A inconsequência de mais uma alma perdida. Criada por Breno Silveira, o novo seriado brasileiro disponível na Amazon Prime Video possui um roteiro afiado que navega em diversas linhas tênues buscando paralelos entre o real e o fictício e também com a boa sacada de preencher a tela com dois protagonistas, um que alguns de nós já conhecíamos pelas páginas dos jornais, outro nem tanto assim. Indo a fundo nas questões familiares, no sofrimento constante por terem um filho viciado em drogas no círculo deles, o projeto busca preencher lacunas ou pelo menos abrir portas para motivos daquela personalidade que assustou parte do Rio de Janeiro no início dos anos 2000. Pelos olhos do pai, enxergamos não só o desespero que é ser pai de um viciado, mas também um paralelo à trama principal, um recorte sobre a chegada do universo das drogas e seu gigante crescimento na cidade considerada maravilhosa.
Na trama, conhecemos Pedro Dom (Gabriel Leone), um jovem de classe média alta, morador de Copacabana,
que desde cedo, antes dos 13 já era um viciado em drogas pesadas. Lutando
contra o vício do filho, o pai Victor (Flávio
Tolezani), a mãe e a irmã, buscam durante os anos saídas, ajuda para o
jovem. Mas Dom só piora a cada vez que volta a esse universo de dor e
inconsequência e assim conhece um bando que tem como elementos as jovens e
drogadas Jasmin (Raquel Villar) e Viviane
(Isabella Santoni). O grupo já
assaltava residências pela cidade mas precisava de um líder e Dom se encaixou
como o bandido playboy que usou toda sua inteligência para planejar enormes
roubos. Mas óbvio que essa vida teria inúmeras consequências não só para Dom
mas também para toda sua família. Em paralelo a essa história principal,
acompanhamos a vida e trajetória de Victor, desde jovem e seu conturbado
relacionamento com o pai até sua entrada na polícia e em operações secretas.
As grandes atuações de todo o elenco são guiadas pelo
roteiro firme que busca nos detalhes seus pontos reflexivos, caminhando em
linhas tênues entre os fatos reais dos quais se inspirou e as licenças dramáticas
Os episódio são muito intensos, reúnem uma série de informações novas
principalmente sobre a vida de Victor (que muitas vezes traz mais interesse do
que a história já conhecida por alguns do protagonista Dom), vemos um pai em
conflito a todo instante, que se acaba nos cigarros diários e dentro de uma
ansiedade constante na tentativa de encontrar soluções pra seu filho drogado e
a bandidagem que enfrenta na sua vida profissional. O contraponto encontrado na realidade, o filho
bandido e o pai policial, é bem definido pelos inúmeros embates que acontecem a
cada novo episódio nos fazendo a pergunta que nunca quer calar: até onde você
iria por seu filho?
Mesmo com muitos elogios, precisamos comentar sobre um ponto
que deixa a desejar. Ao longo dos episódios temos a impressão (ou pelo menos eu
tive) de que o roteiro foi feito deduzindo que o espectador já sabia parte da
história (talvez até por isso a subtrama de Victor ganha mais força que a de Dom
em muitos momentos), levando a uma série de conclusões que precisaram serem
complementadas por uma busca no google, principalmente após o último episódio,
de longe o pior dos oito, beirando ao decepcionante mas que não atrapalha o
brilho do todo, desse competente trabalho nacional. Dom está disponível na Amazon Prime Video, sem dúvidas é uma das
melhores séries/minisséries brasileiras que estão pelos streamings disponíveis
por aqui.