04/06/2017

Crítica do filme: 'Mulher-Maravilha'

O coração da mulher, como muitos instrumentos, depende de quem o toca. Criada em 1941 por William Moulton, depois vista na série homônima da década de 70, um dos mais aguardados lançamentos deste ano era sem dúvidas esse blockbuster Mulher-Maravilha. Dirigido pela californiana Patty Jenkins (do impactante Monster: Desejo Assassino) e protagonizado pela belíssima Gal Gadot, o filme foca no feminismo e representativa da personagem título sendo também resgatada sua origem ligada a mitologia grega com citações a deuses poderosos e suas principais qualidades como guerreira.

Na trama, conhecemos uma ilha paradisíaca chamada Temiscira, onde só moram mulheres e possui como sua líder a rainha Hippolyta (Connie Nielsen).  Desde pequena, a jovem e futura amazona princesa Diana (Gal Gadot) queria ser uma guerreira e quando cresce descobre segredos de sua força. Certo dia, um avião cai no mar e Diana salva o único tripulante, o militar e espião Steve Trevor (Chris Pine) de quem escuta que o mundo está em guerra. Após navios inimigos tentarem invadir Temiscira, Diana resolve embarcar em uma viagem rumo à desconhecida humanidade, buscando encerrar o conflito mundial e assim também lutar pelo bem estar de todos ao seu redor.

O filme foca seu primeiro arco na infância e adolescência de Diana, uma princesa de um reino visualmente deslumbrante escondido/protegido do restante da humanidade. Desde a infância, acompanhamos a saga dessa guerreira que a princípio tinha muitas restrições de sua mãe Hippolyta (Connie Nielsen) para que aprendesse as técnicas de luta ensinadas pela General Antiope (Robin Wright). Mesmo guardando segredos sobre sua origem, a Rainha Hippolyta sempre soube que um dia sua filha Diana encontraria seu destino. É quando chega Steve Trevor, um espião envolvido atrás das linhas inimigas que roubou um caderno de anotações importante e está em busca de ajuda para tentar que a guerra tenha vitória das forças aliadas.

O miolo do roteiro explora questões dos homens e suas intermináveis guerras. Os defeitos e qualidades da humanidade são colocadas em xeque pela visão diferenciada e protegida da primeira heroína da DC. Conforme vai descobrindo mais sobre as limitações humanas, Diana vai criando sua própria opinião sobre quem realmente é, e a quem precisa defender. Cenas cômicas entre uma sequência e outra são vistas e dão um toque elegante no choque cultural sofrido pela protagonista.


Em seu arco final, a dor e o sofrimento tomam conta e vão dando a sustentação e maturidade que Diana nunca encontrara, assim como o primeiro amor, assim como sua importância e representatividade feminina.  Mulher-Maravilha é um dos melhores longas metragens feitos pela DC mas sem tanto brilhantismo como alguns clássicos da Marvel. De qualquer forma, essa aventura empolgante cumpre com louvor seu papel de entreter o público com uma boa trama e um roteiro de tirar o fôlego. 
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Crítica do filme: 'Vida'

Claramente inspirado no clássico Alien, Vida, recentemente lançado no circuito brasileiro (onde ficou pouco tempo em cartaz) é uma ficção científica de qualidade transformando uma simples missão espacial em uma mescla de luta pela sobrevivência em paralelo ao senso comum de defesa do planeta. Estimado em 58 Milhões de Dólares, dirigido pelo cineasta sueco Daniel Espinosa (Protegendo o Inimigo) e escrito pelos mesmos roteiristas da sensação de bilheteria do ano passado Deadpool, Paul Wernick e Rhett Reese, o blockbuster apresenta mais lacunas preenchidas sobre sua trama do que a história inesquecível de Ridley Scott. 

Na trama, conhecemos seis astronautas, muitos deles cientistas, que por conta da curiosidade norte americana em continuar explorando o espaço e seus mistérios, são designados para uma missão complexa e cheio de protocolos onde precisam descobrir se realmente há vida inteligente em Marte. Assim, um organismo é encontrado, na verdade coletado, e levado para dentro da estação espacial onde estão para melhor ser analisado. Após dias de comemoração pelas primeiras promissoras descobertas, a instabilidade e o desconhecimento, aliados a impressionante evolução da mostra marciana encontrada, transformam a missão em uma luta pela sobrevivência e escolhas difíceis precisarão ser tomadas.

