18/05/2015

Crítica do filme: 'Permanência'

Uma das poucas razões de sermos tão apegados as memórias, é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado. O novo longa-metragem estrelado pelo excelente ator brasileiro Irandhir Santos, Permanência, é um filme bem sincero com o público, não há clímax, apenas lembranças de um passado amoroso, a descoberta de novas possibilidades e as conseqüências de assuntos mal resolvidos.  O roteiro, muito interessante por sinal, navega na linha dos bons diálogos. Pensando sobre isso e utilizando essa base como argumento, podemos dizer que possui uma certa semelhança com o clássico de Richard Linklater Antes do Amanhecer.

Na trama, conhecemos Ivo (Irandhir Santos) um fotógrafo de Recife que chega em são Paulo para sua primeira exposição solo. Resolve se hospedar na casa de um antigo amor, Rita (Rita Carelli) hoje casada e um pouco mudada em relação ao que se lembrara dela. Navegando no marasmo das incertezas, o personagem principal desta história tenta se redescobrir como artista, ter mais segurança em sua vida profissional e principalmente se encontrar no viver.

Permanência não deixa de ser atemporal, e um marcante retrato de uma intimidade que pertence apenas aos envolvidos. Aos poucos vamos desmascarando desejos guardados que como um salto de mágica transbordam na vida do protagonista. Nas linhas detalhadas dos ótimos diálogos, papos sobre Twin Peaks, Recife, fotografia envolvem o espectador. A direção de Leonardo Lacca também merece destaque: Inteligente, consegue captar cada detalhe da intimidade dos personagens sem ser indelicado com a história de cada um deles.

Nesse despertar de lembranças, percebemos como é impressionante o trabalho de Irandhir Santos. Esse é um dos poucos artistas brasileiros que consegue desenvolver qualquer tipo de personagem com maestria. Ivo é um homem simples, de fala mansa, que parece redescobrir a vida a cada novo dia. A simplicidade em suas ações, esconde um pouco a confusão de sentimentos que transparecem em determinados momentos de seu presente indefinido.


Permanência estreia nas salas de todo o Brasil no próximo dia 04 de junho. Esse é uma daquelas raridades intrigantes que volta e meia o cinema nacional surpreende o público positivamente.
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17/05/2015

Crítica do filme: 'Maggie - A Transformação'

Dirigido pelo estreante em longas-metragens Henry Hobson e um dos filmes sensações do último Festival de Tribeca, Maggie - A Transformação é um drama disfarçado de suspense que tenta se sustentar como pode na boa atuação (quem diria) de Arnold Schwarzenegger. O roteiro é arriscado, provoca indagações e sugere conseqüências eminentes para as ações dos personagens. De alguma forma, a história prende em alguns momentos mas a falta de um clímax, além de uma convincente atuação da protagonista, atrapalha a interação com o público.

Na trama, acompanhamos a saga do fazendeiro Wade (Arnold Schwarzenegger), um homem já na casa dos cinqüenta anos que percorre uma cidade, infestada de infecções causadas por um vírus, atrás de sua filha Maggie (Abigail Breslin). Após duas semanas ele a encontra, infectada, em um hospital. A política do governo em relação ao tratamento para o vírus é colocar em quarentena todos os seres humanos que fossem infectados. Com a ajuda de um médico amigo da família, Wade consegue levar Maggie para casa mas ele sabe que assim que o vírus tomar conta por completo de Maggie ele terá que tomar uma decisão sobre o que fazer com o destino dela.

Sabe aquela história que tinha tudo para dar certo mas de certa forma não agrada por completo? Isso acontece com este projeto, que teve boa aceitação no prestigiado festival de Tribeca, que ocorreu em abril deste ano. Orçado em cerca de 10 Milhões de dólares, o filme possui uma protagonista sem carisma que não desperta o interesse do público. Recheado de cores frias, mostrando uma atmosfera caótica que vive aquela região, a história é focada em Wade e a decisão que precisará tomar em relação a sua filha.

