05/07/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #464 - Felipe Bragança


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, do Rio de Janeiro. Felipe Bragança tem 40 anos. É cineasta, formado pela UFF. Tem no currículo ótimos projetos, às vezes na direção, às vezes como roteirista ou até mesmo co-diretor. Seu início veio ao lado da também cineasta Marina Meliande, com os projetos independentes A Fuga da Mulher Gorila e A Alegria. Foi diretor-assistente e também assinou o roteiro do maravilhoso filme de Karim Aïnouz, O Céu de Suely. Em carreira solo, dirigiu anos atrás o interessante longa-metragem Não devore meu coração. Recentemente no início de 2020, lançou Um Animal Amarelo, seu segundo trabalho solo na direção, o filme esteve em competição no prestigiado Festival de Roterdã.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Gosto do meu pequeno cinema de bairro: o CINE SANTA, no centro do Rio, onde vivo.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Na infância, A História Sem Fim. Grudou nos olhos. Quando jovem adulto: O Sétimo Selo, do Bergman.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não tenho um favorito. Vou citar aquele de quem mais filmes vi e revi: Luis Buñuel. 

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Também não tenho um favorito. Vou citar 3 dos essenciais na minha formação do olhar como cineasta brasileiro quando anda era estudante há 15 anos atrás:  A Hora e a Vez de Augusto Matraga (Roberto Santos), Matou a Família e Foi ao Cinema (Julio Bressane) e Santo Forte (Eduardo Coutinho).

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ver no cinema uma forma de constante reinvencão da vida.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

O cinema é tanta coisa. Entender de cinema também. Acho que quanto mais independentes os programadores e as programadoras, mais livres para propor recortes, melhor.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca. Vão se tornar mais raras. Mas vão sobreviver.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Valerie and Her Week of Wonders. Filme tcheco de 1970.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

É possível sim reabrir seguindo um protocolo de segurança sanitária rígido e que respeite o momento que estamos vivendo.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

 O cinema é espelho do país.  Na última década, vivemos uma ebulição interessante de vozes e linguagens entre 2010 e 2020 - em um momento de um certo otimismo ou entusiasmo reinante. A próxima década, será de reinvenção para atravessar as trevas em que mergulhamos e que nos faz pensar em questões e dilemas do Século XX e que precisamos ser olhados de frente.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Um ator ou atriz atual? Gosto muito do Fabrício Boliveira, do Rui Ricardo Diaz e da gênia Helena Ignez.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Escrever com luz e som.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

O que acontece numa sala de cinema, fica na sala de cinema :)

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

O Brasil é extraordinário.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Para mim, sentir e pensar cinema passa por se ver filmes.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Pearl Harbor ou quase tudo do Bay. Não consigo.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Vou citar Santo Forte, do Coutinho. Real e fantasmagoria.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Diversas vezes. A última vez: um filme vietnamita que vi no Festival de Berlin em Fevereiro: TASTE.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Arizona Nunca Mais.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

 

Papo de Cinema.

 

 

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04/07/2021

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Crítica do filme: 'Migliaccio, o Brasileiro em Cena'


O homem que sempre sonhou em ser John Wayne. Dono de interpretações inesquecíveis como Seu Chalita e Xerife, que percorreu o início do Cinema Novo (movimento nas décadas de 60 e 70 em nosso cinema revelando pela arte as desigualdades e questões sociais da sociedade brasileira), um dos filhos de uma família de onze irmãos, o ator, produtor, diretor e roteirista Flávio Migliaccio foi um dos grandes nomes da Tv, do Teatro e do Cinema no Brasil. Co-Produzido por Globo Filmes, GloboNews e Canal Brasil em Migliaccio, o Brasileiro em Cena acompanhamos algumas de suas histórias e partes de seu caminho do seu início vindo de uma família humilde até virar um dos rostos mais conhecidos pelo seu trabalho. Dirigido pelo trio: Alexandre Rocha, Marcelo Pedrazzi e João Mariano (Tuco).


Com estreia marcada para o dia 8 de julho nos cinemas brasileiros, o documentário busca de maneira mais profunda possível passar o modo de pensar e histórias da carreira de um artista muito criativo que conquistou o Brasil contando histórias próximas da realidade de muitos. Sempre em busca da importância de se comunicar com seu público através de sua arte, Flávio Migliaccio, um ótimo contador de histórias, através de entrevistas em algumas fases de sua vida, vamos começando a entender essa personalidade do universo das artes do Brasil.


Seu primeiro emprego foi de engraxate, mas seu pai queria mesmo que ele fosse barbeiro. A descoberta do teatro profissional, do descobrir a vida através daquela realidade veio nos tempos de Teatro Arena em São Paulo. A partir daí, nunca mais pensou em ter outra profissão na vida, conheceu nomes importantes para a cena teatral e do cinema como Leon Hirszman e Gianfrancesco Guarnieri. No cinema, seu primeiro trabalho foi Cinco Vezes Favela (1962), onde inclusive escreveu um dos episódios, foi assistente de direção e fez um dos papéis no curta dirigido por Marcos Farias. Havia um paralelo entre todos os rumos de seu trabalho e o Cinema Novo assim embarcando de corpo e alma no mundo mágico do cinema.


