24/12/2014

Crítica do filme: 'Para Sempre Alice'



E se todas as lembranças de nossas vidas simplesmente sumissem ou nunca mais conseguíssemos lembrá-las mais? Para falar sobre o terrível Mal de Alzheimer nas telonas, os diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland criam uma história forte, convincente e comovente que envolve problemas existenciais de uma impactante mulher. Para Sempre Alice é muito mais que um drama tocante, é uma lição de vida onde o público presencia uma das grandes atrizes em atividade no auge do seu talento.

Na trama, conhecemos Alice (Julianne Moore), uma conceituada professora e autora de livros que se encontra em uma fase conturbada de sua vida ao ser diagnosticada com Mal de Alzheimer aos 50 anos. Tentando não enlouquecer e espantando a tristeza, encontra um desafogo para suas dores na tentativa de reaproximação com sua filha mais nova, com quem sempre teve muitos problemas e discussões. 

O roteiro, que é baseado na obra de Lisa Genova, aborda a vida da protagonista no trabalho e na família, antes e depois de ser diagnosticada com a doença. No campo familiar, as relações passam a ser mais melancólicas, frias e distantes. Vemos uma protagonista que se desmonta no campo emocional com tanta verdade que somente uma atriz do nível de Julianne Moore para conseguir tal feito. Não tenham dúvidas, é uma das grandes interpretações femininas do ano, Moore tem boas chances de ganhar o próximo Oscar por essa atuação. 

A protagonista é levada a um recomeço distante, Se encontra aprendendo a arte do reaprender todos os dias. Toda a vida acumulando memórias, como conheceu seu marido, quando segurou pela primeira vez seus filhos, tudo isso sendo retirado de maneira cruel. Esse trabalho não deixa de levantar uma bandeira importante sobre a doença que sofre a personagem principal. Assim como o filme de estreia da Sarah Polley como diretora (Longe Dela), esse belo projeto mostra a dura realidade de quem possui Alzheimer.

Com Alec Baldwin (que também tem uma ótima atuação, preenchendo a telona de emoção) , Kristen Stewart e Kate Bosworth no elenco, Para Sempre Alice estreia ano que vem nos cinemas brasileiros e mais uma vez ganhamos a oportunidade de conferir mais um espetáculo em cena de Julianne Moore. Ela vale o ingresso!
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Crítica do filme: 'Um Santo Vizinho'



Quando a casa do vizinho está pegando fogo, a minha casa está em perigo. Escrita e dirigida por Theodore Melfi, em seu primeiro longa-metragem na carreira, Um Santo Vizinho é uma comédia dramática que tinha tudo para ser uma cópia de Um Grande Garoto ou outro filmes que mostram a relação de amizade entre adultos e crianças. Porém, por conta de seu protagonista, basicamente um anti-herói, interpretado pelo genial Bill Murray, o filme se transforma em uma grande jornada sobre a arte de recomeçar.

Na trama, conhecemos o peculiar ranzinza Vincent (Murray), um homem que leva uma vida sem sentido. Vincent é um homem ex-herói de guerra norte-americano que vive sozinho com seu gato persa passando o dia bebendo e apostando em corridas de cavalo. Dançando bêbado em frente à jukebox, discutindo arduamente com o gerente do banco, maltratando a muitas pessoas gratuitamente, Vincent parece não ter mais solução. Certo dia, novos vizinhos chegam para morar ao lado dele e assim conhece o jovem Oliver com quem logo faz uma grande amizade.

O filme basicamente é de um personagem apenas, roubando a cena a cada instante. Sim, estamos falando de Vincent! Seus óculos vermelhos, beirando ao ridículo, escondem um homem triste. O lado sensível do protagonista se prolifera quando ele visita semanalmente sua esposa que mora em um asilo para pacientes de Alzheimer. Vestido de médico, muitas vezes, consegue proporcionar mais segundos inesquecíveis ao lado da única mulher que amou. Seu jeitão rabugento não muda muito ao longo da história mas alguma doçura também é captada quando começa a dividir seu tempo com o jovem Oliver, uma criança inteligente que usa GPS para chegar na escola.