A atuação de Schwarzenegger surpreende, mostrando com eficácia as dores de um pai de família em crise com qualquer decisão que tomar em relação a sua filha mais velha. Em relação a essa personagem, Maggie, o papel era pra ter sido de Chloe Grace Moretz mas na última hora acabou parando nas mãos da ex- Pequena Miss Sunshine, que infelizmente não consegue desenvolvê-lo da maneira esperada. Não conseguimos nos conectar com as dores de Maggie em nenhum momento.  

Com estreia prevista aqui no Brasil para o dia 09 de julho, Maggie - A Transformação tentará cobrir uma lacuna quase sempre vaga nos nossos cinemas, a de filmes de suspense. Mas provavelmente terão outras estreias melhores do gênero neste ano.


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13/05/2015

Crítica do filme: 'Mad Max: A Estrada da Fúria'



Você pode sobreviver, mas sobrevivência não é vida. De volta aos sets de filmagens para recriar ou até mesmo repaginar sua própria criação, o espetacular cineasta australiano George Miller, depois de uma passagem curiosa como diretor da animação Happy Feet: O Pinguim, juntamente com um elenco para lá de competente, consegue realizar a façanha de melhorar sua grande obra-prima. Mad Max: A Estrada da Fúria é uma daquelas mágicas cinematográficas que não deixam nossas mentes pararem de se exercitar. 

Na trama, conhecemos o solitário Max (Tom Hardy), um homem com traumas de seu passado que vive em um mundo recheado de maldade onde todas as pessoas fazem de tudo sobreviver. Certo dia, é capturado por um grupo terrível que controla uma região e feito prisioneiro. Quando estava perdendo o último fio de esperança que brotava em seu coração, consegue uma única oportunidade de escapar e fugir daquela loucura. Assim, conhece a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), uma mulher que luta para fugir da ira de um tirano cruel e o intrigante Nux (uma atuação espetacular do britânico Nicholas Hoult). 

Enxergamos esse novo mundo pelos olhos do personagem principal. A natureza humana e o desespero pela não extinção são expostos à flor da pele. No contexto da trama, a terra estava estéril. Brigas diárias por petróleo, água ou qualquer tipo de riqueza que nosso planeta possui eram constantes. Essa personificação do desespero que vivia a população é o reflexo das atitudes impiedosas do personagem mais sinistro do ano, Immortan Joe (atuação impactante do ator indiano Hugh Keays-Byrne).

Max (mais uma atuação exemplar do sempre ótimo Tom Hardy) é um homem reduzido aos fiapos que possui do seu instinto de sobrevivência. Assombrado por um passado que não conseguiu proteger e vivendo em um mundo selvagem, com as pessoas beirando à loucura, e onde a racionalidade perde a vez, cada novo dia é uma experiência com altas cargas de emoção. Max nos faz conseguir traçar paralelos e criar analogias criativas quando pensamos em analisar a situação do mundo hoje e essa experiência (apocalíptica), que não deixa de ser uma teoria inteligente e uma crítica ao mundo em que vivemos hoje.

Com alta carga de adrenalina, a ação é constante ao longo dos 120 minutos de projeção, o público sai da sala de cinema e parece que correu uma maratona de São Silvestre. Nossos olhos absorvem tanta informação que parece que estamos dentro daquela história, tudo dentro do magistral roteiro assinado por George Miller, Brendan McCarthy e Nick Lathouris, é interessante.  O cinema que faz pensar tem esse poder de nos fazer sonhar e refletir sobre nossa própria existência.
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10/05/2015

Crítica do filme: 'Romance Policial'

Os verdadeiros escritores encontram as suas personagens apenas depois de as terem criado. Citando o escritor búlgaro Elias Canetti, começamos a escrever sobre esse novo trabalho do experiente diretor chileno Jorge Durán, Romance Policial, uma mistura de drama sobre um homem e sua razão de ser, embolado em uma trama de suspense, triângulo amoroso e assassinato.  O roteiro é circunspeto, beira ao estouvamento e no fim acaba convencendo pela força de seus personagens e os seus mistérios.

Na trama, conhecemos o escritor Antônio (Daniel de Oliveira), um homem sequioso para escrever uma nova história que resolve viajar sozinho para o Chile, mais precisamente para o Deserto do Atacama. Durante seus dias de hospedagens, passa horas e horas caminhando para um nada cheio de areia, procurando alguma boa ideia para começar o novo texto. Certo dia, horas após aceitar carona de um homem, durante uma dessas caminhadas que fazia, encontra um corpo no chão e acaba sendo suspeito do assassinato pela polícia local. Assim, surge em sua vida a chilena Florencia (Daniela Ramírez) com quem terá momentos calientes e que o ajuda a resolver o mistério em que se meteu.