Como toda conquista norte americana, Nasa principalmente envolvida, os louros e as comemorações chegam logo ao povo americano, tanto que no filme, o nome do organismo ganha o nome de Calvin, em homenagem a uma escola que concorreu com outras dezenas para conquistar esse direito de escolher o nome da espécie que eles mesmo não sabiam direito o que seria e como poderia evoluir. Não chega como uma crítica já que o assunto é abordado de maneira rápida pois o foco do longa fica mesmo no desenrolar da descoberta dos cientistas astronautas, do que o organismo em questão é capaz.

O clima de tensão é grande durante todo o filme. Quando os astronautas perdem o contato com o centro de controle espacial na Terra, os ânimos variam, e decisões precisarão ser tomadas em grande equilíbrio, principalmente pelo fato/risco do organismo marciano conseguir sobreviver e chegar de alguma forma na atmosfera do nosso planeta. Sem pouco conhecer sobre o organismo, um gigantesco quebra cabeça de hipóteses é pensado e o comando da missão vai caindo de colo em colo conforme os acontecimentos. O filme em certo ponto vira um grande jogo de rpg onde temos que torcer pelo personagem que mais achamos qualificado para resolver as complexas dificuldades que são apresentadas muito pela consequência da mutação do organismo encontrado.

Não devemos pensar que Life, no original, é uma cópia de Alien, por mais que existam semelhanças. É um filme bom para quem curte tramas do gênero e com um final que deixa a todos de boca aberta.


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01/06/2017

Crítica do filme: 'Kiki - Os Segredos do Desejo'

Falando sobre casos inusitados e vícios peculiares envolvendo desejos sexuais, o cineasta espanhol Paco León (que também atua no filme) reúne algumas histórias de pessoas e seus dramas, em uma Madri diversificada e cada vez mais cabeça aberta. Kiki - Os Segredos do Desejo, com estreia confirmada para a próxima quinta-feira (08), é quase uma reunião de curtas que tenta explorar o mais profundo possível tabus e o sofrimento dos casais envolvidos. É um remake com pitada europeia do filme de 2014 do cineasta Josh Lawson, A Pequena Morte.

Na trama conhecemos diversas pessoas que possuem em comum algum fato não comum ligado aos seus próprios desejos sexuais. Tem uma esforçada trabalhadora de barraquinha de tiro em parque de diversão que sente tesão quando o marido chora, tem uma mulher que fica com tesão por plantas e quando é assustada por um assalto, tem outra que se excita tocando nas camisas de sedas, o longa explora também o poliamor em um dos retratos. Essa reunião de histórias bem puxadas para a dramédia tenta colocar respostas em diversos tabus que vemos no mundo aqui de fora da telona.

O uso da comédia é um recurso interessante para falar sobre o tema. O problema é que o filme chega a ser meio bobão em algumas partes, tamanho o exagero em algumas cenas mas tenta sempre dar sua profundidade a temas polêmicos que podem aparecer a qualquer esquina. O projeto, que é uma história adaptada de um filme australiano tenta a todo instante mostrar sua própria personalidade e por vezes consegue. O elenco parece que estudou bem o outro filme (o original), seguem perto da linha de atuação do outro set. Não há compromisso seguido de perto do roteiro com os assuntos abordados em muitas situações, tem vezes, onde percebemos os exageros, que há uma comédia forçada até no gestual dos personagens.


Para quem curte das umas boas risadas sem compromisso e consegue desviar dos exageros Kiki - Os Segredos do Desejo pode ser um bom programa pro próximo fim de semana.
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23/05/2017

Crítica do filme: 'O Esquecimento (Im)possível'

Como filmar o que não existe? O que não tem forma, o que falta? Em busca de preencher lacunas sobre seu pai, um militante argentina em época de ditadura, o cineasta argentino Andrés Habegger tenta recriar os caminhos de momentos importantes da vida desse homem que nunca mais viu desde os 09 anos de idade. O Esquecimento (Im)possível , selecionado para o último Festival é Tudo Verdade, é mais um documentário, um retrato, sobre descobertas através do caos da época em que as ditaduras dominavam alguns países.

Os relatos mais profundos chegam através de um antigo diário repleto de detalhes que Andrés ganhou de seu pai, onde o primeiro registrava histórias de seus dias. Assim, uma espécie de trajetória é pré definida, indo atrás de respostas e reviver alguns passos do pai. Alguns parentes que o conheceram, amigos, lugares onde estiveram, gosto pessoais, curiosidades. Um grande quebra cabeça é instaurado e a cada peça conquistada é uma vitória para esse filho em busca de conhecer verdadeiramente quem foi seu pai.

