado para ele, mas ninguém atende"... Aí todo mundo perdeu a compostura e começou a rir. Pobre do filme que era um drama... Mas certamente foi um experimento social único.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Uma tentativa de capitalizar em cima da persona de uma figura pública, não muito diferente dos filmes do Elvis ou Moonwalker do Michael Jackson, e aqui no Brasil, Lua de Cristal ou Super Xuxa Contra o Baixo Astral. Não bastasse ser raso como todos os "filmes de música" feitos no calor do momento - cujo principal interesse é o artista cantando e não exatamente os aspectos artísticos da produção, foi prejudicado por uma equipe advinda de um cinema mais adulto (terror, policial, pornochanchada), sem, digamos, intimidade com algo mais popular e "família" e por sua produção atribulada, roteiro criado à revelia e filmado enquanto a artista estava disponível. Dessa mistura de dificuldade e urgência, não tinha como sair um produto muito esmerado.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não mesmo. Ele deve conhecer seu ofício, mas de fato não é necessário para John Ford assistir Bergman antes de dirigir um western, por exemplo. O cineasta cinéfilo é algo relativamente recente.

 

16) Qual o pior filme que viu na vida?

É difícil escolher só um. Mas dos recentes, talvez Esquadrão Suicida.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #21 - Bernardo Brum

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #20 - Mariá Velasquez

 

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nossa entrevistada de hoje para participar no nosso divertido questionário cinéfilo, completou recentemente duas décadas na Paramount, uma das grandes gigantes do universo audiovisual mundial. Cinéfila de carteirinha, figura presente em diversos eventos de vindas de astros nacionais e mundiais ao Brasil, estudou na Uerj na década de 90, e começou sua trajetória pelo amor aos filmes nos anos 80 quando viu um dos clássicos filmes da saga Star Wars com seu pai. Com grande conhecido sobre os filmes e sobre o mercado, Mariá Velasquez é um dos rostos mais queridos nesse competitivo mercado audiovisual brasileiro.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Tenho duas salas preferidas e que frequento muito aqui no Rio: Kinoplex São Luiz e Espaço Itaú. Tem o critério de programação, onde encontro os filmes que desejo ver sendo programados, mas também tem a questão técnica pois são salas com excelente imagem e som. Também são pertinho de casa o que é um plus! Mas gostaria de mencionar uma terceira sala que amo e que por acaso fica no bairro que moro: Cine Santa. Lá encontro filmes premiados em festivais internacionais num ambiente charmoso e cuidado de perto pelos donos. Deu pra perceber que amo cinema de rua, né? Rs.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Existem aí dois momentos. Tem a primeira vez que pisei numa sala de cinema em 1980 assistindo O Império Contra-Atraca e isso foi um marco na minha vida porque um mundo novo se abriu e vamos combinar que comecei muito bem! Rs. E tem também a primeira vez que fui no cinema sozinha (em 1980 fui com meu pai) pra ver o filme que todo mundo estava comentando. O filme que vi? ET ... difícil sair daquela sala de cinema da mesma maneira que entrei depois disso, né?

