30/04/2016

Crítica do filme: 'Maravilhoso Boccaccio'



Dirigido e roteirizado pelos craques e experientes cineastas Vittorio Taviani e Paolo Taviani (dos excelentes Pai Patrão e Cesar deve Morrer), Maravilhoso Boccaccio não deixa de ser, a princípio, uma grande homenagem à cultura italiana onde navegam por algumas histórias que estão no famoso livro de Giovanni Boccaccio, Decamerão.  Os irmãos Taviani, com muita habilidade, aos poucos vão explorando as fragilidades dos personagens (que são muitos) de maneira muito objetiva e as sequências vão tomando forma de maneira elegante e muito simpática na tela. O público se sente a todo instante folheando páginas de um livro conhecido mas que dessa vez com imagens que personificam as emoções ligadas ao coração. 

Exibido no Festival de Tribeca 2015 e no Festival do Rio do mesmo ano, Maravilhoso Boccaccio se passa na Florença do século XIV, que foi duramente atingida pela terrível peste negra. Com medo das consequências dessa temível peste, alguns jovens, poucos rapazes e muitas moças, meio que resolvem fugir do caos da cidade e tentam achar abrigo em uma grande casa, distante do epicentro da doença, onde, sem muito o que fazer, resolvem contar histórias para passar o tempo. 

O longa-metragem, que estreia no Brasil na próxima quinta-feira (05), explora a simplicidade para provocar o imaginário, mais ou menos o poder que um poderoso e rico livro tem quando se conecta à nossa imaginação. Algumas cenas parecem um teatro aberto, onde olhamos para cada centímetro buscando absorver tudo que aquela sequência representa para a história. A dor e o medo são os primeiros a serem encontrados, exemplificado no instinto clássico de sobrevivência que nesse caso é valorado pela fuga. A amizade logo chega de maneira predominante e regras são impostas para fazer a ponte com outro sentimento: a dúvida, que se mostra presente do segundo ato em diante, às vezes camuflada de ansiedade.

Maravilhoso Boccaccio é um daqueles trabalhos que conquistam o público já nas primeiras cenas. Tudo é tão delicado que beira ao poético. Não percam este lindo filme.
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Crítica do filme: 'Ele está de Volta'



E se Adolf Hitler acordasse na Berlim de hoje? O que aconteceria? Qual seria sua reação e a do povo? Brincando com a imaginação, o cineasta David Wnendr comanda um filme assustador pela ideia e cômico como longa-metragem. Ele está de Volta brinca de maneira séria com uma das pessoas mais odiadas que já existiu neste planeta, como seria seu modo de pensar nos dias atuais, suas metas de governo, tudo isso em forma de sátira e diálogos impactantes além de pitadas equilibradas de humor. Interpretado pelo ator alemão Oliver Masucci, o personagem principal se torna praticamente uma espécie de Borat, deixando em algumas sequências a própria reação abismada dos que acompanhavam a filmagem tomarem conta das cenas.

Na trama, já no século XXI, um homem acorda em pleno gramado, onde perto estão fazendo uma gravação. Esse, não é um homem desconhecido, é o ditador Adolf Hitler que acorda fardado e meio sem entender onde está, consegue refúgio em uma banca de jornal onde começa a se atualizar sobre sua atual situação. Certo dia, um fracassado jornalista resolve procurá-lo e o leva ao poderoso mundo televisivo onde o Hitler dos dias atuais terá bem mais que 15 minutos de fama. 

Bem menos sério que o excelente A Onda, Ele está de volta explora com bom humor e pitadas de atos grosseiros como seria o modo de pensar de Hitler para a situação da Alemanha hoje, sem perder o seu poder de convencimento sobre suas ideias. O restante dos personagens viram meras marionetes nas mãos do Ex-Führer. O filme, que estreou na Alemanha no ano passado, e que chegou faz pouco tempo no netflix, se coloca mais ou menos como Sacha Baron Cohen e seu Borat, explorando o universo das cenas gravadas abertas, com a participação do público para as situações do filme. 

O longa-metragem ganha muita força quando embarca no universo poderoso do poder da mídia e a influência da mesma na vida das pessoas. Hitler aparece em diversos programas de televisão e toma conta da audiência, parece que relembramos os livros de história do segundo grau quando líamos sobre o poder das orações desse homem que quase dominou o mundo com seus ideais polêmicos e cruéis. O que deixa mais abismado é a reação de algumas pessoas quando acham que Hitler é apenas um ator (dentro do contexto do filme), vira celebridade instantânea e ganha a atenção de muitos. 

Ele está de volta não estreou na janela cinema. Se tiver oportunidade de assistir, assista. É um trabalho muito interessante e que nos faz refletir a todo instante.
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15/04/2016

Crítica do filme: 'Geraldinos'

Uma das grandes graças do maracanã, a alegria do povo, uma história que infelizmente só iremos ver nos registros e nos depoimentos apaixonados pelo mundo da bola. Dirigido por Pedro Asbeg e Renato Martins, o longa-metragem Geraldinos presta uma homenagem ao grupo de torcedores mais famosos de um estádio de futebol brasileiro. Com imagens históricas de uma época em que o torcedor podia acompanhar seus ídolos de pertinho, o filme navega por depoimentos e imagens marcantes de um época que bate saudade.