Uma coisa é a literatura, uma coisa é a vida, ou são a mesma coisa? Inocente ou culpado, a vida do protagonista não seria mais a mesma. Ele sabia disso. Romance Policial é o público acompanhando os passos de um forte personagem, que tem uma bela interpretação de Daniel de Oliveira. Apaixonado por Florencia e pelo personagem que era ela, Antônio encontra as respostas que tanto queria mas sabe que não pode ter tudo o que queria. É um personagem real, que podemos encontrar em qualquer esquina, isso aproxima o espectador, gera empatia.  Além de Antônio, outro personagem, o detetive chileno, interpretado por Alvaro Rudolphy, que aparece na história para ser um dos vértices do triângulo amoroso instaurado, é ótimo! Se mete em muitos diálogos burlescos com o protagonista.


No arco inicial, contextos e formação de características do personagem principal possuem uma concepção muito rasa, dificulta-se a leitura e própria interpretação pelo público. A lentidão com que a história caminha, talvez para entregar bem mastigadinho cada detalhe que se tornaria útil na montagem do quebra-cabeça, atrapalha um pouco (não há como negar), porém, de certa forma, você não consegue tirar os olhos da tela. Talvez seja a fotografia (maravilhosa, por sinal), ou o deleito de ver Daniela Ramírez na telona, ou mesmo a história quando veste a camisa do suspense. 
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07/05/2015

Crítica do filme: 'Argus Montenegro e a Instabilidade do Tempo Forte'

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina. Dirigido pelo cineasta Pedro Lucas, o documentário gaúcho Argus Montenegro e a Instabilidade do Tempo Forte é uma aula de história da musicalidade brasileira dos últimos 50 anos, contada pelo protagonista, o genial baterista Argus Montenegro. Usando a música, e principalmente as batidas da bateria, vamos aprendendo, por meio de curiosidades, um pouco mais sobre a cultura brasileira e todas suas origens relacionadas à musicalidade.

Nos curtos 80 minutos de projeção, vamos acompanhando histórias e mais histórias que envolvem as incríveis batidas de bateria e os dramas pessoais de Argus Montenegro. O personagem principal gosta de tocar Jazz e samba, virou uma referência em sonoridade, no ambiente musical, não existe quem não conheça Argus. Com suas baquetas frenéticas nas mãos e seu jeito cativante de Forrest Gump, esse velhinho viciado em bateria é um personagem super interessante, que merece ouvidos de todos atentos para suas eletrizantes histórias.

Nunca tirando do pé um all star das antigas essa verdadeira enciclopédia da música brasileira tem um temperamento forte, fruto talvez de sua espontaniedade e hiperatividade. Uma das partes mais legais do documentário, é quando Argus lista em voz alta (em um caderninho antigo) todos os cantores que ele já acompanhou com sua bateria, nomes como: Sergio Mendes, Tom Jobim, Elis Regina, Cauby Peixoto, Paulinho da Viola, Emílio Santiago, Aguinaldo Rayol e outros grandes músicos da música popular brasileira.


Além de tudo que listamos acima, é muito bonito ver um senhor de idade se divertindo no seu ‘brinquedo’ que vira diversão e seu ganha pão há tantos anos. Argus é um daqueles notáveis brasileiros, raros, que se desenvolvem e transformam-se fazendo aquilo que amam. Tá na alma, ta no coração. Vale a pena sentir essa emoção.  
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Crítica do filme: 'The Babadook'



Uma das mais recentes esperanças dos cinéfilos que curtem o gênero terror, o longa-metragem australiano The Babadook (ainda sem sinal de que vai estrear no Brasil), se resume em uma, apenas, brisa aterrorizante. Tinha uma grande possibilidade de ser um ótimo filme mas acaba se arrastando em diversas partes além de arcos muito mal definidos. De positivo, temos as boas atuações de Essie Davis e Noah Wiseman que convencem em seus personagens. A direção da estreante em longas-metragens Jennifer Kent é apenas regular, alternando ótimas sequências e outras bem mornas. 