O Esquecimento (Im)possível, aliás, belo nome de filme, desembarca já em seu último ato no Rio de Janeiro, onde as lembranças dolorosas chegam ao seu clímax pois foi onde o pai do protagonista desapareceu. Sem entender como se filma a ausência, as lindas imagens do Rio de Janeiro e todas as ideias de caminhos que o pai pode ter percorrido se chocam com as realidades de documentos que não dizem muito e  apenas uma esperança de resposta através da Comissão da Verdade.


O documentário em questão levanta mais discussões sobre um tema bastante explorado, a época da ditadura militar. Andrés Habegger consegue criar uma perspectiva diferente, sempre com um olhar emocionado se colocando na posição de um filho que vive com lacunas em seu passado. Nada como um bom filme para que as memórias nunca se esqueçam.
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Crítica do filme: 'El Mate'

Quase um teatro filmado, dois atores inspirados, um roteiro que foge do comum e explora as características psicológicas e a vivência dos personagens. El Mate, selecionado para o último Festival de Cinema de Gramado é um filme corajoso e criativo que explora as excentricidades dos personagens em uma sucessão de situações para lá de incomum.

Na trama, um matador de aluguel latino chamado Armando (Fabio Marcoff,) está sozinho em uma casa grande com um homem russo amarrado em uma cadeira. Certa hora, um jovem evangélico chamado Fabio (Bruno Kott) toca a campainha e acaba sendo envolvido nessa curiosa história repleta de situações extremas, assassinatos, filosofias sobre a vida, fé e loucura.

El Mate é basicamente uma clássica comédia de erros com personagens excêntricos. Lembra um pouco algumas ideias vistas em filmes dos irmãos Coen. O roteiro foge do óbvio, se baseia em situações inusitadas que os poucos personagens em cena acabam passando. Com um tom de comédia bem dosado, os arcos são preenchidos com criatividade. Lembranças do passado dos personagens preenchem lacunas de personalidades deixando um ar nostálgico que consequentemente engrossa o caldo dessa história.


O filme ainda não possui data de estreia no Brasil. A interação entre os dois protagonistas em cena é uma das forças dessa curiosa produção que também possui força no roteiro. É um filme que precisa ser aceito, suas ideias fogem do comum.
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21/05/2017

Crítica do filme: 'Horizonte Bonito'

Um líder é um vendedor de esperança. Falando sobre futebol, sonhos, confiança, amizade e esperança, Horizonte Bonito navega nos conflitos e choques de duas gerações, uma de um jovem cheio de desejos a serem realizados e outra de uma vida marcada por acontecimentos polêmicos já com o coração repleto de desesperança. Um dos grandes méritos do cineasta suíço Stefan Jäger, responsável pela direção do longa metragem, é aproveitar muito bem e com simplicidade todos os elementos que contornam a história mas também não deixar de abordar diversas críticas sociais de uma região carente do mundo.

Na trama, conhecemos o carismático Admassu (Henok Tadele), um jovem que vive em uma região bastante carente da África que possui um grande sonho de ser um famoso jogador de futebol e dar orgulho para a comunidade onde vive. Quando descobre que um duvidoso e ranzinza agente de futebol Franz (Stefan Gubser) vai aterrissar em sua cidade, ele resolve bolar um plano mirabolante para ganhar a confiança dele e assim pedir que o ajude a realizar seu grande sonho. Assim, a dupla embarca em uma jornada de autodescoberta onde ambos irão aprender mais sobre a vida.

Muitos jovens no mundo todo tem o sonho de ser um jogador de futebol. Para um de nossos protagonistas é muito mais que isso, o futebol é um misto de esperança e oportunidade. A magia da simplicidade transforma uma bola de meia em momentos de diversão e confraternização com os amigos. Admassu não sabe como é o mundo fora do ligar onde vive, replica sonhos por meio de informações que chegam ao lugar onde mora, muitas vezes incompreendido, se vê sozinho dentro de seus sonhos. O ar leve do filme e quase sempre puxando pra comédia, vira o terreno perfeito para a entrada de um personagem totalmente oposto a Admassu, e, assim, as lições chegam por meio das consequências desse choque  de gerações, vivências e maneiras de ver a vida.

Sem previsão para desembarcar no circuito brasileiro, Horizonte Bonito é um grande achado em meio a ótima cinematografia alemã e suas co-produções. Um filme leve que com bastante maturidade e simplicidade se impõe com críticas sociais que atormentam nosso mundo.