Geraldinos investe forte na lógica de preencher seu espaço até virar um longa-metragem com imagens interessantes que compõem uma narrativa saudosa e simpática. Já no segundo arco, o projeto vai a fundo na questão do extermínio da geral. Antigamente, desde a década de 50, o maraca era uma grande arena da democracia, ingressos a preços populares que reunia todas as classes sociais em volta de um jogo. Após a entrada de empresas, todo o processo polêmico de privatização, no comando deste patrimônio cultural a cidade, tudo aquilo que existia se foi, mesmo sabendo que a cultura que o futebol representa é maior que qualquer empresa privada.


Com depoimentos de grandes ex-jogadores e competentes jornalistas esportivos cariocas como Apolinho, o galinho Zico, o baixinho Romário, Lúcio de Castro vamos percebendo a tristeza nas falas por conta do extermínio de um ponto do mais conhecido estádio do planeta que nunca poderia ter se encerrado.  Chegamos a conclusão que é uma derrota de um projeto de cidade, a eletização dos espetáculos da cidade de alguma maneira reflete em um maracanã mais fraco, que é para alguns e não para todos.
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09/04/2016

Crítica do filme: 'Caçadores de Emoções (2016)'



Dirigido pelo cineasta Ericson Core, o remake do clássico de Bigelow, Caçadores de Emoções é mais um daqueles filmes, oriundos de outro, que nunca deveriam ter saído da imaginação do roteirista. Com uma trama nada envolvente, atuações pífias (extremamente forçadas) e uma direção que mais parece querer criar vários clipes de músicas agitadas da MTV, o projeto nem de longe é a homenagem que a galera de Keanu Reeves e Patrick Swayze merecia por ter marcado todo uma geração com o primeiro original.

Na trama, conhecemos o ex-perito em esportes radicais Utah (Luke Bracey), que agora é agente do FBI, que descobre uma quadrilha especializada em esportes radicais que não obedece a lei. Sendo assim, pede permissão para se infiltrar como agente disfarçado nessa quadrilha e assim acaba conhecendo o líder do bando Bodhi (Edgar Ramirez), um homem cheio de inconsequências nas ações que busca percorrer 7 desafios que ninguém nunca conseguiu. 

Esse remake muito se diferencia do filme original. Alguns rasos paralelos como os nomes dos personagens, uma leve lembranças ao clássicos assaltos a banco com rostos de ex-presidentes norte-americanos, são o que encontramos à vista grossa de semelhança. Tudo é muito diferente. O roteiro não consegue ter o brilho que o primeiro tinha. A direção não chega aos pés, nem à criatividade, que Bigelow conseguiu no primeiro filme. A dupla de protagonista deste...melhor nem comentar. Inventar um universo em cima de outro universo precisa ser um trabalho quase que perfeito para que tenha alguma chance de sucesso no mundo mágico do cinema. Obviamente, Caçadores de Emoções do ano de 2016 não consegue isso.

Em vez de cuidar com carinho do lado emocional dos personagens e tentar passar um pouco de emoção ao público, o diretor optou por focar nas cenas de ação e adrenalina que mais parecem clipes de esportes radicais.  
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08/04/2016

Crítica do filme: 'À Três Vamos Lá'



Nas leis do amor, os limites são meros e delicados detalhes. Escrita e dirigida pelo cineasta Jérôme Bonnell, À Três Vamos Lá é quase que um conto de fadas com alternâncias entre a profundidade do amar e as crônicas que se pode esperar de um conflituoso porém extremamente simpático triângulo amoroso. Ao longo dos curtos 85 minutos de projeção somos testemunhas de uma história nem tão original mas com uma narrativa empolgante e uma direção para lá de competente. 

Com todas as filmagens ocorrendo na linda cidade de Lille, na França, o longa-metragem, que chega ao Brasil no próximo dia 14 de abril, conta a história de Mélodie (Anaïs Demoustier), uma jovem e valente advogada que se encontra em um dilema tanto na sua vida profissional, quanto em sua vida pessoal. Micha (Félix Moati) e Charlotte (Sophie Verbeeck), amigos de Mélodie, são um casal que faz meses que não se entendem e um dos motivos pode ser a própria Mélodie com que mantém um caso com cada um dos personagens. Alternando comédia e drama, este belo filme percorrerá com grande linha objetiva os caminhos de um relacionamento.

O roteiro é empolgante, consegue transformar três personagens em protagonistas sem que em nenhum momento haja algum tipo de conflito. As personalidades dos três personagens é algo muito bem trabalhado: Melanie e seu jeitinho doce mas que esconde uma personalidade forte que se encontra em um momento de conflito em vários campos de sua vida, Charlotte e suas eternas dúvidas sobre como amar e como descobrir uma maneira de renovar seu relacionamento, Micha com seu ar de tolo apaixonado que acaba amando e sofrendo duas mulheres cada uma de maneira completamente diferente. O legal desse conjunto é que torcemos o tempo todo para um final feliz para todos, tamanha a empatia contida em cena.

 Sem dúvidas é um filme com um toque de Nelson Rodrigues, não pela temática picante envolvida mas pela questão do olhar profundo que Bonnell consegue identificar ao olhar por trás da porta deste trio de jovens praticamente envolvidos em sua vontade de gritar pela liberdade do ato de amar.
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