O roteiro também abre poucas oportunidades para que os coadjuvantes consigam nos contar melhor essa história. Melissa McCarthy atuando de maneira mais séria e não de forma debochada, cresce como atriz. Mostrou muitas qualidades para o drama nesse bom filme. Já a personagem de Naomi Watts, que a princípio fica um pouco deslocada na trama, vai e vem nas linhas do roteiros sendo peça importante para o desfecho da história.

Bill Murray deve ser um cara maneiro, disso, nós cinéfilos não temos dúvidas, um avô que muita gente já sonhou. Talvez por isso Um Santo Vizinho é um filme que muitos devem gostar. Nada excepcional mas conta com uma história criativa, um elenco entrosado e um Bill Murray inspirado.  
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23/12/2014

Crítica do filme: 'The Salvation'



 “A vingança é uma espécie de justiça selvagem”. Essa frase emblemática do filósofo britânico Francis Bacon, encaixa como uma luva quando pensamos na definição para o novo filme do competente diretor dinamarquês Kristian Levring, o faroeste The Salvation. Protagonizado pelo camaleão Mads Mikkelsen, o filme possui um roteiro bem simples, assinado pelo excelente Anders Thomas Jensen (que também assinou  roteiro do espetacular Brothers (2004)), mas que permite o brilho de todos os personagens nas sequências. 

Na trama, voltamos ao ano de 1870 em uma América indefinida, naqueles tempos onde os vilões bigodudos dominavam as estradas de areia que andavam os cavalos. Assim, conhecemos o dinamarquês Jon (Mikkelsen) que chegara há algum tempo na América junto a seu irmão e ambos conseguiram crescer em seus empreendimentos, permitindo a vinda da esposa de Jon e de único filho para a terra das oportunidades. Porém, assim que sua família chega, são assassinados brutalmente por um parente de um bandido local. Jon então parte em busca de vingança a qualquer preço.

Há drama, há suspense, há ação, bem exploradas dentro do contexto. A parte do romance dentro da trama que deixa um pouco a desejar. Madelaine, personagem de Eva Green, era o caminho certo para fazer fluir nesse sentido, porém, a leitura feita por Eva de sua personagem transforma Madelaine em uma mulher dura, que se expressa por ações e não por emoções ao longo dos curtos 92 minutos de fita. Isso não é ruim, não estou dizendo isso, só meio que não preenche todas as lacunas que a história permitia. 

As cenas de bang bang são excelentes. A condução de Levring é inteligente, deixando o espectador, principalmente aos cinéfilos que curtem os filmes do gênero, grudado na poltrona. O ótimo Jeffrey Dean Morgan, eterno sósia de Javier Bardem, veste muito bem a Carapuça de vilão, parece se divertir em cena. Sem dúvidas, um dos grandes destaques da o filme.

The Salvation se aproxima muito da qualidade dos ótimos faroestes feitos nos últimos anos em Hollywood: Os Indomáveis (3:10 To Yuma) e Appaloosa - Uma Cidade Sem Lei. O êxito desses trabalhos é fundamental para que esse gênero, imortalizado por John Wayne e companhia, nunca seja esquecido do imaginário cinéfilo.
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22/12/2014

Crítica do filme: 'As Duas Faces de Janeiro'



Malandro se soubesse quanto é bom ser honesto, seria honesto só por Malandragem. Após um curta-metragem no longínquo ano de 1989, o cineasta iraniano Hossein Amini, que adaptou o roteiro elogiado de Drive (do Refn), deve ter lido muito Georges Simenon e Agatha Christie para criar e dirigir a confusa, e nada atraente, trama de As Duas Faces de Janeiro. O filme é ambientado em uma Grécia na década de 60 mas para irritação dos cinéfilos, não consegue criar elementos para aproveitar todo o charme do lugar, fora os personagens fracos e com péssimas atuações de Viggo Mortensen e Kirsten Dunst. Um dos piores filmes do ano, não tenham dúvidas.

