As infinidades da metalinguagem em uma homenagem ao teatro musical. Muita gente nunca ouviu falar de Jonathan Larson (mas isso está para mudar!), um prodígio da cena musical dos teatros norte-americanos que faleceu no dia da estreia de sua obra-prima e que ficou 12 anos em cartaz na Broadway, Rent. Como forma de homenagem a essa figura que atualizou os padrões de fazer musicais no principal cenário do mundo para tal, Lin-Manuel Miranda nos apresenta Tick, Tick... Boom! um drama biográfico musical empolgante. Não desgrudamos os olhos do início ao fim. Um dos grandes lançamentos dos últimos anos no universo dos streaming. No papel principal, um inspirado Andrew Garfield domina completamente o complexo personagem, um baita trabalho.
Na trama, conhecemos Jonathan Larson (Andrew Garfield) um jovem que beirando ao seu aniversário de 30
anos e trabalhando em uma lanchonete em Nova Iorque busca conseguir sucesso com
o que ama. Ele está juntando as peças finais de um musical de sua criação para
uma apresentação que pode mudar sua vida mas para isso acaba se distanciando do
melhor amigo e complicando completamente sua relação com a namorada Susan (Alexandra Shipp). Assim, vamos
caminhando por meio das emoções, conflitos, medos desse artista que marcou seu
nome no cenário teatral norte-americano e que faleceu muito cedo, aos 35 anos.
Cenas musicadas de um romance moderno. Contextualizando um
cenário mega complicado de incertezas no início da década de 90 nos Estados
Unidos, colocamos nossa ótica total sobre o protagonista e suas emoções. Observador,
não deixa de tentar colocar no seu pensar o mundo que enxerga: os amigos que
perdera por conta de uma doença que aterrorizou o mundo (a AIDS), a liberdade
sexual, as aflições por conta das pressões da vida ligadas à trabalho, o
caótico mundo da intensidade criativa que acaba afastando mais do que unindo em
muitos casos. Provando dessa criatividade impressionante, o protagonista navega
nas suas linhas intensas e quase angustiantes como se oportunidade que chega do
nada virasse a última chance dele viver do que ama.
Assim como Larson e reconhecido por sua habilidade artística
e seus pensares criativos, o genial Lin-Manuel
Miranda (criador dos espetaculares musicais In the Heights e Hamilton)
usa de sua criatividade afiada para contar uma história de um musical dentro de
um musical. O uso dessa objetiva metalinguagem poderia deixar as coisas
complicadas quando pensamos em compreensão de uma história simples mas tudo se
transforma em grande poesia filmada, com aflições que se tornam canções,
sentimentos que se tornam mensagens certeiras no nosso refletir. Um trabalho
primoroso de direção e elenco, há uma entrega linda e sentida por todos nós.
Como todo encerramento de uma peça teatral, ou um filme que faz emocionar e
refletir, merece aplausos, lindo trabalho!