Será que alguns trens só param uma vez em uma estação? Disponível no catálogo da Prime Video, a co-produção Itália/Austrália O Chef Italiano adota um forte tom melancólico para mostrar as profundezas do luto, as desilusões de uma vida onde as escolhas modificaram um caminho de brilho. Dirigido pela cineasta Ruth Borgobello, em seu primeiro longa-metragem, o filme é ambientado na belíssima Údine, cidade italiana ao norte com menos de 100.000 habitantes, lar do famoso time Udinese, onde inclusive o ídolo Zico jogou entre 1983 e 1985. O investir num drama existencial sem firulas românticas é de um acerto elogiável fazendo o refletir surgir através do curso de um protagonista em crise.
Na trama, conhecemos Marco (Flavio Parenti), um jovem perto dos 40 anos que teve a chance de
sua vida no passado, quando tinha uma carreira promissora como chef em um
badalado restaurante de Nova Iorque. Ele precisou abandonar tudo por conta de
uma fatalidade com a mãe e regressou para o lugar onde foi nascido e criado. No
presente, vive desiludido, sem rumo, trabalha em uma fábrica mas tem um outro
trabalho ocasional ligado à alta gastronomia, projeto esse que leva com o melhor
amigo Claudio (Lino Guanciale). Após
uma tragédia, se vê ainda mais sem rumo e em um luto nada passageiro, paralelo
a isso conhece a turista australiana Olivia (Maeve Dermody) que está em Údine para vender o apartamento dos avós
que emigraram para aquela região da Itália na década de 50. Aos poucos, o ainda
sonhador protagonista vai perceber que o destino lhe reserva outras oportunidades.
Como faz para abrir mão dos sonhos por outras pessoas? É o
certo a se fazer? Conforme vamos conhecendo Marco percebemos suas angústias e
os porquês de algumas atitudes. A vida não foi fácil para ele, que sentiu na pele
as dores da perda o que acabou estabelecendo uma relação um pouco difícil com o
pai. As escolhas do passado, principalmente abandonar sua carreira, onde
trabalhava muito mas era feliz, fez com que ele se tornasse um reflexo de sua
tristeza. O choque para ele chega, por coincidência, através de outra tragédia,
só que dessa vez mesmo mais maduro começa a interpretar o destino de uma outra
forma, até com a ajuda de enigmáticos sonhos. A variável do amor e as curas de
algumas feridas abertas dão um ar de esperança e se somam rumo a um desfecho
aberto, interpretativo.
Indicado da Austrália para o Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro em 2018, O Chef Italiano não
é uma comédia romântica mas o romantismo está ali bem próximo da realidade onde
o faz de conta não acontece. Se mantém em um tom de melancolia mas sem perder o
ritmo, os ótimos diálogos e a boa narrativa ajudam a contar essa interessante jornada.