Em papos descontraídos, Migliaccio, o Brasileiro em Cena daria até um filme mais amplo, muitas histórias devem ter ficado pelo caminho. Sabemos mais sobre bastidores de filmes do artista, de teatros, sobre os lados da fama, sua visão sobre a arte e seu poder, da própria história brasileira como o incêndio no prédio da UNE nos anos 60 durante a Ditadura Militar. O artista nos deixou em maio do ano de 2020 e estará para sempre na história do teatro, tv e cinema do Brasil.


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #463 - Ana Rita Meneses


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Teresina (Piauí). Ana Rita Meneses tem 22 anos. É estudante de Arquitetura, e estuda cinema e arte nas horas vagas. Atualmente escreve críticas para o site Ultraverso e mantém uma conta no instagram, @Trucagem.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Infelizmente na minha cidade só tem 2 cinemas, e antigamente um deles tinha uma programação diferente. Atualmente, os dois possuem uma programação idêntica, e acabo indo por conforto e praticidade a Cinépolis (no momento não estou indo ao cinema, sigo esperando essa pandemia passar).

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O filme que mais me impactou de notar o cinema como algo diferente foi Vertigo, do Hitchcock, mas o filme que me fez enxergar como algo mágico e que me despertou um interesse maior foi Sunset Boulevard, do Billy Wilder.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eu não consigo definir um diretor favorito, acho que tenho muito que ver ainda. Mas atualmente estou obcecada com Wong Kar Wai, meu favorito dele é Amores Expressos.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Meu filme nacional favorito é Eles Não Usam Black Tie. Foi um filme que me impactou bastante, me fez pensar e me emocionou. Choro só de lembrar da cena final da Fernanda Montenegro e o Carlos Alberto Riccelli.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinéfilo é quem gosta de cinema, gosta de ver filmes, que se sente realizado vendo filmes e está aberto a todos os gêneros, sem qualquer discriminação ou preconceitos com gêneros e estilos.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que não. Cinema atualmente é visto por muitos com um produto de consumo, e isso afeta em como acessá-lo. Na minha cidade, tinha um cinema com uma programação que era mais diversificada, com festivais, justamente porque o diretor entendia e gostava de cinema. Hoje em dia já não é mais assim.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. É a mesma suposição que muitos fazem sobre jornal impresso e rádio, mas acredito que seja errada. O cinema atrai gente. Mesmo com streamings, muitos preferem ir aos cinemas. Eu mesma. A experiência de ver filmes em casa está longe da experiência de ir ao cinema. Em casa, temos muitas distrações, sem falar que enxergo as salas de cinema como um templo a essa tarde (mesmo que a distribuição das produções não seja justa e os filmes atuem mais como produto de consumo).

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Indico Remontons les Champs-Elysées, do Sacha Guitry, que conta a história da Champs-Elysées e de Paris de um modo inusitado.  É um filme interessante e divertido, e pelo que vi, pouco conhecido.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

No momento já temos vacinas, mas infelizmente a vacinação ainda está lenta e o número de mortos ainda alto. É complicado porque cinema não é só “entretenimento”, é uma fonte de renda também, e muitos dependem dela. Contudo, acho que o ideal é aguardar a normalização da situação para evitar um aumento dos números.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro oscila muito, tivemos várias retomadas e crises no audiovisual. Estamos passando por uma crise, e é difícil não abalar o cinema. Com isso, há falta de investimentos, prejudicando o andamento das produções e até na sua qualidade. O cinema brasileiro é grandioso de forma geral, e isso se mantem, o problema são as produções que entram nos grandes circuitos, as que chegam as telas de cinema, que muitas vezes visam apenas lucro. Mas nosso cinema continua grande, basta ver os festivais e mostras. Um exemplo é o filme do Luiz Bolognesi, A Última Floresta, que venceu o Prêmio do Público da Mostra Panorama do Festival de Berlim.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Acredito que Fernanda Montenegro e Sonia Braga.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a arte de enxergar com outros olhos e a experiência de

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Acho que foi quando fui assistir A Bruxa, do Robert Eggers, e tinham duas senhoras na fileira da frente estavam gravando áudios sobre o filme, contando cada detalhe, e com muito humor. Não acho que tenha afetado a minha experiência, não fiquei incomodada, na verdade, achei engraçado e bem divertido.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Obra máxima do cinema brasileiro.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Cinema é arte, e para fazer arte, você precisa amá-la. Para você dirigir um filme, eu acho essencial você amar cinema, se o sentido dessa arte se perde. Acho que não é obrigatório ser cinéfilo, mas é importante conhecer sobre cinema. A arte é quase sempre um conjunto de referências, e é também uma linguagem. Para entender essa linguagem é necessário conhecimento, é preciso estudá-la, se não, a arte acaba se perdendo.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Tenho uma lista de filmes ruins, mas o que mais quis sair correndo e parar de ver foi Até Que a Sorte nos Separe 3. Infelizmente vi no cinema, e acabei ficando até o final.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Eu sempre amei estudar sobre arte, e um documentário que gosto bastante é Exit Through the Gift Shop, dirigido pelo artista Bansky.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Ainda não tive essa experiência, mas quase fiz isso com Era Uma Vez em Hollywood, do Tarantino. Acho que só não fiz porque está sozinha.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O melhor que já vi foi Coração Selvagem, mas confesso que gosto de O Vidente.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Sou suspeita para falar, mas gosto muito do site para o qual eu escrevo, o Ultraverso. Também gosto das críticas do Marcelo Hessel do Omelete e gosto do Cineplot.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Sem dúvidas o Telecine. Para mim, é o streaming com o melhor catálogo que existe.

