22/10/2013

Crítica do filme 'Os Suspeitos' (2013)



Quais são os limites na busca de um parente desaparecido? Brilhantemente dirigido pelo cineasta canadense Denis Villeneuve (Incêdios), Os Suspeitos é um dos melhores suspenses e mais surpreendente projeto dos últimos dois anos. Todo o quebra-cabeça que somos testemunhas é engenhoso, brilhante e eletrizante. O espectador não sabe o que vai acontecer na cena seguinte. Como a grande graça desse trabalho é o seu desfecho, o texto não tem nenhum spoiler, podem ficar tranquilos.

Em uma certa tarde, duas meninas são sequestradas na porta de casa levando seus pais a um limite emocional e físico em busca do paradeiro delas. Um desses pais, Keller Dove (Hugh Jackman) ultrapassa todos os limites quando resolve sequestrar e torturar o principal suspeito do sequestro.  O detetive Loki (Jake Gyllenhaal), responsável pelo caso, acaba se envolvendo com a história mais do que devia e acaba descobrindo um plano macabro e inacreditável.

Para um suspense ser bom precisa que em nenhum momento o público tire os olhos da tela. Você só consegue provocar essa reação se a história for interessante, e no caso de um mistério, que as peças do quebra-cabeça lentamente vão se modelando deixando o espectador ansioso em saber como termina todo o mistério. O roteirista Aaron Guzikowski, dá uma aula em como se criar tensão, suspense e surpresa em um filme de 163 minutos.

O longa-metragem tem diversos pontos positivos. O desenvolvimento emocional e desesperante dessas duas famílias afetadas pelo sequestro é perfeitamente executado por cada personagem. Maria Bello – uma das atrizes que mais sabe sofrer em cena – faz o público sentir pena, tamanho desespero que passa na tela. Terrence Howard é o parente mais perdido com todo o desenrolar dos fatos, seu personagem (pai de uma das meninas) não tem forças nem para pensar se seus atos são ou não corretos - grande atuação desse indicado ao Oscar.

Mesmo não tendo um protagonista fixo, a câmera volta muitas vezes a Keller Dove. Um pai desesperado que só pensa em achar sua filha salva. Os conflitos familiares provocados por Dove são intensos, vira um homem sem destino, sem afeto, sem pena e totalmente inconsequente. O espectador consegue e conectar com esse personagem e acaba torcendo para um final feliz mesmo com os pecados que o personagem carrega em suas costas.

Os Suspeitos é um daqueles filmes do qual nunca vamos esquecer o final e sempre que for possível voltaremos para rever. Merece ter um lugar cativo na estante dos cinéfilos, de preferência ao lado de filmes como Seven – Os Sete Crimes Capitais e Os Suspeitos – só que nesse caso, o Kevin Spacey não é o culpado! Bravo!

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21/10/2013

Especial | Top 10 Sam Raimi


Samuel Marshall Raimi nasceu na cidade de Michigan,  no dia 23 de Outubro de 1959. O futuro diretor de sucesso foi criado no judaísmo conservador, fruto da criação de seus antepassados que ​​emigraram da Rússia e Hungria. Passou a infância recluso em casa e só começou a seguir o seu sonho – fazer cinema – depois que se formou em Inglês, antes dos 24 anos.  Raimi se tornou famoso do público cinéfilo por dirigir a série de filmes sobre o Homem-Aranha e a trilogia de clássicos de terror dos anos 80 Uma Noite Alucinante - A Morte do Demônio.

Raimi ficou fascinado em cinema quando o pai trouxe uma câmera de filme para casa. Assim, começou a fazer filmes em Super 8 com o amigo de infância de Bruce Campbell. Na faculdade, se  juntou com seus alguns amigos para rodar seu primeiro projeto, o curta-metragem Within the Woods (1978) , um filme de terror de 32 minutos que custou U$ 1.600. Com o pequeno sucesso do projeto, através da família , amigos foi capaz de financiar a produção do filme que mudaria sua vida, o clássico terror de grande sucesso Uma Noite Alucinante - A Morte do Demônio (The Evil Dead - 1981) que logo se tornou um sucesso e efetivamente lançou a carreira de Raimi.

Na década de 1990 , Raimi se mudou para outros gêneros , dirigindo filmes como o faroeste Rápida e Mortal, o thriller aclamado pela crítica, Um Plano Simples (1998) e o drama Por Amor (1999). Raimi alcançou outro sucesso comercial com o blockbuster Homem-Aranha (2002). O filme gerou duas continuações : Homem-Aranha 2 (2004) e Homem-Aranha 3 (2007), ambos dirigido por Raimi.

