03/12/2014

Crítica do filme: 'Rudderless (Força para Viver)'



Debutando na carreira de diretor (dessa vez pra valer, já que havia dirigido um filme feito para TV, Lip Service, na década de 80), o fabuloso ator William H. Macy reúne um elenco primoroso para contar uma história dramática sobre um pai em busca de redenção para um terrível trauma em sua vida. O nova iorquino Billy Crudup foi o escolhido para ser o protagonista, concorreu pela vaga com outros atores e a produção do filme não poderia ter escolhido melhor, Crudup emociona em cada cena, é algo tão tocante que deve gerar todos os tipos de reações do espectador, sem dúvidas uma das melhores atuações do ano.

 Na trama, conhecemos o confiante e bem sucedido Sam (Crudup), um pai de família que vive intensamente seu cotidiano fazendo dinheiro com seu estável trabalho. Certo dia, uma grande tragédia acontece na biblioteca onde seu filho estudava e esse fato muda completamente o protagonista que se joga no alcoolismo, muda de cidade e vai morar em um barco bem longe de casa. Passados dois anos, agora trabalhando como pintor e sem muitas pretensões na vida, Sam recebe de sua ex-mulher Emily (interpretado pela sempre maravilhosa Felicity Huffman) uma caixa com alguns pertences do filho e isso o faz despertar para um elo esquecido que eles tinham, a música. Preso ainda pelos pensamentos doloridos de seu passado, Sam embarca numa jornada musical, principalmente quando conhece o carismático Quentin (Anton Yelchin) e resolve criar uma banda.

As canções chegam para Sam de maneira impactante, o aproxima novamente de seu filho. Eles possuíam uma boa relação mas pouco se viam, esses pensamentos de nunca poder estar tão presente na vida do filho, de querer voltar no tempo, praticamente destrói o protagonista por dentro. Conseguimos sentir toda a angústia e amargura desse grande personagem por conta da espetacular atuação de Billy Crudup. Com o sucesso que o filme fez em Sundance e em outros festivais, não será nenhuma surpresa se Crudup aparecer na lista dos principais prêmios do cinema no ano que vem. Vale também os destaques para a boa direção de William H. Macy que não resistiu e também aparece no filme, e para Felicity Huffman que personifica a dor na figura materna. 

Tem um grande detalhe nesse belo roteiro que é revelado somente perto do desfecho, o que faz nós espectadores entendermos melhor toda aquela angústia e as escolhas que o personagem principal tomou após a tragédia. As músicas que ouvimos durante toda a fita, possuem uma melodia, uma letra, tão empolgante que se tornam um antídoto contra qualquer tristeza que possa estar preenchendo nossos dias. Afinal, a vida não é uma eterna arte de se reconstruir? Por isso: Respire fundo, conte as estrelas, deixe o mundo rodar sem você.
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02/12/2014

Crítica do filme: 'Nós Somos as Melhores'



A rebeldia do jovem nasce e cresce na explosão dos sentimentos, na simples e vital inquietação de não poder fazer tudo. Baseado em um quadrinho, situado na década de 80, de Coco Moodysson, o longa-metragem sueco Nós Somos as Melhores fez um grande sucesso em muitos festivais Indie que participou nesses últimos meses. Dirigido pelo cineasta Lukas Moodysson, o filme é um grito da juventude, em plena época do nuggets de torradeira, guiada por uma trilha sonora ligada nos altos decibéis do punk rock europeu. É um filme que deve agradar a todos os públicos, possui ritmo e uma genuinidade transparente que transborda na telona.

Em uma época em que o Punk domina a programação das rádios no velho continente, duas meninas de 13 anos, com um ar bem rebelde, resolvem formar uma banda de rock and roll e escrever canções sobre situações que vivem no seu dia a dia. Como elas não tem nenhuma instrução musical, resolvem adicionar uma outra jovem, com grande talento no violão, ao grupo. Assim, as 3 meninas embarcam em dias de descobertas tendo sempre a música como plano de fundo.