 

 

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Programa #35 Guia do Cinéfilo - Simone Yunes


Episódio #35 do meu programa de entrevistas na TV Caeté, Programa Guia do Cinéfilo.

Nesse episódio entrevisto a gerente de programação do Cine Sesc SP Simone Yunes.
O Programa Guia do Cinéfilo acontece toda terça-feira, ao vivo, no canal da TV Caeté no youtube (https://www.youtube.com/channel/UC8bE...).





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03/07/2021

Pausa para uma serie: 'Hacks'


O poder de uma boa piada. Inteligente, divertido, debate questões como preconceito, a força feminina, assunto familiares, relação entre pais e filhos entre outras. Criado pelo trio Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky, Hacks é um dos mais interessante e engraçados seriados disponíveis no universo dos streamings disponíveis no Brasil, nesse caso na novíssima HBO MAX. Contando o cotidiano de duas sensacionais protagonistas, em momentos delicados de suas vidas, acompanhamos profundos dramas sobre a arte do fazer rir. Reflexivo, empolgante, abre espaço para o amor de todas as formas em seus brilhantes dez episódios de cerca de 30 minutos. Jean Smart dá um verdadeiro show na pele de uma das mais emblemáticas personagens femininas atualmente do universo das séries, a mal-humorada rainha do stand up Deborah Vance.


Na trama, conhecemos a enrolada roteirista Ava (Hannah Einbinder) que após um relativo sucesso no underground da comédia de Los Angeles, fica marcada como carta fora do baralho depois que um tweet seu viraliza negativamente. Precisando recomeçar, ela busca ajuda de seu agente, Jimmy (Paul W. Downs), uma espécie de Ari Gold (referência ao lendário personagem interpretado por Jeremy Piven no seriado Entourage) dos novos tempos, em busca de um trabalho que a possa sustentar. Ele acaba conseguindo uma vaga de redatora para os shows da comediante de sucesso Deborah Vance (Jean Smart). Assim, Ava embarca rumo à Las Vegas, junto com sua mala cheia de problemas emocionais, um coração partido de um recente término com a namorada, para tentar conquistar a atenção da super estrela do stand up comedy que também passa por momentos difíceis na vida.


Duas personalidades completamente diferentes. Duas fases de vida nada iguais. Idades distantes. As protagonistas embarcam em argutos debates sobre a vida, que vão desde os confrontos sobre a não mais atemporalidade de algumas piadas de Vance até mesmo as questões complicadas familiares que a diva do stand up enfrenta mas sem nunca se abrir. Tudo se encaixa com perfeição pelas linhas de um roteiro sublime, até as subtramas são ótimas equilibrando a comédia com dramas ligados ao coração. Há um destaque para a força dessas mulheres sempre à frente de seus tempos. Somos testemunhas de uma forte relação de amizade que nasce aos poucos, também podemos enxergar como ‘mãe e filha’, em meio a todo o caos que insiste em chegar dia após dia dentro do brilho das inesquecíveis noites de shows. Hannah Einbinder e Jean Smart possuem uma harmonia fantástica em cena, um diálogo melhor que o outro. Hacks merece aplausos de pé! Que chegue logo a segunda temporada!

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Crítica do filme: 'A Guerra do Amanhã'


A sonolenta história do herói invencível. Chegou na Amazon Prime Video no início desse julho de 2021 o longa-metragem de ação A Guerra do Amanhã, protagonizado por Chris Pratt e Yvonne Strahovski. Uma das coisas que mais incomoda nesse projeto são as razões simplistas para contextos amplos. O assunto família e relações contornam todos os arcos do roteiro, seja no presente ou no futuro. Desde a ótica do protagonista com sua filha em dois instantes e com o seu pai. Os clichês se amontoam pelo caminho, é uma disputa para saber o que tem mais: clichês ou alienígenas corredores. Focando na parte da ação, busca no seu universo sci-fi algum tipo de originalidade mas esbarra em espelhos de outras franquias como Alien (muito por conta da forma dos monstros de outro planeta que aparecem) ou até mesmo o longa-metragem protagonizado por Tom Cruise, No Limite do Amanhã. No mínimo, decepcionante.