Uma curiosidade: antes de dirigir os filmes do Homem-Aranha , Raimi fez lobby para dirigir Batman Forever quando Tim Burton saiu do projeto, mas foi rejeitado e Joel Schumacher foi o escolhido. Uma pena, não? Alguma dúvida que Raimi faria um trabalho melhor que Schumacher?


Abaixo um Top 10 com os melhores filmes desse adorado diretor:


10.  Uma Noite Alucinante 3 (Army of Darkness, 1993)

Nesse filme, que fecha a trilogia mais famosa de Raimi, o herói Ash (Bruce Campbell) volta ao tempo e vai para o século XIV, onde enfrenta um exército de mortos-vivos. Esse exercito é liderado pelo Evil Ash o qual se separou do Ash original quando ele estava dentro do moinho no meio da floresta, em busca do Necronomicon. Um desfecho de um clássico trash para fã nenhum botar defeito.


09.  O Dom da Premonição (The Gift, 2000)

Nesse bom suspense estrelado pela australiana Cate Blanchett (Blue Jasmine) conhecemos sua personagem Annie Wilson, uma viúva, mãe de três filhos que possui dons psíquicos. Para ganhar dinheiro, Annie resolve utilizar seus poderes oferecendo leituras psíquicas aos moradores da cidade onde reside em Brixton, Porém, tudo começa a piorar para Annie quando ela começa também a ver o lado negro das pessoas ao seu redor, ao mesmo tempo em que ocorre um brutal assassinato na cidade. O desfecho da trama agrada alguns e não outros.

08.  Por Amor (For Love of the Game, 1999)

Misturando esporte, drama e amor, Sam Raimi investe no tom romântico conta a história do famoso arremessador do Detroit Tigers Billy Chapel (Kevin Costner) , um homem em conflito no seu lado amoroso já que sua mulher o está deixando e ele luta para que isso não aconteça. Entre dramas e com a cara fechada e amargurada de Costner, o filme como um todo acaba agradando a muitos tipos de público.


07.  Rápida e Mortal (The Quick and the Dead, 1995)

Depois dos filmes de terror, Sam Raimi investiu seu tempo e habilidades em um filme do gênero Faroeste. Em Rápida e Mortal, Sharon Stone (Blue Jasmine) é Ellen, mulher misteriosa que chega a uma cidade para se vingar de um homem que tornou sua vida um inferno. E um duelo entre os dois é o ponto do alto do filme que reúne todos os personagens e situações típicas do gênero.  O sumido Gene Hackman (O Júri) faz o vilão da trama.


06.  Homem-Aranha (Spider-Man, 2002)

Adaptado do famoso quadrinho de Stan Lee, Homem-Aranha já gerava expectativa antes mesmo de seu lançamento, Sam Raimi foi o escolhido por ser um grande fã de quadrinhos e um dos melhores diretores de sua geração. Na trama, Peter Parker (Tobey Maguire), um jovem estudioso que mora com seus tios, Ben (Cliff Robertson) e May (Rosemary Harris), desde que seus pais faleceram, depois de um acidente ganha poderes e habilidades de uma aranha começando assim um grande ciclo de aventuras cheia de emoções e vilões terríveis. Uma das melhores adaptações do mundo dos quadrinhos para as telonas.

05.  Arraste-me para o Inferno (Drag Me To Hell, 2009)

Voltando ao gênero que o consagrou, Sam Raimi escreveu com seu irmão o roteiro - e dirigiu - Arrasta-me Para o Inferno. Na trama, conhecemos Christine Brown (Alison Lohman), uma analista de crédito que vive com seu namorado, o professor Clay Dalton (Justin Long), em Los Angeles. Um dia, para impressionar seu chefe, ela recusa o pedido de uma senhora chamada Sylvia Ganush (Lorna Raver) para conseguir um acréscimo em seu empréstimo, de forma que possa pagar sua casa. Como vingança, a anciã joga uma maldição sobrenatural na vida de Christine. Um filme que fez lembrar os velhos tempos de Raimi.

04.  Homem-Aranha 2 (Spider-Man 2, 2004)

Nessa sequência do sucesso de Homem-Aranha, voltamos a acompanhar Peter Parker (Tobey Maguire), mais maduro e precisando lidar com problemas psicológicos e com a raiva crescente de seu melhor amigo Harry (James Franco), por considerá-lo o assassino de seu pai, e com o aparecimento de um novo inimigo: o Dr. Octopus. Essa sequência é superior ao primeiro filme em todos os campos: ação, emoção e história. Um grande trabalho de Raimi atrás das Câmeras.