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Crítica do filme: 'Gifted'

Todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo. Dirigido pelo cineasta Marc Webb (do ótimo 500 Dias com Ela), Gifted explora um retrato emocionante de uma família de uma garotinha excepcional e todas as variáveis que a cercam. Bem objetivo em seu roteiro, assinado por Tom Flynn, o longa metragem, sem previsão de estreia no Brasil, conta com apaixonantes atuações de Chris Evans (o Capitão América) e Mckenna Grace.

Na trama, conhecemos a rotina de Frank (Chris Evans) um mecânico de barcos autônomo que largou as salas de aula para se dedicar a criação de sua sobrinha, agora com sete anos, logo após o falecimento trágico de sua única irmã. Ao longo dessa jornada que mudou sua vida radicalmente, Frank percebe que a pequena é super dotada e possui uma mente matemática brilhante levando a jovem a vários conflitos na escola que é matriculada. Quando a direção orienta Frank a matricular Mary em uma escola especializada em aulas com grande eficiência nos estudos avançados de matemática, a avó da criança Evelyn (Lindsay Duncan) aparece na história e resolve lutar pela guarda da jovem prodígio levando a todos a uma batalha judicial.

A objetividade do roteiro chama a atenção. Não se perde em nenhum momento e preenche as lacunas deixadas com muito eficiência por meio de diálogos e surpresas que vão aparecendo ao decorrer dos 101 minutos de projeção. Os arcos são divididos cirurgicamente e entendemos as razões e consequências por meio de muitas sequências de emoções que o filme provoca. O carinho do tio/pai Frank e a visão filosófica que ele tem do mundo servem de aplicação e complemento para a mente super desenvolvida da jovem. Frank quer que ela cresça como uma criança comum, que tenha amigos e desenvolva uma vida em sociedade. Já a avó que entra na história de maneira fervorosa é traz consigo mágoas de um passado constante por conta do conturbado relacionamento com os filhos, principalmente com a mãe da menina.


Os conflitos provocados por essas duas linhas do pensar são apresentados, os personagens se constroem e se desconstroem em sua maneira de pensar, principalmente o protagonista. Os coadjuvantes, a professora de Mary e a vizinha de Frank chegam na trama dando novas óticas e opiniões sobre a situação. Quando o caso vira jurídico, novos argumentos são apresentados rumando para um final emocionante onde o amor e suas variáveis tendem ao infinito.


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17/05/2017

Crítica do filme: 'Night Will Fall'

A humanidade tem de acabar com a guerra antes que a guerra acabe com a humanidade. Reunindo imagens aterrorizantes dentro de campos de concentração nazistas já no fim da segunda guerra mundial, além de uma curiosa história sobre filmes que mostrariam a verdade nua e crua das consequências dos atos nazistas, o produtor e cineasta Andre Singer traz aos olhos do planeta uma história muito triste sobre os horrores da guerra. Ao longo dos 75 minutos de projeção somos testemunhas do caos na humanidade em uma época que o mundo estava refém da maior guerra que o planeta já viu.

O documentário, nunca lançado no Brasil, é um retrato assustador sobre a cruel trajetória das pessoas que eram levados aos campos de concentração nazistas na segunda guerra mundial. Já na parte final do conflito, com os aliados ganhando territórios e consequentemente acabando com a guerra, as portas desse verdadeiro inferno foram abertas e câmeras e áudios chegaram para armazenar conteúdo para um futuro filme documentário que seria produzido e dirigido por Alfred Hitchcock e Sidney Bernstein muito para mostrar ao mundo as verdades sobre o conflito e suas consequências.

Night Will Fall, ou em português, A Noite Cairá, é muito objetivo em sua trajetória de menos de 80 minutos.  Primeiro, aborda, por meio de dezenas de testemunhas oculares dos campos de concentração nazistas naquela época, militares que chegavam e encontravam as cenas de terror e pessoas que conseguiram sobreviver. Impressionante os depoimentos dos sobreviventes, cenas terríveis e que não saem da memória dos militares quando chegavam a esses lugares tomados pelo terror e desespero das pessoas presentes neles.