Dirigido pelo cineasta Chris McKay e com roteiro assinado por Zach Dean, A Guerra do Amanhã conta a história de Dan (Chris Pratt), um ex-militar do exército dos Estados Unidos que atualmente (no presente do filme) é professor de biologia do ensino médio. Ele vive com sua esposa e filha. Certo dia, durante uma comemoração e também uma importante partida da Copa do Mundo de Futebol (onde inclusive a seleção brasileira de futebol masculino era um competidores com seu craque Peralta (??)), algumas pessoas do futuro chegam à terra atual avisando sobre um futuro apocalíptico e para tentar conter o caos mais pra frente, militares e pessoas comuns serão selecionados, treinadas e enviadas para proteger a Terra. Dan acaba sendo selecionado e embarca numa viagem temporal que trará muitas surpresas.


Na estrutura da narrativa, o herói é responsável por causar identificação com o público. É quase uma receita de bolo que navegam vários roteiros hollywoodianos (agora podemos até chamar de streamingianos), inclusive esse projeto. A questão é a pretensão de ir além do mero lugar comum que não consegue sair. As explicações para questões de escala universal parecem até piadas, as soluções encontradas pelo herói fogem da realidade em muitos momentos mesmo se formos analisar dentro das licenças poéticas das linhas do roteiro. Nas partes dramáticas o filme derrapa em quase todo tempo, brilhando apenas quando Yvonne comove na sua participação especial e diria até fundamental para acharmos algum sentido na trama como um todo. Chris Pratt é muito carismático mas seus papéis em diversos projetos estão cada vez mais parecidos.


Na ação o filme cresce, mesmo sendo tudo muito confuso. Subtramas são deixadas de lado, como o arco entre pai e filho, inclusive deixando para escanteio um aproveitamento melhor do excelente ator J.K. Simmons que praticamente é estereotipado como algum boneco da famosa coleção Comandos em Ação (G.I. Joe). Há muito pouco para um filme que tinha interessantes portas reflexivas para abrir.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #462 - Juliana Silva


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Juliana Silva tem 24 anos. É Educadora, formada em Letras-Literaturas pela Universidade Federal Fluminense, carioca, suburbana e amante de uma boa boemia. Co-Criadora do Cinebarpodcast e atualmente estudante de Cinema e Audiovisual.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Nascida no Rio de Janeiro, mais especificamente na Zona Norte, mas atualmente residindo na cidade de Niterói. Uma cidade que dá um forte estímulo no quesito cultural-cinematográfico. Minha sala de cinema preferida é a do Reserva Cultural, um espaço que reúne cinema, gastronomia e eventos culturais, mas que conta com uma excelente programação de filmes e melhor, com um número bem vasto de opções. Além disso, localiza-se ao lado da Universidade Federal Fluminense, o que facilita meu trânsito já que sou estudante. 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

É até engraçado pensar nisso! A primeira vez que me recordo de ir ao cinema foi em 2002. Ainda bem criança, meu pai me levou junto com meus primos para ver Harry Potter e a Câmera Secreta, e eu me lembro bem da sensação que tive nesse dia. Aquele filme com tantos efeitos especiais e toda essa questão lúdica que mexe com uma criança. O conforto da sala escura, a sensação de sentar em uma poltrona que, naquela época, parecia enorme. Amava o cheiro de pipoca com manteiga derretida que corria pelo ar! Desde então, desenvolvi um sentimento, uma memória muito forte com o cinema. Depois fui ficando mais velha e buscando outros interesses que só reforçaram a ideia do cinema ser um lugar diferente. Era um mundo à parte para mim e me entregou muitas histórias. 

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Gosto muito de algumas produções do Lars Von Trier e do Gaspar Noé. Mas pensando nessa coisa da imaginação, e da forma surpreendente com que a mente humana pode reagir em algumas circunstâncias, um dos meus filmes favoritos é Dogville. É incrível como seu corpo consegue se dedicar ao fluxo da arte. Não poderia deixar de citar Blue Velvet do David Lynch e Irreversível do Gaspar.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Meu filme nacional favorito é O Auto da Compadecida. É um filme que gosto muito, mas tem toda uma questão afetiva também, por ter sido um dos primeiros que assisti. Por ter família nordestina, era um filme que meu pai sempre gostou muito e dava altas risadas, eu mesma sem entender muito daquelas piadas, achava o máximo ver aquilo. Quando passei a entender, gostei ainda mais e sempre estou revendo. Além disso, foi um dos primeiros livros que procurei ler. 

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Eu acho que ser cinéfilo é amar o cinema enquanto arte, enquanto lazer, tudo... é de alguma forma, respirar cinema, se debruçar sobre as produções, ter a curiosidade aguçada nesse campo. Não significa ser chato! Muita gente tem implicância com o cinéfilo, eu mesma tenho lá meu pé atrás com alguns sujeitos que se intitulam assim. Se você pisar no calo deles, que significa falar de seu diretor favorito, ou de seu filme favorito, eles brigam mais que fã de diva pop. kkkkkk 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feita por pessoas que entendem de cinema?

Olha, em alguns casos acho que rola uma boa curadoria sim, mas em outros a gente sabe que é uma demanda mercadológica e que nesse processo alguns filmes acabam sendo privilegiados em detrimento de outros. E, é nessa esteira que muito filme mais ou menos ganha espaço e outros se perdem ficando restritos a espaços específicos. 