Na trama, somos apresentados rapidamente ao vigarista Chester MacFarland (Mortensen), um homem cheio de segredos que deixou para trás um passado de roubos em pessoas importantes e resolveu fugir para uma “trip” com sua linda esposa Colette MacFarland (Kirsten Dunst). Após uma noite agradável em Athenas, um homem confronta Chester para retomar o dinheiro roubado, nisso, após uma briga, o protagonista acaba matando ele. Para tentar ajudar o personagem principal e sua esposa a fugir do país, um guia turístico, também outro malandro, chamado Rydal (Oscar Isaac) aparece em cena não estabelecendo limites para conseguir outras coisas em troca.

As Duas Faces de Janeiro é o tipo de filme que te cansa logo nas primeiras cenas. Um charme debochado, totalmente clichê, é visto nas primeiras sequências embutido em cada personagem que é apresentado. A trama, é lenta, com poucas razões para os desenvolvimentos das ações, tudo é muito gratuito. A única tentativa de agradar ao público fica a cargo do suspeito personagem interpretado por Oscar Isaac, mas mesmo esse não tem o desenvolvimento nem influência suficiente para agradar ao público no desfecho. É nítido que Mortensen, Dunst e Isaac não conseguem entrosamento em nenhuma sequência, parecem textos lidos e não interpretados. 

Com tanto filme bom em cartaz no circuito brasileiro, ainda mais agora que vão chegar os filmes que possuem indicações aos grandes prêmios do cinema mundial, As Duas Faces de Janeiro se torna um prato indigesto, uma apática história blasé que gera mais sonolência que o rivotril.

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19/12/2014

Crítica do filme: 'Livre'



O auto respeito é a raiz da disciplina, a noção de dignidade cresce com a habilidade de dizer não a si mesmo. Após conseguir alguns Oscars no ano passado com o excelente Clube de Compras Dallas, o cineasta canadense Jean-Marc Vallée volta ao mundo do cinema para contar uma história real de dramas e superação. Livre, que estreia no Brasil na primeira parte de janeiro do ano que vem (2015), é uma espécie de “Na Natureza Selvagem” light, onde, por meio de flashbacks vamos conhecendo os traumas, as escolhas e os dramas da protagonista , interpretado de maneira competente pela ex-legalmente loira Reese Witherspoon.

Na trama, conhecemos Cheryl, uma mulher que se vê em uma fase da vida cheia de mágoas, decepções, e resolve percorrer quase 2.000 quilômetros de trilha, enfrentando calor, frio e os perigos de andar sozinha por lugares pouco frequentados.  Ao longo dessa gigantesca caminhada, vamos entendendo melhor a vida dela por meio de flashbacks e memórias, principalmente, a intensa relação de carinho com sua mãe (interpretada de maneira fabulosa por Laura Dern) e seu ex-marido Paul (Thomas Sadoski). 

Se perguntando sempre se deve seguir em frente ou se deve cancelar a aventura, pensando em desistir a cada 2 minutos, Cheryl é apresentada ao público já no início da jornada de maneira nua e crua, comendo Gororoba com nozes, gororoba com atum e aprendendo na marra como se vive solitária em um lugar desconhecido. O roteiro, assinado pelo craque Nick Hornby (Alta Fidelidade), é baseado nas memórias da verdadeira Cheryl, na obra Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail. O grande mérito desse script é conseguir detalhar ao máximo todas as ações que levaram a personagem principal a fazer essa caminhada. O espectador percebe logo que a personagem exala carisma e vai nos mostrar uma poderosa história de vida.

Os coadjuvantes, que preenchem o passado e o presente da incrível personagem, ajudam e muito a contar essa história. O grande destaque, sem dúvidas, é a figura da mãe na vida de Cheryl, interpretada pela atriz Laura Dern. Com uma atuação simplesmente fenomenal e uma forcinha do roteiro que volta e meia preenche a tela com informações da intensa relação entre as duas personagens, Dern contribui para que possamos sentir ao máximo toda a verdade que há na relação de uma mãe e uma filha. Pena que as grandes premiações só estão lembrando de Witherspoon  e esquecendo da eterna musa de David Lynch. 

Não deixem de conferir essa profunda história que fala sobre amor e a tentativa do renascimento de uma corajosa mulher.
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