Até onde vai o controle emocional de uma boa pessoa quando
percebe que seu mundo desabara ao seu redor? Contando uma história para lá de
comovente e sofrida, o diretor Scott Cooper (Coração Louco) consegue
em um único trabalho criar um clima de vingança e tensão poucas vezes visto nos
últimos filmes norte-americanos do gênero ação. Cada sofrimento que acerta em
cheio o protagonista tem uma razão, uma argumentação consistente para existir e
a forma que o protagonista lida com isso é tocante e extremamente violenta, não
deixando o público tirar os olhos da telona num por um segundo.
O foco central do filme é Russell (Christian Bale), o filho
boa praça do paizão Rodney Baze (Bingo O'Malley). Um homem muito querido pela
comunidade onde mora e que leva uma vida pacata trabalhando onde seu pai
trabalhou e sonhando em construir uma família ao lado de sua namorada Lena (Zoe
Saldana). Porém, tudo muda em sua vida quando, após pagar uma dívida de um
integrante de sua família, se envolve em um terrível acidente de carro e vai
parar na prisão. Após anos na cadeia, consegue sair em condicional e logo
precisa enfrentar sérios problemas com a nova realidade que o aguarda, principalmente
as enrascadas que seu irmão mais novo (Casey Affleck) provoca.
Após quatro anos longe das câmeras, quando rodou seu
primeiro longa metragem Coração Louco (que deu a Jeff
Bridges seu primeiro Oscar), o bom diretor Scott Cooper reaparece no cenário
hollywoodiano trazendo de volta a melancolia e a ótima captura do drama de seus
personagens. Com um orçamento de U$$ 22
Milhões, o cineasta apostou no material humano que tinha nas mãos e criou uma
atmosfera de dor deixando seus atores, com muita naturalidade, executarem ao
extremo cada personagem.
O elenco é admirável. O polivalente Woody Harrelson na pele
do terrível bandido Harlan De Groat, Willem Dafoe interpretando o canastrão de
bom coração John Petty e o excelente irmão de Ben Affleck, Casey, contribuem e
muito para a ótima interação do público com todos os acontecimentos que se
desenrolam na trama. Mas quem rouba a cena, mais uma vez, é o protagonista,
Christian Bale. O ganhador do Oscar e o melhor intérprete do Batman de todos os
tempos, dá mais um show de interpretação. O sofrimento de seu personagem é
nítido em cada gesto, cada palavra de Bale. Só por isso, já vale o ingresso do
filme.
Uma ótima canção executada pela peculiar voz de Eddie Vedder,
logo no início do filme, já era um sinal que os cinéfilos estariam diante de
uma bela obra. Tudo por Justiça pode ser visto por alguns como apenas um filme
de vingança. Mas garanto, é mais do que isso. A transformação súbita que passa
seu protagonista é eletrizante, se vingar é apenas umas das armadilhas que a
vida coloca em sua frente. Não deixem de conferir esse belo trabalho que possui
muitos ingredientes para conquistar o público.