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Do fundo do meu coração, eu espero que não! Porque nada como a boa e velha experiência de se estar só ou acompanhado numa sala de cinema. As plataformas de streaming tem chegado com toda força e a gente sabe o que isso significa. Mas o fato deles trazerem uma pluralidade de opções para o conforto da sua casa, de maneira rápida, fácil e acessível, não anula a simbologia de estar em um cinema. Inclusive acho que deveríamos retomar com os cinemas de rua das nossas cidades, essa coisa de cinema dentro de shopping não me cativa muito.  

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O abraço da Serpente e La noire de. A fotografia de ambos é incrível, de deixar qualquer um boquiaberto.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, sou totalmente contra! A gente já vive sob ameaça de um governo genocida, não acho que a população deva se arriscar em um ambiente fechado ao lado de várias outras pessoas. Eu sei que é duro! Sinto muita falta de ir ao cinema e depois parar com a galera no bar, tomar uma cerveja e falar do filme, mas dá pra segurar essa vontade e esperar mais um pouco. 

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho muito boa, o cinema nacional evoluiu muito no quesito técnico. Eu particularmente sou uma amante ferrenha das produções brasileiras desde Minha mãe é uma peça; até os filmes mais cults e/ou experimentais como Febre do Rato, O Som ao Redor, Tatuagem, Boi Neon e etc.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Irandhir Santos. Sem sombra de dúvidas!!! Sou muito fã, adoro tudo que ele faz. 

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é experienciar, experimentar! 

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Uma vez fiquei trancada, por horas, dentro de uma sala de cinema após assistir A Fantástica Fábrica de Chocolate, com Johnny Depp é óbvio, rs! O shopping, pasmem, estava sendo assaltado! E a galera toda gritando para o cinema liberar outros filmes de graça enquanto a gente ficava ali. Olha, uma situação danada!! 

 

14) Defina ‘Cinderela Baiana’ em poucas palavras...

Carla Perez, né? Rsrsr.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo? 

Tem uma diferença muito grande entre o cinéfilo e a pessoa que trabalha com cinema e/ou audiovisual. Sim, você pode ocupar esses dois espaços simultaneamente, até porque ter um repertório cinematográfico enriquece seu trabalho de referências e diálogos, mas nem sempre é o caso. Então não acho que seja algo essencial.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida? 

“Verão em Rildas”. Bem ruim, atuação meio tosca, mas até que me rendeu boas risadas. Essa história é engraçada! Estávamos eu e meu companheiro, decidindo o que fazer em uma segunda chuvosa, a melhor opção com certeza seria ter ficado em casa, mas ai não teria história pra contar, né? Enfim, fizemos o Cine Arte – UFF abrir uma sessão só pra gente, já que não tinha mais ninguém. Queríamos sair com menos de 20 min de filme, mas ao mesmo tempo estávamos com pena do trabalho que havíamos dado para os funcionários e ficamos até o final, tristeza viu? Kkkkkk

 

17) Qual seu documentário preferido? 

Cabra Marcado Para Morrer.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?   

Algumas vezes! A última vez, em um mundo pré-pandêmico, foi para Bacurau.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu? 

Coração Selvagem e Feitiço da Lua.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não tenho um específico. Por ser estudante de Cinema eu acabo lendo vários, isso vária de acordo com a minha pesquisa, com o que eu jogo na busca. A partir disso, já acesso sites que sei que tem mais relevância e fornecem informações confiáveis.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Telecine Play e MUBI.

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O que achei do seriado 'Ted Lasso'


Nesse vídeo, Raphael Camacho analisa objetivamente o seriado 'Ted Lasso'

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Programa #34 Guia do Cinéfilo - Jean Thomas Bernardini


Episódio #34 do meu programa de entrevistas na TV Caeté, Programa Guia do Cinéfilo.

Nesse episódio entrevisto o exibidor, distribuidor e cinéfilo Jean Thomas Bernardini.
O Programa Guia do Cinéfilo acontece toda terça-feira, ao vivo, no canal da TV Caeté no youtube (https://www.youtube.com/channel/UC8bE...).

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02/07/2021

Crítica do filme: 'When in Venice'


O presente é o melhor momento da vida. Um alemão e uma brasileira em Veneza. Um encontro inusitado. Troca de olhares constante dentro de uma essência nos detalhes, no não dito. Dirigido pelo cineasta colombiano Juan Zapata, When in Venice é um interessante projeto que busca refletir sobre a importância do momento, do presente. É sempre bom assistir histórias sobre sentimentos que nascem através, ou a partir da cultura. Caminhamos pelos museus, pontos turísticos de uma Veneza deslumbrante. Difícil encontrar o clímax, fato que talvez criaria uma conexão maior com o espectador. Você torce para os personagens que distante de um maior carisma, somente nos arcos finais encontramos seus caminhos, entendemos melhor os motivos e o pensar deles.


Na trama, acompanhamos Max (Peter Ketnath), um alemão, homem de negócios que está fazendo parte de uma conferência. Passando por problemas no campo amoroso e de personalidade fria, calado, seco, beirando ao ranzinza, resolve dar uma passada no bar do hotel em que está hospedado, lá acaba conhecendo Maria (Bellatrix Serra), uma simpática brasileira que lhe propõe algo inusitado: que os dois passem o dia seguinte juntos em Veneza pois ela precisa conhecer essa cidade por algum motivo. Sem entender direito mas com curiosidade, Max aceita e assim ambos vão se conhecer melhor passeando por essa tão cultural cidade.