03.  Um Plano Simples (A Simple Plan, 1998)

Em um suspense com um ótimo roteiro, somos premiados com um desfecho surpreendente. Em Um Simples Plano três diferentes personagens encontram, num avião abandonado, sacos contendo milhões de dólares. Eles ensaiam um plano simples para ficarem com o dinheiro se ninguém aparecer para reclamá-lo. Raimi poderia voltar a fazer mais filmes do gêneros, o cineasta tem a manha de criar a tensão e surpreender no desfecho.

02.  Uma Noite Alucinante 2 (Evil Dead II, 1987)

O filme começa com a reencenação de vários eventos vistos na produção anterior – fato que desagrada alguns fãs. O protagonista Ash (Bruce Campbell) e sua namorada vão a uma cabana abandonada na floresta para passarem alguns dias de romance. Na cabana, Ash ouve a fita de gravador deixada por um professor de arqueologia recitando passagens de um livro macabro, descoberto durante escavações recentes. A fala libera uma força demoníaca e o terror começa. Sem dúvidas, uma ótima continuação do clássico Evil Dead.

01.  Uma Noite Alucinante - A Morte do Demônio (Evil Dead, 1981)

Cinco jovens vão passar um fim de semana em uma cabana. Todos eles tem estranhas experiências, obviamente causadas pela presença ali do Livro dos Mortos que logo encontram. Ao reproduzirem certas falas de um arqueólogo que estavam perdidas no local despertam espíritos que estavam adormecidos e que habitam o bosque. Os espíritos começam a possuir os jovens um por um. Um dos maiores clássicos trash da história do cinema. Um filme para ter na coleção!
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Crítica do filme "Serra Pelada"



Após o desastroso 12 horas (2012) – o diretor pernambucano Heitor Dhalia (À Deriva) volta para casa e apresenta ao público uma comovente história de amizade e ganância no garimpo do sul do Pará. Em Serra Pelada, modelado com narrações em Off como se fosse uma mini-série daquela emissora poderosa – fato que não vai agradar muitos cinéfilos – vemos boas atuações, um roteiro competente e uma direção muito correta, colocando o público entretido do início ao fim com a história de cada personagem.

Estrelado pelo ator gaúcho Juliano Cazarré (360) e  Júlio Andrade (Nove Crônicas para um Coração aos Berros), Serra Pelada conta a história de dois amigos que abandonaram sua terra natal para tentar ganhar a vida como garimpeiros em uma terra de oportunidades. Com um certo ar de empreendedorismo e muita malandragem conseguem logo virar referências nessa terra violenta, cheia de perigos e algumas oportunidades.

O ponto chave do filme é o foco na relação de amizade entre os protagonistas. Cada detalhe é muito bem capturado pelas lentes do diretor. O desenvolvimento dos personagens é nítido, o que era uma amizade acaba virando ódio e decepção, muito por conta de interesses megalomaníacos, inveja e ambição que acabam gerando sequências de violência e reviravoltas emocionantes. Os personagens coadjuvantes, a grande máfia que é mostrada ajudam a contextualizar o destino dos protagonistas - destaque para Wagner Moura (Elysium), careca e caricato, inventando brilhantemente seu Lindo Rico.

A trama é desenvolvida na ótica do personagem de Júlio Andrade, Joaquim, por onde vemos as realizações e os medos da sofrida situação que ele se mete.  A região de Serra Pelada é habitada por aventureiros de todos os lugares do Brasil, em busca do tão sonhado ouro que banha a região. Com a avançada militar – a história é passada nos anos 80 – na região alguns hábitos e costumes são modificados desestruturando alguns monopólios que já se instauravam na mão-de-obra.

Serra Pelada é acima da média quando falamos em cinema nacional. O espectador acaba a sessão com um ar de que viu e aprendeu muito sobre esse lugar. Tem ação, aventura, suspense e drama na dose certa, tudo que um bom filme precisa ter para agradar o público, sempre carente por obras nacionais de qualidade.                                                                                                                                                                                                                                                                                    
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17/10/2013

Crítica do filme: `Meu Passado me Condena`


O que fazer quando seu passado te condena? Dirigido pela estreante Julia Rezende e produzido por Mariza Leão, chega aos cinemas na próxima sexta-feira (25) a nova comédia nacional Meu Passado me Condena. Estrelado pelo ator Fabio Porchat (O Concurso) e pela atriz Miá Mello (Cilada.com) o longa-metragem é um filme feito para não se pensar. Os clichês e as historinhas para criar climas de romances e coincidências são exagerados, algumas atuações são terríveis e o público fica refém de um filme para norte-americano ver.

