27/08/2016

Crítica do filme: 'Aquarius'

Selecionado para o famoso e prestigiado Festival de Cannes deste ano, finalmente chega o dia da estreia nacional do aguardado Aquarius, 01 de setembro. Dirigido pelo prestigiado Kleber Mendonça Filho (um dos grandes diretores de sua geração e da atualidade), o longa-metragem de 142 minutos vem causando uma grande onda de expectativa após as poucas exibições que foram feitas até agora. Não é pra menos, Kleber consegue redefinir todo um padrão/coragem quando pensamos em direção cinematográfica, ao longo dos minutos, de cena em cena, fica claro o talento e as referências cinéfilas deste grande artista atrás das câmeras. O roteiro, assinado pelo próprio diretor, explora uma recife e seus problemas, fatos e situações que nunca deixarão de ser uma angústia para a sociedade brasileira como um todo. Para brindar os cinéfilos, talvez a grande e talentosa cereja deste bolo cheio de camadas iluminadas seja a atuação magistral da gigante Sonia Braga, de longe o fato que nos faz não tirar os olhos da tela em um momento sequer.

Na trama, conhecemos a jornalista Clara (Sônia Braga), uma mulher na fase final de sua vida que vive sozinha em um antigo e bem localizado apartamento de frente para a praia chamado Aquarius. Financeiramente de bem com a vida, possui um relacionamento agradável com seus filhos, (talvez um pouco mais complicado com Ana Paula (Maeve Jinkings)), e vem passando por um verdadeiro inferno astral já que uma construtora planeja destruir o edifício onde morou quase a vida toda para construir um daqueles enormes arranha céus. Entre memórias e diversas situações que vamos sendo testemunhas ao longo da fita, vamos entendendo melhor sua personalidade, suas escolhas e uma garra peculiarmente simples e objetiva para defender suas memórias.

Um dos grandes méritos do roteiro é o preenchimento de lacunas sobre a personalidade de Clara, com os protagonistas. Entre idas e vindas, segredos, longas conversas e diversas situações, tudo em torno de Clara vai formando para o público um rascunho da protagonista. Por ser tão longo, 142 minutos, Aquarius pode sofrer críticas quanto ao prolongamento de algumas cenas, uma necessidade (completamente aceitável) de mostrar uma realidade nua e crua de uma pessoa comum que podemos encontrar em qualquer esquina. Nas cenas mais fortes, percebe-se um escopo de realmente mostrar o que acontece em nossa realidade como ser humano, o sexo, as lembranças picantes e etc.

O filme faz uma viagem, principalmente em seu início (o primeiro ato quase como um todo), por dentro do que são as memórias em nossa vida. Não só pelos pensamentos da protagonista, mas aproveitando as brechas da trama para sermos levados à memórias de outros personagens. Essa primeira parte, fica um pouco confusa, os elos (ligações) com a trama e seus porquês ficam um pouco soltos talvez distanciando um pouco o espectador por tanta informação ao mesmo tempo. Do segundo ato em diante o filme se estabiliza e se torna brilhante em alguns momentos. Principalmente, quando pensamos em Sonia Braga e tudo o que ela faz para que sua personagem fique inesquecível em nosso imaginário cinéfilo. Cenas fortes, cenas lindas, uma investigação dos sentimentos em alguns momentos, Sonia dá simplesmente um show na arte de atuar.


Com um orçamento beirando os 2 milhões e meio de reais, Aquarius tem o poder de tocar em assuntos polêmicos, explorá-los e deixar que o público tire suas próprias situações. O cinema brasileiro precisava de um filme como esse: corajoso.  Não só a imprensa nacional, mas a internacional, já detalhou e dissecou todos os méritos desta produção que fará um sucesso estrondoso de bilheteria a partir da próxima quinta-feira (01 de setembro). Polêmicas políticas à parte, que inundaram os noticiários ligados à cultura e ao cinema aqui no Brasil nas últimas semanas, vá ao cinema e tire você mesmo as suas conclusões. Esse é um filme que merece ser visto.