O desconforto quando se sente perdido. Se pensarmos no filme na visão de Max, encontramos alguns bons pontos reflexivos, é o personagem que mais se desenvolve aos nossos olhos. Não para de receber mensagens, problemas no trabalho, na vida amorosa, busca razões para seu desconforto quando se sente perdido e topar o convite de Maria acaba premeditadamente se colocando nessa posição, assim vemos uma constante desconstrução do quase enigmático personagem interpretado por Ketnath. Já Maria não se desenvolve tanto, sabemos pouco sobre, adora pesquisar sobre doces, é falante, entusiasta da arte, entendemos seu objetivo já quase no fim. Falta química entre os personagens, um carisma distante, buscam no olhar um do outro o sentido para aquele instante, um ingrediente para seus respectivos liquidificadores de emoções.


Passeando pela bela Veneza, o filme tem todos os ingredientes para fazer reflexões existenciais só que a trama demora para acontecer/desenvolver. O filme busca seu próprio ritmo dentro de algumas lacunas não preenchidas dos personagens. A trilha sonora é belíssima, um dos pontos altos do filme, junto a isso, dentro de uma atmosfera sentimental já na ótica do romance, parece que estamos folheando um livro sobre uma iminente história de amor. Quem não gosta de conhecer, ou melhor ainda, viver uma história de amor?

 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #461 - Conrado Heoli


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Conrado Heoli é crítico e pesquisador de cinema, mestre em Arte, Cultura e Comunicação pela Universidade do Minho, em Portugal. Foi curador da Sala de Cinema Ulysses Geremia em Caxias do Sul (RS) e colaborador dos sites Cine Players e Papo de Cinema, entre outras incursões – profissionais ou não – resultantes de sua cinefilia. Atualmente compartilha sua paixão pelo cinema no projeto @sobrecine. Natural de Cambé (PR), vive atualmente em Porto Alegre (RS).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Temos a sorte de ter cinemas muito bons em Porto Alegre, com excelente programação! Posso escolher dois? Cinemateca Capitólio, cinema histórico inaugurado nos anos 1920 que passou muitos anos fechado e, depois de uma revitalização incrível, foi reinaugurado em 2015. Também tenho que destacar a Cinemateca Paulo Amorim, localizada na Casa de Cultura Mário Quintana, que possui três salas e uma programação fantástica. Ambos são refúgios cinéfilos pelos quais tenho grande carinho e admiração.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Sempre fui apaixonado pelo cinema, desde a infância, mas lembro que na adolescência tive uma experiência transformadora. Trabalhava numa videolocadora (saudades!) e o DVD de Sonhos, do Akira Kurosawa, sempre me chamava a atenção. Um dia tomei coragem para ver um filme tão diferente e fiquei fascinado, mesmo não tendo toda a bagagem para compreender tudo o que o filme propõe ao espectador. Ainda assim, fiquei encantado pelo filme, tanto que comprei o DVD do meu chefe na época (não tinha muita saída, infelizmente!) e o tenho até hoje.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Essa pergunta é cruel para qualquer cinéfilo, é muito difícil apontar apenas um, mas vou com o mestre Alfred Hitchcock e sua obra-prima Um Corpo Que Cai.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Outra pergunta difícil! Sou fascinado pelo Cinema Novo e pelas obras produzidas na Boca do Lixo, mas como favorito vou destacar um filme que também vi bastante jovem e que até hoje me encanta: "Lavoura Arcaica", do Luiz Fernando Carvalho.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ter no cinema a principal referência para o que é arte, todas as suas potências e possibilidades. É perceber as portas que se abrem, para muitos mundos, a partir de cada filme. Como Fellini dizia, cinema é um modo divino de contar a vida, e quem ama o cinema pode apreciar isso na primeira fila.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não a maior parte, já que a maioria de cinemas hoje são espaços comerciais e a programação é feita por quem entende do negócio, não necessariamente de cinema. Ainda assim, tenho o privilégio de ter ótimas salas próximas com grandes curadores que conhecem muito de cinema.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito (e espero!) que não. Penso que elas vão se transformar muito ainda, mas as salas de cinema sempre vão oferecer algo que qualquer streaming jamais vai conseguir, que é a experiência coletiva de ver um filme num espaço que é uma espécie de templo para qualquer cinéfilo.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

São muitos que merecem indicação, algo que buscamos sempre fazer no @sobrecine! Vou reforçar a recomendação de um que vi recentemente, O Que Ficou Para Trás, de Remi Weekes. Grande filme que se vale do terror para uma importante leitura sobre a questão dos refugiados africanos na Europa. Grande filme!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acredito na importância da reabertura gradual e com todos os protocolos de segurança de espaços culturais, para a preservação desses espaços. Da mesma forma, os espectadores devem ser cuidadosos e só visitar esses espaços se estiverem aptos para tal, sem correr ou oferecer riscos para outros. Infelizmente, muitas salas acabaram se fechando durante a pandemia, que afetou principalmente as menores e independentes - que também são, geralmente, aquelas voltadas ao cinema arte. Assim, com a vacinação aumentando, espero que logo possamos superar este período tão difícil e todos voltarmos aos cinemas!