Na trama, que fala sobre o universo do bicho papão em forma de entidade, conhecemos Amelia (Essie Davis), uma mãe solteira que vive em uma casa pra lá de estranha com seu único filho Samuel (Noah Wiseman). O garoto vive em um mundo solitário, não consegue ter amizades e sempre gera uma grande dor de cabeça para sua mãe. Certo dia, ele acha um livro macabro e a partir disso começa a ver um monstro pela casa. Sua mãe, a princípio, não acredita nele mas coisas estranhas começam a acontecer também para ela. 

O climão tenso que tenta grudar na história do seu início ao fim, é uma das coisas mais difíceis de acontecer em longas-metragens do gênero terror. Mas mesmo conseguindo esse ótimo ponto de interação com o público, o filme prende bem forte a atenção em alguns momentos, The Babadook parece não ter ritmo, falta alguma peça para segurar a atenção completa quando o filme cai de rendimento quando começa a iniciar o contexto ligados ao passado dos personagens que para piorar se mostram totalmente desnecessários para os desfechos dos personagens.

Não é um filme ruim, longe disso. Acredito que a decepção será percebida mais forte pelos cinéfilos, de acordo com a ansiedade de cada um após ler a sinopse. De qualquer forma, se estreasse no Brasil, The Babadook tinha uma boa possibilidade de bom público. Temos uma certa carência no circuito cinematográfico brasileiro em relação a filmes de terror, poucos chegam por aqui.
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06/05/2015

Crítica do filme: 'Apenas entre Nós'

Falando sobre relacionamentos, família e infidelidades à flor da pele, o diretor croata Rajko Grlic, que dirigiu o ótimo Karaula (2006), apresenta ao público uma fábula moderna sobre o amor e o desejo, situada em uma europa fria mas com impulsos ardentes incansáveis. A câmera de Grlic merece destaque pois consegue encontrar os caminhos para traduzir ao público cada detalhe das ações, muitas impensadas, pelos personagens.

Para o personagem principal, interpretado brilhantemente pelo Tony Ramos da Croácia, Miki Manojlovic, só existem duas religiões: O amor e as outras. Assim, os curtos 88 minutos de projeção, vão se moldando a partir de situações e descobertas de um quarteto familiar que não encontra o ponto de equilíbrio na maturidade que regem suas vidas. Cada personagem, cada um mais interessante do que o outro, vão dando um certo ritmo à fita vencedora de alguns prêmios no leste europeu no ano de seu lançamento, 2011.

Há a questão cultural, diferente da que vemos por aqui (ou nem tanto), sobre a maturidade no amor. Uma das coisas mais interessantes neste longa-metragem é exatamente descobrir ou tentar entender melhor como são os conflitos amorosos aos olhos dos filhos da região que comportava a ex-união soviética. Mas o filme é longe de ser somente um retrato de uma comunidade, é amplo em tentar apresentar argumentos para as teorias dos relacionamentos modernos e todo o impulso, não só sexual, que envolve muitas relações.


Com certo atraso, Apenas Entre Nós finalmente chega aos cinemas brasileiros nesta próxima quinta-feira (07.05). É a grande oportunidade dos cinéfilos conferirem esse belo trabalho.  Esse é um filme que Nelson Rodrigues abriria um sorriso e faria rapidamente analogias certeiras com muitas de suas eternas histórias. 
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03/05/2015

Crítica do filme: 'Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência'

A moralidade é a melhor de todas as regras para orientar a humanidade. Ganhador do Leão de Ouro no último Festival de Veneza, Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência é um dos filmes mais invulgares deste ano, passando uma certa zoação em relação a situações do cotidiano da humanidade, o que acaba tendendo o roteiro ao tragicômico. Pode ser que a primeira vista o filme seja completamente incompreensível beirando à loucura mas quando se sossega o baque do inusitado vamos começando a perceber uma lógica interessante contidas em situações estranhas que se metem os personagens.

Exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP do ano passado, Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência conta a história de dois vendedores ambulantes, Sam e Jonathan (um deles obviamente beirando ao apocalipse mental), que estão cansados da sociedade em geral. Aos poucos vamos vendo essa linha de pensamento dessas duas almas que vão refletindo sobre os casos e situações da vida e como cada ser humano pode vir a  encarar todo tipo de sentimento, da alegria à tristeza, da emoção de felicidade à vergonha.

Nessa parte final de uma trilogia sobre o ser humano, o longa-metragem dirigido pelo inteligente Roy Anderson termina um conjunto de três filmes que contém também Vocês, Os Vivos e Canções do Segundo Andar. Todo modelado por esquetes intrigantes e algumas até meio sem sentido, vamos fazendo um tour pela natureza humana. Situações estranhas, pessoas comuns, atos de seres humanos. É um grito de loucura que vai chegando ao seu brilhantismo quando conseguimos aos poucos reunir as peças desse quebra-cabeça comportamental.


Sempre, em todas as esquetes, há uma câmera propositalmente colocada distante dos personagens. É como se precisássemos de toda a atenção do mundo para entender o filme. A história vai fisgando o público aos poucos e obviamente é uma daquelas obras que vista por uma segunda vez alguns pontos ficam mais escancarados que da primeira vez. Há uma grande linha tênue entre o comum e o estranho, Roy Anderson com muita habilidade e coragem consegue se manter firme e forte no meio termo, onde chamamos carinhosamente de genialidade. 
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26/04/2015

Crítica do filme: 'Uma Longa Jornada'

Viver é super difícil, o mais fundo está sempre na superfície. Baseado em mais um livro de sucesso de Nicholas Sparks, The Longest Ride, Uma Longa Jornada conta com mais uma história de amor cheio de dramas e emoções, neste caso recheado dos mais apurados clichês que a indústria cinematográfica norte-americana pode criar. É uma produção feita com bastante água com açúcar que conta com Scott Eastwood, filho do cineasta Clint Eastwood como protagonista.

Na trama, conhecemos o cowboy Luke Collins (Scott Eastwood), um jovem que após um grave acidente com um temível touro, tenta recuperar a boa forma para conquistar o título mundial que sempre sonhou. Em um desses rodeios, acaba conhecendo a estudante Sophia Danko (Britt Robertson), uma jovem determinada e com muitos sonhos profissionais prestes a serem realizados. Logo o amor inicia seu percurso para os dois pombinhos mas tudo nessa área de amor é mais difícil e quando cruzam o caminho com senhor Ira Levinson (Alan Alda), partem rumo a um destino inesperado e cheio de emoção.

Há uma certa química entre os protagonistas, interpretados por Scott Eastwood e Britt Robertson. O primeiro se mantém gelado ao longo da projeção, evitando qualquer deslize de seu personagem, talvez . A segunda é o motor da história, sempre com uma delicadeza simpática que trás luz para algumas cenas. A presença de Alan Alda como coadjuvante nesta produção é um dos pontos altos da trama, sempre com uma elegância e presença preponderantes em cena. A direção de George Tillman Jr., do ótimo Homens de Honra,é apenas regular e parece não fazer mais nada além do que o feijão com arroz básico de qualquer diretor que não quer se comprometer.


Aos poucos no mundo do cinema, vai nascendo o gênero Sparks, uma mescla de romance, drama, clichês e comédia. A cada nova temporada, sabemos que o próximo livro de Sparks já é 100% certo de virar filme. Mesmo mudando os atores protagonistas, os diretores, a essência dos textos do milionário escritor tentam ser preservadas, a questão que complica as vezes quando se passa uma história de Sparks para o cinema é a quantidade de clichês que os produtores/diretores/quem investe um grana no marketing para o filme acontecer insere no longa-metragem para tornar o filmes mais comercial. Simplesmente desnecessários em quase todas essas adaptações.
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Crítica do filme: 'Um Dia Difícil'

Você nunca vê dias difíceis em um álbum de fotografias, mas são eles que levam de uma foto feliz até a próxima. Depois de oito anos longe das telonas, o diretor sul-coreano Kim Seong-hoon volta aos cinemas com o suspense misturado com a ação Um Dia Difícil, uma história eletrizante que lembra e muito o ótimo Oldboy de Park Chan-wook. Um dos grandes méritos deste fabuloso trabalho é a criatividade na hora de rodar as cenas, o roteiro tenta fugir o tempo todo do óbvio e chega bem próximo a uma realidade que realmente pode existir nas situações e ações que acontecem com o personagem principal.