Nós Somos as Melhores se encaixa naquele tipo de filme que o público logo nota ser atemporal, isso aproxima demais o espectador da história. A cena onde as meninas se metem numa confusão em um festival de música, mostra uma crítica profunda a uma sociedade que limitava sonhos mas que nunca deixava de sonhar. A sociedade se remodela, o método miojo de comunicação instantânea chegou dominando, mas aquele sentimento próprio do ser humano de tentar encontrar seu caminho é algo que está dentro de nós. O filme bate nessa tecla o tempo todo. 

Os pensamentos imaturos e o seu modo de expressão viram uma mistura cômica e cheia de atitude na condução de Mooddysson. A fragilidade, oriundo da idade das protagonistas, dá um sobretom verdadeiro às atitudes. Gritando por uma liberdade precoce, elas se sentem livre, vivem essa rebeldia contagiante, abrem um sorriso ao destino e acabam redesenhando sua própria história. Não percam Nós Somos as Melhores! Bravo!
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27/11/2014

Crítica do filme: 'Os Amigos'



As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável. Exibido no Festival de Gramado do ano passado e com algumas passagens em outros festivais aqui no Brasil, o simpático filme Os Amigos é uma fábula moderna sobre um homem e suas depressões cotidianas causadas por abalos emocionais em muitos campos de sua vida. Protagonizado pelo competente Marco Ricca, e com a maravilhosa Dira Paes como coadjuvante, o trabalho dirigido pela cineasta Lina Chamie é uma jornada inteligente sobre as reflexões que passamos ao longo de muitos momentos de nossas vidas. É o tipo de filme que faz constantes paralelos com a realidade de cada um de nós. 

Ao longo dos 90 minutos de fita, acompanhamos um momento de incertezas e depressões sociais na vida do arquiteto Téo (Marco Ricca), um homem solitário que sofre um grande abalo quando sabe do falecimento de seu melhor amigo de infância. Téo é um ser sozinho, divide suas angústias apenas com sua melhor amiga Majú (Dira Paes) que vive tentando arranjar uma companheira para ele. Enfrentando seu passado e tentando achar alguma luz em seu futuro, o protagonista leva o público em uma jornada sobre os momentos de reflexões sobre a vida, situação em que todos nós já estivemos, estamos ou vamos estar.

O roteiro, assinado pela própria diretora, um dos bons destaques dessa produção,  teve altas influências do poema Fábula de um Arquiteto, de João Cabral de Melo Neto e do romance Ulysses, de James Joyce. Com essas referências, foi moldada uma história que mais parece aqueles livros adolescentes que falam sobre complexos pensamentos de maneira poética, beirando a trivialidade e deixando o espectador argumentar sobre os inúmeros assuntos colocados à mesa. 

Os Amigos não é só um filme só sobre amizade, é um trabalho que busca uma lógica para a arte do sonhar.  As cenas do zoológico, os paralelos com o cotidiano agitado do protagonista e os inúmeros raciocínios feitos ao longo da fita, tiram o público da zona de conforto. Para contextualizar alguns pensamentos, a diretora afasta o público da realidade, com cenas que parecem desenhos animados, mas sempre falando sobre ela. É uma criatividade que produz a originalidade. Mais filmes nacionais deveriam seguir esse caminho, o do tentar apresentar uma história original que realmente nos fazem pensar sobre as nossas próprias vidas.  
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26/11/2014

Crítica do filme: 'Allegro'



O passado nunca reconhece o seu lugar, está sempre presente. Dirigido pelo competente cineasta dinamarquês Christoffer Boe (do ótimo thriller “Alting bliver godt igen”), e praticamente desconhecido do público brasileiro, o complexo filme Allegro é uma mistura de realidades utópicas, definidas pela paixão de um homem, que se perde em seus mais secretos desejos de amar. Protagonizado pelo espetacular ator Ulrich Thomsen, o longa-metragem de modestos 88 minutos é uma versão metafórica do amor.