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Com os melhores olhos. Nosso cinema é único e excepcional, temos cada vez mais filmes e realizadores excelentes, admirados ao redor do mundo. É uma pena que não tenhamos os incentivos merecidos, tanto da iniciativa privada quanto e principalmente do nosso (des)governo, pois aí as possibilidades e resultados seriam muito maiores.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Estou sempre de olho no cinema do Marco Dutra, da Juliana Rojas, do Gabriel Mascaro e do Kleber Mendonça Filho!

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema é a vida narrada 24 vezes a cada segundo.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Eu fui curador de uma sala de cinema durante cinco anos, então tenho muitas delas... Acho que muitas aconteciam no projeto "Pesadelo Coletivo", com sessões de cinema de terror durante a madrugada. Numa delas, no meio de uma sessão, derrubamos acidentalmente algumas cadeiras no fundo da sala, e o susto dos espectadores foi tão grande que algumas pessoas saíram da sala para se recuperar (!).

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca assisti!

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acredito que não necessariamente, mas também penso que os melhores cineastas são aqueles que, além da técnica e do poder de escrever brilhantemente com suas câmeras, são cinéfilos e apaixonados pelo cinema.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Pergunta difícil... Acho que a gente acaba se esquecendo da maioria dos filmes ruins, bloqueando de nossas memórias. Ainda assim, também considero muito importante ver filmes ruins, pra aumentar nosso senso crítico! Vou citar então dois filmes considerados ruins que adoro: Showgirls, do Paul Verhoeven, e Plano 9 do Espaço Sideral, de Ed Wood.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Adoro o cinema do Eduardo Coutinho, então tenho que citar Cabra Marcado Para Morrer e Edifício Master. Também tem um doc que mexeu muito comigo e que sempre indico, que é o Dear Zachary: A Letter to a Son About His Father.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Com certeza! Geralmente acontece nos festivais e sessões com os realizadores, mas é sempre muito interessante e curioso estar numa sessão aleatória em que, com o final do filme, os espectadores se sentem compelidos a aplaudir.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Apesar de atualmente ser reconhecido mais pelos memes do que por seus filmes, o Cage tem trabalhos incríveis, como Adaptação (meu favorito dele), Despedida em Las Vegas e Coração Selvagem, pra citar apenas alguns. Mas também adoro algumas besteiras que ele fez, como A Outra Face, Con Air e 60 Segundos.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Acompanho muito o IndieWire, tanto o site quando os podcasts.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Meu preferido é o Mubi, mas assisto muita coisa também pela Prime Video e Netflix.

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O que achei da série brasileira 'Colônia'


Nesse vídeo, Raphael Camacho analisa objetivamente o seriado brasileiro 'Colônia'.

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01/07/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #460 - Paula Witchert