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Olha, bem difícil escolher porque meu filme favorito é Bonequinha de Luxo mas meu diretor favorito é Almodóvar então a conta não bate. Almodóvar é meu diretor favorito porque tudo o que ele faz eu amo, até quando ele erra a mão eu continuo amando hahahaha. Mas se tenho que escolher um filme favorito dele vamos de Tudo sobre Minha Mãe que é um filme que ainda me comovo depois de ter assistido dezenas de vezes.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cidade de Deus! Por várias razões, mas gostaria de contar uma história pessoal que tenho com esse filme. Em 1997 eu comecei a trabalhar com o audiovisual e nessa época eu organizei um concurso de roteiros. Eis que o roteiro de Cidade de Deus (que ainda não era filme) foi premiado como melhor roteiro de um roteirista estreante. Tenho orgulho de contar pra todo mundo que o primeiro prêmio do Cidade foi dado por mim. Mas é lógico que não é esse motivo que faz o filme ser o meu preferido, além de todas as qualidade técnicas ele possui um ingrediente que me faz me apaixonar toda vez que o revejo, além da sua temática contundente ele é atemporal e pode ser visto hoje e daqui há 10 anos da mesma maneira. Acho que isso faz um filme ser clássico e pra mim Cidade é!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Depende da sua definição de “entender cinema”. Podemos ver da perspectiva do amante do cinema e realmente nem todos são mas não necessariamente precisam ser. Acho importante o programador entender o seu público, cada sala de cinema tem um certo tipo de público e isso tem que ser levado em conta. Acho também importante ele conhecer o que o mercado está oferecendo, seja o filme um blockbuster ou um filme pequeno que ganhou um festival X. Resumindo, o programador precisa pensar no público que vai frequentar sua sala e proporcionar a ele a melhor experiência possível seja o filme que for.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não! Rs. Olha, essa história eu escuto há bastante tempo e até agora o cinema continua. Eu sou uma entusiasta e consumidora de streaming mas nada supera uma sala escura. Existem filmes que você pode até rever no conforto da sua casa mas definitivamente tem que ser visto primeiro numa sala de cinema. Mas pra que o cinema não acabe, precisamos de filmes que contem histórias que motivem o público a sair de casa e precisamos que os cinemas proporcionem ao público uma experiência que ele não tem em casa ou na tela do celular. E esse desafio é com a nova geração.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Gostaria que muita gente tivesse visto o filme Anomalisa, animação de 2015 e dirigido por Charlie Kaufman e Duke Johnson. É uma animação que até concorreu ao Oscar mas pouca gente assistiu nos cinemas. É um filme diferente a começar por ser uma animação pra adultos que usa uma técnica inovadora e conta uma grande história de amor.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Se formos esperar a vacina (o que seria o ideal) as salas só reabririam no ano que vem e até lá os cinemas e toda a cadeia acabaria. Faço parte do movimento #JuntosPeloCinema, um movimento voluntário de mais de 200 profissionais que está preparando a abertura das salas de cinema. Nossa maior preocupação é a segurança do público e dos funcionários que trabalham nas salas de cinema. Só reabriremos se todos os protocolos de segurança estiverem de acordo com o que as autoridades sanitárias exigem e estamos há 4 meses trabalhando nisso. Tudo será feito com segurança e gradualmente. Existem etapas pra essa abertura e, de novo, só abriremos com 100% de certeza que será seguro pro público e pra quem trabalha nas salas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Excelente! A cada ano vejo produções de qualidade compatível com qualquer nação. Podemos competir de igual pra igual em qualquer festival internacional. Temos diversidade e isso conta muito. Agora, se não houver incentivo do Estado não conseguiremos produzir, muito menos levar nossos filmes pra fora e virar vitrine o que ajuda a alavancar o público interno. Infelizmente estamos vivendo momentos difíceis e tudo o que conseguimos avançar pode estar regredindo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme:

Essa pergunta é uma pegadinha pois posso criar ciumeira então vou de unanimidade: Fernanda Montenegro. Tudo o que ela faz me interessa, seja no cinema, seja no teatro, seja na literatura. Uma diva que temos que reverenciar todos os dias!

 

12) Defina cinema com uma frase:

Minha terapia em doses semanais.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Uma vez fui assistir um filme francês numa sala 2 do Estação Botafogo (pra quem conhece sabe que é uma sala bem pequena). Comprei minha pipoca porque pra ir ao cinema significa comer pipoca. Pois bem, comecei a comer com todo cuidado do mundo, deixando pra mastigar somente quando havia música pra não perturbar ninguém. Mas ao meu lado um senhor muito mal humorado não só reclamou do barulho da pipoca, como levantou gritou com todo o cinema e foi pra primeira fila. Eu ri, afinal, isso também faz parte de ir ao cinema! Rs.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Sei que vou passar vergonha, mas eu nunca assisti ... sei que tem toda uma questão em cima do filme mas ainda não tive a oportunidade. Farei e, breve! Rs.

 

15) Você trabalha em uma major, a Paramount. Qual conselho você pode dar para jovens cinéfilos que querem trabalhar com cinema no Brasil?

Estudem! A melhor maneira de conseguir seguir uma carreira é estudar aquilo que você pretende trabalhar. E não falo de estudo formal não. Assistir filmes e discutir sobre eles é uma maneira de estudar. Na quarentena eu já me matriculei em três cursos online sobre cinema (assuntos diversos) e aprendi MUITO! Acho que conhecimento nunca é demais. Sempre há algo novo pra se aprender. Frequentem festivais e mostras pois além de ter contato com filmes de outros países você fará contato com pessoas do mercado e isso também é muito importante.

 

16) Tem muito cineasta que não é cinéfilo. Você acha fundamental ser cinéfilo para dirigir um filme?

Acho que não é fundamental mas seria o ideal pois pra mim ser cinéfilo é ter contato com todos os tipos de filmes e isso te dá uma bagagem cinematográfica incrível e muito referencial. Todos os meus diretores preferidos são cinéfilos e isso está refletido nas suas obras.

 

17) Tarantino ou Almodóvar. Porquê?

Então amo os 2 e já respondi lá em cima que Almodóvar é meu diretor predileto mas Tarantino chega ali juntinho!