Na trama, conhecemos o brilhante pianista Zetterstrøm (Ulrich Thomsen), um homem que desde criança foi um prodígio da arte de tocar piano. Ao longo de sua vida, poucos outras coisas tiveram espaço. Um certo dia, conhece Andrea (interpretada pela belíssima Helena Christensen) , uma mulher misteriosa que aparece em sua vida e modifica toda a rotina do pacato músico. Ao longo do tempo, nasce um amor intenso e precocemente há uma ruptura. Anos se passam e Zetterstrøm fica muito famoso em todo o mundo e acaba perdendo suas memórias passadas. Sem voltar para Dinamarca a muito tempo, recebe um inusitado convite que o fará mais um vez reviver lembranças já esquecidas.

A direção de Boe é algo fabuloso. Tenta cercar o espectador de angústia e mistérios com captação de imagens belíssimas que descascam todas as emoções dos personagens. O corajoso roteiro, percorre o consciente humano e se aproxima da lógica que vimos em filmes como Matrix e A Origem.  Taxado como Sci-fi pela crítica internacional, Allegro é muito mais que ideias inovadoras na arte de figurar o sentimento, é uma história sólida sobre a redescoberta das emoções. Há uma raiz filosófica e dá muita margem para discussão.

Esse projeto é um daqueles filmes bem difíceis de digerir. Talvez por isso, não teve muito interesse das distribuidoras brasileiras. No circuito nacional raramente se viu uma sessão do filme que depois de 9 anos (o filme é de 2005) estreou no Rio de Janeiro.  O cinema dinamarquês possui essa marca de tentar criar a fábula cinematográfica com muita criatividade e competência, esse é um dos fatores que validam a ideia que há o interesse dos cinéfilos em conferir suas histórias.  Se tiver oportunidade, não pense duas vezes, vá conferir esse belo trabalho.
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24/11/2014

Crítica do filme: 'Boa Sorte'



O coração do homem pode estar deprimido ou excitado, em qualquer dos dois casos o resultado será fatal... ou não. Baseado em uma história de Jorge Furtado, o mais novo pocket blockbuster nacional, Boa Sorte, apresenta uma roupagem agradável aos velhos tons que contornam o melodrama nas telonas quando o assunto é o velho e rotineiro problema da existência. Dirigido por Carolina Jabor – seu primeiro trabalho sem ser um documentário ou série de televisão – o filme conta com uma atuação inspirada da atriz global Deborah Secco que consegue com muito carisma chamar a atenção do espectador em todos os instantes em cena. 

Nessa fábula sobre a inconsequência, conhecemos João (o estreante João Pedro Zappa), um jovem deprimido que após uma série de atos que fogem da normalidade, é enviado por sua família a uma conceituada clínica psiquiátrica que tem o comando da Doutora Lorena (Cássia Kiss).  Totalmente sem rumo e sem nenhuma expectativa sobre seu futuro, João acaba fazendo amizades dentro dessa clínica e também descobre o amor e as fortes emoções que esse sentimento pode gerar, principalmente quando conhece a complicada Judite (Deborah Secco).

Deborah Secco usa e abusa de sua sensualidade. Sem dúvidas é um dos grandes trabalhos da bela atriz no mundo do cinema. Só não ganha destaque completo, talvez culpa da diretora, por usar e abusar da exposição do nu em algumas cenas que não acrescentam em nada à trama. Usar do silicone para contextualizar as ações de sua ótima personagem foi uma decisão nada acertada. Deborah é muito mais que um corpinho bonito, é uma atriz madura que entende, do início ao fim, completamente, sua personagem. 

Existem vários tipos de amor, qual você prefere? O longa-metragem tenta preencher a tela com respostas diversas para essa pergunta. Os amores diferenciados que vemos ao longo dos 90 minutos de fita, encostam na esfera familiar, na amizade, na paixão e no simples sentimento do viver. A vida é uma eterna arte do se reencontrar, talvez, sob essa ótica, o espectador se sente mais confortável para compreender e analisar esse bom trabalho.
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