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São Paulo. Paula Witchert tem 42 anos. É cineasta, jornalista e cantora nas horas vagas. Bacharel em jornalismo com MBA em cinema, trabalhou como jornalista em diversos sites e revistas no setor cultural, além de assessoria de imprensa, produção de eventos musicais nacionais e internacionais e programas de webTV. Foi professora de técnica vocal e cantora da noite paulistana com bandas covers de rock. Participou de mais de 20 curtas-metragens como diretora, roteirista, produtora, assistente de direção, produção e direção de arte, áudio e fotografia. Dirigiu o longa "Às Escuras", que está em fase final de pós-produção. Atualmente trabalha na criação de séries e longas de ficção;  roteiros institucionais e publicitários, tais como: "O que os heróis têm a nos ensinar?" - TV Moments apresentado pelo Nissan Kicks e TNT para o canal TNT e  "Be a Chef" apresentando pela Red Ballon e Cartoon Network para o Instagram oficial da Cartoon. Além disso, também oferece consultoria para roteiristas iniciantes e criação de conteúdo em geral para empresas e agências de comunicação.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Sempre gostei das salas do Espaço Itaú, na Rua Augusta e imediações, pois há mais opções de filmes mais profundos, que são a minha escolha na maioria das vezes.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro filme que eu vi no cinema foi Batman (1989), porém, o que me fez me apaixonar pelo cinema não foram as salas, mas sim os estudos de linguagem cinematográfica e roteiro. Entrei neles por pura curiosidade e me apaixonei a ponto de desejar o cinema como profissão.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eu sempre transitei entre dois preferidos: Martin Scorsese e David Lynch. Depois de Mother!, o Darren Aronofsky entrou na lista. Sempre gostei dos filmes dele, mas em Mother! ele me mostrou que tipo de cineasta quero me tornar. Do Scorsese, meu preferido é Shutter Island (Ilha do Medo) e do Lynch, Mulholland Drive (Cidade dos Sonhos).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Nossa! É tão difícil escolher um só! Vou citar Cidade de Deus (depois de quase meia hora pensando), porque tudo nele é muito bem feito: roteiro, atuação, direção, fotografia, arte, edição... O fato de mostrar uma realidade muito forte no Brasil por mais de um ângulo também é muito importante. O filme entretém, mas também faz refletir. Gosto muito desta mescla e acho essencial que os filmes tragam isso.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser apaixonado por cinema, independentemente do estilo. É gostar de assistir de tudo um pouco pelo prazer de consumir cinema, de querer aprender mais dessa arte tão maravilhosa.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Jamais! O que manda na exibição é o dinheiro. Se há verba para distribuição ou alguma grande distribuidora por trás, o filme fica em cartaz em diversas salas por muito tempo. Tem muito filme bom que mal entra em cartaz e já fica indisponível ou nem entra. Isso é bastante injusto, mas é fruto do sistema capitalista em que vivemos.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito nisso. Da mesma forma que o livro impresso não acabou e nem a música em formato físico. Quem gosta da experiência da sala de cinema vai continuar frequentando as salas. O que deve acontecer é uma adaptação da indústria para cobrir o vácuo deixado pelo público que migrará para o streaming - como ocorreu com outras formas de cultura - e uma diminuição na quantidade de salas, como já vem ocorrendo, inclusive, em função da pandemia.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Suspeito da Rua Arlington. Eu assisti despretensiosamente uma vez pela TV e me apaixonei pelo enredo, que tem várias reviravoltas e um final surpreendente, algo que prezo muito nas produções que assisto. Para quem gosta de suspense, é uma boa pedida!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Já reabriram, mas sou contra. Embora seja apaixonada por cinema e uma das milhares de pessoas afetadas pela queda das produções pela pandemia (além do desmonte proposital do setor), as salas são ambientes fechados e,  por mais que sejam implementadas normas rígidas de segurança, não acho que sejam suficientes para evitar a proliferação do vírus. Entendo a necessidade de reabertura, o certo era termos uma vacinação rápida e eficiente, mas não foi o que aconteceu.

 

10) Como voce enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro caminhava em uma boa crescente até meados de 2016. De lá pra cá, o setor foi sucateado por fatores políticos: a Ancine está abandonada e vemos filmes sendo barrados no lançamento por questões ideológicas. Isso é censura! No mais, o brasileiro é muito criativo e há muitos bons cineastas no Brasil. Em termos técnicos, ainda vejo problemas da influência de roteiros "novelísticos" no cinema, repleto de diálogos e situações expositivas e não é isso que se espera de um filme, pois são linguagens e produtos diferentes. Também percebo que muitos diretores focam apenas na direção geral das produções e não dirigem atores, o que considero uma falha. Muitas instituições de ensino de cinema/audiovisual formam críticos de cinema e não cineastas e esse é um dos grandes gargalos, mas há esperança se houver engajamento dos agentes-chaves e também dos artistas que se propõem a dar vida à sétima arte. É um trabalho que precisa voltar a ser construído, pois não faltam talentos.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Eu só tenho isso com o Scorsese, o Lynch e o Aronofsky, ninguém mais. Por uma questão estilística mesmo! Mas, há vários artistas brasileiros que me motivam a assistir filmes: Camila Morgado, Fernanda Montenegro, Wagner Moura, Selton Mello, Lázaro Ramos... Vou citar também o Meirelles, a Laís Bodanzky e o Bráulio Mantovani, pois sempre que vejo os nomes deles nas produções, fico mais interessada.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a conexão de todos os sentidos em uma única arte.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Eu estava assistindo Os Simpsons e comecei a rir tanto com a cena do "porco-aranha" que engasguei com o refrigerante e quase vomitei no meio da sala.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Eu não vi esse filme, não posso opinar. Vi péssimas críticas sobre e fiquei com vontade de assistir para ver se é tão ruim como dizem, mas a minha lista de filmes e séries para assistir é imensa e ele sempre fica para depois.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Eu sou diretora e não me considero cinéfila. Assisto muuuuitaaaa coisa, mas seleciono também, devido ao tempo. Mas, para quem quer ser um BOM cineasta, é fundamental ter muitas referências e não apenas do que gosta ou do estilo que se quer trabalhar, mas sim um pouco de tudo. De uns anos pra cá, eu me forcei a assistir comédias e romances, por exemplo, que eu costumo não gostar, mas são importantes para incrementar meu repertório.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Era tão ruim que meu cérebro deletou o nome, mas se o título aparecer na minha frente, eu reconhecerei na hora! hahaha

 

17) Qual seu documentário preferido?

Professor Polvo.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não, mas já tive vontade.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Existe? kkkk Piadas à parte, gosto de Coração Selvagem, do Lynch.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não leio nenhum em específico. Me informo por meios de grupos de Facebook e WhatsApp compostos por profissionais do mercado, além das notícias da imprensa em geral. Sigo muitos cineastas, produtoras e majors no Instagram, então fico sabendo de muitas coisas por lá também.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Atualmente a Amazon Prime, que está com um catálogo bem interessante. Mas também vejo muito Netflix e, de vez em quando, a GloboPlay.

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