Nessa nova comédia de nosso cinema, conhecemos um hipocondríaco, pão duro,  animador de festas que após um mês de namoro se casa com uma jornalista econômica que gosta de Truffaut. Um encontro entre dois mundos desenvolvido de maneira cômica e sem limites principalmente após a lua de mel ser marcada em um cruzeiro - um lugar onde muitas referências do passado dessa dupla irão aparecer.

Adotando os próprios nomes de seus intérpretes, o roteiro tende às produções Hollywoodianas. As licenças poéticas são adotadas com certo exagero muito visto em terríveis comédias norte-americanas: um encontro entre dois casais que tem um passado em comum, a mistura dos estereótipos, e os falsos vilões em forma de trambiqueiros são alguns desses exemplos.

O filme funciona como cinema até certo momento. O ponto positivo vai para um pequeno detalhe sobre o ciúmes provocado pelas redes sociais – realmente um assunto bastante atual –  que são inseridos no roteiro dando um ar de atualidade e mesclado muito bem com as confusões que vemos na telona.Porém, é muita coisa ruim em meio a uma coisa boa.

A história se perde do meio para frente. O projeto funcionaria bem melhor se fosse um curta-metragem ou média-metragem. Como série de televisão funcionará muito mais do que como cinema.  O comediante Fábio Porchat – conhecido pelos seus Stand Up Comedy – tem bons momentos  mas assim como todo o elenco vai muito mal quando a trama entra no drama dos personagens.

Com uma série já encomendada para essa história - com um famoso canal de entretenimento da televisão a cabo - o espectador se sente assistindo a um piloto, o segundo episódio e ao terceiro de uma nova série de televisão. Esperamos que tais produtores, realizadores, diretores, roteiristas não se acostumem a criar a Brazilwood, somos muito mais criativos e não precisamos imitar nenhuma fórmula da terra do Tio Sam para conseguir público.

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Crítica do filme: 'Fading Gigolo'



Escrito e dirigido pelo norte-americano John Turturro (excelente ator, diga-se de passagem)  Fading Gigolo arrancará dos cinéfilos risadas gostosas mesmo que a história só seja mesmo interessante por conta da atuação genial de Woody Allen - que volta a atuar como ator em um filme que ele não dirige desde Juntando aos Pedaços, um filme pouco falado no longíquo ano  2000). O longa-metragem de modesto orçamento conta também com as presenças das sensuais Sofia Vergara e da veterana Sharon Stone.

Na comédia, conhecemos o tímido e acanhado Fioravante (John Torturro), um homem de classe média que decide se tornar um profissional do sexo, um Don Juan do bairro onde mora, como uma forma de ganhar bastante grana e assim ajudar o seu amigo sem dinheiro, Murray (Wody Allen). Com esse último agindo como uma espécie de cafetão, a dupla se joga em um universo de amor, sexo, piadas, dinheiro e prostituição.

O roteiro é um ponto a se analisar negativamente. Conforme as sequências vão passando mais o público percebe que Torturro nada mais fez do que imitar a formula de Woody Allen com histórias interligadas e com personagens fugindo do senso e das verdades comuns. Falta gás nas subtramas e os coadjuvantes acabam ficando se desfechos convincentes resumindo algumas histórias a muita informação e pouco desenvolvimento.

O filme corria o risco de não atrair a atenção do público se não tivesse Woody Allen no elenco. Esse genial artista que ama Nova Iorque realmente é um ponto diferencial já que o roteiro é trivial e fraco tendo somente as forças de um personagem para a história se tornar sustentável. O espectador se delicia com as ótimas tiradas do judeu Murray, Allen transpira carisma na frente das câmeras. Genial atuação desse ganhador do oscar de 77 anos.

Sharon Stone também merece o crédito por ótimos diálogos com o protagonista, arrancando gargalhadas do espectador e mostrando sua sensualidade infinita. Sofia Vergara – que faz muito sucesso no seriado Modern Family – tenta mas ainda é uma fruta não madura como atriz. Ao longo de 98 minutos, rimos em grande parte com um dos pelés das telonas, por isso, vale muito a pena conferir esse trabalho. Somente por isso.
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