Na trama, conhecemos o detetive Gun-Su (Lee Sun-kyun), um homem que vive uma vida simples ao lado de sua família. Certo dia, no dia do enterro de sua mãe, quando estava dirigindo por uma avenida deserta, atropela um homem. Desesperado e sem saber o que fazer, tem a ideia de esconder o corpo do acidentado dentro do caixão de sua mãe. Com a consciência pesada mas achando que tudo estava resolvido, Gun-Su é surpreendido mais uma vez com uma ligação anônima dizendo saber tudo o que aconteceu. Assim, o protagonista precisa reunir todas as partes do quebra-cabeça e tentar de vez sair limpo desta história.

Desde o primeiro minuto de projeção, já percebemos que estamos diante de um filme no mínimo interessante. Os mistérios que envolvem a trama, os intrigantes personagens, o show na manipulação da câmera do diretor, a ótima atuação (e reações) do protagonista Lee Sun-kyun vão criando um longa-metragem completo que abastecem a sede de qualidade que todos nós cinéfilos sentimos.   


Explosivo, tenso, misterioso. Um Dia Difícil é um daqueles filmes em que não conseguimos tirar os olhos da tela. O roteiro, assinado por Seong-Hun Kim, Seong-hoon Kim, Hae-jun Lee, é brilhante! Lembra em vários aspectos o clássico sul-coreano Oldboy e alguns blockbusters norte-americanos mas com a diferença fundamental de que os clichês contidos nos blockbusters simplesmente não existem nesse ótimo filme que foi exibido em Cannes no ano passado. É um filme para todo tipo de público. A diversão é mais que garantida, é quase vivida! 
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23/04/2015

Crítica do filme: 'A Viagem de Yoani'

A maior expressão da liberdade de nossa parte, é quando respeitamos o direito à liberdade dos outros. Chegou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira (23), o polêmico documentário, dirigido pela dupla Raphael Bottini e Peppe Siffredi, A Viagem de Yoani. Construindo um computador sozinha, comprando peças no mercado clandestino nas periferias de Cuba, a jovem protagonista se tornou rapidamente um sucesso da rede mundial de computadores. Seu site, Geração Y, é traduzido para 20 países e hoje é considerada por pesquisas como uma das mulheres mais influentes do mundo.

Com belíssimas imagens da eterna ilha de Fidel, o documentário conta um pouco sobre a história da cubana Yoani Sanchez e sua conturbada visita ao Brasil depois de anos sem poder sair da ilha onde nasceu. Somos jogados em um mundo cubano de anos atrás com várias curiosidades, como: o acesso à internet nos hotéis, uma das poucas formas de contato de liberdade do povo com o mundo. Um país tão controlador, ter um blog e expressar sua opinião é algo que gera um certo medo mas Yoani era movida pela vontade de contar ao mundo a sua visão da história cubana nas últimas décadas. Mas ao longo dos curtos 75 minutos, outros argumentos são apresentados e colocam em xeque a credibilidade dessa celebridade da internet mundial.

Quando a protagonista desembarca no Brasil, muitos manifestantes a favor de Fidel fazem protestos calorosos por onde ela passa. Um copo cheio de insatisfações com o totalitarismo de Fidel e Cia são um dos grandes focos de Yoani na maioria de seus textos. Militantes, alguns obviamente movidos por motivos duvidosos, pois, deixam claros em depoimentos curtos ao longo do filme que nunca visitaram e viram as realidades de Cuba, fazem protestos que se seguram na linha tênue entre a violência verbal e a física. Esses intensos relatos são as partes mais tensas deste excelente documentário.


O filme é uma grande mesa de debates, apresenta argumentos a favor e contra Yoani. O público é munido de pensamentos, situações e teorias, chegando a diversas conclusões que podem ir variando conforme os minutos de projeção passam. Essa imparcialidade com o tema, eleva a qualidade deste trabalho que merece ser discutido e a discussão ampliada em salas de aula e em universidades. Usar o cinema como forma de ensinar e formar a opinião crítica dos jovens é uma das coisas mais inteligentes que existem.
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