01/01/2016

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Crítica do filme: 'Burnt (Pegando Fogo)'

O perfeccionismo é um perigoso estado de espírito em um mundo imperfeito. Baseado em uma história de Michael Kalesniko, Burnt (Pegando Fogo) é mais um daqueles filmes onde se tem uma boa idéia, um roteiro até certo ponto interessante, com um personagem forte mas uma certa demasia de clichês acabam ofuscando um pouco o fulgor do arrevesado protagonista. Dirigido pelo experiente produtor John Wells (Álbum de Família), o longa-metragem que teve quase Keanu Reeves no papel principal, dá até água na boca quando pensamos nos maravilhosos pratos que desfilam ao longo dos 101 minutos de projeção mas falta um pouco o aprofundamento dos coadjuvantes personagens na trama para ser uma degustação cinéfila completa.

 Na trama, conhecemos o brilhante chef de cozinha Adam Jones (Bradley Cooper), um homem com um passado conturbado regado à brilhantismo, babaquices com outros colegas de profissão e vícios que o foram afundando ladeira à abaixo. Depois de passar meses sumido, tentando uma espécie de reabilitação em forma de jornada pessoal, volta a um grande centro culinário que é Londres e tenta cumprir um novo objetivo: conseguir a sua terceira estrela Michelin (algo como o Oscar da culinária mundial). Para isso, reúne uma competente equipe e conta com a ajuda Tony (Daniel Brühl) um amigo do passado.

Burnt (Pegando Fogo) é a prova que muitos clichês em um filme podem destruir totalmente uma receita de sucesso. Mas antes de chegar aos exageros que a produção comete, começamos com o lado forte da história com um protagonista que chama a atenção pelo perfeccionismo e dedicação em uma profissão amada por todos. Bradley Cooper incorpora com competência seu difícil personagem, explorando principalmente suas emoções quando a ‘chapa esquenta’, no rigoroso cotidiano dos chefs das melhores cozinhas mundo à fora. A falta de elementos de contorno ao personagem, esclarecimentos de seu passado e interações com os coadjuvantes acabam deixando a fita não rica para o público explorar com mais vontade a história.

Os clichês infelizmente comandam um pouco da receita do filme. Fora da cozinha parece que o roteiro prefere navegar em águas chatas, constantemente já vista em outras produções hollywoodianas. Um dos fatos que chama a atenção foi praticamente anular o ótimo Daniel Brühl, não dando a chance do mesmo explorar com mais força seu personagem que podia e devia ser mais interessante para a história.


Mesmo se tornando uma historinha água com açúcar com os passar dos minutos, Burnt (Pegando Fogo) pode se sustentar na magia que tem o ato simples de cozinhar, e essa determinação na cozinha do chef Adam Jones faz pelo menos o público ficar com certa atenção na telona. O que deixa triste os cinéfilos é que a trama poderia ter uma melhor evolução.