Já em seu segundo arco, o longa metragem explora mais a fundo o filme que seria feito por Sidney Bernstein e que teria a ajuda de Alfred Hitchcock que iriam juntar os dezenas de rolos de filmes que chegavam do epicentro do conflito pelos aliados. Por inúmeras razões, bem explicadas no filme, o projeto acabou não saindo do papel mas todo o esforço e trabalho desses homens de cinema não ficou em vão e Singer traz à luz de todos que quiserem esse belo documentário que mostra mais verdades sobre a terrível década de 40.
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12/05/2017

Crítica do filme: 'Más Notícias para o Sr.Mars'

Os velhos acreditam em tudo, as pessoas de meia idade suspeitam de tudo, os jovens sabem tudo. O novo trabalho do cineasta alemão Dominik Moll (O Monge) é antes de tudo um filme que dita suas regras nas entrelinhas da loucura de uma mente reclusa e exausta dos seus caminhos iguais dia após dia. Explorando bastante seu caricato protagonista, Moll transporta para tela, de maneira bem leve (e muitas vezes bem estranha), as dezenas de possibilidades que o ser humano tem todo dia de acordar e sair da rotina estressante.

Na trama, somos apresentados a Philippe (François Damiens), um analista de sistemas que vive uma vida certinha, cheia de regras e pacata em uma cidade francesa. Perto de fazer quase 50 anos sua ex-mulher, uma repórter famosa de uma emissora francesa,  decide de uma hora para outra se mudar para a Bruxelas, deixando os dois filhos adolescentes para ele cuidar. Só isso já seria impactante em sua rotina mas para deixar mais maluca essa história, Philippe começa a enfrentar problemas no seu trabalho, tendo que trabalhar com um funcionário que vai alterar de vez os rumos dessa história.

É preciso paciência e colocar nossas células cinzentas para buscar as associações que o roteiro também escrito pelo diretor busca explorar. Obviamente, a crise de meia idade é o ponto de start para que o fechado protagonista comece a navegar em sua controlada loucura que afeta (e ele também é afetado) a todos que o cercam, desde os novos ‘amigos’ de trabalho, a ira de um supervisor escandaloso, sua relação com os dois filhos, a distância de sua ex-esposa e o aparecimento em tons fantasmagóricos hilários de seus pais.  


Exibido no Festival de Berlim em 2016, esse curioso projeto, que tem como protagonista o excelente e versátil ator belga François Damiens (que está absolutamente fantástico no sensacional Os Cowboys) finalmente chegará ao circuito exibidor brasileiro na próxima semana (18).
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Crítica do filme: 'A Cor do Oceano'

A imigração é uma grande queda de braços dentro de um labirinto social. Escrito e dirigido pela cineasta, roteirista e atriz alemã Maggie Peren, A Cor do Oceano, Die Farbe des Ozeans no original, é uma co-produção alemã/espanhola que traz uma forte luz sobre a situações dos imigrantes no mundo. A produção do ano de 2011, e inédito no circuito exibidor brasileiro, é um filme forte que provoca um abalo sísmico emocional principalmente se nossos olhos e corações associarem aos dias de hoje, principalmente na Europa.

Na trama, conhecemos a jovem Nathalie (Sabine Timoteo), uma turista alemã aproveitando dias de férias nas ilhas canárias (arquipélago espanhol no Oceano Atlântico). Durante uma ida à praia, é surpreendida com a chegada de um barco vindo de algum lugar do mundo trazendo imigrantes clandestinos. Logo que chegam a praia, são resgatados por policiais de fronteira, liderados pelo impiedoso Jose (Álex González). Não conseguindo se desfazer das imagens do ocorrido, Nathalie acaba se aproximando de um dos ocupantes do barco que se encontra em uma nova terra com seu filho pequeno, sem conhecer ninguém.

Longe de ser uma inverdade da vida real, o roteiro do filme nos leva a uma viagem rumo as mais tristes posições políticas, claramente representado pelo cético Jose, que entra em confronto com uma visão bem mais humanitária da turista alemã Nathalie. Os dois pontos de vistas são destrinchados ao longo dos 90 minutos de pura objetividade no roteiro assinado pela própria diretora.

Do primeiro para o segundo arco, já no preenchimento de lacunas dos personagens, vemos as consequências e mais porquês das tristes e nada humanitárias ações do guarda José, muitos impulsos provocados por uma ira sem tamanho que tem contra si mesmo por conta de não conseguir ajudar sua irmã drogada a se recuperar. Em alguns momentos o filme parece que corre um pouco com a transparência desse personagem de tão complexo que se torna. O outro lado da história, Nathalie é confrontada por seu noivo que tem uma visão totalmente protetora e nada amistosa sobre as ações que ela toma em suas decisões de ajudar ou não uma pessoa que nunca viu mas que está passando por sérias dificuldades.


A Cor do Oceano é um daqueles filmes reflexivos, importantes para debates que contam uma história que se ligarmos a televisão veremos a vida imitando a arte.
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