 

18) Diga um ídolo seu do mundo do cinema que já conseguiu ver de perto e conte aonde foi:

Então, por trabalhar na Paramount tive oportunidade e o privilégio de chegar perto e até me relacionar com grandes ídolos de cinema mas tive a sorte de fazer o lançamento do filme Mãe do Darren Aronofsky e foi uma experiência incrível estar tão perto desse cineasta incrível no lançamento de um filme tão inovador. Mas gostaria de destacar também meu contato com o Tom Cruise nas duas vezes que ele esteve no Brasil lançando dois filmes da Paramount. Confesso que não era tão fã dele assim mas depois desses dois contatos com ele virei fã de carteirinha pois ele é a pessoa mais profissional e gentil do mercado com que trabalhei.

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09/08/2020

Crítica do filme: 'Rede de Ódio'

A ambição nas mãos de mentes perigosas, os vigias da não informação real. Explorando um assunto muito alta nos tempos atuais, a fake news, o cineasta polonês (de apenas 28 anos!) Mateusz Pacewicz que já nos presenteou com o ótimo Corpus Christi (indicado pela Polônia ao Oscar de melhor filme estrangeiro ano na cerimônia passada) chega dessa vez para marcar presença na memória dos cinéfilos com o inaudito Rede de Ódio que estreou aqui no Brasil pela Netflix. Costurando um protagonista enigmático e assombrado pelos seus pensamentos nocivos e egoístas junto a um mundo sem regras nos meios digitais, Pacewicz consegue a proeza de manter os olhos cinéfilos grudados na tela durante as mais de duas horas de duração. Impressiona a qualidade desse filme, excelente!

Na trama, conhecemos o jovem e ambicioso Tomasz Giemza (Maciej Musialowski, em atuação estacada) que vem de origem humilde, do interior da Polônia e tem seus estudos sustentados por tios ricos da capital. Invejoso pelos que os outros tem e ele não, possui uma obsessão com a família que o ajuda nos estudos. Quando o protagonista perde sua bolsa de estudos por conta de um plágio em um trabalho, seu mundo começa a se despedaçar e ele, apaixonado por Gabi (Vanessa Aleksander), filha dos tios que sustentaram seus estudos, entra em uma polêmica equipe de marketing digital onde começa a se envolver com difamação e ódio contra determinados alvos pelas redes sociais.  


Impactante até o último suspiro, Rede de Ódio, Sala samobójców. Hejter, no original, escancara os muros imperceptíveis de pessoas que se escondem em outras personalidades para disseminar terror e ódio, inconsequentes, trilhando caminhos sombrios da internet. Fruto de uma personalidade muito complicada, o protagonista não tem um pingo de bom senso quando percebe que pode ganhar a confiança dos outros com seus atos terríveis e ações sem o menor receio. Chocante e brutal, os arcos do roteiro vão nos guiando para um final estrondoso que diz muito sobre o mundo desse lado daqui da tela, esse universo real sem meio termos que vivemos e onde perdemos as chances de diálogos e entender ao próximo.

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Filmes que marcaram época em determinado país: #1 (Uruguai) - Whisky

O que dizer sobre a rotina monótona e a vontade de fazer diferente? Explorando o contraponto de forma trivial, com muitas expressões e poucos diálogos, o delicado filme uruguaio Whisky, dirigido pelos cineastas Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll no ano de 2004, marcou uma geração de cinéfilos latinos que volta e meia conversam sobre esse ótimo trabalho nas rodinhas cinéfilas. Falar sobre a solidão de maneira detalhista é muito complicado e um dos méritos desse projeto é conseguir de alguma forma conectar o espectador aos sentimentos de ponto futuro principalmente da personagem Marta, interpretado pela ótima atriz Mirella Pascual.

Vencedor de mais de duas dezenas de prêmios, inclusive no Festival de Gramado aqui no Brasil, Whisky conta a história de Jacobo (Andrés Pazos), um dono de uma fábrica antiga de meias (que nem de longe pensa em se modernizar) que faz um acordo com sua funcionária de maior confiança, Marta (Mirella Pascual), para que ela finja ser sua esposa durante a estadia do irmão Herman (Jorge Bolani) que mora no Brasil mas vem passar uma temporada no Uruguai para um evento ligado a mãe deles. Durante esse tempo, todos os três acabam influenciando uns na vida dos outros, principalmente Marta que começa a enxergar um novo mundo de possibilidades.

Sensível até o último segundo. Cheio de dizeres fortes pelas entrelinhas, o roteiro navega pelos sentimentos dos três personagens de maneira leve e descontraída mesmo tendo uma carga forte de emoções em plano de fundo como o distanciamento dos irmãos por conta do tempo em que a mãe deles estava doente e um só deles cuidou dela. Marta é um contraponto, uma variável amorosa forte que os irmãos nunca tiveram em suas vidas quando eram jovens e isso acaba mexendo de formas diferentes mas com os dois. Esse detalhe nesse triângulo é o fator que salta a tela mas quase nada é mostrado especificamente. O bom do cinema é isso: não precisa dizer muito se o contexto já está completo. Belo filme.

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